quinta-feira, abril 24, 2008

Atualizando...

Depois de um tempo distante, considero-me na obrigação de atualizar os amigos leitores sobre o que anda acontecendo por aqui (no caso, Joinville).
Na verdade, nada muito interessante. Sofri como um louco ouvindo o Colorado pelo rádio.... meu Deus, vocês não imaginam o que é isso. Eu, que vou a todos os jogos do Beira Rio, preso quase na casa do inimigo, já que estamos a cento o poucos quilômetros de Curitiba, quase morri do coração. Ainda bem que deu tudo certo.
Algumas coisas bizarras aconteceram. Terremoto, por exemplo. Eu não senti nada, mas tem gente que jura que tremeu a terra por aqui. Foi capa de todos (os dois) jornais da cidade. Dando uma banda pela redação do jornal ANotícia descobri que a invenção é prática corrente da atividade jornalística. Estava conversando com o Editor Executivo enquanto ele procurava a matéria que tinha mandado para o Diário Catarinense. Achou, por fim, uma notinha na editoria de Geral. Foi olhar a hora da publicação: 22h 23min. “Que sacanas”, ele disse, “há essa hora eu nem sabia que tinha terremoto aqui”. Ou seja, simplesmente inventaram.
Outra coisa maluca foi o padre que se prendeu numa pilha de balões e alçou vôo num domingo de chuva torrencial. Morreu, é claro. Pobre padre, mas que coisa idiota foi fazer. Nem eu, nos momentos de maior loucura da minha vida, tive a genial idéia de ganhar os céus amarrado em balões de aniversário de criança. Doido; de atar. Literalmente.
Bueno, era isso. Uma hora dessas comento sobre os políticos daqui, que são umas feras, os reis da cara de pau.

quinta-feira, abril 17, 2008

A (i)lógica do carro importado

Não custa nada um exercício de humildade. Vamos tentar entender como funciona a mente de um carro importado. Sim, porque deve existir um motivo para que se fale tanta merda sem noção.

Um ponto importante deve ser o histórico familiar. Sendo aqui do RS, as maiores chances são que provenha de um desses três troncos: estancieiros da fronteira, imigrantes italianos, imigrantes alemães. O carro importado sempre recorre ao fator história quando se vê acossado: “meus antepassados chegaram aqui sem nada e trabalharam muito para conquistar o que temos hoje”. De qualquer forma cabe notar que este patriarca da família TINHA TERRA, ou conquistada na ponta da faca, ou recebida do governo. “Mas as condições eram inóspitas”, defende-se o carro importado. Ninguém questiona o heroísmo do fundador do clã, porém o fato é que ele TINHA TERRA.
Passam-se os anos e a família torna-se urbana. Médicos, advogados, empresários, comerciantes, todos prontos para aumentar ou, no mínimo, manter as riquezas já conquistadas pelos ancestrais. Na sua mente está cravada a frase: “tu és o que tu tens”, forjada nas dificuldades de antanho. Ele a desenvolve em faculdades de administração e cursos de especialização no exterior (USA).
Se “tu és o que tu tens”, então por que dividir? A doutrina capitalista cai como uma luva sobre esse conceito que foi formado numa época onde as pessoas realmente precisavam lutar por seus bens. Se o lucro da tua empresa diminuir de 1 milhão para 900 mil, demite a mão de obra “excedente” e faz com que os outros trabalhem mais pelo mesmo preço. No próximo mês as contas estarão em dia.
O carro importado só pensa em trabalho. Ele tem uma mulher plastificada, a madame-carro-importado-sobrenome-importante, que usa para ostentar perante seu amigos. Sexo de verdade ele faz com outras, e ela com outros. Os filhos são bonecos tecnológicos criados em instituições que repetem à exaustão o mantra “tu és o que tu tens”. O carro importado acredita no que lê no jornal, porque é exatamente aquilo que ele pensa. Para ele, a Veja é a voz de Deus e a Folha de São Paulo é um jornal de “esquerda”.
Pois acontece que um dia o carro importado é convidado a dar sua opinião em um programa de TV. Conversa vai, conversa vem, e o assunto acaba no MST. Eis o que diz nosso amigo: “esses marginais deveriam estar todos presos. São bandidos que invadem a propriedade de pessoas honestas, que invadem empresas que estão investindo no progresso de nosso estado. Esses baderneiros não querem terra, eles querem acabar com a ordem do nosso Estado Democrático de Direito. A polícia deveria prender todos. Só com repressão vamos acabar com esses episódios que mancham o nome da nossa nação”.
Ele sai da emissora e volta para seu escritório de luxo e ar-condicionado com a certeza de que deu sua contribuição para o país.

