sábado, outubro 22, 2011

Evolução e senso comum

Em um livro sobre metafísica li sobre o “sucesso evolucionístico” do nosso gênero. A discussão era sobre as vantagens e desvantagens de considerar o mundo através do senso comum, isto é, como as pessoas em geral vêem o que acontece. “Já que as nossas interações com o ambiente são eficazes – fato confirmado do exame severo imposto pela seleção natural – e já que tais interações se baseiam nas nossas crenças do senso comum, agora essas crenças devem ser verdadeiras”. Essa é mais ou menos a frase, e autor do livro tenta destruir o argumento da veracidade do senso comum. Primeiro porque o fato de termos crenças do senso comum não significa que fomos selecionados porque temos tais crenças; segundo porque a evolução parece se basear em critérios de economia e redução do risco, e não sobre crenças e visões de mundo.

São realmente ótimos argumentos, mas não tocam a questão fundamental: o tal do “sucesso evolucionístico”. Somos uma espécie de, sei lá, 10 mil anos, e nesse meio tempo conseguimos simplesmente destruir o mundo, sendo que nos últimos 500 anos o processo foi acelerado à máxima potência. Se continuarmos assim, imagino que será um pouco difícil viver por aqui no futuro. O que me faz mais uma vez pensar no mito da racionalidade do ser humano e também em um outro conceito, que podemos chamar de “instinto de preservação”, para ficar no ambiente dawinista.

Voltemos ao nosso amigo fazendeiro do Pará, aquele que se diverte derrubando árvores e matando gente. O seu instinto de preservação diz: “tenho que acumular dinheiro, aumentar meu patrimônio, para viver tranqüilo e deixar meus filhos com uma boa vida”. E que se foda se seus netos tiverem que pagar uma fortuna por um litro de água potável; dinheiro não vai faltar. Obvio que é um caso extremo, mas é mais ou menos assim que pensamos todos nós, ou seja, o senso comum. O nosso “instinto de preservação” no mundo é totalmente particularista. Eu tenho que pensar na minha vida, fazer o meu trabalho, ganhar o meu dinheiro e viver a minha vida. E assim as pessoas acabam destruindo suas próprias vidas, como o fazendeiro que derruba árvores, ou o magistrado que ganha 24 mil pilas por mês, mas tem que viver em um condomínio fechado, cercado de seguranças e gira em um carro blindado; exatamente como o traficante que ele acabou de mandar pra cadeia. E todos esses são os exemplos que o senso comum segue, consciente ou inconscientemente; basta pensar na sua própria vida.

Ninguém para pra pensar na preservação do ser humano como espécie. Ou até se pensa. Mas uma mudança do conceito do particular para o global implicaria numa mudança bastante profunda no nosso modo de vida. E mais uma vez voltamos para o grande problema da nossa época: o totalitarismo econômico e seu braço político, a democracia ocidental. Hoje em dia ninguém se atreve a dizer que o mundo não funciona; a nossa religião moderna disse que esse é o melhor sistema e todos temos que acreditar. Até porque se alguém diz o contrário simplesmente não é ouvido; quem controla a economia e a política controla também a comunicação.

O ponto é que não precisamos nem pensar em mundos fantásticos onde todos são felizes; basta saber que o nosso mundo é melhorável. A base é: assim do jeito que está não vai dar certo, o que podemos fazer para melhorar? E não me digam que é dar bom dia para o vizinho e comprar beterraba orgânica; a mudança deve ser um pouco mais profunda, deve se liberar do particular para o global. No fim a mudança de conceitos deve atingir o senso comum, senão o nosso tal “sucesso evolucionístico” vai pra cucuias. Como fazer isso exatamente ainda não sei, mas uma boa dose de utopia não faz mal a ninguém.

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