sexta-feira, agosto 31, 2007

Paradoxos da ditadura

A ditadura está a todo o vapor. Neste nosso mundo louco, mundo dos paradoxos, é o próprio ditador quem denuncia: “Supremo votou com a faca no pescoço”, imprimiu a Folha de São Paulo para todo o Brasil.
A tal “faca no pescoço” foi colocada pela própria mídia, que é a face pública do pessoal que não pode mais andar na rua. Eles continuam sem entender a reeleição do Lula. Seu sonho é um golpe. Já temos a versão 2007 da “Marcha com Deus e Pela Família”. Se bem que num estilo muito mais cansado. E os milicos? Bem, os milicos estão desmoralizados pela falta do inimigo comunista.
Enquanto isso, o povão está preocupado em sobreviver. Por isso, a nossa sugestão:
- compre produtos piratas;
- visite as vilas da cidade;
- só vá ao supermercado em caso de extrema necessidade;
- verduras e legumes, só de feiras ecológicas;
- plante cannabis em espaços públicos;
- escreva frases de amor nos muros;
- não acredite em nada do que você lê.

Bom final de semana. Eu vou me afundar em churrasco, cerveja e cigarro. Bagé, aí vamos nós.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Renegados

Celas. Prisões. Olhos desconfiados, desafiadores, desesperançados. Fotos. Mulheres, mulheres, carros e mais mulheres. Eu, que tenho tudo, sinto vergonha. São animais, jogados ao léu, com sua cota de ração, um teto, um chão e tempo. Mas como animais de um zoológico, estão vivos. Este é seu drama e sua alegria. Estão vivos e lá fora não estariam. Querem sair e morrem. A culpa é minha? Talvez não, mas sinto vergonha.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Ricos e cansados

“Os 10% mais ricos do Brasil gastam 10 vezes mais que os 40% mais pobres, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”. Esta é a grande notícia de hoje. Só comprovou o óbvio, o que todos vêm nas ruas. Quer dizer, nem todos, porque alguns não podem mais andar por elas. Por sinal eu descobri o porquê dessa atitude. Não é que eles tenham medo, ou nojo, do povão. Longe disso. Eles não podem mais sair às ruas porque estão cansados.
Seguimos com a notícia: “o estudo observou que 40% das famílias com menos rendimentos (até R$ 758,25) possuíam, em 2003, uma despesa per capita de aproximadamente R$ 180, enquanto as 10% mais ricas (igual ou maior que R$ 3.875,78) tinham despesa per capita de R$ 1,8 mil”. Como não cansar? São precisas muitas voltas no shopping, carregar sacolas cheias de compras, enfrentar o trânsito caótico; se cair no azar de ficar atrás de uma carroça então..... muito cansaço.
O paradoxo é que eles vão para a praça reclamar dessa fadiga. Seu grande protesto foi na Praça da Sé, em São Paulo. Informações extra-oficiais indicam que o próximo evento será muito mais pragmático. Para não correr o risco de ver um salto dos seus Arezzos perdido pela rua, as madames vão colocar faixas na Daslu.
Nelson Rodrigues criticava, mas eram bons os tempos em que as socialites liam as orelhas de Marcuse....

