quarta-feira, dezembro 26, 2007

Natal

Natal: todos os sentidos numa única figura.

Sacou?

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Janis Joplin

Só quem é rocker entende o mundo do Rock’n’Roll. Estou com a biografia da Janis Joplin, escrita por Myra Friedman, em mãos e posso dizer tranqüilamente: é uma merda.
Em um trecho ela se mostra chocada com uma festa promovida pela Janis, em que todos estavam bêbados, e assim ficaram durante todo o fim de semana. Aquelas coisas normais, tipo gente vomitando no pátio, casais trepando nos quartos, desmaios, drogas, violão, viagens, enfim, uma festa.
Imagina se essa Myra chega a passar um fim de semana lá em casa?
Janis merecia uma biografia escrita por uma pessoa que soubesse do que está falando. A autora constantemente afirma que Janis, de certa maneira, procurava a morte. Muito pelo contrário. Como ela mesmo dizia, queria era aproveitar a vida no seu máximo. Claro que isso pode ser destrutivo, principalmente pelas influências nefastas que rondam o mundo da música. Mas daí a dizer que Janis era uma pobre coitada que não sabia o que estava fazendo tem uma grande diferença.
Grandes gênios são pessoas conturbadas. O que seria de nós, pobres mortais, se o “Triunvirato do Rock” (Janis / Morrison / Hendrix) não tivesse feito tudo o que fez?
Janis Joplin tinha sonhos, como todos nós: queria ser amada, queria ser livre e feliz. A mim parece que quem os busca com mais afinco corre mais riscos.
Vale a pena? Claro que sim!!!

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Vida

A vida não pode ser levada a sério.
No fim das contas é tudo uma grande comédia romântica......

terça-feira, dezembro 18, 2007

Lembrança de velhos tempos

Uma noite de poucas horas, muitos sons......
Uma noite de poucas falas, muitos copos.....

Um balcão tão solitário quanto uma casa cheia de gente vazia. Rádios que estão sempre na mesma e já não conseguem aliviar o peso de uma existência absurda.
Bebida e fumaça.
Sim, talvez eles possam.
O mundo gira aqui dentro. Foda-se o olhar de nojo da guria. Tenho vômitos para ela. Um gozo, quem sabe. Vem comigo.
Não, não faz essa cara feia. É tudo assim mesmo, o lixo sempre volta. Te lembra: “não tenho mãe”. Que injustiça, é tudo culpa minha.
Deita. Tira a roupa, bêbada. Então vai embora. Vira; abre; põe.
Deu. Agora pode ir. Não, não, não, não..... não quero nem saber. Um abraço. Quer dinheiro pro táxi?
“Me liga?”.
Não. “Claro”. Entra logo nesse carro e me deixa dormir.

Até que tudo comece outra vez....................

segunda-feira, dezembro 17, 2007

É tudo mentira

Antes de começar qualquer análise absurda sobre o absurdo que é o cotidiano, quero fazer de público um agradecimento aos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus. É com o seu dinheiro que o pessoal roqueiro poderá ver o Iron Maiden aqui em Porto Alegre. Quem sabe, como revanche, a Igreja Católica não investe numa turnê do AC/DC?

Agora, falando sério, parece que a crítica publicada neste blog, apesar de restrita, reflete um sentimento geral da população. A imprensa mente e defende os interesses do patrão e seus companheiros empresários. Isso é o que acreditam 80% dos brasileiros, segundo a BBC.
O excesso de confiança dos meios de comunicação parece estar traindo seus objetivos. Perseu Abramo já havia previsto que a imprensa não pode manipular toda informação, o tempo todo. O povo sabe quando o que lê não condiz em nada com a realidade. O povo de verdade, porque o pessoal dos carros importados vive tal fantasia que acredita em tudo o que passa na TV ou aparece na ZMentira. Aí está um paralelo: jornal feito no ar condicionado para pessoas que vivem no ar condicionado.
As ruas são totalmente diferentes das páginas dos jornais. O povo gosta dos camelôs e dos gerentes de firma. O povo sente pena dos mendigos e das crianças de rua. O povo odeia a polícia e os carros que andam de janelas fechadas. O povo respeita o cidadão que pilota uma carroça ou carrega seu próprio carrinho.
Eu não acredito em uma linha do que aparece no jornal. Temos que desconfiar de tudo. Quer saber o que está acontecendo de verdade? Dê uma voltinha no centro e pare nos botecos: ali está a notícia.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

A política é uma merda

A política é mesmo uma atividade viciada. Não existe pensamento progressista ou ações que possam beneficiar realmente a população dentro desse esquema.
Saio da Ufrgs neste fim de ano e me sinto apto a falar sobre a política estudantil. Assim como os profissionais, os aprendizes universitários não querem saber de questões ideológicas e filosóficas. O cara que luta por um restaurante na Esef e propagandeia que essa é sua grande conquista é exatamente igual ao político que acha que fez grande coisa quando consegue aprovar uma emenda para a construção de uma estrada, ou para compra de ambulâncias, ou para, quem sabe, a construção de um restaurante....
As “lutas” são midiáticas. Na época do aumento das passagens de ônibus fazem um show de protesto e depois fica tudo na mesma. Os empresários tinham que ter medo dos estudantes, mas sabem que uma vez terminada aquela apresentação são eles que mandam. As papeleiras estão destruindo o nosso estado e os militantes não fazem nada, talvez um “ato”, ou uma passeata. Assim não tem como mobilizar a comunidade.
Claro, o importante é o restaurante a R$ 1,30 para o pessoal da classe média. As pessoas que fazem sopa de papelão sob um viaduto a 100 metros do DCE representam uma “questão estrutural”.
Enquanto a política institucional continuar existindo nada vai mudar. Cada vez mais concordo com a frase estampada na minha camiseta dos tempos de punk: “só seremos livres no dia em que o último político for enforcado nas tripas do último padre”.
Faça-se o caos. Contribua:
- plante cannabis na rua;
- tome canha na calçada com os mendigos;
- não ande de carro;
- visite a firma e troque uma idéia com o gerente;
- plante uma árvore;
- cuspa num político;
- irrite a polícia;
..............

quarta-feira, dezembro 12, 2007

O bom dos EUA

Depois de muita reflexão na tentativa de evitar preconceitos, cheguei à conclusão de que os Estados Unidos contribuíram para a humanidade em duas áreas fundamentais. E nesses quesitos eles são imbatíveis, insuperáveis, verdadeira super-potência. Acompanhem o raciocínio.
Na esfera econômica, é notório que são os predadores do mundo. Necessitam de mortes para manter seu sistema de consumismo desenfreado. Morte num sentido amplo, lato sensu. Morte de pessoas, da natureza, de países, de seus próprios cidadãos. Morte da razão, do bom senso, do respeito. Tudo é dinheiro, e por ele vale qualquer coisa. Vale invadir um país, roubar todos seus recursos e deixar a população morrer à míngua. Vale incentivar guerras para vender armamento. Vale devastar florestas e, é claro, a camada de ozônio que se dane.
A política estadunidense é uma farsa. “Democracia” com dois partidos que defendem exatamente os mesmos interesses, que piada. E ainda querem exportar esse modelo para todo o mundo. A mídia se encarrega da propaganda através de filmes, noticiários, enlatados, revistas, histórias para crianças. Corações e mentes do mundo anestesiados, sem poder de reflexão contra um sistema que já se provou completamente contra a natureza da vida.
Mas, como vinha dizendo, lá existem duas coisas boas: Jack Daniel’s e Rock’n’Roll. Nisso eles são imbatíveis. O resto é bobagem, coisa de norte-americano.
Por que simplesmente não ignoramos aquele país? Já temos discos de Elvis, Berry, Lewis, Richard, Hendrix, Morrison, Joplin, Stanley, etc. Só nos resta importar uma quantidade absurda de uísque e esquecer do resto. Deixemos Bush, Clinton e Cia. Ltda. falando sozinhos, se achando importantes, enquanto enchemos a cara ouvindo Rock. E quando eles quiserem invadir algum lugar, que o mundo diga:
“Baixa a bola americano otário!!!!!”

terça-feira, dezembro 11, 2007

Todos iguais

O pessoal da Assembléia Legislativa aqui do Rio Grande não perde tempo. Mantinham dois celulares no caixa da Tia Carmem. Consta que um outro estava numa das firmas aqui da cidade. Nada mais justo, afinal de contas eu também gosto de sexo, drogas e Rock’n’Roll. Na verdade eu não sei se eles gostam de Rock, mas.....
Vale notar que até pouco tempo nossa imprensa considerava os políticos do RS os últimos defensores da ética e da moral. Bem, parece que alguma coisa aconteceu. Como num passe de mágica, esses senhores viram-se envolvidos em falcatruas de selos, carteiras de motorista e celulares.
Até agora ninguém caiu, mas tudo indica que logo vem uma CPI capaz de atingir até mesmo a Dona Yeda. É claro que, ao contrário do presidente Lula, ela não sabia, nem sabe, de nada. É claro que a “quadrilha” e os “bandidos” do PT são muito mais perigosos que o pessoal do PP e do PMDB gaúcho. Talvez seja por conta dessas obviedades que nossos jornalistas andam quietos perante toda essa situação.
Ontem vi o filme O jardineiro fiel. Guardadas as proporções, fico imaginando a pressão das empresas de papel para a demissões na Secretaria de Meio Ambiente e Fepam. Quanto dinheiro rolou para as altas esferas do governo?

Tudo isso para dizer que o nosso estado é uma bosta tão grande quanto o resto do país. Temos corrupção, trabalho escravo, devastação das florestas, falcatruas empresariais, enfim, tudo o que tanto nos esforçamos por criticar.
O blog Devaneios na Calada prega o caos contra todo esse sistema. Subverta: seja uma boa pessoa.
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P.s.: Hoje tem Histórias do Rock especial Legião Urbana na Rádio PutzGrila, a partir das 20h.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Ingressos

Quiosque do Raul - Psicodália 2007


Vem chegando o fim do ano e as lembranças de que existem quatro dias em fevereiro de puro Rock’n’Roll voltam à mente. Falo do grande festival Psicodália.
Na próxima edição, a atração principal será a clássica banda Casa das Máquinas. Nem sabia que os caras ainda estavam na ativa. Particularmente, acho que vai ser melhor que o Sérgio Dias do ano passado. Vejo pela programação que terei também o prazer de rever ótimas bandas como O Sebbo e Casa de Orates.
Só estou com um grande problema: o site do festival não funciona e os cartazes não dizem onde vendem os ingressos aqui em Porto Alegre. Alguém tem uma luz? Alô? Klaus?
Por falar em ingresso, já tem uma puta fila na frente do Opinião para comprar as entradas pro Iron Maiden. O foda é que são R$100. E isso é dinheiro para pelo menos duas festas para alcoólatra nenhum botar defeito. Eis que chega um colega e ilumina um pouco minha dúvida: a Maria Rita era R$150. Vamos todos ao Iron.
E hoje tem o Led Zeppelin. Alguém vai?

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Papelão do artista em Porto Alegre

Porto Alegre viu a peça publicitária travestida de “jornalismo” na capa de Zero Hora de ontem. O uísque Passport trouxe o artista inglês Julian Beever, conhecido pelas suas pinturas de rua, para desenhar uma garrafa em 3D sobre uma cidade.
Eles só não contavam com o seguinte: a pintura ficou uma merda. Primeiro porque o local escolhido não tinha nada a ver com o desenho. Colocaram umas pranchas de compensado sobre a terra da Redenção. O cara é um artista de rua. Seria natural que o colocassem para pintar na rua.
Quando fui ver a “obra”, as madeiras já estavam envergadas, sem contar com a lona sobre o painel, que deixava tudo escuro. O comentário geral de quem se atrevia a parar para olhar era: “mas que merda!”.
Pois é, não deu certo..... Garanto que o carinha que pinta igrejas e motivos religiosos a giz na Rua da Praia vale muito mais a pena ser visto. Mas é claro que o jornalismo publicitário não podia queimar o cara. Honestidade não é o forte da imprensa, principalmente quando o negócio envolve dinheiro. Se eles mentem em coisas assim, totalmente sem importância, imaginem nas coisas sérias.

P.s.: A propósito, o superintendente da Polícia Federal no RS, Ildo Gasparetto, em entrevista a este jornalista e seus colegas para a Rádio da Universidade, largou a seguinte pérola sobre as algemas nos figurões: “quando a PF prendia ladrão de galinha, ‘subversivos’, e traficantezinhos, ninguém reclamava. Agora que estamos pegando as pessoas que roubam de verdade o povo brasileiro, eles reclamam que somos ‘muito rígidos’. Por favor...”