No fim das contas, o carro importado esqueceu que ele só é o que é porque seus antepassados TINHAM TERRA. Ele não consegue pensar que se uma pessoa se sujeita a morar debaixo de lonas pretas na beira de uma estrada é porque ela já passou muita FOME. Ele não consegue pensar num mundo onde todos tenham oportunidade de fazer o que quiserem, pois ELE NÃO PODE FAZER O QUE QUER. Nosso amigo carro importado é um ESCRAVO DO DINHEIRO, e por isso não admite que outras pessoas queiram ser LIVRES.

quarta-feira, abril 16, 2008

Quilombos modernos

“A Firma é forte”, diz a pichação no muro. Essa com certeza é, já que há mais de dois anos são os mesmos caras que controlam o negócio. Claro, alguns deles passam uma temporada na Fase, mas não dá nada, no fim de semana estão todos ali de qualquer jeito.
Quilombos modernos, meu amigo. No caminho de terra a tia (negra) do boteco olha desconfiada para o magrão de calça jeans, tênis, camisa pólo e mochila. Nunca se sabe. Pode ser dos hômi. Agora deram pra vir de táxi arrepiar a gurizada, e sem a gurizada não tem movimento, e sem movimento não tem a mixa de todo dia.
Na primeira quebrada estão eles, escondidos de quem olha da rua, reunidos num bando de cinco, falando merda como qualquer gurizada do mundo.
“E aí cabeça, que vai ser?”.
“Cinqüenta contos de maconha”.
“Ah, isso tem”.
Não estão vendendo pouco porque está no fim. A credibilidade da Firma é não deixar faltar para quem pega bem, quem é cliente. É um negócio como outro qualquer.
Ali estão, cinco rapazes, todos negros (Quilombos modernos, meu amigo), e um “playboy” de faculdade todo cagado fazendo cara de que não está preocupado. Que tal essa: o “playboy” vive com um terço do dinheiro que cada um deles fatura no mês com tráfico, pequenos furtos e bicos pelo Centrão. Por acaso vale a pena pagar pato no colégio, entrar na faculdade e ter que viver de salário mínimo? Aqui é todo mundo negrão e na Vila mais cedo ou mais tarde o cara empacota, então é melhor deixar como está, viver aqui e agora e já era.
“Aí meu, é verdade que lá por 92, 94, as gurias eram tudo limpinhas? Tipo, não tavam bichadas como essas de hoje?”.
“Acho que a maioria era”.
Nisso aparecem duas gurias (negras), uma grávida, outra com uma criança no colo. Olham o “playboy” com uma cara de “mas que otário” e vão seguindo seu caminho. Será que estão bichadas? Com certeza transaram sem camisinha. E as crianças?
A gurizada fala de bonés. O meu Adidas, o meu Nike, o meu não sei o que. De bonés para putas. As casas de massagem do Centro oferecem um bom pedaço de carne a 20 contos.
“Passei lá hoje de tarde, mas só tinha uma gostosinha. Os nego já tavam fazendo fila”. Que vida louca. Putas, drogas, doença, dinheiro.
“Aí meu, vou ligar pro cara, já ta demorando demais”.
“Sem pressa”.
“Não, mas depois tu toma um paredão de graça... aí fica ruim”.
“Pior”.
Nem precisou, lá vem o neguinho trazendo a encomenda.
“Ta meu, te manda”.
“Valeu”.
“Quando quiser tamos aí”.
Lá se vai o “playboy” e o encontro entre brancos e negros se encerra por hoje. Quilombos modernos, meu amigo.

