Tudo parado no sábado de tarde, sem sol, sem chuva, sem vento; só gritos, de crianças, de carros e ônibus que desfilam sem cessar pela passarela da vida cotidiana. Pobres e ricos se misturam no frenesi de suas casas, hospitais da alma e do corpo, em florestas artificiais que nos trazem uma paz artificial para nossa vida artificial. Eu, eu tento molhar minha garganta com um pouco de água morna que a duras penas puxo pela bomba entupida. Olho meu pé, penso em cortar as unhas, só penso; penso em ouvir um som, só penso; telefone, nem pensar, que me deixem só, podia até tirar da tomada, mas não vale o esforço, ninguém vai ligar.
Acredito no que dizem, que o mundo não tem mais nada além das poesias e profecias das mesas dos bares por onde ando. Acredito, mas tenho uma casa e uma cadeira, tenho ar e tenho este pensamento ridículo de que eles estavam certos, de que as palavras não valem mais nada, inclusive a suas, que ecoaram pela cabeça ébria de orelhas dispostas e boca sedenta. Paga aí que eu ouço tudo, e acredito.
Meus vícios são só vícios, não estou fugindo de nada, se bem que posso estar fugindo de nada. Ainda bem que não tem sol, nem chuva, nem vento, só aquele mormaço estranho de inverno quente, que faz o corpo suar porque tirar o agasalho parece ridículo no inverno. Nem isso é mais igual aos tempos de criança, inverno não é mais frio, sonhos não se tornam mais realidade, na verdade, sonhos não aparecem nem mais em sonhos. A realidade prende e paira no tempo que arrasta para o destino comum de todos.
Poderia estar acompanhado agora de alguém que não conheço. Não, não tenho mais paciência para esses jogos que se desenvolvem, palavras de duplo sentido, palavras sem sentido, e no fundo um arrependimento com raiva e enjôo. Acordar só é uma grande coisa. Sou só, único responsável pela mediocridade alegre ou triste que acorda comigo.
O silêncio de dentro está muito grande, nada interrompe a seqüência de pensamentos desconexos, meio reais, meio devaneios que não controlo. A preguiça assumiu controle total. Senão, poderia fazer algo, nem que fosse esquentar mais água. Calço os chinelos, olho em volta e sinto como as pálpebras estão pesadas; resquícios. Num esforço extremo levanto e entro na sala. Olho em volta, até que está bem arrumada, os discos espalhados e os recortes de revista, tudo no lugar. Arrumado não é limpo. Vou para a cozinha, a pilha eterna da pia está menor, dá para colocar a chaleira em baixo da torneira. O gás deve estar no fim, a chama alta mal e mal sai da boca. Tomara que esquente minha água, não quero ter perdido todo meu esforço. Acendo o último cigarro para esperar, sempre um cigarro para esperar, e assim vou me matando; bobagem, todos estamos nos matando, só de respirar, ar dá câncer.
Terminou, o gás. Não dá nada, a água ficou morninha, dá para o gasto. Acho que agora podia botar um som, realmente tá muito silêncio aqui. Paro na frente dos discos, sempre os mesmos discos. O telefone também está mudo, olho um pouco, não vai tocar. Volto aos discos, um blues, um rock, rockinho, nada pesado, quem sabe nacional, não, blues mesmo. John Lee confessa sua dor na minha sala.
Até parece ser um bom dia, não estivesse quase no fim, quase novamente noite para mais uma vez entregar tudo ao inevitável. Antes vou curtir esta metamorfose, este momento raro em que o céu fica verde aos nossos olhos já não tão correspondentes à realidade que todos querem ver. É claro, imaginamos, mas não são imaginações tudo aquilo que vivemos por conta do pensamento alheio, pensamento de TV, de grandes verdades proferidas dia a dia pelas mesmas bocas, nas mesmas horas?
Meu Deus, ainda tenho um cigarro! Como fui ter este gesto involuntário de apalpar o bolso da camisa? Logo ele, sempre esquecido, relegado a segundo plano, guarda a chave da minha morte e minha tranqüilidade. Bendita fumaça que preenche os pulmões e manda tudo o mais para o inferno. Todas as coisas que deveria ter feito hoje e não fiz. De propósito porque me entregando ontem já sabia que nada seria feito, que toda a esperança é inútil e que a desgraça sempre acompanha a alegria.
Pelo menos ela está ali, e é nela que vou depositar toda minha dor e minha esperança, meus medos e minha força, toda esta abençoada desgraça que dia após dia povoa minha mente de inspiração e desejo de percorrê-la com meus dedos até o sangue. Deusa que tantos homens já levou para o túmulo, que domina vidas, sonhos e sentimentos. Má companhia que insistentemente carregamos nas costas e mesmo jogada a um canto controla nossas vidas sabendo que mais cedo ou mais tarde teremos que acaricia-la no afã de esquecermos relembrando tudo.