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Maratona etílica

Aí pessoal, voltei.
A ausência deveu-se à intensa maratona etílica empreendida em comemoração ao fim das atividades acadêmicas do seu Cossio.
Muita coisa aconteceu nesse pouco tempo: pizza (de novo) no Senado, Corinthians na segunda divisão (eu torci pro Inter contra o Goiás, a culpa não foi minha), Chávez derrotado no referendo (quem pode chama-lo de ditador?), e mais as coisas de sempre, desmatamento, corrupção, escravidão, etc......
Só para avisar que estou vivo. Amanhã voltamos com a crônicas do dia a dia.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Avohai

AC/DC já dizia que “Rock’n’Roll ain’t noise polution”. Pois bem, hoje veremos se a vizinhança da Lima e Silva concorda ou não com essa afirmação. É que tem Paranóia II e Histórias de Boêmio no Avohai.
O que eu não consigo entender é como o pessoal da música brasileira, aqueles que tocam Vinícius, Chico, Tom e outros quetais, nos agüenta fazendo barulho e falando merda por uma noite inteira. E ainda nos convidam para participar de um festival! Sim, vai ser dia 15 de dezembro, no Lami, com direito a banho no Guaíba e tudo..... sexo, drogas e ....... bem, nós vamos estar lá tocando, então vai ter um pouco de Rock’n’Roll.
Conclusão: Todos ao Avohai hoje à noite que o negócio vai ser pesado!

quinta-feira, novembro 29, 2007

Um fascista na Venezuela

O que se passa na Venezuela? Para tentar resolver essa questão, ZMentira mandou um “repórter” para Caracas. No seu “Diário da Venezuela”, publicado no site do jornal, encontramos uma série de pérolas:

- “O lado narcisista de Hugo Chávez está por toda a parte. São imensos painéis e murais espalhados por toda a cidade”. Não brinca!!! Por acaso em eleições (ou referendos) não se usam imagens? Seria como um estrangeiro se mostrar surpreso em meio a eleições no Brasil: “O retrato de Lula está por todas as partes.......”.

- “Um ou outro cartaz dos "contra" é visto, mas só nos bairros mais nobres da cidade. Será mais um referendo dos pobres contra os ricos”. Que bela constatação. Agora ele pode dizer para seus colegas que O POVO DA VENEZUELA QUER CHÁVEZ NO COMANDO!

- “O venezuelano tenta mudar a Constituição e emplacar sobretudo o artigo da reeleição ilimitada, numa maquiagem jurídica para legitimar um poder que se pretende vitalício”. Talvez tenham esquecido de avisar o cidadão de que para permanecer no poder o seu Chávez terá que ganhar as eleições. Por falar nisso, FHC não usou também uma “maquiagem jurídica” para ficar 8 anos no poder?

- “Chávez se acostumou a vitórias com amplo apoio popular. O problema é que pela primeira vez as pesquisas — se é que existe seriedade na avaliação dos institutos daquele país — indicam indefinição sobre o resultado”. É uma bela dúvida, a seriedade dos institutos de pesquisa venezuelanos, já que os nossos daqui são competentíssimos. E, vejam que estranho, Chávez conquista vitórias com amplo apoio popular.

Não defendo Hugo Chávez, e até acho que ficar muito tempo no poder é uma desvantagem. Agora, quem o elege é o povo da Venezuela, e o povo é soberano.
Mandar um repórter comprometido com a oposição a Hugo Chávez é um desrespeito com os leitores. Bem, fodam-se os leitores de ZMentira, começo a achar que eles têm o que merecem: o pior jornalismo possível.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Imprensa argentina

Estou com a revista argentina Noticias de la semana, de 24 de novembro, em mãos. Apesar de não conhecer a fundo a imprensa dos hermanos, nem ser capaz de julgar de que lado a publicação está, algumas constatações aparecem logo na primeira lida.
Para eles, a palavra “ideologia” não é proibida e não tem qualquer sentido pejorativo ou negativo. Ideologia é ideologia. Em uma matéria sobre o novo ministro da Economia, Martín Lousteau, a revista coloca que:

“el virtual ‘equipo paralelo’ que armo en el Banco Província siempre funcionó bajo el concepto de que la evolución de la macro obedece principalmente a decisiones políticas e ideológicas. Es lo que él mismo piensa: ‘Yo tengo uma ideologia clara y apelo a las herramientas y a la mejor solución técnica a partir de ella’”.

“En pocas palabras: Lousteau – um economista atípico, ortodoxo por formación y keynesiano por vocación, heterodoxo para los liberales – hace rato a que está alineado políticamente a los Kirchner”.

Chega. Agora imaginem o frenesi das revistas e grandes jornais brasileiros se um ministro daqui chegasse a se dizer keynesiano e que toma decisões ideológicas na conduta da política econômica. Seria o caos.
A imprensa brasileira está dominada pelo discurso único neoliberal e parece não ter se dado conta de que o resto do mundo já não pensa mais assim. O Consenso de Washington faliu países, matou milhares de pessoas, acabou com economias e os colunistas e repórteres da Veja, Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, e toda a turma ainda acham que é a salvação do País. Zero Hora escapa dessa crítica. Para eles neoliberalismo é coisa de comunista. O pessoal ali prefere um regime fascista. Não me espantaria encontrar proteções de tela nos computadores com fotos do General Franco. Bem, na verdade me espantaria, a sua ignorância não lhes permite saber quem foi Franco. Agora, do Capitão Nascimento eu garanto que tem.....

terça-feira, novembro 27, 2007

Juventude inútil

Foram 40 anos que tentaram de toda maneira mudar o mundo. O que nós, filhos do Rock’n’Roll, faremos agora que tudo o que julgávamos acreditar foi embalado num pacote comercial e jogado de volta na nossa cara como uma bomba de merda?
Realmente não é fácil. Onde está a resistência? Existe resistência? Os jovens parecem monopolizados por um mundo de Malhação, simulacro inatingível da realidade dos carros importados.
Somos uma geração de inúteis. Jim Morrison, por exemplo, tinha 27 anos quando morreu e parecia um velho, tamanha a sua obra. Eu tenho também 27, e o que fiz?
O que você fez?

segunda-feira, novembro 26, 2007

A construção da subjetividade

Num breve exercício de comparação, vemos como as notícias do Grupo não correspondem em nada com a verdade. Na Bolívia o pau está comendo por conta da tentativa do governo de mudar a constituição. Oposição e partidários de Evo Morales enfrentam-se nas ruas. Para Zero Hora não, só existe oposição. Comparação entre ZMentira e Folha de SP:

“Desde a sexta-feira, manifestantes reuniam-se nas proximidades do local que recebia a Assembléia para protestar contra o processo. Houve enfrentamentos com a polícia e com militares. Várias vezes os manifestantes tentaram romper o isolamento imposto na área.” (ZMentira)

“No sábado, milhares de cidadãos que exigem o traslado da sede do governo para Sucre saíram às ruas e se dirigiram ao local da sessão constituinte, cercada de policiais, militares e de camponeses que haviam chegado de várias partes do país para apoiar o governo e a Assembléia.” (Folha de SP)

Que estranho, no processo de Ctrl C / Ctrl V do “jornalista” da ZMentira sumiu a referência aos camponeses que apóiam o governo. Ele também esqueceu de referir que um policial foi linchado pelos manifestantes e de dizer que a polícia não usou armas letais na repressão aos protestos.
Este é o processo com o qual o jornal vai construindo uma subjetividade criminosa em seus leitores. Isso em relação a tudo. Esses dias fui testemunha do que isso faz na cabeça do povo. Um porteiro de prédio reconhecia que Lula era um bom presidente, que está colocando comida na mesa do povo, mas se dizia envergonhado por tamanha roubalheira. Perguntei o que ele achava do governo Yeda. “Coitada da mulher, ela está tentando salvar o Estado e os caras não dão colher de chá”.
Aí está, o Grupo domina corações e mentes com seu discurso de extrema-direita. Só a revolta salva. Não compre nada deles, faça suas próprias notícias. O mundo é muito maior que uma sala de redação na Avenida Ipiranga.
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Ps.: O jornal Folha de SP também é criminoso, mas tem vergonha de falar mentiras deslavadas.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Marginais e marginais

O paradoxo dos marginais é que uns querem entrar e outros querem sair.
Na margem de dentro da sociedade de consumo existe um grupo de pessoas que busca uma nova ordem para suas vidas. Pessoas que até teriam condições de fazer parte do sistema, mas que, de uma forma ou de outra, descobriram que ele não funciona e não tem como se sustentar. Estes são a minoria e buscam alternativas de sobrevivência.
Na margem de fora, onde se encontra a grande maioria da população, o pessoal busca de todas as maneiras entrar no sistema. A gurizada trafica e rouba carros para comprar um Nike e passear com sua namorada no shopping. Os salários mínimos se matam de trabalhar para comprar produtos de novelas. É a violência da propaganda que gera a violência física.
A conclusão é que todos são dominados pelo mesmo grupo, do qual devem fazer parte umas mil pessoas, com suas esposas. Ninguém sai, ninguém entra e essa luta sustenta o luxo do pessoal dos carros importados. Não existe alternativa fora do número extremamente reduzido de exceções para confirmar a regra.
E nós, o que vamos fazer?

terça-feira, novembro 20, 2007

Falta o nome dos bandidos

Já falei sobre escravidão aqui, mas este parecia um assunto distante, coisa de São Paulo, Mato Grosso e Pará. Parecia. Em Cacequi, região central do RS, um grupo de trabalhadores era escravizado por uma madeireira.
Como sempre, a escravidão está intimamente ligada à monocultura. Lá no norte, cana, aqui, eucalipto. Acho engraçado que nos chamam de radicais quando falamos que essas empresas, e essas culturas, são criminosas. E o pior, com a negativa da Câmara dos Deputados em aprovar o projeto de lei que regulamenta a punição para quem mantém trabalhadores em regime escravocrata, tudo vai continuar na mesma. A tal empresa só precisa pagar uma indenização aos trabalhadores e fica por isso mesmo. Nada de desapropriação de terras, nada de cadeia, nem multa vão pagar.
O pior: ninguém sabe o nome da tal empresa. Será? Ou a imprensa não quer que mais alguns de seus amigos sejam prejudicados? Qualquer estudante do 1º semestre de jornalismo que fosse mandado para Cacequi descobriria em menos de cinco minutos o nome dos bandidos. E mais, criaram um eufemismo: “trabalhadores em condições análogas à de escravidão”. E eu chego a perder o sono pensando no que seriam as tais “condições análogas a de escravidão”.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Voltamos vivos da Babilônia