terça-feira, abril 15, 2008

The Doors e a verdade sobre Rock'n'Roll

Só para variar, segunda-feira é um dia de cérebro vazio. Esta, devo admitir, foi um pouco pior, pois fomos incentivados pela frase “peace on earth, sex, drugs and Rock’n “fuckin” Roll!!!”, proferida pelos Doors. Sim, eles vieram e mostraram porque eram considerados a melhor banda da geração hippie.
Passada a emoção do show, faço uma reflexão sobre a frase citada acima. Será que as pessoas que estavam lá entendem o seu verdadeiro significado? Me parece que hoje se eu subo num palco e grito a pleno pulmão “paz na terra, sexo, drogas e Rock’n’Roll”, serei tratado como um ator representando algo que não existe. O que nos anos 60 seria considerada uma atitude extremamente subversiva, tanto que Jim Morrison foi levado várias vezes à delegacia por isso, hoje é totalmente banalizada. Por quê?
Não sei. Mas é certo que o Rock perdeu muito de sua força. Também, depois de anos com músicos palha vindo à mídia para dizer que “não é nada além de música”....
Como assim? Quer dizer que Jim Morrison e os Doors, por exemplo, não transformaram uma vírgula sequer da sua vida? Quer dizer que eles foram a ponta de lança para acabar com toda a repressão de uma sociedade hipócrita e agora que temos, em tese, toda a liberdade não somos capazes de reconhecer sua revolução e vamos para a mídia dizer que Rock’n’Roll é “só música”?
Tudo bem, agora fiquei nervoso. Mas é que eu sei que nem 10% das pessoas que estavam no show compreenderam o que estava sendo falado. A vida rocker exige uma série de responsabilidades. Precisamos conhecer nossa História para que o movimento não vire “só música”. Encerro aqui com um dos últimos ensinamentos do nosso mestre Raulzito:

“É preciso cultura para cuspir na estrutura”.

sexta-feira, abril 11, 2008

Comunicado urgente para o Exército Subversivo

Pessoal, estamos perdendo a guerra. Ontem fomos atingidos seriamente pelo inimigo na nossa Fronteira Sul. Nossos bravos soldados, liderados pelo glorioso general Sérgio de Oliveira Campos, bem que tentaram resistir, mas não teve jeito. O inimigo recrutou pelegos como guardas, fiscais de trânsito, do meio ambiente, oficiais de Justiça, procuradores da prefeitura e operários da Secretaria de Obras, que foram transportados para o local em oito caminhões. Nossos praças estavam em número reduzido, aproximadamente 40, e em quantidade e qualidade inferior de armamento. Enquanto o inimigo contava com retroescavadeiras, enxadas, revólveres 38 e espingardas, os poucos heróis procuravam defender suas posições com paz, amor, mesas, copos, garrafas de cerveja e meia dúzia de baseados. Agüentamos o máximo, até que, vislumbrando a derrota iminente e um provável banho de sangue, decidimos por recuar e entregar o posto ao inimigo.

Agora, falando sério, demoliram o Timbuka, tradicional boteco da Zona Sul de Porto Alegre. A principal reclamação: era um ponto de maconheiros. A alta sociedade não suporta ver pessoas felizes, jovens que estão pouco se lixando para o dinheiro, que só querem sentir a brisa do fim de tarde com a cabeça nas nuvens. Não, eles preferem que seus filhos se tranquem em um banheiro de luxo da Padre Chagas (Calçada da Fama) para uma farinhada individual.
Por isso nosso lema é A ALEGRIA É A DERROCADA DO SISTEMA. Colabore com o movimento. Leia e siga nossos mandamentos. Só com uma grande rede de terroristas do amor poderemos derrotar nossos inimigos.

quarta-feira, abril 09, 2008

O bom e velho Engenheiros

Hoje acordei e, como sempre, coloquei um disco antes de entrar no chuveiro. Desta vez foi Ouça o que eu digo: não ouça ninguém, dos Engenheiros do Hawaii. Uma obra prima. Algumas músicas são fantásticas, como Cidade em chamas, Sob o tapete, ?Desde quando?. Acabo o banho e viro o lado (sim, estamos falando de LPs). Depois de A verdade a ver navios, uma música que nunca tinha realmente prestado atenção antes: Tribos e tribunais. Com certeza o Humberto estava no seu auge como compositor. Reproduzo abaixo a poesia. Lembrem-se que o disco é de 1988. Existe, por acaso, algo assim nos dias de hoje?