terça-feira, agosto 28, 2007

Jovem

O que é a nossa geração? Nós, que estamos entre os 25 e os 30 somos o nada. Jovens. Hoje é uma palavra sem sentido, jovem. Sinônimo de irresponsabilidade, de uma liberdade destituída de sentido, de significados apropriados para propagandas de roupas, carros e lâminas de barbear.
Lembro meus tempos de criança. Tudo o que eu queria da vida era ser jovem, ir a shows de Rock, namorar. Mais que isso, eu queria ser um rebelde. Queria andar com minhas calças rasgadas, ler livros subversivos, ouvir Dead Kennedys e Legião Urbana. Hoje eu sei que era um saudosismo de alguma coisa que não vivi. Do tempo em que os jovens iam mudar o mundo.
Mundo que não entendeu nada. O século XX fracassou e perdeu a grande chance. Sim, nossos pais são perdedores e nós somos o pagamento. Os jovens não queriam dominar o mundo, apenas suas próprias vidas. Era este simples direito o objeto de conquista. Por pouco não conseguiram. As ferramentas do sistema foram mais poderosas. Eles não podem abrir mão de seus escravos.
Vivemos no torpor dessa grande derrota. Apanhamos forte demais para uma pronta reação. Hoje somos o nada e as perspectivas não são animadoras. Mas existe esperança. Coisas simples, como amigos que comemoram dez anos de união. Vamos olhar mais para a simplicidade e para as coisas que realmente são importantes. Tudo vai ficar mais fácil e talvez algum dia completemos a missão de nossos pais.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Entrevista psicótica 3

Segunda-feira é um dia difícil. Continuo mijando cachaça. Nenhum pensamento consegue ficar mais que trinta segundos na mente. Fumaça. Ando meio sem rumo pela casa, a rua é muito opressiva. No rádio uma música para lembrar a festa, Gloria, do Doors. Um gole de água, um olhar com nojo para o vinho. Só uma taça, talvez passe a tremedeira. Sofá. De repente uma voz: “hey man, tonight it will be all right”. Era Jim Morrison sentado em cima do amplificador com uma garrafa e algumas pílulas. Não podia perder a oportunidade de mais uma entrevista:

Devaneios: E aí Jim, pelo visto continua com as drogas?
Jim Morrison: Bem, você sabe, o processo de expansão dos sentidos é contínuo. Quero sempre buscar novas maneiras de ver o mundo, as pessoas.
Devaneios: E que tal o mundo agora? Muitos insistem em fazer um paralelo com a sua época.
Jim Morrison: De fato as coisas andam meio parecidas. Guerras, miséria, ditadura. Só que hoje não existe resistência. Até acho que as pessoas, individualmente, estão descontentes com a situação, mas o sistema está muito bem preparado. Qualquer revolta é imediatamente sufocada. Os jovens vivem a repressão dos instintos. O mercado apropriou-se da rebeldia e a transformou em marca. Isso acontece desde a nossa época, mas agora o controle é quase total.
Devaneios: Mas você não foi um individualista? Será que hoje precisamos de algo como um movimento?
Jim Morrison: Não, não é nada disso. Eu sempre fui individualista, só quis viver minha vida da maneira que achava necessário. Só quis conhecer o sentido disso tudo, saber o que estava fazendo aí. Ainda não descobri. Mas acontece que naquela época existia uma união espiritual. Por todos estarem muito preocupados com suas próprias vidas, acabavam fazendo o bem para todos e lutando pelas condições necessárias para a tranqüilidade. Hoje a lógica parece ser diferente: um quer ocupar o lugar do outro e não o seu próprio.
Devaneios: E a música? O Rock acabou?
Jim Morrison: O Rock sempre foi mais a postura do que a música propriamente dita. Pelo que vejo, falta postura Rock no mundo de vocês.

Acabou a música. Antes de ir ele ainda me deu a receita para uma tarde tranqüila: “smoke some marijuana and get some sleep”. E é justamente isso que vou fazer.

sexta-feira, agosto 24, 2007

A firma - II

Os leitores devem lembrar que o representante de uma das firmas instaladas nas vilas de Porto Alegre prometeu um bom produto dali a uma semana. Para eles promessa é dívida:

- Aí meu irmão! Hoje te deu bem.
- Qualé?
- Estamos com a massa, o “mentolado”.
- E como é que está?
- Esse ta 50 por 50. Mas temos do antigo, que agora baixou para 40 por 50.
- Vou levar o mentolado.