Voltamos vivos da Babilônia. São Paulo, e os paulistas, foram generosos conosco: feriado, cidade vazia. Quer dizer, vazia para São Paulo, ou seja, uma zona.
Seja como for, aproveitamos muito bem o tempo, e posso dizer que volto com um preconceito a menos. São Paulo é Rock’n’Roll; disso não há dúvidas. Já na chegada fomos para o Morrison Bar, na banda da Vila Madalena. Tributo a Janis e The Doors. Só consegui ver o finalzinho da banda de Doors porque o maldito aeroporto de Congonhas fechou e tivemos que parar em Guarulhos. Aí pega um ônibus, atravessa a cidade, com chuva....... Mas o que importa é o bar, e esse Morrison é do caralho. Uma mistura de Garagem Hermética (POA) com Revival Rock Bar (Caxias). Até porque acabou a banda e só tocaram clássicos, de Beatles a ZZ Top. Uma bela festa regada a Johnny Walker e Skol, ambos quentes e deliciosos.
Quinta-feira começou a chegar o resto da invasão gaúcha. Aliás, nem falei porque estávamos lá: parabéns Aline e Ale, um casamento dos mais.... hã..... sei lá....... nem tem o que dizer. Mas essa história vem só na seqüência, porque na quita fomos para outro bar, Café Piu Piu, onde tocou um tributo a AC/DC. Muito boa banda, com figurino e tudo. Vale ressaltar que começamos a beber por volta das 11h da manhã, então tentem fazer uma idéia de como estávamos às 5h da outra manhã. Isso que eu olhava para o amigo Sílvio e dizia “não consigo ficar bêbado”, e a resposta “nem eu”. Imagino alguém olhando de fora essa conversa. Era visível a embriagues dos cidadãos.
O dia seguinte foi todo voltado ao casório. Terno, gravata e tênis, porque eu não ia deixar barato para a hi society de São Paulo. E bota hi nisso. A cerimônia foi numa chácara, na descida para o litoral. Bela cerimônia, tanto que os marmanjos, eu incluído, tiveram que se retirar para esconder as lágrimas. Que momento.... e o pior, nem estávamos bêbados ainda. Mas eis que depois do lero-lero surge: uísque, champagne, cerveja, vinho, comilança e Rock’n’Roll. Pela primeira vez não precisamos arrumar briga com o cara do som numa festa desse naipe. E o melhor, para coroar a noite um show do Roberto Seixas, que se auto proclama, com toda a justiça, o melhor cover de Raul Seixas do Brasil. Tive ainda a honra de cantar “Rock do Diabo” com a banda. Na van, de volta para a cidade, protagonizamos belas cenas de destruição, que deixo aqui a cargo da imaginação do leitor. O bom da manhã (a essa altura já eram umas 8h) foi acordar os vizinhos, sempre uma diversão garantida.
Sábado. Ressaca, talvez a maior de todas. Vômitos a cada cinco minutos no banheiro da casa. Éramos a essa altura 13 pessoas, todas passando mal. Mas já era sábado e decidi conhecer um pouco da cidade. Peguei um ônibus para o Centro, em busca de um destino certo: Galeria do Rock. Já haviam me prevenido que o negócio estava em decadência. Fico a imaginar o que deveriam ser os áureos tempos, se hoje o lugar já é quase que uma faculdade do Rock. Comprei buttons do Kiss, uma camiseta do Raul e um disco do Free. Após uma conversa com o seu Rogério, da loja Medusa Record, sobre raridades como a banda de blues psicodélico venezuelana Ladyes W.C., disco pirata do Sabbath gravado em 68, bandas japonesas de hard rock, e outras bizarrices, tive que abandonar o local por conta de uma indisposição estomacal. Tentei chamar o Hugo na escadaria do Teatro Municipal, mas não tinha nada para vomitar. Até que a Mirela, minha namorada, comprou um suco de qualquer coisa da cor amarela que fez um bate-e-volta no meu estômago. Ainda tivemos tempo de dar uma voltinha pelo Centro e pegar um ônibus para casa. A noite acabou em churrasco e, adivinhem........ cerveja, é obvio.
Domingo, último dia. Saímos com um carro alugado rumo à Liberdade, visitar a feirinha dos Japoneses. O almoço foi um “tudo grande”, delicioso, feito ali na rua mesmo. A feira em si não tem a menor graça. O legal é ouvir os caras gritando no meio da rua “oshdnd huabhc kadhasydhb”, com cara de brabo, e depois dar um risinho no final. Esses japas são loucos........ Feito o rango, o grupo se divide: uma parte vai levar o amigo Mairon para puta que o pariu pegar um ônibus. A outra parte toca para a Avenida Paulista visitar o Masp. A construção é realmente impressionante, mas não vou pagar 15 pila para ver o que tem dentro. Prefiro ficar na praça fumando um cigarrinho e me sentindo um cidadão do mundo. Nós, gaúchos, somos provincianos ao extremo. Quer dizer, falo por mim.
Para encerrar a jornada, uma cervejinha num “boteco”, assim, entre aspas, porque cobre R$ 5,30 a garrafa. Isso não é boteco nem aqui nem na China. Arrumada a mala, pegamos o avião de volta, no horário. Estou quase morto, semi-vivo, meio bêbado, meio sem cérebro, mas feliz da vida.
São Paulo, quem diria, é Rock’n’Roll.

terça-feira, novembro 13, 2007

Fora Yeda!

Quem, por acaso, já ouviu falar sobre o envolvimento da dona Yeda no caso do Detran? Ninguém. Fico perguntando aos meus botões o que aconteceria se fosse o Olívio o governador. Um desastre. Provavelmente “o maior caso de corrupção da história do Rio Grande do Sul”, protagonizado pelo “governo mais corrupto da história do Rio Grande do Sul”.
Dona Yeda? Nada. Nadinha de nada. Pelas últimas notícias tenho até ficado com pena dela. Imagina, mais 30 suspeitos, todos do alto escalão do governo. Nunca um governador foi tão traído, apunhalado pelas costas por gente que julgava honesta....
Conta outra!!!
A imprensa deveria ter, no mínimo, o mesmo comportamento que teve quando a turma do Lula foi pega com a boca na botija. A mesma imprensa que ironizava o fato de Lula não saber das falcatruas, afirma categoricamente que a dona Yeda não sabia das suas falcatruas.
Mas acredito, ainda, que o povo não se engana mais. Depois da pauleira nos camelôs, ficou claro de que lado a polícia está. Agora, com este comportamento da imprensa, fica também claro de que lado ela está.
Duro é ver o Lasier Martins perguntar “por que a PF expõem homens probos, homens de bem e de bens, homens brancos, homens bem nascidos?". Será que é a turma dele que está sendo presa? Será que ele jogava um futebolzinho na cobertura? Será que ele também mamava nessa teta?
P.S.: Hoje tem Histórias do Rock na rádio web PutzGrila, a partir das 20h. Sintoniza!!!

segunda-feira, novembro 12, 2007

Compre uma carroça

Estamos todos muito preocupados com o aquecimento global. Que mundo deixaremos para nossos filhos? Terão eles água? Verão eles um céu azul, estrelas? Existirá ainda a imensidão do Pampa Gaúcho? A Floresta Amazônica? Poderão eles tomar um banho de mar, de rio, de lago?
Preocupações......
Resolvemos dar a nossa contribuição para esse problema. A partir de hoje o blog Devaneios na Calada lança a campanha:

Compre uma Carroça!!!

Além de contribuir para a diminuição do aquecimento global, você terá toda a terapia que significa o contato com os animais, no caso o cavalo, melhor amigo do gaúcho. Seu problema é stress? Então não seja uma das pessoas que se atucana no trânsito, deixe que os outros se atucanem com você. Diminua seu ritmo de vida, viva feliz. Nem tudo precisa ser feito agora.
Abandone seu carro! Compre uma carroça e seja feliz!

PS.: Amanhã tem Histórias do Rock na rádio web PutzGrila, programa especial The Doors, a partir das 20h.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Maconha e Amazônia

Vocês já devem ter percebido que eu gosto do site da BBC. É que, como diria um professor meu, eles brigam menos com a notícia. Pois hoje eles colocam a seguinte manchete: "Jovem que fuma só maconha é 'mais sociável', diz estudo".
Como se ninguém soubesse disso. Claro, todo mundo sabe, mas ninguém fala. Inclusive é ridícula essa sociedade hipócrita que vivemos. É uma planta, porra!!!

Outro assunto. A revista Rolling Stone publica a matéria "Asfalto selvagem". Pequeno trecho: "Desde que a BR-163 e a Transamazônica foram abertas, 675 mil quilômetros quadrados de floresta já foram derrubados em toda a chamada Amazônia Legal, cerca de 16,5% da floresta original, para dar lugar a pastos e plantações".

Precisa comentar?

terça-feira, novembro 06, 2007

100

Putz! passei das 100 postagens e nem fiz uma comemoração especial!!!
Bueno, agradeço a quem lê essas bobagens, desabafos, análises, críticas, viagens, loucuras, enfim, devaneios do dia a dia.
Espero que ao longo desse tempo eu possa ter dado uma contribuição, nem que seja para uma risadinha naquela hora que o cara já não aguenta mais o trabalho.....

Gracias y hasta luego!!!

segunda-feira, novembro 05, 2007

Morreremos de fome ou de gordura

Eu tenho dito que o governo brasileiro tem uma sanha incontrolável de voltar ao século XVII. Gigantescos canaviais, trabalho escravo, uma elite que não trabalha e o povo.....
Bem, o negócio está cada vez pior. A revista Carta Capital desta semana traz informações importantes, e assustadoras. Quem planeja investir em etanol aqui no Brasil é a mega-empresa Archer Daniels Midland (ADM), uma das responsáveis por matar o povo dos Estados Unidos de gordura.
Se no século XVII nós éramos colônia de Portugal, hoje somos uma colônia globalizada. “Entre as empresas estrangeiras no mercado de etanol estão ainda as francesas Tereos e Louis Dreyfus, as americanas Cargill, Bunge e Globex, o Noble Group (multinacional com sede em Hong Kong) e a argentina Adeco Agropecuária. O megainvestidor norte-americano George Soros, que se diz um ‘especulador do etanol’, também anunciou que pretende investir 900 milhões de dólares na produção de álcool no Brasil nos próximos cinco anos”.
Enquanto isso, dezenas de trabalhadores morrem de cansaço nas colheitas, e quem não morre fuma crack para aliviar a dor.
Enquanto isso, milhares de famílias estão na beira das estradas esperando por um pedaço de terra para plantar comida e sobreviver.
Enquanto isso, os alimentos estão cada vez mais caros e menos diversificados.
É, eles querem mesmo que nos alimentemos de suco de eucalipto com etanol.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Made in Brazil

Depois de horas em frente ao computador por conta da maldita monografia (um dia eu ainda acabo), nada como uma cervejinha. Boto um rock no MP3 (sim, agora sou um cara tecnológico), passo no mercadinho, onde compro quatro latas, e vou para a casa do amigo Pedro Fonseca. Lá funciona a rádio web Putz Grila.
Microfone aberto para o mundo e começo a destilar a mesma ladainha que os leitores deste blog estão acostumados: Rock’n’Roll, anarquismo e veneno contra a imprensa mentirosa. Duas horas e quase um engradado de bira depois, estou pronto para uma noite de “Rock de Verdade” com o Made in Brazil, no Garagem Hermética.
Este é um daqueles eventos que ninguém pode perder, assim como Camisa de Vênus, Velhas Virgens, Cólera e ..... bem, acho que é isso.
Lá estamos, após uma breve parada no Bambu’s, eu e a meia dúzia de gatos pingados que ainda sabe dar valor às coisas boas da vida. Não que o bar estivesse vazio, digamos que tinha um público médio, mas eu mesmo já toquei lá para mais gente e é certo que o Made merece muito, mas muito mais que isso. A emoção amplificada pelo álcool me faz gastar uma fortuna em uma camiseta da banda. Não dá nada, estou a fim de interpretar o papel de fã idiota.
Durante o show aquela fumaceira no corredor dos banheiros e grandes clássicos do Rock nacional: Minha vida é o Rock’n’Roll, Paulicéia desvairada, Uma banda Made in Brazil.... uma verdadeira aula de Rock.
Logo após o show passo para as entrevistas. Sim, a bebida, além de despertar meu lado fã idiota, também despertou o jornalista. E lá fui com o gravador em punho coletar histórias. Algumas delas têm todo o potencial para virar lenda. Que tal o Celso Vecchione tocando guitarra e ouvindo discos do Elvis na casa do Sérgio Dias e do Arnaldo Baptista, e entre eles um piá de merda chamado Luiz Carlini?
Chega por aqui. Vou deixar um gostinho de quero mais para que alguém ouça o programa especial Made in Brazil que farei na Rádio Putz Grila. Comunicarei o dia e a hora aqui neste endereço.
Bom fim de semana!!!!!

quinta-feira, novembro 01, 2007

Etanol

Geralmente os sites de notícias falam todos as mesmas coisas. Há muito pouca variação. Uma das grandes fontes de matérias para eles, portais e jornais, é a BBC. Todos os dias, suas principais notícias aparecem repercutidas em toda a rede. Só quando interessa.
Hoje notei um estranho silêncio virtual sobre a matéria “Corrida por biocombustíveis prejudicará pobres, diz Oxfam”. A Europa já exige que o etanol que entra no continente seja produzido de forma sustentável e existe um movimento para que a exigência seja estendida para a responsabilidade social.
Constata-se que o desejo incontrolável do governo de fazer o Brasil voltar ao século XVII é tão útil quanto fazer um furo na água. Não vamos vender etanol para ninguém, a não ser que o Congo tenha um incrível surto de desenvolvimento e sua população passe a andar de carro a álcool. Ou, quem sabe, a Costa do Marfim?
Eis que a imprensa silencia. Seria uma ótima maneira de desmoralizar o governo, mas as atitudes de direita e reacionárias são ignoradas. Eles fazem todos parte do mesmo partido político, cujo projeto é um neoliberalismo escravocrata e submisso aos interesses das grandes empresas multinacionais e seus empregados aqui desta terra.
Essa ficou bonita, hein? Pior que é a pura verdade......

quarta-feira, outubro 31, 2007

Caça-níqueis

Gosto de ver a repercussão na imprensa sobre as ações da polícia na apreensão de caça-níqueis. Até parece que eles fazem um belo trabalho.
Bem, antes preciso esclarecer que não sou contra o jogo. Na real, não estou nem aí; quem quiser que gaste seu dinheiro da maneira que bem entender.
Isso posto, voltemos à polícia e à imprensa. Ao que me consta, o jogo é proibido no Brasil. ZMentira publicou ontem que a Brigada Militar fez operação em um bar na Avenida João Pessoa. Há pouco tempo, invadiram um outro boteco, no Centro.
Depois de ver tanta eficiência, fico intrigado com uma questão: a polícia não anda freqüentando os bairros Rio Branco e Moinhos de Vento. Estou até preocupado com a segurança do pessoal dos carros importados. Se bem que os cassinos da região têm estacionamento próprio e uma tropa de cheque privada para evitar qualquer contratempo.
Vou dar alguns endereços que conheço só de passar na frente:

- Av. Vasco da Gama, 755
- Rua Miguel Tostes, 559
- Av. Independência, na galeria em frente à praça Júlio de Castilhos

Agora sem ironia, a polícia não vai nesses cassinos por causa das Mercedes que estão estacionadas na frente. Como em tudo que envolve os órgãos de repressão, só pobre é que vai em cana. Os ricos seguem cheirando cocaína pura e jogando em cassinos.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Tudo na mesma

Uma semana se passou desde a última postagem. As coisas particulares andam meio complicadas: monografia, bandas, trabalhos....
Pois eis que me volto novamente para o mundo e vejo tudo na mesma. Notícia do Estadão de hoje: “Desmatamento avança no norte de MT”. O pessoal anda substituindo a Floresta Amazônica por pasto para o gado. Ai o nosso Governo Federal, na sua ânsia incontrolável de voltar ao século XVI, anuncia que vai “permitir o plantio de cana-de-açúcar em áreas de pastagem degradada da Amazônia”.
O que me leva a outra reflexão. O Brasil já foi Terceiro Mundo, Subdesenvolvido, Em Desenvolvimento, Emergente, até País do Futuro já fomos, e alguma coisa mudou?
Aqui no Estado a governadora aumenta impostos. Nada de novo no front. O povo paga a conta e os grandes empresários seguem sonegando. Não é invenção minha, são os próprios fiscais do tesouro que dizem.
O Centro de Porto Alegre virou praça de guerra entre camelôs, fiscais da Smic e polícia. Eles querem que os pobres morram de fome ou que apodreçam nas prisões. Ou o cara vira camelô, ou funcionário do tráfico. Na favela (que nosso eufemismo permite que chamemos de “vila”) a gurizada não tem escolha. Até porque eles querem comprar um tênis Nike igual ao dos atores de Malhação.

