Infelizmente tenho confundido um pouco sonho com realidade.
Há alguns minutos estava numa livraria de Buenos Aires, conversando com um comunista, com certeza comunista porque usava uma camisa vermelha com a foice e o martelo, e que muito provavelmente devia ser o dono da loja. Me lembro de ter pedido um livro de Luís Carlos Borges. Sim. Aquele maldito comuna me fez confundir Luís Carlos Prestes com Jorge Luis Borges, em uma livraria castelhana. O pior é que ainda me dei conta e corrigi. Comprei o livro e saí para dar uma volta num brique antigo onde as pessoas dançavam tango na rua.
É isso que eu falo em confundir sonho com realidade. Como é que eu posso ter me confundido e depois ter concertado tudo num sonho? Ou seja, eu estava plenamente consciente do que fazia, tanto quanto acordado.
Quando preparava meu chimarrão esta manhã tenho certeza de que estava mais fora do que dormindo. Pensava nas possibilidades de as pulgas tomarem conta do meu apartamento e exigia uma resposta do cachorro, porque afinal é ele o saco de pulgas. Como o cusco, no máximo, me olhava com aquela cara triste, desisti de tentar entender o mundo das pulgas e resolvi pensar em outra coisa abstrata, mas que toma a maior parte do meu tempo de atividade intelectual: Rock and Roll.
Me custa acreditar que o Rock morreu, mas é uma realidade cada vez mais difícil de refutar. Não que ele esteja morto e enterrado, que ninguém vá mais ouvir e tocar. Até acho que hoje em dia existem mais pessoas que se dizem rockers do que antigamente. Nunca se vendeu tanta guitarra, nunca existiram tantas bandas, tantas lojas, tantos bares. Mas a questão é que tudo isso parece ser muito falso. Não existe um objetivo. Esta nova geração, da qual infelizmente faço parte, não tem nada a dizer. Está certo que mudar o mundo através da música, sonho de nossos antepassados, já foi provado que não é possível. Mas o fato de tentar é que era apaixonante.
O Rock, Rock mesmo, morreu exatamente no momento em que o palhaço do Kurt Cobain enfiou uma bala na cabeça. Definitivamente ele foi o último Rock Star digno dessa classificação. Se bem que de certa forma fracassado, porque não conseguiu morrer de overdose ou de tanto beber como os grandes Rock Stars dos anos 60 e 70, e teve que apelar para um balaço de revólver.
Desde então o Rock deixou de ser a principal categoria de música do mundo e passou para a história. Estamos no mesmo nível do jazz, do blues, da música clássica e erudita. Sempre vai existir, mas será exclusividade de um pequeno grupo de entendidos, estudiosos e interessados. Ou seja, o Rock cumpriu a sua obrigação como um capítulo da história da cultura, agora deixemos que outras coisas tomem o seu lugar.
Essa constatação está em todos os lugares. Vejamos o último show do Deep Purple aqui em Porto Alegre. Foi tranqüilamente um dos cinco melhores shows de rock que já vi, mas foi um fracasso de público. Pete Thousand estava certo quando disse que “os jovens só nos querem ver uma vez”, porque é isso mesmo, é só para no futuro poder dizer aos seus filhos “eu vi um show do The Who”, ou “eu vi um show do Deep Purple”, é a mesma coisa. Pouca gente está lá pela música, a maioria vai pelo ícone que aqueles velhos representam. É algo como um souvenir intelectual que a juventude precisa ter para assegurar-se de que algum dia já foi jovem.
E aí mesmo é que está nossa decadência, a prova de nossa geração perdida, porque não temos nossos próprios ícones, não temos ninguém em quem confiar nossos sonhos, porque ninguém mais fala de sonhos de verdade, só dessa realidade insossa, sem graça e melancólica. O mal da nossa geração é que não temos futuro, ninguém nos dá uma luz de futuro. Este era o papel do Rock, até mesmo do Rock de Kurt Cobain, que dizia que o futuro é uma merda, mas pelo menos existia. Hoje parece que chegamos no máximo. Tudo o que pode acontecer é diminuir o tamanho do meu computador ou do toca discos, mas as estruturas estão dadas e nada vai mudá-las.
O nosso fracasso é que não temos nada a dizer. As pessoas têm se preocupado demais em criar um novo som, mas se esquecem de o som foi sempre o mesmo. A guitarra tem aquelas notas e era isso. A verdadeira questão está no sentimento e nas palavras. Nossa juventude não tem mais nada a dizer porque parece que tudo já foi experimentado, já foi dito e já foi vivido. Estamos aqui só de passagem, em busca de algum dinheiro e uma vida segura.
Eu, infelizmente, sigo sonhando e sigo rocker. Não que eu tenha escolhido, foi uma coisa que simplesmente aconteceu. Só espero que este não seja um sonho individual, que as pessoas ainda acreditem num mundo melhor. Não precisa ser através do Rock and Roll. Já estou conformado em tocar para mesas e cadeiras de um bar vazio a vida inteira, mas o sonho é o importante. Assim como aquela pichação, num muro qualquer, de uma cidade qualquer: “mais vale um sonho rocker do que essa realidade sem sentido”.