Enquanto o cara vai buscar rola a conversa com o pessoal da vila. Há duas noites a polícia resolveu fazer uma operação ali. “Eles vêm todos cheirados”. Um deles bateu na porta de uma casa. O pessoal, assustado, não atendeu. Mais batidas. O dono da casa vai para a porta com uma faca na mão. O brigadiano se assusta e dá um tiro. “Vamo embora, vamo embora!”. E o pessoal da vila tem que sair correndo para o HPS com o vizinho baleado.
Volta o pessoal da firma. Junto com o tradicional vendedor, alguém que parece ocupar um posto mais elevado:

- Esse é do bom.
- Pode crê, eu confio em vocês.
- Vem aí na hora que quiser. Aqui tu é de casa.
- Isso aí. Um abraço.

Enquanto isso, o pessoal dos carros importados continua achando que não pode sair de casa......

quinta-feira, agosto 23, 2007

Paradoxos

Desculpem-me os leitores pela falta de textos nos últimos dias. Muita confusão. Mente e corpo chegaram quase ao limite. Pelo menos coletamos novas histórias para novas reflexões. Como essa:
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"Lá na vila onde eu moro, se alguém vai te assaltar já chega um monte de gente dizendo: 'larga o cara, ele é dos nossos'. Mas quando eu venho aqui para o Centro e sou roubado pelas autoridades oficiais vocês, universitários, que se julgam a elite do país, não falam nada, deixam um pobre como eu perder seu ganha pão".
Pois é, tive que ouvir essas verdades do Jorge, vendedor ambulante, garçom da galera que vai curtir um final de tarde no gasômetro. Na mesma hora pensei no pessoal dos carros importados e no fato de que eles não podem mais sair nas ruas. Vejam que paradoxo: os ricos não são livres porque têm medo dos pobres e os pobres não são livres por causa do aparelho repressivo dos ricos.
O Brasil não é um país; são dois, completamente diferentes. Nos shoppings grupos com mais de cinco pessoas podem ser dispersos pela segurança. Imagino a família Johannpeter sendo convidada a se retirar pelos seguranças. No centro das cidades os vendedores de produtos piratas são tratados a base de porrada pelas autoridades. Já os mega-fazendeiros que fazem contrabando de sementes transgênicas são recebidos por governadores, ministros e presidente. Manifestação e confronto nas estradas gaúchas. De um lado agricultores sem terra com enxadas na mão, crianças maltrapilhas, rostos marcados pela fome e miséria; do outro proprietários de camionetes importadas, de terras que a vista não alcança, mansões na cidade e no campo.
É, quem não tem vontade de sair de casa sou eu.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Venezuela

A questão venezuelana não é de fácil análise. Até porque estamos aqui em Porto Alegre, muito distante da realidade daquele país. Pior, somos reféns das poucas notícias que nos chegam, a maioria pela grande imprensa. Não morro de amores pelo Chávez. Todos sabemos que os comunistas têm uma tendência à ditadura. Mas quando um órgão da grande imprensa, como a BBC, publica uma matéria com o seguinte viés, nos leva à reflexão:

“Não nos preocupa a reeleição indefinida, porque se Chávez for reeleito uma e outra vez será por vontade do povo. Vivemos em um país democrático, aqui não existe imposições. A reforma vem no momento em que precisamos aprofundar o processo revolucionário”, disse à BBC Brasil a estudante universitária Scarlet Rodrigues.
Um comerciante que acompanhava a conversa complementou: “Além disso, temos o referendo revogatório. Só fica na presidência se quisermos”.
(...) Caberá à Assembléia Nacional aprovar ou rechaçar o projeto de reforma da Constituição. Se aprovado, o texto da nova Carta Magna deverá ser ratificado em consulta popular.