Pois bem, frente a esse quadro, chego à conclusão de que não adianta nada ficar gastando meu tempo tentando desvendar essas obviedades. Durante a semana este blog vai passar por uma reestruturação, inclusive de conteúdo. Aguardem.

segunda-feira, outubro 15, 2007

ZMentira e a Firma

Será que o pessoal da Zero Hora anda lendo esse blog? Uma super “reportagem”, em quatro capítulos, sobre a Firma, tantas vezes mencionada aqui. É a melhor prova de que a ZMentira (como diria o professor WU) é feita por e para o pessoal dos carros importados.
O texto de ZMentira deve ser lido ao contrário. Ninguém precisa ter medo de traficantes, temos que ficar preocupados é com a polícia. Como diria o garçom Jorge, que circula pelo Gasômetro e Beira Rio com seu isopor de cerveja: “eu saio da vila para ser assaltado aqui no Centro. E quem me rouba é justamente que deveria me proteger”.
Quem financia o tráfico não é a galera que fuma um, é a alta burguesia viciada em cocaína e que hipocritamente banca a política proibicionista. Que maravilha seria se pudéssemos plantar nossas arvorezinhas em casa, com alto controle de qualidade e garantia de um produto 100% natural. Como não temos essa alternativa, somos obrigados a recorrer à Firma.
Vamos à “reportagem”. Sua primeira frase: “como um executivo de bem com a vida, Flávio acorda sem pressa, às 9h, em Porto Alegre”. Aí está tudo explicado. Porém a ignorância e o ódio de classe dos “repórteres” de ZMentira não os deixam enxergar. O discurso da mídia é tão poderoso que já tomou os corações e mentes da população. Todos querem fazer parte do pessoal dos carros importados. Jovens roubam para ter um Nike. Nesse sentido, o que impede que um jovem de vinte e poucos anos queira ser um “executivo de bem com a vida”? Para ZMentira, só quem é da alta burguesia pode se dar a esse luxo. O pessoal da vila tem que ser porteiro, gari, cozinheiro, pedreiro. A política deles é menos escola, mais presídios. Com uma mão dão a ilusão de uma vida melhor no consumismo e com a outra tiram qualquer possibilidade de consumo.
Não acredite em nada do “Grupo”. A RBS é um partido de extrema direita.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Mas que merda!

Esse mundo, do jeito que está, é uma merda. Não tem como não ser.

1- Famílias inteiras moram nas ruas, sob os viadutos. Cozinham papel e arroz em latas de tinta, ou de óleo, usadas. Dormem espremidas contra o frio e envoltas por um cheiro insuportável de mijo e todas as coisas que apodrecem ao seu redor. Não são seres humanos. Aí a madame passa no seu carro importado e o que ela pensa? “Que nojo”.

2- Crianças trafegam como zumbis com suas garrafas químicas pelas calçadas. Já não têm mais cérebro. Fumam crack e bebem cachaça para esquecer da fome. Crianças! De 8, 9 anos de idade. Outros fazem malabarismos nas sinaleiras. Todo o dia, todos os dias. Uma luta incessante por “uma moedinha, tio”. Aí passa a madame no seu carro importado e o que ela pensa? “Que medo”.

3- Milhares de jovens e adolescentes entram na vida do crime. Eles querem um tênis Nike e levar sua namorada para jantar num restaurante bacana. Seu destino é a morte ou um presídio superlotado. Não querem saber de escola. Não querem saber de emprego, porque sabem que serão escravos. Querem uma vida de “Malhação”, de condomínios de luxo. Aí passa a madame no seu carro importado e o que ela pensa? “Vagabundo”.

Chega, ou querem mais?

quarta-feira, outubro 10, 2007

Transportes

Está em todos os jornais: o governo vendeu 2.600 Km de estradas federais. Só para refrescar a memória, ambos os candidatos à presidência no ano passado afirmaram que “nada que fosse público seria vendido”. Quem grita é a classe média, que tem carro. Mas o assunto é sério e atinge também o povão que depende de ônibus para se deslocar. Só para termos uma idéia, uma passagem de ônibus para São Paulo custa R$145. Quem tem acesso à internet, e paciência para procurar, consegue uma passagem de avião por R$100, ou até menos.
Alguma coisa não está certa. E eu digo o que é: o modelo de transportes adotado pelo Brasil. Para babar ovo dos Estados Unidos acabamos com nossas ferrovias e hidrovias. Sim, o Brasil tinha um vigoroso transporte hidroviário. Imaginem se tivéssemos em vez da BR101, a T101, uma linha de trem ligando todo o litoral brasileiro? Menos acidentes, menos mortes, menos poluição, mais liberdade, preços mais baratos, maior contato entre as pessoas, enfim, só vantagens.
É óbvio que os donos do Brasil não iam gostar nada disso. Fazer o bem para o povo não está nem perto dos seus planos....

terça-feira, outubro 09, 2007

Oportunidade perdida

A humanidade perdeu uma grande chance de evoluir. Falo do biênio 1967/68. Como não o vivi, tenho a facilidade de analisar com um certo distanciamento histórico. Com o qual, inclusive, corro o risco de ser extremamente superficial.
Pois bem, morreu Che Guevara. Os jovens comunistas se viram de uma hora para outra órfãos do seu ícone. Foi então a oportunidade dos jovens anarquistas roubarem a cena. Do pacifismo hippie/novo homem norte-americano à rebelião contínua dos franceses, todos tinham uma mesma idéia: acabar com a estrutura vigente.
O que, de fato, conseguiram. Mulheres, negros, homossexuais, e todos que antes sofriam um enorme preconceito passaram a assumir seu lugar na sociedade sem medo. O sexo deixou de ser tabu e passou a ser discutido livremente, assim como o uso de drogas. Tudo isso embalado pela grande revolução musical de Beatles, Rolling Stones, Greatful Dead, Bob Dylan, The Doors, Jimmi Hendrix..........
Realmente uma grande chance. Mas o que sobrou disso tudo? As mulheres, ao invés da liberdade, procuraram a mesma escravidão a que os homens estão submetidos: empregos, salários, sucesso, dinheiro. Sexo virou mercadoria, e hoje está muito longe do verdadeiro sentido do amor. As drogas são usadas para fugir da realidade e não para transformá-la. E, por último, o Rock’n’Roll acabou.
Quando virá a nova revolução? Fiquemos atentos para não perdermos, mais uma vez, a oportunidade.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Os bons piratas

A expressão mais ouvida em qualquer centro de grande cidade é “CD, DVD, Play1, Play2”. Pirataria. Já comentei antes que as lojas de discos estão às moscas, e não é sem razão. Qual o preço de um CD? Os mais baratos giram em torno de R$20. Claro, temos as promoções de R$10, e até de R$5, mas sabemos que tipo de disco é.
O que resta para o povão é a pirataria. Como não comprar um CD com toda a discografia da sua banda favorita por R$5? Ou pagar o preço abusivo dos cinemas, quando todos os lançamentos estão ali na calçada?
Pois bem, estou com a revista Rolling Stone de setembro em mãos. A matéria “Metamorfose Ambulante” trata das modificações do mercado perante este fato. As gravadoras estão muito preocupadas com a queda nas vendas, principalmente por conta da pirataria e dos downloads. Os executivos reclamam e dizem que “a situação do mercado no Brasil é séria, até grave. Pela queda do mercado, que vem se acentuando, devido à pirataria, que é crime organizado, que fomenta o tráfico e a guerra, quanta gente perdeu o emprego?” (Alexandre Schiavo, gerente da Sony/BMG). Seu escritório tinha 500 pessoas e hoje conta com apenas 90. Exigem incentivos do governo para que possam baratear seus produtos.
Agora eu pergunto: quantos jovens viram uma oportunidade de tirar a barriga da miséria com a venda de discos piratas? E o povo, que passou a ter acesso à música do seu artista preferido? Músico nunca ganhou dinheiro com venda de disco. Músico ganha dinheiro em show. É por isso que muitos deles não estão nem aí para a pirataria. Claro que Metallica e o pagodeiro Belo reclamam. Afinal, têm contratos fartos com as gravadoras. Mas os músicos de verdade, aqueles que estão lutando para aparecer, estão felizes da vida com a profusão de música barata, seja na internet, seja nas calçadas.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Violência

Existem muitas teorias sobre as causas da violência. Falta de polícia, miséria, desigualdade social, falta de cadeias, tráfico de drogas...... Tudo balela. Antes de reverberar qualquer uma dessas “verdades” impostas pela imprensa, pense que a culpa pela violência é sua.
Em primeiro lugar, o medo. Grades, condomínios fechados, prédios, carros, e ficamos todos longe do espaço que é nosso; a rua. Devemos tomar conta das ruas, evitar o preconceito e saber que somos todos iguais.
Em segundo lugar, a ostentação. Vocês, por acaso, sabem por que um adolescente coloca a arma na cara de um cidadão e leva seu carro? Para comprar um tênis Nike e jantar com sua namorada em um restaurante bacana. Esta afirmação eu ouvi de um apenado da Fase, antiga Febem: “eu nem precisava roubar. Minha mãe ganha bem, meu padrasto também. Mas eu tenho que andar com dinheiro no bolso. Gosto de me vestir com roupas legais, andar com um tênis legal, sair para a festa com dinheiro”.
Por quê? Fico imaginando como eu, um rapaz de classe média, posso viver na pindaíba, sempre sem dinheiro, comendo uma refeição por dia, e mesmo assim, feliz da vida. De onde vem essa necessidade por bens materiais que fomenta o crime?
Eu tenho minhas respostas. E vocês?

quinta-feira, outubro 04, 2007

Rock é Rock mesmo

Não tenho a prática de reproduzir outros textos nesse blog. Mas este merece:

“O racismo está tão profundamente arraigado nos Estados Unidos que pessoas boas não percebem que suas atitudes são racistas e que estão contribuindo para a revoltante opressão baseada na cor das pessoas. Os criadores e os inovadores da música afro-americana, a única revolução musical importante que ocorreu desde as valsas de Strauss, deviam ser venerados e respeitados. No entanto, Paul Whiteman foi coroado rei do jazz, Benny Goodman, rei do swing, e Elvis Presley, rei do rock’n’roll, enquanto aos gênios negros, como Duke Ellington, Count Basie, Billie Holiday, Joe Turner e Little Richard, que criaram a única forma de música clássica dos Estados Unidos, sempre foi negado reconhecimento em seu próprio país.”