Há alguns minutos estava numa livraria de Buenos Aires, conversando com um comunista, com certeza comunista porque usava uma camisa vermelha com a foice e o martelo, e que muito provavelmente devia ser o dono da loja. Me lembro de ter pedido um livro de Luís Carlos Borges. Sim. Aquele maldito comuna me fez confundir Luís Carlos Prestes com Jorge Luis Borges, em uma livraria castelhana. O pior é que ainda me dei conta e corrigi. Comprei o livro e saí para dar uma volta num brique antigo onde as pessoas dançavam tango na rua.
É isso que eu falo em confundir sonho com realidade. Como é que eu posso ter me confundido e depois ter concertado tudo num sonho? Ou seja, eu estava plenamente consciente do que fazia, tanto quanto acordado.
Quando preparava meu chimarrão esta manhã tenho certeza de que estava mais fora do que dormindo. Pensava nas possibilidades de as pulgas tomarem conta do meu apartamento e exigia uma resposta do cachorro, porque afinal é ele o saco de pulgas. Como o cusco, no máximo, me olhava com aquela cara triste, desisti de tentar entender o mundo das pulgas e resolvi pensar em outra coisa abstrata, mas que toma a maior parte do meu tempo de atividade intelectual: Rock and Roll.
Me custa acreditar que o Rock morreu, mas é uma realidade cada vez mais difícil de refutar. Não que ele esteja morto e enterrado, que ninguém vá mais ouvir e tocar. Até acho que hoje em dia existem mais pessoas que se dizem rockers do que antigamente. Nunca se vendeu tanta guitarra, nunca existiram tantas bandas, tantas lojas, tantos bares. Mas a questão é que tudo isso parece ser muito falso. Não existe um objetivo. Esta nova geração, da qual infelizmente faço parte, não tem nada a dizer. Está certo que mudar o mundo através da música, sonho de nossos antepassados, já foi provado que não é possível. Mas o fato de tentar é que era apaixonante.
O Rock, Rock mesmo, morreu exatamente no momento em que o palhaço do Kurt Cobain enfiou uma bala na cabeça. Definitivamente ele foi o último Rock Star digno dessa classificação. Se bem que de certa forma fracassado, porque não conseguiu morrer de overdose ou de tanto beber como os grandes Rock Stars dos anos 60 e 70, e teve que apelar para um balaço de revólver.
Desde então o Rock deixou de ser a principal categoria de música do mundo e passou para a história. Estamos no mesmo nível do jazz, do blues, da música clássica e erudita. Sempre vai existir, mas será exclusividade de um pequeno grupo de entendidos, estudiosos e interessados. Ou seja, o Rock cumpriu a sua obrigação como um capítulo da história da cultura, agora deixemos que outras coisas tomem o seu lugar.
Essa constatação está em todos os lugares. Vejamos o último show do Deep Purple aqui em Porto Alegre. Foi tranqüilamente um dos cinco melhores shows de rock que já vi, mas foi um fracasso de público. Pete Thousand estava certo quando disse que “os jovens só nos querem ver uma vez”, porque é isso mesmo, é só para no futuro poder dizer aos seus filhos “eu vi um show do The Who”, ou “eu vi um show do Deep Purple”, é a mesma coisa. Pouca gente está lá pela música, a maioria vai pelo ícone que aqueles velhos representam. É algo como um souvenir intelectual que a juventude precisa ter para assegurar-se de que algum dia já foi jovem.
E aí mesmo é que está nossa decadência, a prova de nossa geração perdida, porque não temos nossos próprios ícones, não temos ninguém em quem confiar nossos sonhos, porque ninguém mais fala de sonhos de verdade, só dessa realidade insossa, sem graça e melancólica. O mal da nossa geração é que não temos futuro, ninguém nos dá uma luz de futuro. Este era o papel do Rock, até mesmo do Rock de Kurt Cobain, que dizia que o futuro é uma merda, mas pelo menos existia. Hoje parece que chegamos no máximo. Tudo o que pode acontecer é diminuir o tamanho do meu computador ou do toca discos, mas as estruturas estão dadas e nada vai mudá-las.
O nosso fracasso é que não temos nada a dizer. As pessoas têm se preocupado demais em criar um novo som, mas se esquecem de o som foi sempre o mesmo. A guitarra tem aquelas notas e era isso. A verdadeira questão está no sentimento e nas palavras. Nossa juventude não tem mais nada a dizer porque parece que tudo já foi experimentado, já foi dito e já foi vivido. Estamos aqui só de passagem, em busca de algum dinheiro e uma vida segura.
Eu, infelizmente, sigo sonhando e sigo rocker. Não que eu tenha escolhido, foi uma coisa que simplesmente aconteceu. Só espero que este não seja um sonho individual, que as pessoas ainda acreditem num mundo melhor. Não precisa ser através do Rock and Roll. Já estou conformado em tocar para mesas e cadeiras de um bar vazio a vida inteira, mas o sonho é o importante. Assim como aquela pichação, num muro qualquer, de uma cidade qualquer: “mais vale um sonho rocker do que essa realidade sem sentido”.
2 comentários:
Uau...que texto hein!
Tu estava inspiradíssimo...
O Rock tá vivo dentro de nós e a gente sabe disso, sabemos e acreditamos em um futuro, pelo menos pra nós, bem rocker!!!
Afudê, irmão! Resumiu tudo com uma lucidez digna de um verdadeiro rocker. E eu vou continuar tentando...
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