O texto é sobre a reforma constitucional pretendida pelo governo. Seus principais pontos são a possibilidade de reeleição indefinida, redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais, a inclusão de um quarto poder constitucional, chamado “Poder Comunitário”, e a inclusão do termo “propriedade social” no artigo da constituição que trata da propriedade privada.
Que tal compararmos com o que acontece no Brasil? Prorrogação da CPMF, venda de ações do Banrisul, enturmação nas escolas, juros astronômicos, reformas constitucionais.....
Quem é democrático?

quinta-feira, agosto 16, 2007

Divagações desconexas sobre o que é Rock'n'Roll - Elvis


Elvis morreu? Apesar da crença de que ele esteja vivo em algum lugar da Argentina, sim, ele morreu. Muitos acreditam que faz muito mais de 30 anos. Como sempre, palavras de Raulzito, em entrevista de 1975:

"Eu quero ver o diabo da religião católica e não quero ver o Elvis hoje. Não tenho saco pra ele cantando hoje em dia. O que fizeram com ele... o que ele deixou que fizessem... aquela coisa gozada, hollyhoodiana, Dean Martin... Eu gosto do Elvis até 1958, quando ele fez o quarto e último filme dele, pra mim: King Creole, Balada Sangrenta. O Elvis que eu gostava era até aí. Jailhouse Rock, Love Me Tender, Loving You. Nesses filmes ele foi ele mesmo, com aquela coisa peculiar, nova, bonita que ele fez."

Outro depoimento, agora de Roberto Muggiati:

"Basicamente, é a história de um jovem simples que não soube sobreviver a uma sociedade e a uma época complicadas. Sua trajetória repete a de milhões de outros jovens perseguindo um único objetivo existencial: pegar uma guitarra e sair cantando pelo mundo."

Para nossa geração é muito difícil falar de Elvis e das coisas de seu tempo. Não vivemos a revolução. Somos apenas o resto de algo que não deu certo, e devemos nossa existência a isso. Mas já li, vi e ouvi muita coisa sobre Elvis. Acho que assim como ele foi a representação de toda a rebeldia e ânsia por liberdade de uma geração, também foi usado como um boneco para fazer essa atitude render milhões de dólares. Em um certo momento de sua carreira, Elvis deixou de ser um cantor de Rock para se tornar uma marca.
Quem sabe não foi justamente isso que acabou por influenciar toda uma nova geração. Elvis foi a base da atitude e o aprendizado de que ela é mais importante do que a fama e o dinheiro. Ganhou milhões, mas aparenta ter tomado escolhas durante sua vida que o levaram a uma certa fustração. Apesar de suas aparições apoteóticas, ele sabia que alguma coisa não estava certa. Mas ele estava lá, como que controlando a coisa toda. Tenho aqui em mãos Elvis as recorded at Madison Square Garden, de 1972, que é uma obra prima. Imaginem: apenas um ano antes das gravações de The Song Remains The Same, do Led Zeppelin.
O Rei do Rock'n'Roll sempre foi e sempre será rei. E pela primeira vez tenho que discordar de Raul Seixas.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Reflexões desconexas sobre o que é Rock'n'Roll - II

É, no mínimo, um engano pensar no Rock apenas como música. Ele foi o grande evento cultural do século XX. Comportamento, moda, atitude, revolução. Tanto que depois da sua apropriação pelo mercado, a juventude vive perdida, sem uma válvula de escape para a rebeldia própria da idade. O mundo de hoje se contenta em formar futuros consumidores de anti-depressivos.
Pois bem, a análise parte sempre de Raul Seixas, que foi a mais perfeita personificação do espírito do Rock'n'Roll. Ele sabia que não estava de acordo com a sociedade de sua época e buscou refúgio nos discos de Elvis, Jerry Lee e Chuck Berry. Essa inconformidade reflete-se nas letras. Tomemos como exemplo seu grito mais famoso:


FAÇA O QUE TU QUERES, HÁ DE SER TUDO DA LEI!