Este parágrafo está no prefácio do livro “A vida e a época de Little Richard”, de Charles White. Vale a pena a leitura. É a própria história do Rock, contada por quem viveu tudo pela primeira vez. Ajuda-nos a entender o porquê da força do Rock’n’Roll e também confirma a teoria de que o que se faz hoje não tem nada a ver com a música original. Rock é rebeldia, contestação, luta, e sim, é coisa de negrão, de pobre.
Fodam-se os playboys do Rock! Fodam-se os bares com preços abusivos! Foda-se a cerveja cara! Fodam-se as gravadoras de discos!
Viva o Rock’n’Roll!!!

quarta-feira, outubro 03, 2007

Um dia qualquer

Já não enxergava mais nada como antes. As imagens pareciam demorar a tomar forma no cérebro. Olhei para o lado e ela estava ali; ainda bem, começava a ficar com medo. Tentei levantar. Na sala o ambiente sufocava. A cara inquiridora do Che Guevara de parede me causava um desconforto imenso. Não tenho culpa, não quero essa revolução. O ar pesado pelas ondas do Rock’n’Roll invadia meu corpo. Levantei. Não sentia as pernas. Não sentia nada do pescoço para baixo; ou seria do pescoço para cima? Dei dois passos e aquela voz me atingiu em cheio: “aonde tu vais”? Aonde eu vou? Ora, sei lá, não me lembro, só tinha que levantar. Olhei na direção em que fui atingido pela voz, e lá estava ela. “Nossa, como é linda”, penso em um acesso de romantismo desenfreado. Caminho na sua direção. Ela está no sofá. Derrubo um cinzeiro, um copo, chego bem perto dela: “me dá um beijo”. Nossas línguas se cruzam num ritmo infernal que leva minha mente para lugares nunca antes visitados. Acho que vi o futuro. Nós dois numa casa, olhando as crianças que brigam por uma coisa qualquer, viro para ela, olho no fundo dos seus olhos e vejo minha vida; eu te amo. Sento novamente no sofá. O ar já não é mais tão importante. Nada mais é “tão” importante. Viro-me novamente para ela e, do fundo do meu coração, digo:
-Que fome, vamos comer alguma coisa?
-Báh, certo! Erva boa essa, né?
-Tô viajando horrores.
-Eu também.
-Eu te amo.
-Eu também.

terça-feira, outubro 02, 2007

Capitalistas não sabem nada de capitalismo

Continua a mobilização dos bancários por melhores salários. Eu, particularmente, acho um saco essa conversa sindical, até porque são todos meio comunas. Fosse um sindicato anarquista e já teríamos bancos pegando fogo, barricadas, tropa de choque....(vai sonhando, vai sonhando).
No entanto, qualquer pessoa que possua o mínimo de raciocínio lógico sabe que é justa a luta dos trabalhadores. Eles querem um aumento de 10,4% (ou alguma coisa por aí). A princípio os banqueiros queriam apenas repor a inflação do período, que ficou em 4,82%. Ontem, dia 1º, a Fenaban acenou com uma nova proposta, 6%. Provavelmente será fechado um acordo em torno dessa cifra.
Agora, vejamos se isso é justo. Todos acompanhamos pela imprensa a emocionante corrida dos bancos em busca do maior lucro. Economistas e jornalistas especializados chegam a chorar quando o Itaú passa o Bradesco. Ou seria quando o Bradesco passa o Itaú? Não importa. De qualquer forma é um espetáculo bizarro. Reproduzo aqui os lucros dos maiores bancos no primeiro semestre de 2007:

Itaú – R$ 4,016 bilhões
Bradesco – R$ 4,007 bilhões
Banco do Brasil – R$ 2,5 bilhões
Caixa Econômica Federal – R$ 1,716 bilhão
Unibanco – R$ 1,422 bilhão
ABN Amro Real – R$ 1,261 bilhão
Santander Banespa – R$ 1,002 bilhão
Banrisul – R$ 725,1 milhões

Paramos por aqui. Será que 10% de aumento para os trabalhadores fariam os donos dos bancos mais pobres? E digo mais, eles, como a ponta de lança do capitalismo, não entendem nada de capitalismo. Dado o aumento, poderiam pleitear uma colocação naquelas revistas que divulgam “as melhores empresas para trabalhar”. Ou quem sabe um selinho de “responsabilidade social”. Com essa ilusão, suas ações subiriam na bolsa de valores, o que aumentaria seus lucros.
Já viram essa? Um anarquista dando aulas de capitalismo. Em que mundo vivemos.....

sexta-feira, setembro 28, 2007

O caminho do fim

Pois é, há uma semana eu falava que “o Rio Grande é a Amazônia amanhã”. Para quem não sabe, toda a parte norte do nosso Estado era coberta por uma frondosa floresta. Um pequeno reduto dessa maravilha foi preservado, no Parque do Turvo, município de Derrubadas. Na verdade é uma visão bizarra, triste. Nuvens de agrotóxico e a fauna ilhada, esperando uma morte lenta e certa.
Pois bem, para provar que não estou ficando louco, aqui vai uma notícia de hoje:

“Amazônia: Governo vai permitir plantações de cana em áreas de pastagem degradada”.

É do jornal O Globo, por incrível que isso possa parecer. Agora, tentem adivinhar como começou a devastação aqui no nosso Estado? Complete o quadro com estas outras notícias, do Estado de São Paulo, coladas no blog Ponto de Vista:

“Lula diz na ONU que etanol é compatível com preservação”

“Preço dos alimentos deve elevar a inflação deste ano à meta de 4,5%”

“Consumo de nutrientes essenciais é baixo no Brasil, revela estudo”

“Em MT, derrubada de mata subiu 200%”

E aí, não vão querer que eu explique tudo, certo?

quinta-feira, setembro 27, 2007

"35 anos de Rock"

O bar é um local privilegiado de aprendizado. É a própria esfera pública. Todos os assuntos são lá discutidos, elaborados, contatos são feitos, xingamentos, risadas, enfim, bar.
Mas os bares não são todos iguais, longe disso. Para o bar ser considerado bom, existe um pré-requisito fundamental: cerveja barata. Na geografia da vizinhança Cidade Baixa / Bom Fim, podemos já excluir uma penca de estabelecimentos: Copão (bar de playboy), Ossip (bar de veado), todos os bares do Olaria (lugar de playboy veado), e mais alguns outros representativos desse universo. Nada de preconceito. Só estou considerando minha opção como rocker e heterossexual.
Tudo isso para dizer que dentre os botecos que sobraram existe um de destaque: Rossi Bar. É a sala de aula número 1 da Faculdade de Rock. Ontem, por exemplo, passamos lá um bom tempo tomando cerveja e ouvindo o disco Reflection, do Steamhammer. Sim, isso mesmo, Steamhammer. Grande banda de blues-rock inglesa, cujo vocalista, Kieran White, tem uma voz muito parecida com a do Ian Anderson (inclusive, duvido que ele diria que sua banda não é uma banda de Rock, mas essa é outra história...).
Lá pelas tantas a Frã para o Afonso, dono do boteco, e pergunta: “há quanto tempo tu curte Rock”. Depois de alguns cálculos, “35 anos”. Foi a senha para ele se soltar e começar a largar algumas pérolas como “eu tenho mais de dois mil discos de blues. E para ser blues tem que respeitar duas regras: ser feito nos Estados Unidos e por negros”.
Nessa ficamos, falando coisas de Rock e bebendo Polar gelada a R$2,90. Fica a dica: se não souber o que fazer na noite, dê uma passadinha no Rossi. Quem sabe não sobra uma aulinha de Rock’n’Roll....

terça-feira, setembro 25, 2007

Mentiras

Por força do meu trabalho de conclusão, tenho lido dezenas de revistas antigas. Nem tanto, de julho a novembro do ano passado, época das eleições. Mas já o suficiente para ver o quanto uma revista velha é ridícula. Jornal, então, nem se fala. Faça o teste: pegue aquela pilha de jornais da semana passada e dê uma olhada. “Meu deus, é tudo mentira!”. Sim, mas por quê?
1- Um jornal é feito totalmente dentro de uma redação. Como esperar que alguém reflita a realidade quando não sai de um ambiente artificial?
2- Há uma grande inversão de prioridades. Fatos importantes são esquecidos; coisas banais são remoídas à exaustão.
3- Nada supera a vida nas ruas. Por mais que eles tentem, não conseguem nos enganar o tempo todo. Só quem faz parte do “povo” sabe como funciona o mundo.
4- As pessoas que produzem o jornal fazem parte do pessoal dos carros importados; ou querem fazer.

É óbvio que a reflexão é muito mais profunda. Estes são apenas alguns tópicos que se destacam na minha humilde avaliação. Mas nem sempre foi assim. Houve uma época em que existiam jornalistas de verdade. Como nós trabalhamos com noções de comparação, vai aqui uma dica. Leia um exemplar da revista Realidade, publicada pela Editora Abril entre os anos 60 e 70. Depois pegue uma Veja, por sinal da mesma editora, e compare.
Depois disso, continuar comprando Veja é sinal de má fé; ou indigência mental.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Festa dos 10

O domingo acabou comigo tentando comprar uma pizza no Habib’s. As socialites visivelmente incomodadas com minha embriagues. Pelo menos a atendente teve alguns momentos de alegria: “Escolhe um sabor qualquer aí, o que ficar mais fácil de fazer”. Boa pizza. Não lembro agora de que.
Sim, eu estava feliz. Depois de quatro dias convivendo com as melhores pessoas do mundo, não podia ser diferente. O apartamento 2 se transformou no grande reduto de Rock’n’Roll da cidade. Que digam os 22 vizinhos que ligaram para a polícia. É, os brigadianos chegaram bem na hora que começou o som da banda. Não dá nada, ninguém conseguia tocar mesmo...
Vou resumir: 26 caixas de cerveja, churrasco sem fim, Rock’n’Roll a todo volume, o tempo todo e os melhores amigos que alguém poderia ter.
Foda-se o resto.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Amigos

"Vamos sair
mas não temos mais dinheiro
meus amigos todos
estão procurando emprego
voltamos a viver
como a dez anos atrás
e a cada hora que passa
envelhecemos dez semanas"

A partir de hoje dedico-me totalmente aos meus verdadeiros amigos. Volto segunda.

quarta-feira, setembro 19, 2007

O Rio Grande é a Amazônia amanhã

“Soja ‘asfixia a Amazônia’, diz francês ‘Le Monde’”. Esta é uma das matérias do site da BBC no dia de hoje.
Que o jornalismo brasileiro é ruim, todo mundo já sabia, mas agora chegou num ponto vergonhoso. Precisamos que os gringos venham nos dizer as verdades sobre o que consideramos nossa maior riqueza. Bem, não sei por que estou espantado. Há muito tempo são eles quem comandam esse pedaço do Brasil. Biopirataria, madeiras, soja, gado, é tudo dos gringos. Aí o paradoxo: eles destroem, eles noticiam, eles fazem campanha para preservar.
A notícia acima tem relação direta com o eu escrevi ontem. Quem vocês acham que planta soja no Pará? São os mesmos “gaúchos” que destruíram as florestas do nosso estado, em parceria com a Monsanto. Para quem não tem idéia do que estou falando, sugiro uma visita ao Parque Estadual do Turvo, no município de Derrubadas, noroeste do estado, pertinho de Tenente Portela. Ali fica clara a devastação de que fomos vítimas.
É interessante também uma passada pela Reserva Indígena da Guarita para uma conversa esclarecedora sobre a verdadeira relação do homem com a natureza. Sobre os índios volto a falar outra hora...

terça-feira, setembro 18, 2007

O anti-gaúcho

Nesta semana todo mundo é gaúcho. Anda orgulhoso com suas bombachas de naftalina, come churrasco e fala grosso. Todos sabem cantar o hino do Estado, “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra”, e logo vem o sentimento de que somos o melhor povo do mundo, paladinos da moral e das virtudes.
Pois esses mesmos “gaúchos”, que sentem tanto orgulho da sua terra, não estão nem aí para a destruição do Pampa. Claro, eles nunca devem ter sequer visto o Pampa, pisado no pasto, passado uma noite a olhar a infinidade de estrelas e os ruídos assustadores do silêncio. Esses “gaúchos” devem achar linda uma plantação de eucaliptos, a maior bizarrice de nossos tempos. Quem planta eucalipto é o próprio anti-gaúcho, é quem está acabando com nossa identidade.
O Rio Grande sangra. Já destruímos todas as nossas florestas do norte para plantar trigo e soja. Não me assustarei se daqui a alguns anos começarem a plantar cana entre tocos de árvores.
No futuro não teremos terra, não teremos gado, não teremos comida. E os “gaúchos” estarão felizes em aplaudir carros alegóricos numa avenida da cidade.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Morgan le Femme

O Rock tem salvação. De tempos em tempos acontece alguma coisa que renova minhas esperanças. Hoje acredito na resistência por causa de um grupo de meninas. Poucas coisas são tão boas de ver quanto uma banda feminina detonando guitarra, baixo e bateria com muita atitude e volume. Morgan le Femme, é o nome.
Gostei tanto que já me auto-intitulei presidente do fã clube delas. São um fenômeno. A baterista deve ter recebido o espírito do John Bonham. O Hamilton, batera da Só Creedence, já tinha me prevenido: “sempre que elas tocam eu levo meu protetor auricular”. Não, ela não é nenhum monstro de quatro braços. É uma guriazinha de óculos, tímida, que ainda carrega uma cara de saída de colégio. A vocalista tem uma voz potente e toda a postura de uma “front-girl”. Não é à toa que ela se atreve a cantar Janis, e canta muito bem. O dueto das cordas completa o time com muita elegância e competência. Se a vocalista arrisca a Janis, as gurias do baixo e guitarra atacam de Pata de Elefante sem perder a compostura.
No repertório delas ainda encontramos Raul, Beatles, Stones, Creedence, ou seja, Rock’n’Roll da fonte. Portanto, fica aqui a sugestão: vejam o show da Morgan le Femme. Quarta-feira elas tocam no Garagem Hermética.
Há, só uma ressalva: elas não bebem nem usam drogas. Bem, são tão novinhas, um dia elas aprendem....