Todo dia a gente inventa uma alegria
A gente esquenta a água fria
E ignora a bola fora

Toda hora a gente dá um desconto
A gente faz de conta
Mas chega a um ponto em que ninguém mais quer saber

Crimes passionais
Profissionais liberais demais
Segredos de estado
Centroavante recuado

Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem
Tem muita gente se queimando na fogueira
E muito pouca gente se dando muito bem

Agente secreto
Agente imobiliário
Gente como a gente
Presidente e operário

Empresas estatais
Estátuas de generais
Heróis de guerra
Guerra pela paz

Indús, industriais
Tribos e tribunais
Pessoas que nunca aparecem
Ou aparecem demais ...refrão

Críticos da arte
Arte pela arte
Pink Floyd sem Roger Waters
Torna sem função

Fascista de direita
Fascista de esquerda
Empresas sem fins lucrativos
Empresas que lucram demais
Todo dia a gente inventa e fantasia
A gente tenta todo dia
Feitos cegos
Egos em agonia

Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem

terça-feira, abril 08, 2008

1984 é agora

Ontem não publiquei esta tão esperada coluna porque só conseguia pensar em futebol. E como todos sabem minha preferência clubística já podem imaginar o tamanho da flauta que vinha por aí. Resolvi calar.
Mas eis que durante a tarde mantive uma conversa literária com um amigo, basicamente sobre o livro 1984 de George Orwell. Por acaso você, amigo leitor, lembra-se de quando o mundo era dividido entre comunistas e capitalistas? Pois bem, os últimos ganharam a queda de braço. O socialismo morreu. Morreu?
Não sei se vocês percebem, mas tenho a sensação de que este sistema social que vivemos é definitivo, que não existem alternativas para mudá-lo; talvez, no máximo, ajustá-lo para que seja mais eficiente. Penso: quem colocou essa idéia, ou essa percepção, na minha cabeça? Seria por acaso aquela máquina de novilíngua instalada no meio da minha sala? Não, não pode ser. Quase não ligo o aparelho, só para assistir jogos de futebol. Terá sido o papel impresso com novilíngua que recebo em casa? Também não pode ser. Considero-me inteligente o suficiente para não acreditar no que dizem.
E agora, como que eu, um cidadão inteligente o suficiente para não acreditar na novilíngua, que não assiste TV ou ouve rádio, com uma boa média de leitura e em contato com pessoas igualmente inteligentes das mais diversas áreas, tenho essa percepção?
É, meus amigos, 1984 é agora.

sexta-feira, abril 04, 2008

O primeiro mandamento

Agora tu imagina a cara do magrão:

- Polícia!!! Abre a porta!!!

“PUTA QUE O PARIU!!!”

Cenário: no quarto 3x4 da casa de estudantes tem uma cama, um armário que divide a parede com uma mesa de estudos e uma janela. Sobre a mesa três baseados enrolados. No pequeno espaço que pega sol das 11h às 15h, o orgulho da casa: um pé de Cannabis de quase dois metros de altura. A planta fêmea já está quase no ponto. A galera da Filosofia vem todos os dias fumar um e apreciar essa maravilha do mundo natural, imaginando o dia em que será degustada a pura erva.

Eis que um belo dia a caretona, estudante de Direito (ou seria de Administração, Medicina, Psicologia, Jornalismo...), resolve que não agüenta mais aquele maravilhoso cheiro adocicado, os risos de pura alegria, as festas ao som de Rock’n’Roll. É muita tentação e ela não pode ceder aos encantos do Demônio. O que ela faz? Chama a polícia.

No dia seguinte está no jornal: “Polícia apreende pé de maconha em Santa Maria. Três alunos da UFSM foram presos suspeitos de tráfico de drogas dentro do Campus.”

É por isso que o mandamento número 1 do nosso movimento é:

PLANTE CANNABIS NA RUA!!!

quinta-feira, abril 03, 2008

Atitudes

Sobre atitudes que podemos tomar, reproduzo a coluna de 12 de junho de 2007, acrescida de novos itens.

Para quem não sabe, este blog faz parte de uma rede semi-clandestina de apoio a ações subversivas, com sede em diversos países do mundo. Nosso lema é “a alegria é a derrocada do sistema”. A seguir, algumas ações que qualquer pessoa pode fazer para ajudar nessa luta:

1- plante cannabis em parques, praças e canteiros da sua cidade;
2- apareça mascarado em manifestações de partidos de direita;
3- apareça com a mesma máscara em manifestações dos partidos de esquerda;
4- nunca compre jornais, todos mentem;
5- dê um abraço num mendigo;
6- ao passar por uma prostituta de rua, faça um elogio;
7- não fale com repórteres;
8- ao ver um carro oficial, dê uma cusparada no pára brisa;
9- faça o mesmo ao ver um carro de luxo;
10- não fale com a polícia, eles são a face armada do inimigo;
11- escreva frases de amor nos muros da cidade;
12- invente uma nova profissão;
13- ouça Rock’n’Roll no volume máximo;
14- vote nulo (e arranje uma boa justificativa para tal);
15- conheça as pessoas de sua cidade. Uma volta pelo Centro é sempre um bom programa;
16- visite os sebos, as lojas de vinil e as “firmas”;
18- seja expulso de um shopping por “andar em grupos de mais de 5 pessoas”;
19- ouça a Radio Web Putzgrila;
20- seja feliz.

quarta-feira, abril 02, 2008

O povo das ruas

Você fica constrangido com os pedintes na rua? Sim, tudo bem, não precisa ficar com vergonha. Ninguém gosta de ver pessoas dormindo na calçada, esfarrapadas, obrigadas a esmolar para manter uma curta sub-vida. Mas se a pergunta é “por que eles estão lá?”, a resposta é muito simples. Basta pensar um pouco. Vamos aos fatos:

1. A madame chega no seu Mercedes de R$ 150 mil e estaciona na garagem do shopping para fazer umas comprinhas. Precisa de um tênis para a academia. Compra um Nike baratinho de R$ 500, afinal não se pode abrir mão do conforto. Precisa também de uma calça de brim para as situações mais descontraídas. Na Guess tem uma promoção incrível: R$ 800 uma calça moderníssima que já vem rasgada!!! Ufa! Depois de tanta emoção ela precisa reabastecer a energia. Compra um prato de massa industrializada com molho pronto e salada transgênica por R$ 20. Olha que coincidência! A mãe do Paulinho, namorado da sua filha. Beijos, beijos e vão tomar um cafezinho de R$ 5. Despedem-se e nossa heroína, já cansada vai ao salão de beleza. Massagem, escova, unhas de pé e mão, tudo isso pela módica quantia de R$ 350. Que dia cheio.... Finalmente chega de volta à sua Mercedes, depois de pagar R$ 10 para o estacionamento. Ao parar na primeira esquina dá graças a Deus pelo ar condicionado, pois assim não precisa abrir a janela e enfrentar as crianças com a mão estendida.

2. Sete horas da manhã começam os primeiros movimentos de carro na rua. As cinco crianças dormem amontoadas em um colchão sob uma marquise. São acordadas com gritos e chutes pelo zelador, que imediatamente após sua retirada lava a calçada com um jato de mangueira. Os jovens sonolentos vão guardar suas coisas no terreno baldio duas esquinas adiante. Caminham para o parque e tomam um banho de chafariz. Só de cuecas e calcinhas deixam a roupa secar nas pedras que a essa altura já estão quentes pelo sol escaldante. Isso até que os guardas municipais apareçam e eles tenham que fugir correndo. Já passou do meio dia e tudo o que comeram foram umas bananas que conseguiram num mercadinho. Colocam-se numa esquina, onde os meninos fazem malabarismo com uma calota enquanto as meninas passam para recolher as moedas. Durante cinco horas nessa função conseguem R$ 10. Felizes da vida com o dia lucrativo, compram uma garrafinha de loló, dois pacotes de bolacha, um salgadinho e uma Coca-cola. Ainda sobra para chicletes. Voltam para sua marquise e se deliciam com seu banquete.
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P.s.: "69% do entrevistados se sentem contrangidos quando abordados por pedintes". Alguém, por acaso, vai fazer uma pesquisa para saber quantos mendigos se sentem contrangidos em ter que pedir?

terça-feira, abril 01, 2008

Três colunas abaixo...

....eu disse que eles tinham seus homens na imprensa. Para mostrar como não estou ficando louco, os queridos leitores devem ter visto a capa da Zero Hora de domingo: uma ode ao plantio de eucalipto no Pampa. Nenhuma linha, um suspiro sequer, sobre as instituições, movimentos, estudos e opiniões de especialistas que são contrários a esse cultivo. Jornalismo tem que, no mínimo, ouvir os dois lados; ou já passamos dessa fase?
Ainda vai chegar o dia em que as pessoas que defenderam essa depredação do nosso patrimônio terão que se explicar perante o povo gaúcho. Só espero que nossas consciências não estejam (mais) entorpecidas.