É puro anarquismo!
Proudhon disse: "minha consciência me pertence, minha justiça me pertence e minha liberdade é soberana". Além disso, vislumbrava que "a revolução social estará seriamente comprometida se for alcançada através de uma revolução política". Era o ser humano quem ele mirava, não instituições, governos, partidos ou ideologias. Raulzito tinha essa mesma noção, transcrita em versos como "o que eu quero é o que eu penso e o que eu faço", "já não há mais culpado nem inocente / cada pessoa ou coisa é diferente / já que é assim baseado em que você pune / quem não é você?", "O meu egoísmo é tão egoísta / que o auge do meu egoísmo é querer ajudar".
Imagino que na época do Rock'n'Roll, o capitalismo estava apenas preocupado com o dinheiro. Hoje eles querem nossa mente, querem escravos. Qual o objetivo de quem monta uma banda em nossos dias? Ganhar dinheiro, ficar famoso. Por isso as letras são completamente idiotas. Quem entra no jogo já está de antemão cooptado pelo sistema. Raulzito amargou longos anos recebendo batidas de porta na cara das gravadoras por conta da sua fama de "baderneiro". Nem por isso se vendeu, ou deixou de defender e lutar pelo que acreditava. Ou seja, o dinheiro não era o mais importante.


Rock é rebeldia. O Rock morreu.

terça-feira, agosto 14, 2007

Reflexões desconexas sobre o que é Rock'n'Roll


A música é um meio de transmitir idéias; e idéias são também atitudes. Talvez essa seja a única explicação sobre o fato de alguém como Raul Seixas ainda fazer sucesso. De fato, só resiste quem tem conteúdo. "A vasta biblioteca de seu pai foi seu brinquedo preferido", conta Sylvio Passos no perfil biográfico que traça de Raulzito. E agora o próprio Raul: "Eu tinha dois ideais: ser cantor ou ser escritor. Esses dois ideais seguiram comigo paralelamente durante toda a minha formação, que são a música e a literatura". Após o fracasso da sua primeira incursão ao Rio de Janeiro, ele voltou para Salvador, mais especificamente para o seu quarto, onde passou todo um ano lendo e compondo. Ou seja, Raul sabia exatamente o que queria dizer com suas letras. Nada era feito ao acaso ou com simples apelo comercial. Sua música era fruto de uma intensa produção intelectual. "Não sou cantor nem compositor. Uso a música para dizer o que penso". E ele realmente queria atingir as pessoas, "da empregada ao executivo".
Podemos lembrar facilmente de outros grandes intelectuais do Rock. Jim Morrison virava noites discutindo Nietzsche, Jung, literatura Beat e postura rocker. John Lennon foi a própria rebeldia intencional, chegando ao cúmulo de ser contra sua própria vida. Sobre Jimi Hendrix: "sua música é revoltada, falando contra o sistema? Oh, essa música não é revoltada, mas se dependesse de mim não existiria algo como o sistema". Pete Townshend talvez seja um dos personagens mais sóbrios do Rock'n'Roll, mesmo tendo tomado toda aquela quantidade incrível de drogas, como prova em recente entrevista à Rolling Stone. Cazuza e Renato Russo foram a voz da geração Coca-Coca, dos filhos da ditadura.
E o que temos hoje? Dez oceanos de nada. Fico imaginando um encontro entre Raul Seixas e Los Hermanos. Estes dizendo: "não queremos influenciar ninguém", "não somos uma banda de rock", "grande coisa que o George Harrison tocou uma música nossa". Posso até ver a cara de deboche do Raulzito: "bem, vocês terão o que merecem".
Daqui a dois anos ninguém mais saberá quem foram os Los Hermanos.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Governo


Não acredito que a política possa resolver os problemas das pessoas. Nem mesmo em uma sociedade de "seres políticos" como alguns gostariam de ver. São literalmente milhares de anos dedicados a uma ciência improdutiva. Um esforço físico, psíquico e intelectual que só conseguiu gerar esse mundo que vivemos, ou seja, um esforço da dominação. Todo o discurso humano direcionado para os interesses de uma casta, a satisfações de desejos que resultam em morte.
É com essa carga de desprezo que olho para o que chamamos de governo, mais especificamente o governo da Dona Yeda. Entramos no oitavo mês de uma "gestão" (como eles gostam de falar) em que os únicos benefícios foram aqueles sentidos nos escritórios de outros países, nas sedes dos latifúndios e na burocracia partidária. Não tenho nenhuma informação privilegiada, apenas fatos estampados por todo os jornais.