quinta-feira, setembro 13, 2007

De quem é a culpa

Impossível não falar no “grande” fato de ontem. O cara continua lá. Já ouvi de tudo, mas uma frase marcou minha percepção: “o Congresso é uma amostra da nossa sociedade”. Talvez seja; da sociedade deles, da sociedade da ‘opinião pública’, da sociedade dos carros importados e dos condomínios de luxo. O povão sequer sabe quem é Renan Calheiros. Repetem frases feitas: “é um ladrão”, “é corrupto”. Não. Nem isso. Para o povão, Renan Calheiros é o cara que comeu a jornalista gostosa. Ponto. Corrupto todos são, essa não é uma característica que diferencie.
Voltemos ao fato. Como anarquista convicto, torci pela absolvição do senador. Quem sabe assim as pessoas se dão conta de que a política institucional não resolve, nunca resolveu e nem vai resolver a situação do povo. São todos iguais, sua única ideologia é o dinheiro. Suas ações são todas para resolver os problemas dos financiadores de campanhas. Quem são os financiadores de campanhas? O pessoal dos carros importados. De quem é a culpa dessa zona toda? É só pensar um pouquinho...

segunda-feira, setembro 10, 2007

Fama e Fortuna

Depois de um fim-de-semana de consumo absurdo de álcool, cigarros, churrasco, maconha e Rock’n’Roll, cheguei a uma conclusão: roqueiros não vão à praia.
Qual banda que se preze marcaria um show para o sábado 8 de setembro? Deve ser a pior data do ano, bem no meio do feriado. Quando o Zanatta, vocalista da Paranóia II (banda da qual sou o guitarrista), disse que tinha fechado esse dia logo pensei: “que furada”. Bem, de qualquer forma eu teria que ficar torrando na Capital por conta do trabalho.
Então, segui com toda a tradição: fazer cartazes, imprimir, colar, mandar e-mail para rádios, jornais, intimar a galera na rua, enfim, toda aquela função. O dia do show era também dia de jogo do Colorado e um dos dias de maior ressaca da minha vida. Apavoramos na sexta. Mas, não dá nada, vamos lá. Carregar instrumentos, amplificadores, montar o palco, passar o som. Pelas 9h da noite eu já queria jogar tudo pro alto: não vai vir ninguém mesmo.
Depois de uma sessão de descarrego a lá Bob Marley e uma leve concentração no Rossi Bar, fomos para o local do show. Qual não foi minha surpresa: todas as mesas estavam lotadas, assim como o balcão do bar. Já era um público excelente, umas 30 pessoas.
Quem abriu o show foram as gurias da Morgan le Femme. Muito rockers. Nesse tempo o bar foi enchendo. Lá pelas tantas os donos tiveram que abrir o mezanino porque já estava começando a ficar apertado.
Subimos no palco e fizemos nossa parte. O pessoal cantou, pulou, bebeu, enfim, foi uma grande festa de Rock’n’Roll. Acabamos a noite no Marinho, onde gastei todo o dinheiro que ganhei no show. 50 pila. Não dá nada. Pelo menos tive meus momentos de fama e fortuna.

terça-feira, setembro 04, 2007

Rock mata

Eu gosto do site da BBC. Os caras são os campeões na divulgação de pesquisas inúteis. O que, por sinal, me faz pensar que os pesquisadores da Inglaterra são todos especialistas em porra nenhuma.
Essa é de hoje: “Roqueiros têm o dobro de chance de morrer jovens, diz estudo”. O senhor Mark Bellis, coordenador do projeto, merece um prêmio Nobel; de obviedade. Para os amigos, um trecho da notícia: “Os pesquisadores analisaram 1.050 roqueiros europeus e americanos. Cem deles morreram entre 1956 e 2005 - sendo que as estrelas americanas morreram com uma média de idade de 42 anos e os europeus, com 35. O consumo de drogas e bebidas alcoólicas está por trás de uma em cada quatro dessas mortes prematuras, disse o Journal of Epidemiology and Community Health”.
Finalmente está comprovado, o Rock mata. Como se ninguém soubesse disso. Repito, grande contribuição do seu Bellis, meu voto para o Nobel. Bons moços não fazem Rock. Se você não está disposto a enfrentar os limites, caia fora antes que seja tarde.

P.s.: Para o amigo Dani, que escreveu um belo texto sobre o Deep Purple (http://www.armazemdanoticia.com.br/cgi-bin/armazemdanoticia_colunistas.pl?classe=daniel_gustavo_basso&id=2483): já fui a dois shows dos velhos, um melhor que o outro. Pelo menos umas mil vezes mais Rock’n’Roll que essas bostas de hoje em dia. Conselho de amigo: se vierem de novo levanta a bunda do sofá e vem curtir com a gente. Abraço!

segunda-feira, setembro 03, 2007

"Deus me Livre"

Algumas imagens emocionam. O Pampa ao fim do dia é uma delas. Sua grandeza nos dá uma vaga noção do que somos: nada. Uma profusão de cores, pedras púrpuras, céu verde, pasto cinza..... Além disso, a história. Podemos ouvir sons de um passado glorioso, a dor de uma vida solitária, encontro de metais, um passado ao qual pertencemos porque segue vivo em algum lugar da alma.
Vinha pensando sobre essas coisas, quase chorando de emoção, quando me deparo com uma das maiores bizarrices do nosso tempo: uma plantação de eucalipto. Baita corta clima. As pessoas podem achar os argumentos dos cientistas ideológicos, podem ter raiva do MST e da Via Campesina, podem odiar os políticos que são contra a monocultura. Mas esse argumento não pode ser refutado. Uma plantação de eucaliptos é muito feia. É uma questão de estética gaudéria ser contra essa produção. Questão de orgulho do passado, como temos orgulho de dizer.
Ao longo da estrada vimos uma série de placas da Aracruz. “Quer ser Produtor Florestal? Ligue 0800-5107100”. Assim mesmo, com letra maiúscula e 0800. Como resposta a essa singela pergunta, propomos a criação do movimento “Deus me Livre”. O ato subversivo da semana é ligar para esse telefone e encher o saco deles. Eu sei que muito dirão “mas as telefonistas não têm nada a ver com isso”. Azar o delas. Ato subversivo nº2: pintar “Deus me Livre” em toda e qualquer propaganda da Aracruz.
Mãos à obra.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Paradoxos da ditadura

A ditadura está a todo o vapor. Neste nosso mundo louco, mundo dos paradoxos, é o próprio ditador quem denuncia: “Supremo votou com a faca no pescoço”, imprimiu a Folha de São Paulo para todo o Brasil.
A tal “faca no pescoço” foi colocada pela própria mídia, que é a face pública do pessoal que não pode mais andar na rua. Eles continuam sem entender a reeleição do Lula. Seu sonho é um golpe. Já temos a versão 2007 da “Marcha com Deus e Pela Família”. Se bem que num estilo muito mais cansado. E os milicos? Bem, os milicos estão desmoralizados pela falta do inimigo comunista.
Enquanto isso, o povão está preocupado em sobreviver. Por isso, a nossa sugestão:
- compre produtos piratas;
- visite as vilas da cidade;
- só vá ao supermercado em caso de extrema necessidade;
- verduras e legumes, só de feiras ecológicas;
- plante cannabis em espaços públicos;
- escreva frases de amor nos muros;
- não acredite em nada do que você lê.

Bom final de semana. Eu vou me afundar em churrasco, cerveja e cigarro. Bagé, aí vamos nós.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Renegados

Celas. Prisões. Olhos desconfiados, desafiadores, desesperançados. Fotos. Mulheres, mulheres, carros e mais mulheres. Eu, que tenho tudo, sinto vergonha. São animais, jogados ao léu, com sua cota de ração, um teto, um chão e tempo. Mas como animais de um zoológico, estão vivos. Este é seu drama e sua alegria. Estão vivos e lá fora não estariam. Querem sair e morrem. A culpa é minha? Talvez não, mas sinto vergonha.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Ricos e cansados

“Os 10% mais ricos do Brasil gastam 10 vezes mais que os 40% mais pobres, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”. Esta é a grande notícia de hoje. Só comprovou o óbvio, o que todos vêm nas ruas. Quer dizer, nem todos, porque alguns não podem mais andar por elas. Por sinal eu descobri o porquê dessa atitude. Não é que eles tenham medo, ou nojo, do povão. Longe disso. Eles não podem mais sair às ruas porque estão cansados.
Seguimos com a notícia: “o estudo observou que 40% das famílias com menos rendimentos (até R$ 758,25) possuíam, em 2003, uma despesa per capita de aproximadamente R$ 180, enquanto as 10% mais ricas (igual ou maior que R$ 3.875,78) tinham despesa per capita de R$ 1,8 mil”. Como não cansar? São precisas muitas voltas no shopping, carregar sacolas cheias de compras, enfrentar o trânsito caótico; se cair no azar de ficar atrás de uma carroça então..... muito cansaço.
O paradoxo é que eles vão para a praça reclamar dessa fadiga. Seu grande protesto foi na Praça da Sé, em São Paulo. Informações extra-oficiais indicam que o próximo evento será muito mais pragmático. Para não correr o risco de ver um salto dos seus Arezzos perdido pela rua, as madames vão colocar faixas na Daslu.
Nelson Rodrigues criticava, mas eram bons os tempos em que as socialites liam as orelhas de Marcuse....

terça-feira, agosto 28, 2007

Jovem

O que é a nossa geração? Nós, que estamos entre os 25 e os 30 somos o nada. Jovens. Hoje é uma palavra sem sentido, jovem. Sinônimo de irresponsabilidade, de uma liberdade destituída de sentido, de significados apropriados para propagandas de roupas, carros e lâminas de barbear.
Lembro meus tempos de criança. Tudo o que eu queria da vida era ser jovem, ir a shows de Rock, namorar. Mais que isso, eu queria ser um rebelde. Queria andar com minhas calças rasgadas, ler livros subversivos, ouvir Dead Kennedys e Legião Urbana. Hoje eu sei que era um saudosismo de alguma coisa que não vivi. Do tempo em que os jovens iam mudar o mundo.
Mundo que não entendeu nada. O século XX fracassou e perdeu a grande chance. Sim, nossos pais são perdedores e nós somos o pagamento. Os jovens não queriam dominar o mundo, apenas suas próprias vidas. Era este simples direito o objeto de conquista. Por pouco não conseguiram. As ferramentas do sistema foram mais poderosas. Eles não podem abrir mão de seus escravos.
Vivemos no torpor dessa grande derrota. Apanhamos forte demais para uma pronta reação. Hoje somos o nada e as perspectivas não são animadoras. Mas existe esperança. Coisas simples, como amigos que comemoram dez anos de união. Vamos olhar mais para a simplicidade e para as coisas que realmente são importantes. Tudo vai ficar mais fácil e talvez algum dia completemos a missão de nossos pais.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Entrevista psicótica 3

Segunda-feira é um dia difícil. Continuo mijando cachaça. Nenhum pensamento consegue ficar mais que trinta segundos na mente. Fumaça. Ando meio sem rumo pela casa, a rua é muito opressiva. No rádio uma música para lembrar a festa, Gloria, do Doors. Um gole de água, um olhar com nojo para o vinho. Só uma taça, talvez passe a tremedeira. Sofá. De repente uma voz: “hey man, tonight it will be all right”. Era Jim Morrison sentado em cima do amplificador com uma garrafa e algumas pílulas. Não podia perder a oportunidade de mais uma entrevista:

Devaneios: E aí Jim, pelo visto continua com as drogas?
Jim Morrison: Bem, você sabe, o processo de expansão dos sentidos é contínuo. Quero sempre buscar novas maneiras de ver o mundo, as pessoas.
Devaneios: E que tal o mundo agora? Muitos insistem em fazer um paralelo com a sua época.
Jim Morrison: De fato as coisas andam meio parecidas. Guerras, miséria, ditadura. Só que hoje não existe resistência. Até acho que as pessoas, individualmente, estão descontentes com a situação, mas o sistema está muito bem preparado. Qualquer revolta é imediatamente sufocada. Os jovens vivem a repressão dos instintos. O mercado apropriou-se da rebeldia e a transformou em marca. Isso acontece desde a nossa época, mas agora o controle é quase total.
Devaneios: Mas você não foi um individualista? Será que hoje precisamos de algo como um movimento?
Jim Morrison: Não, não é nada disso. Eu sempre fui individualista, só quis viver minha vida da maneira que achava necessário. Só quis conhecer o sentido disso tudo, saber o que estava fazendo aí. Ainda não descobri. Mas acontece que naquela época existia uma união espiritual. Por todos estarem muito preocupados com suas próprias vidas, acabavam fazendo o bem para todos e lutando pelas condições necessárias para a tranqüilidade. Hoje a lógica parece ser diferente: um quer ocupar o lugar do outro e não o seu próprio.
Devaneios: E a música? O Rock acabou?
Jim Morrison: O Rock sempre foi mais a postura do que a música propriamente dita. Pelo que vejo, falta postura Rock no mundo de vocês.

