sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Pensamentos

Parou de súbito na porta. Olhos arregalados. Sujeira acumulada por todos os cantos, verdadeiro êxtase. Poucas formas e nenhum ruído. Já não se produzia mais nada naquela sala. Todos mortos. Olhos arreglados.
Imediatamente ele se volta, recebe o ar gelado na cara. Qual seria seu maior medo, o mundo ou ele mesmo? Naqule pórtico se materializava uma existência sem início, porém muito distante de um fim. Seriam ratos a se cruzar, numa incessante fuga do espírito. No entanto uma existência insiste sem parar, até porque o relógio nunca parava, mesmo que acabassem suas pilhas.
Um passo em qualquer direção e o futuro. Duro de qualquer maneira. Sem muita chance, como dizem. Antes fosse inferno ou paraíso.

- Amigos, amigos, acordem, ACORDEM!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Não, acho que não saiu nada. Mas acontece que eu estou de pé e está frio em ambos os lados.
A porta é o ideal. Mas daqui a pouco alguém vai passar. Não vai sobrar nada deste mundo. Bem, a cinco minutos tudo parecia tão diferente. Não faz diferença.
Não é bem uma preocupação, mas um pensamento que parece obrigatório. Ele vem, é parte da estrutura do cérebro.
O que há por detrás dos quadros? E se tirássemos todos os quadros? Nú e cru. E tu. E tu! Ha, ninguém sabe, nem eu. Pelo menos eu penso nisso.
Uma fumaça, que dança rumo às estrelas, quem sabe levando um pouco de sonhos. Estes que perderam sua coisa boa, agora perece que sabem que são sonhos. Vontade incontrolável de contralar tudo.
Ei, alguém está escutando? Vocês da rua? Alguém?
Eu estou, não paro de escutar, e no entanto está tudo aqui dentro. É uma voz, minha voz, sem interferência, às vezes mais baixa, mais alta, mas sempre ela. Acredito no que me digo eu mesmo, e me levo para caminhos quase sempre já trilhados, como esta porta, estes sorrisos que estão ali dentro, ou o ar gelado lá de fora. Talvez ficar seja sensato, sensato para mim que estou dizendo isso.
Fumaça, fumaça, sonhos, pensamentos, tudo que vem cortando e desaparece como nada, como se tunca tivesse.
Como Deus, que nunca veio, nunca foi, e está aqui, sempre no fim de tudo.
Ou aquela música, mú-si-ca, antiga ou ruim de caminhadas, que escolhemos ou que chga, que não sai da mesma parte.
Ou apartamentos, estrelas infinitas, até que volte o dia e o sol acaba com a energia.
Uniformes, cabelos, discos e marcas, e nada mais com que se preocupar. Talvez o fim do mundo entre uma e outra cerveja, não é muito sério.
Afinal amanhã é só amanhã.
Não, não se levante, suas pernas são muito importantes.
Quem sabe algum dia você precise correr?

-E aí cara, tá tão quieto?
-Tava pensando.
-O quê?
-Não sei, mas acho que vai dar tudo certo.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

A mediocridade do médio

Mediocridade. Como pode o mundo ser balizado por conceitos tão ridiculamente fracos? As ações da humanidade caminham a passos largos rumo a uma total falta de atitude. Não é política, não é cultura: é vida. Uma vida sem graça, sem emoções, sem novidade, onde não faz a menor diferença conhecer alguém, porque todos somos o mesmo.
Tudo fica resumido a uma imensa classe média. Tudo é médio e tudo está ao alcance de quase todos. Um mar de gente completamente sem graça, que não vive desgraças e glórias, tristezas e alegrias, paixões e solidão. Estamos todos preocupados com o grande mundo de nossas cabeças, sempre prontas para o amanhã e nada mais que isso. Trabalho e escravidão em busca de algo que não nos pertence e nunca será nosso. Mas continuamos querendo a ilusão de que podemos. Somos a bucha de canhão jogada de lado a lado, prisioneiros de milionários e miseráveis.
Os muito ricos têm suas cidades particulares. E tudo o que precisam é continuarem a ser poderosos, transmitir confiança e articular más intenções. Os muito pobres dominam seus territórios. São livres pelo medo que despertam, e de sua maneira também poderosos. Vivem amontoados de acordo com sua própria lógica, segundo suas próprias leis. A classe média se esconde em jaulas eletrificadas, presa por medo e sonhos. Tem receio das calçadas e fica maravilhada com o mundo da TV, dos palácios, das lojas e da beleza artificial.
Grandes festas são organizadas por ricos e pobres. Enquanto uns tomam champanhe regado a drogas, outros capitalizam esses caprichos em carnaval e funk. Vejo grandes orgias em ambos os lados, sexo sem compromisso, diversão a qualquer custo. No meio está a dispersão, os pequenos grupos, a pouca vontade, o recato e, mais uma vez, o medo. Corações de gelo e preconceito. Receio de envolvimento, de conversa, grandes mundos fechados em micro-sociedades.
Nada mais é produzido com criatividade. Esta palavra morreu porque os dados já estão jogados. Nada vai mudar e ninguém quer que mude. Nos entregamos de mão beijada aos tempos modernos e acredito que condenamos toda a força do pensamento a uma morte lenta, agonizante e totalmente sem graça.