Em poucos meses houve uma troca de cargos em todas as instâncias responsáveis pelo Meio Ambiente simplesmente porque os antigos titulares estavam mal-e-mal fazendo seu trabalho. Produziram um relatório, chamado Zoneamento Ambiental, que, em resumo, definia as áreas onde poderiam ser plantados os eucaliptos das papeleiras. Eis que os senhores Carlos Augusto Lira Aguiar (diretor da Aracruz), Jukka Harmala (presidente da Stora Enso) e Albano Chagas Vieira (diretor do Gurpo Votorantim) não gostaram muito da idéia. Foi o que bastou para a Dona Yeda demitir seus secretários e convocar outros que não colocassem empecilhos ao avanço da monocultura de eucalipto.

Aos 100 dias de governo, outra crise, agora com o secretário de Segurança. O "estrelão" quis aparecer mais que a governadora e acabou mexendo onde não devia: na máfia dos caça-níqueis. Deu no que deu. Agora o novo secretário anda numa cruzada contra a cachaça, no melhor estilo Joseph McCarthy. Foram esquecidos os jogos. No fim dessa 'crise' me pergunto se a polícia é tão cega assim, que não enxerga os bingos e salas de jogos espalhadas pela cidade. Só depois de muito tempo fui me dar conta que quem manda fechar esses negócios é o pessoal dos carros importados. Como eles acham que "não dá mais para andar na rua", não vêm onde estão as máquinas. Enquanto isso as cadeias estão cada vez mais lotadas de jovens negros desempregados.

Nos último dias foi a vez da Educação receber seu brinde. Na contra-mão de todas as pesquisas em educação e pedagogia, o governo lançou o processo de "enturmação". As turmas que tiverem menos de 35 alunos serão fundidas, podendo, inclusive, serem colocados estudantes de séries diferentes numa mesma turma. E o professor? Que se foda. E o aluno? Que se foda. O que eles querem é economizar dinheiro para pagar as empreiteiras, os especuladores e manter os privilégios fiscais das grandes empresas.

A única coisa que realmente melhorou a olhos vistos foi a sede municipal do PSDB, na rua Lopo Gonçalves. O que antes era uma casa velha, com pintura descascada e quase sempre fechada, ou entregue às moscas, recebeu uma bela reforma e o movimento vai até altas horas da noite.

Esse é o reflexo da política nacional: cargos geram dinheiro, que gera cargos, que geram dinheiro......

E o povo? Bem, o povo que se foda.

A firma

As vilas de Porto Alegre continuam gerando boas histórias. E aprendizado.
É impressionante como a cultura empresarial consegue se infiltrar em todos os estratos da sociedade. O tráfico de drogas é a perfeita realização do capitalismo, com seus jogos de poder, lucro, consumo, distribuição, logística, marketing, e “fidelização” do cliente. Reproduzimos aqui um simples diálogo cheio de significados:

- Pô meu irmão, não me diz que tu veio até aqui à toa.
- Qual é?
- Me diz tu, o que vai ser? 50g?
- É, o tradicional.
- Aí que tá. Estamos com pouca maconha.
- Me diz o que tu tem então.
- Só temos essas pedrinhas de um, que cortamos só para a gurizada não ficar sem.
- Quantas rola?

O cara fica pensando um tempo, deixa uma com outro para ir esmorrugando, e sai para conversar com a "base". O baseado já está pela metade quando ele volta.

- Dessas aqui eu posso te dar umas 20, mas se tu quiser eu busco lá com um outro cara que tem as 50g. Só que sai mais caro, 50/60, e o fumo é meio palha. Não, na real eu nem vou lá para não te sacanear. Depois tu não volta mais...... sabe, isso aqui não deixa de ser uma firma, temos que satisfazer o cliente.
- Não, tranqüilo. Eu levo esses 20 e volto outra hora.
- Feito. E toma aí mais 5 de brinde. Pra semana que vem eu prometo um esquema gabarito.
- Falou.
- Falou.