Acabou a música. Antes de ir ele ainda me deu a receita para uma tarde tranqüila: “smoke some marijuana and get some sleep”. E é justamente isso que vou fazer.

sexta-feira, agosto 24, 2007

A firma - II

Os leitores devem lembrar que o representante de uma das firmas instaladas nas vilas de Porto Alegre prometeu um bom produto dali a uma semana. Para eles promessa é dívida:

- Aí meu irmão! Hoje te deu bem.
- Qualé?
- Estamos com a massa, o “mentolado”.
- E como é que está?
- Esse ta 50 por 50. Mas temos do antigo, que agora baixou para 40 por 50.
- Vou levar o mentolado.

Enquanto o cara vai buscar rola a conversa com o pessoal da vila. Há duas noites a polícia resolveu fazer uma operação ali. “Eles vêm todos cheirados”. Um deles bateu na porta de uma casa. O pessoal, assustado, não atendeu. Mais batidas. O dono da casa vai para a porta com uma faca na mão. O brigadiano se assusta e dá um tiro. “Vamo embora, vamo embora!”. E o pessoal da vila tem que sair correndo para o HPS com o vizinho baleado.
Volta o pessoal da firma. Junto com o tradicional vendedor, alguém que parece ocupar um posto mais elevado:

- Esse é do bom.
- Pode crê, eu confio em vocês.
- Vem aí na hora que quiser. Aqui tu é de casa.
- Isso aí. Um abraço.

Enquanto isso, o pessoal dos carros importados continua achando que não pode sair de casa......

quinta-feira, agosto 23, 2007

Paradoxos

Desculpem-me os leitores pela falta de textos nos últimos dias. Muita confusão. Mente e corpo chegaram quase ao limite. Pelo menos coletamos novas histórias para novas reflexões. Como essa:
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"Lá na vila onde eu moro, se alguém vai te assaltar já chega um monte de gente dizendo: 'larga o cara, ele é dos nossos'. Mas quando eu venho aqui para o Centro e sou roubado pelas autoridades oficiais vocês, universitários, que se julgam a elite do país, não falam nada, deixam um pobre como eu perder seu ganha pão".
Pois é, tive que ouvir essas verdades do Jorge, vendedor ambulante, garçom da galera que vai curtir um final de tarde no gasômetro. Na mesma hora pensei no pessoal dos carros importados e no fato de que eles não podem mais sair nas ruas. Vejam que paradoxo: os ricos não são livres porque têm medo dos pobres e os pobres não são livres por causa do aparelho repressivo dos ricos.
O Brasil não é um país; são dois, completamente diferentes. Nos shoppings grupos com mais de cinco pessoas podem ser dispersos pela segurança. Imagino a família Johannpeter sendo convidada a se retirar pelos seguranças. No centro das cidades os vendedores de produtos piratas são tratados a base de porrada pelas autoridades. Já os mega-fazendeiros que fazem contrabando de sementes transgênicas são recebidos por governadores, ministros e presidente. Manifestação e confronto nas estradas gaúchas. De um lado agricultores sem terra com enxadas na mão, crianças maltrapilhas, rostos marcados pela fome e miséria; do outro proprietários de camionetes importadas, de terras que a vista não alcança, mansões na cidade e no campo.
É, quem não tem vontade de sair de casa sou eu.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Venezuela

A questão venezuelana não é de fácil análise. Até porque estamos aqui em Porto Alegre, muito distante da realidade daquele país. Pior, somos reféns das poucas notícias que nos chegam, a maioria pela grande imprensa. Não morro de amores pelo Chávez. Todos sabemos que os comunistas têm uma tendência à ditadura. Mas quando um órgão da grande imprensa, como a BBC, publica uma matéria com o seguinte viés, nos leva à reflexão:

“Não nos preocupa a reeleição indefinida, porque se Chávez for reeleito uma e outra vez será por vontade do povo. Vivemos em um país democrático, aqui não existe imposições. A reforma vem no momento em que precisamos aprofundar o processo revolucionário”, disse à BBC Brasil a estudante universitária Scarlet Rodrigues.
Um comerciante que acompanhava a conversa complementou: “Além disso, temos o referendo revogatório. Só fica na presidência se quisermos”.
(...) Caberá à Assembléia Nacional aprovar ou rechaçar o projeto de reforma da Constituição. Se aprovado, o texto da nova Carta Magna deverá ser ratificado em consulta popular.

O texto é sobre a reforma constitucional pretendida pelo governo. Seus principais pontos são a possibilidade de reeleição indefinida, redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais, a inclusão de um quarto poder constitucional, chamado “Poder Comunitário”, e a inclusão do termo “propriedade social” no artigo da constituição que trata da propriedade privada.
Que tal compararmos com o que acontece no Brasil? Prorrogação da CPMF, venda de ações do Banrisul, enturmação nas escolas, juros astronômicos, reformas constitucionais.....
Quem é democrático?

quinta-feira, agosto 16, 2007

Divagações desconexas sobre o que é Rock'n'Roll - Elvis


Elvis morreu? Apesar da crença de que ele esteja vivo em algum lugar da Argentina, sim, ele morreu. Muitos acreditam que faz muito mais de 30 anos. Como sempre, palavras de Raulzito, em entrevista de 1975:

"Eu quero ver o diabo da religião católica e não quero ver o Elvis hoje. Não tenho saco pra ele cantando hoje em dia. O que fizeram com ele... o que ele deixou que fizessem... aquela coisa gozada, hollyhoodiana, Dean Martin... Eu gosto do Elvis até 1958, quando ele fez o quarto e último filme dele, pra mim: King Creole, Balada Sangrenta. O Elvis que eu gostava era até aí. Jailhouse Rock, Love Me Tender, Loving You. Nesses filmes ele foi ele mesmo, com aquela coisa peculiar, nova, bonita que ele fez."

Outro depoimento, agora de Roberto Muggiati:

"Basicamente, é a história de um jovem simples que não soube sobreviver a uma sociedade e a uma época complicadas. Sua trajetória repete a de milhões de outros jovens perseguindo um único objetivo existencial: pegar uma guitarra e sair cantando pelo mundo."

Para nossa geração é muito difícil falar de Elvis e das coisas de seu tempo. Não vivemos a revolução. Somos apenas o resto de algo que não deu certo, e devemos nossa existência a isso. Mas já li, vi e ouvi muita coisa sobre Elvis. Acho que assim como ele foi a representação de toda a rebeldia e ânsia por liberdade de uma geração, também foi usado como um boneco para fazer essa atitude render milhões de dólares. Em um certo momento de sua carreira, Elvis deixou de ser um cantor de Rock para se tornar uma marca.
Quem sabe não foi justamente isso que acabou por influenciar toda uma nova geração. Elvis foi a base da atitude e o aprendizado de que ela é mais importante do que a fama e o dinheiro. Ganhou milhões, mas aparenta ter tomado escolhas durante sua vida que o levaram a uma certa fustração. Apesar de suas aparições apoteóticas, ele sabia que alguma coisa não estava certa. Mas ele estava lá, como que controlando a coisa toda. Tenho aqui em mãos Elvis as recorded at Madison Square Garden, de 1972, que é uma obra prima. Imaginem: apenas um ano antes das gravações de The Song Remains The Same, do Led Zeppelin.
O Rei do Rock'n'Roll sempre foi e sempre será rei. E pela primeira vez tenho que discordar de Raul Seixas.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Reflexões desconexas sobre o que é Rock'n'Roll - II

É, no mínimo, um engano pensar no Rock apenas como música. Ele foi o grande evento cultural do século XX. Comportamento, moda, atitude, revolução. Tanto que depois da sua apropriação pelo mercado, a juventude vive perdida, sem uma válvula de escape para a rebeldia própria da idade. O mundo de hoje se contenta em formar futuros consumidores de anti-depressivos.
Pois bem, a análise parte sempre de Raul Seixas, que foi a mais perfeita personificação do espírito do Rock'n'Roll. Ele sabia que não estava de acordo com a sociedade de sua época e buscou refúgio nos discos de Elvis, Jerry Lee e Chuck Berry. Essa inconformidade reflete-se nas letras. Tomemos como exemplo seu grito mais famoso:


FAÇA O QUE TU QUERES, HÁ DE SER TUDO DA LEI!


É puro anarquismo!
Proudhon disse: "minha consciência me pertence, minha justiça me pertence e minha liberdade é soberana". Além disso, vislumbrava que "a revolução social estará seriamente comprometida se for alcançada através de uma revolução política". Era o ser humano quem ele mirava, não instituições, governos, partidos ou ideologias. Raulzito tinha essa mesma noção, transcrita em versos como "o que eu quero é o que eu penso e o que eu faço", "já não há mais culpado nem inocente / cada pessoa ou coisa é diferente / já que é assim baseado em que você pune / quem não é você?", "O meu egoísmo é tão egoísta / que o auge do meu egoísmo é querer ajudar".
Imagino que na época do Rock'n'Roll, o capitalismo estava apenas preocupado com o dinheiro. Hoje eles querem nossa mente, querem escravos. Qual o objetivo de quem monta uma banda em nossos dias? Ganhar dinheiro, ficar famoso. Por isso as letras são completamente idiotas. Quem entra no jogo já está de antemão cooptado pelo sistema. Raulzito amargou longos anos recebendo batidas de porta na cara das gravadoras por conta da sua fama de "baderneiro". Nem por isso se vendeu, ou deixou de defender e lutar pelo que acreditava. Ou seja, o dinheiro não era o mais importante.


Rock é rebeldia. O Rock morreu.

terça-feira, agosto 14, 2007

Reflexões desconexas sobre o que é Rock'n'Roll


A música é um meio de transmitir idéias; e idéias são também atitudes. Talvez essa seja a única explicação sobre o fato de alguém como Raul Seixas ainda fazer sucesso. De fato, só resiste quem tem conteúdo. "A vasta biblioteca de seu pai foi seu brinquedo preferido", conta Sylvio Passos no perfil biográfico que traça de Raulzito. E agora o próprio Raul: "Eu tinha dois ideais: ser cantor ou ser escritor. Esses dois ideais seguiram comigo paralelamente durante toda a minha formação, que são a música e a literatura". Após o fracasso da sua primeira incursão ao Rio de Janeiro, ele voltou para Salvador, mais especificamente para o seu quarto, onde passou todo um ano lendo e compondo. Ou seja, Raul sabia exatamente o que queria dizer com suas letras. Nada era feito ao acaso ou com simples apelo comercial. Sua música era fruto de uma intensa produção intelectual. "Não sou cantor nem compositor. Uso a música para dizer o que penso". E ele realmente queria atingir as pessoas, "da empregada ao executivo".
Podemos lembrar facilmente de outros grandes intelectuais do Rock. Jim Morrison virava noites discutindo Nietzsche, Jung, literatura Beat e postura rocker. John Lennon foi a própria rebeldia intencional, chegando ao cúmulo de ser contra sua própria vida. Sobre Jimi Hendrix: "sua música é revoltada, falando contra o sistema? Oh, essa música não é revoltada, mas se dependesse de mim não existiria algo como o sistema". Pete Townshend talvez seja um dos personagens mais sóbrios do Rock'n'Roll, mesmo tendo tomado toda aquela quantidade incrível de drogas, como prova em recente entrevista à Rolling Stone. Cazuza e Renato Russo foram a voz da geração Coca-Coca, dos filhos da ditadura.
E o que temos hoje? Dez oceanos de nada. Fico imaginando um encontro entre Raul Seixas e Los Hermanos. Estes dizendo: "não queremos influenciar ninguém", "não somos uma banda de rock", "grande coisa que o George Harrison tocou uma música nossa". Posso até ver a cara de deboche do Raulzito: "bem, vocês terão o que merecem".
Daqui a dois anos ninguém mais saberá quem foram os Los Hermanos.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Governo


Não acredito que a política possa resolver os problemas das pessoas. Nem mesmo em uma sociedade de "seres políticos" como alguns gostariam de ver. São literalmente milhares de anos dedicados a uma ciência improdutiva. Um esforço físico, psíquico e intelectual que só conseguiu gerar esse mundo que vivemos, ou seja, um esforço da dominação. Todo o discurso humano direcionado para os interesses de uma casta, a satisfações de desejos que resultam em morte.
É com essa carga de desprezo que olho para o que chamamos de governo, mais especificamente o governo da Dona Yeda. Entramos no oitavo mês de uma "gestão" (como eles gostam de falar) em que os únicos benefícios foram aqueles sentidos nos escritórios de outros países, nas sedes dos latifúndios e na burocracia partidária. Não tenho nenhuma informação privilegiada, apenas fatos estampados por todo os jornais.