Acabou o cigarro, acabou a bebida, o telefone continua mudo, e lá me vou com minha guitarra ao desconhecido da noite.
Outra vez.
Acredito no que dizem, que o mundo não tem mais nada além das poesias e profecias das mesas dos bares por onde ando. Acredito, mas tenho uma casa e uma cadeira, tenho ar e tenho este pensamento ridículo de que eles estavam certos, de que as palavras não valem mais nada, inclusive a suas, que ecoaram pela cabeça ébria de orelhas dispostas e boca sedenta. Paga aí que eu ouço tudo, e acredito.
Meus vícios são só vícios, não estou fugindo de nada, se bem que posso estar fugindo de nada. Ainda bem que não tem sol, nem chuva, nem vento, só aquele mormaço estranho de inverno quente, que faz o corpo suar porque tirar o agasalho parece ridículo no inverno. Nem isso é mais igual aos tempos de criança, inverno não é mais frio, sonhos não se tornam mais realidade, na verdade, sonhos não aparecem nem mais em sonhos. A realidade prende e paira no tempo que arrasta para o destino comum de todos.
Poderia estar acompanhado agora de alguém que não conheço. Não, não tenho mais paciência para esses jogos que se desenvolvem, palavras de duplo sentido, palavras sem sentido, e no fundo um arrependimento com raiva e enjôo. Acordar só é uma grande coisa. Sou só, único responsável pela mediocridade alegre ou triste que acorda comigo.
O silêncio de dentro está muito grande, nada interrompe a seqüência de pensamentos desconexos, meio reais, meio devaneios que não controlo. A preguiça assumiu controle total. Senão, poderia fazer algo, nem que fosse esquentar mais água. Calço os chinelos, olho em volta e sinto como as pálpebras estão pesadas; resquícios. Num esforço extremo levanto e entro na sala. Olho em volta, até que está bem arrumada, os discos espalhados e os recortes de revista, tudo no lugar. Arrumado não é limpo. Vou para a cozinha, a pilha eterna da pia está menor, dá para colocar a chaleira em baixo da torneira. O gás deve estar no fim, a chama alta mal e mal sai da boca. Tomara que esquente minha água, não quero ter perdido todo meu esforço. Acendo o último cigarro para esperar, sempre um cigarro para esperar, e assim vou me matando; bobagem, todos estamos nos matando, só de respirar, ar dá câncer.
Terminou, o gás. Não dá nada, a água ficou morninha, dá para o gasto. Acho que agora podia botar um som, realmente tá muito silêncio aqui. Paro na frente dos discos, sempre os mesmos discos. O telefone também está mudo, olho um pouco, não vai tocar. Volto aos discos, um blues, um rock, rockinho, nada pesado, quem sabe nacional, não, blues mesmo. John Lee confessa sua dor na minha sala.
Até parece ser um bom dia, não estivesse quase no fim, quase novamente noite para mais uma vez entregar tudo ao inevitável. Antes vou curtir esta metamorfose, este momento raro em que o céu fica verde aos nossos olhos já não tão correspondentes à realidade que todos querem ver. É claro, imaginamos, mas não são imaginações tudo aquilo que vivemos por conta do pensamento alheio, pensamento de TV, de grandes verdades proferidas dia a dia pelas mesmas bocas, nas mesmas horas?
Meu Deus, ainda tenho um cigarro! Como fui ter este gesto involuntário de apalpar o bolso da camisa? Logo ele, sempre esquecido, relegado a segundo plano, guarda a chave da minha morte e minha tranqüilidade. Bendita fumaça que preenche os pulmões e manda tudo o mais para o inferno. Todas as coisas que deveria ter feito hoje e não fiz. De propósito porque me entregando ontem já sabia que nada seria feito, que toda a esperança é inútil e que a desgraça sempre acompanha a alegria.
Pelo menos ela está ali, e é nela que vou depositar toda minha dor e minha esperança, meus medos e minha força, toda esta abençoada desgraça que dia após dia povoa minha mente de inspiração e desejo de percorrê-la com meus dedos até o sangue. Deusa que tantos homens já levou para o túmulo, que domina vidas, sonhos e sentimentos. Má companhia que insistentemente carregamos nas costas e mesmo jogada a um canto controla nossas vidas sabendo que mais cedo ou mais tarde teremos que acaricia-la no afã de esquecermos relembrando tudo.
Acabou o cigarro, acabou a bebida, o telefone continua mudo, e lá me vou com minha guitarra ao desconhecido da noite.
Outra vez.
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