A história continua.....

segunda-feira, agosto 06, 2007

Estrelas


Estrelas da terra, infinitas. Cada uma com seu universo particular, vidas em relações, ou simples solidão. Salas, livros, camas de casal para solteiros, camas de solteiro para casais, gente que pode e que não pode; televisão. No intervalo o mundo volta a girar, fraco, triste, porque sabe que a novela nunca vai acabar. Amanhã toca o despertador da tragicomédia semi-real de todos nós. Vamos em uníssono rumo a fantasias irrealizáveis, alegrias passageiras e à escravidão cega do cotidiano. Um gole de cachaça, uma droga qualquer, e estamos prontos para mais uma. À noite, então, acendemos novamente nossa estrela na vã esperança de que um dia desses alguém nos enxergue.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Enquete

Admito que a pergunta foi infeliz. Apesar disso minha opinião continua inalterada: o Rock morreu. Sei que existem resistentes que continuam carregando seus instrumentos pela madrugada, mas é puro instinto. O Rock como movimento transformador da sociedade já era. Pode-se ver pelas letras das músicas de hoje. É um bando de playboys que não sabem nada da vida.
Rock é raíz.
Rock é rebeldia.
Rock é subversão.
O resto não interessa.

P.s.: Prometo uma pergunta melhor da próxima vez.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Nome aos bois

Seguimos na identificação dos nossos inimigos.
Aqui em Porto Alegre acontece o chamado Fórum da Liberdade, evento promovido pelo IEE (Instituto de Estudos Empresariais). É o encontro dos mais proeminentes neo-liberais do Brasil, com alguns representantes ilustres do exterior. Por um descuido deles, uma cópia do relatório final do evento caiu em nossas mãos, de onde tiramos algumas pérolas.
Tudo começa pelo tema do fórum :“Propriedade e Desenvolvimento”, ou seja, uma defesa incondicional da propriedade privada e dos lucros provenientes dela.
No painel número 1, “O papel da propriedade privada na prosperidade econômica e social”, o economista queniano James Shikwati brindou o público com as seguintes frases: “o que os africanos precisam fazer é saber olhar seus recursos e vendê-los. Para acabar com a pobreza é preciso saber primeiro por que eles são pobres”. Um trecho do texto do relatório: “segundo ele a iniciativa privada contribuiu para o desenvolvimento do Quênia”. O Quênia deve estar na trilha certa para o primeiro mundo. Só esqueceram de avisar pro pessoal de Kibera, a maior favela da África, que abriga um terço da população da capital queniana Nairóbi. Se na cidade toda o desemprego é de 70%, lá deve ser 100%. Talvez isso seja porque os africanos ainda não aprenderam que os poucos recursos que lhes restam devem ser vendidos.
Já o jurista Manoel Gonçalves Ferreira Filho disse que “a única forma de se viver na sociedade é obedecer a lei” e que “não se pode desobedecer a lei simplesmente porque ela não agrada”. Isso é óbvio, basta refletir sobre quem faz as leis no Brasil. Se o povo não gostar que cale a boca ou arque com as conseqüências.
No fórum dos neo-liberais é claro que não poderia faltar seu maior representante político, Fernando Henrique Cardoso. Como bater em morto é covardia, não vou reproduzir as respostas, apenas duas perguntas feitas pela “equipe editorial”:
“Um dos painéis apresentados durante o Fórum da Liberdade questionou se a reforma agrária não seria um desperdício de recursos ao manter as pessoas no campo. Qual a sua opinião a respeito?”
“O programa de privatizações, prioritário na estratégia de seu governo, foi alvo de críticas acirradas da oposição. Mesmo assim, foi implementado com eficácia. (...) Os resultados das privatizações foram excelentes para a sociedade brasileira. Fale um pouco sobre o processo de privatização do seu governo.”
Acho que nem preciso comentar, ou preciso?