Em poucos meses houve uma troca de cargos em todas as instâncias responsáveis pelo Meio Ambiente simplesmente porque os antigos titulares estavam mal-e-mal fazendo seu trabalho. Produziram um relatório, chamado Zoneamento Ambiental, que, em resumo, definia as áreas onde poderiam ser plantados os eucaliptos das papeleiras. Eis que os senhores Carlos Augusto Lira Aguiar (diretor da Aracruz), Jukka Harmala (presidente da Stora Enso) e Albano Chagas Vieira (diretor do Gurpo Votorantim) não gostaram muito da idéia. Foi o que bastou para a Dona Yeda demitir seus secretários e convocar outros que não colocassem empecilhos ao avanço da monocultura de eucalipto.

Aos 100 dias de governo, outra crise, agora com o secretário de Segurança. O "estrelão" quis aparecer mais que a governadora e acabou mexendo onde não devia: na máfia dos caça-níqueis. Deu no que deu. Agora o novo secretário anda numa cruzada contra a cachaça, no melhor estilo Joseph McCarthy. Foram esquecidos os jogos. No fim dessa 'crise' me pergunto se a polícia é tão cega assim, que não enxerga os bingos e salas de jogos espalhadas pela cidade. Só depois de muito tempo fui me dar conta que quem manda fechar esses negócios é o pessoal dos carros importados. Como eles acham que "não dá mais para andar na rua", não vêm onde estão as máquinas. Enquanto isso as cadeias estão cada vez mais lotadas de jovens negros desempregados.

Nos último dias foi a vez da Educação receber seu brinde. Na contra-mão de todas as pesquisas em educação e pedagogia, o governo lançou o processo de "enturmação". As turmas que tiverem menos de 35 alunos serão fundidas, podendo, inclusive, serem colocados estudantes de séries diferentes numa mesma turma. E o professor? Que se foda. E o aluno? Que se foda. O que eles querem é economizar dinheiro para pagar as empreiteiras, os especuladores e manter os privilégios fiscais das grandes empresas.

A única coisa que realmente melhorou a olhos vistos foi a sede municipal do PSDB, na rua Lopo Gonçalves. O que antes era uma casa velha, com pintura descascada e quase sempre fechada, ou entregue às moscas, recebeu uma bela reforma e o movimento vai até altas horas da noite.

Esse é o reflexo da política nacional: cargos geram dinheiro, que gera cargos, que geram dinheiro......

E o povo? Bem, o povo que se foda.

A firma

As vilas de Porto Alegre continuam gerando boas histórias. E aprendizado.
É impressionante como a cultura empresarial consegue se infiltrar em todos os estratos da sociedade. O tráfico de drogas é a perfeita realização do capitalismo, com seus jogos de poder, lucro, consumo, distribuição, logística, marketing, e “fidelização” do cliente. Reproduzimos aqui um simples diálogo cheio de significados:

- Pô meu irmão, não me diz que tu veio até aqui à toa.
- Qual é?
- Me diz tu, o que vai ser? 50g?
- É, o tradicional.
- Aí que tá. Estamos com pouca maconha.
- Me diz o que tu tem então.
- Só temos essas pedrinhas de um, que cortamos só para a gurizada não ficar sem.
- Quantas rola?

O cara fica pensando um tempo, deixa uma com outro para ir esmorrugando, e sai para conversar com a "base". O baseado já está pela metade quando ele volta.

- Dessas aqui eu posso te dar umas 20, mas se tu quiser eu busco lá com um outro cara que tem as 50g. Só que sai mais caro, 50/60, e o fumo é meio palha. Não, na real eu nem vou lá para não te sacanear. Depois tu não volta mais...... sabe, isso aqui não deixa de ser uma firma, temos que satisfazer o cliente.
- Não, tranqüilo. Eu levo esses 20 e volto outra hora.
- Feito. E toma aí mais 5 de brinde. Pra semana que vem eu prometo um esquema gabarito.
- Falou.
- Falou.

A história continua.....

segunda-feira, agosto 06, 2007

Estrelas


Estrelas da terra, infinitas. Cada uma com seu universo particular, vidas em relações, ou simples solidão. Salas, livros, camas de casal para solteiros, camas de solteiro para casais, gente que pode e que não pode; televisão. No intervalo o mundo volta a girar, fraco, triste, porque sabe que a novela nunca vai acabar. Amanhã toca o despertador da tragicomédia semi-real de todos nós. Vamos em uníssono rumo a fantasias irrealizáveis, alegrias passageiras e à escravidão cega do cotidiano. Um gole de cachaça, uma droga qualquer, e estamos prontos para mais uma. À noite, então, acendemos novamente nossa estrela na vã esperança de que um dia desses alguém nos enxergue.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Enquete

Admito que a pergunta foi infeliz. Apesar disso minha opinião continua inalterada: o Rock morreu. Sei que existem resistentes que continuam carregando seus instrumentos pela madrugada, mas é puro instinto. O Rock como movimento transformador da sociedade já era. Pode-se ver pelas letras das músicas de hoje. É um bando de playboys que não sabem nada da vida.
Rock é raíz.
Rock é rebeldia.
Rock é subversão.
O resto não interessa.

P.s.: Prometo uma pergunta melhor da próxima vez.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Nome aos bois

Seguimos na identificação dos nossos inimigos.
Aqui em Porto Alegre acontece o chamado Fórum da Liberdade, evento promovido pelo IEE (Instituto de Estudos Empresariais). É o encontro dos mais proeminentes neo-liberais do Brasil, com alguns representantes ilustres do exterior. Por um descuido deles, uma cópia do relatório final do evento caiu em nossas mãos, de onde tiramos algumas pérolas.
Tudo começa pelo tema do fórum :“Propriedade e Desenvolvimento”, ou seja, uma defesa incondicional da propriedade privada e dos lucros provenientes dela.
No painel número 1, “O papel da propriedade privada na prosperidade econômica e social”, o economista queniano James Shikwati brindou o público com as seguintes frases: “o que os africanos precisam fazer é saber olhar seus recursos e vendê-los. Para acabar com a pobreza é preciso saber primeiro por que eles são pobres”. Um trecho do texto do relatório: “segundo ele a iniciativa privada contribuiu para o desenvolvimento do Quênia”. O Quênia deve estar na trilha certa para o primeiro mundo. Só esqueceram de avisar pro pessoal de Kibera, a maior favela da África, que abriga um terço da população da capital queniana Nairóbi. Se na cidade toda o desemprego é de 70%, lá deve ser 100%. Talvez isso seja porque os africanos ainda não aprenderam que os poucos recursos que lhes restam devem ser vendidos.
Já o jurista Manoel Gonçalves Ferreira Filho disse que “a única forma de se viver na sociedade é obedecer a lei” e que “não se pode desobedecer a lei simplesmente porque ela não agrada”. Isso é óbvio, basta refletir sobre quem faz as leis no Brasil. Se o povo não gostar que cale a boca ou arque com as conseqüências.
No fórum dos neo-liberais é claro que não poderia faltar seu maior representante político, Fernando Henrique Cardoso. Como bater em morto é covardia, não vou reproduzir as respostas, apenas duas perguntas feitas pela “equipe editorial”:
“Um dos painéis apresentados durante o Fórum da Liberdade questionou se a reforma agrária não seria um desperdício de recursos ao manter as pessoas no campo. Qual a sua opinião a respeito?”
“O programa de privatizações, prioritário na estratégia de seu governo, foi alvo de críticas acirradas da oposição. Mesmo assim, foi implementado com eficácia. (...) Os resultados das privatizações foram excelentes para a sociedade brasileira. Fale um pouco sobre o processo de privatização do seu governo.”
Acho que nem preciso comentar, ou preciso?

segunda-feira, julho 30, 2007

Areia, calor e sangue

Sobrevoou sua cabeça gritando o quero-quero e se perdeu no campo sem fim. "Chegou o momento, é agora, daqui não passa". Uma satisfação percorreu seu corpo enquanto seus olhos miravam o que havia restado do pampa. Pensou na mulher, que a esta altura devia estar lavando a louça do almoço, quieta e resignada no seu papel de mulher. O calor de fevereiro tornava turva a imagem do horizonte, que se sabia seco depois da coxilha. O famoso deserto gaúcho.
Estava em alguma parte de Alegrete, onde exatamente não saberia responder. Sua estância era um deserto no meio do nada, ninguém conhecia, talvez nem existisse, nem em mapa, nem em memórias. Há anos ninguém passava por ali. Bicho nenhum ousava atravessar esta terra.
Esfregou as mão num gesto de prazer enquanto se levantava, mas voltou atrás. Seria melhor esperar, deixar os corações baterem um pouco mais.
Como dizia, há muito tempo que o gado não pisava nesse pasto ralo. Os que não morreram de fome, morreram do tédio do proprietário. Não só boi e vaca, mas também ovelhas, cabritos, porcos, galinhas já viveram e padeceram manchando com sangue o solo quase amarelo deste pedaço de Rio Grande. Tudo para transformar o marasmo do estancieiro em alegria e poder. Ele que agora estava ali, inerte, com a vista fixa nas ondas de calor. Olhos sem expressão, mas que brilham de fogo quando o líquido bordô escorre sobre o pêlo dos animais e pinga viscoso na terra. Olhos que vibram com mais uma vida que se perde em suas mãos. Matar é o último prazer, o último refúgio. Vidas em jogo, vidas suas que determinava o fim assim que lhe parecesse caber o fim. Matar e deixar a carcaça à intempérie para virar carniça e transformar o ar inerte do verão.
Acabava-se o mate, contando o tempo para o fim de mais uma de suas vidas. Inquieto, raspava a unha do indicador contra a verruga do polegar na esperança de um aperitivo vermelho para sua bombacha cinza. O ronco da última cuia marca o veredicto. Numa cerimônia solene levantou de sua cadeira, afivelou a guaiaca, aprumou o chapéu e iniciou a marcha rumo ao destino que escolhera estar em suas mãos.
Sob a soleira da porta observou o deserto de dentro, silêncio cortado por estalos de madeiras que se ajustam ao calor. Nos passos metálicos de esporas cresciam o terror e a euforia, visíveis no alargamento dos lábios em um sorriso macabro. Pisou forte na lajota da cozinha. A mulher virou-se, e com uma faca na mão lhe estendeu o cabo. Ele então segurou o instrumento, olhou seu reflexo na lâmina afiada, e num movimento brusco cravou-a no bucho daquela quase ex-vivente. Nos olhos espremidos de dor sem mágoa viu-se satisfeito com mais um espírito que desencarnava. Terminado o êxtase livrou-se daquele monte de carne e osso sem razão do lado de fora, sob o sol de verão.
Chegava ao fim, havia agora só mais uma vítima.

sexta-feira, julho 27, 2007

Movimento

Nessa época de maravilhas, posso dizer tranqüilamente que uma delas é passar a tarde em casa. Mente já distorcida. A única dúvida é entre Jefferson Airplane e Lynard Skynard. A única preocupação é com a lasanha que está no forno. Sinto-me um verdadeiro privilegiado.
Faço parte da menor minoria: os que sabem o quanto isso tudo que está aí fora é uma palhaçada.
Nossa organização subversiva semi-clandestina está em plena atividade:

1. No momento estamos muito preocupados com o fato de que as bandas de hoje em dia não fazem mais filmes. The Song Remains The Same, The Wall, Woodstock, Tommy, A Hard Days Night, Rock'n'Roll Circus. O Rock'n'Roll só atingiu a sua magnitude por causa do cinema. O filme Sementes da Violência (Blackboard Jungle) foi o veículo que difundiu (We're Gonna) Rock Around the Clock, de Bill Haley & The Comets, em todo o planeta, para desespero dos donos das salas. Os filmes do Elvis. Jim Morisson era metido a cineasta. Tudo foi reduzido a clipe e agora ao nada.

2. O movimento pró cannabis plantada nos espaços públicos cresce vertiginosamente. Já podemos observar mudas bem desenvolvidas em vários pontos da cidade. A esperança é de que no verão já desfrutemos de deliciosos camarões.

3. Por fim, estamos reunido assinaturas para que seja instituída a lei que proíbe todo ser vivo de fazer aquilo que não quer. Pelo menos até que a coisa se ajeite. O mundo precisa papar um pouco, não para refletir; para não fazer nada mesmo.

Em meio a tantas atividades ainda encontramos um tempo para relaxar e beber uma cervejinha no bar.