Meio atrasado mas vale. É a minha visão do que aconteceu no dia máximo da nossa "grandiosa" Pátria.
Dia de povo nas ruas, pipocas, cachorro quente e passe livre. O “sempre chove” não se confirma este ano; exceção para a regra. O sol que nasceu tímido detrás das nuvens começa a aquecer as calçadas neste fim do inverno. A cidade se prepara para os desfiles.
Na Perimetral os milicos já têm tudo organizado. Palanque para as autoridades e fita de contenção para os normais. Cavalaria, uniformes, banda, bandeiras e ordem. “Um, dois...”, o locutor testa seu microfone. Caixas de som amplificam sua voz por todos os quilômetros da avenida. Duplas de policiais guardam as esquinas da redondeza. Caras fechadas e muita compenetração para que não saia nada errado.
Em frente à Prefeitura outro espetáculo começa a tomar forma. São pequenos grupos de jovens que conversam a boca pequena. Cartazes, faixas, Che Guevara, violões e bandeiras. Ônibus chegam carregados de camisas vermelhas. São os movimentos sociais em ação: sem terra, sem casa, sem comida, sem educação, sem segurança. Eles e mais alguns curiosos do sem nada o que fazer.
Os alto-falantes anunciam: “5º Regimento de infantaria, 1º Batalhão,”. Pan, pan, pan... as botas encontram violentamente o asfalto. O efeito é aterrador. Crianças olham boquiabertas, sem conseguir sequer respirar. Alguns adultos balançam seu pavilhão nacional, orgulhosos do País. Em frente ao palanque os soldados batem continência ao Governador. Depois de um breve instante voltam-se com seus olhos pregados no infinito a marchar em meio à população.
Enquanto os músicos sobem no carro-palco-palanque, uma senhora de voz esganiçada conclama os presentes. A esta hora os grupos já são uma pequena multidão. Novas faixas são abertas, bandeiras são desfraldadas e siglas aparem. “Caminhando e cantando e seguindo a canção...” como um hino ainda embala as passeatas. E a letra fácil escorrega das bocas em uníssono. Todos cantam, muitos dançam e nos olhos parece brotar uma esperança genuína de alguma coisa qualquer.
Jovens sobem em canteiros, em ombros, em árvores. Dos prédios a cada pouco chove papel picado. Armas lustrosas encantam a todos pelo movimento dos oficiais. Jatos da Força Aérea sobrevoam o desfile com seu barulho ensurdecedor. Nos bastidores um exército de panfleteadores contribuem com o emprego dos garis. Todos os políticos candidatos estão ali, nos cartazes, nos folhetos e na lapela dos mais empolgados.
Das janelas dos apartamentos surgem cabeças desconfiadas que acompanham a serpente humana pela avenida. Dos gritos de guerra distingue-se pouca coisa. “Fora corruptos, fora FMI, fora Estados Unidos; mais terra, mais oportunidades, mais educação” De longe tudo parece uma grande festa, bastante colorida e animada. Dez policiais e duas viaturas guiam o povo pelas ruas do Centro.
Finalmente vem a cavalaria. Animais lustrosos e fardas engomadas reluzem sob o sol. Lanças e bandeiras de regimento dançam sobre as cabeças. A banda toca e as ferraduras acompanham seu ritmo com um barulho ensurdecedor. A demonstração de grandeza arranca aplausos e vivas da população. Retiram-se as fitas e o formigueiro se espalha desviando das bostas rumo aos parques e às casas.
Logo depois chega a marcha. Gritos para o palanque já vazio. Os tênis e as havaianas desfilam para ninguém. Pisoteiam o lixo e também desviam as bostas.
No ar a estranha sensação de que o povo e os políticos assistiram ao desfile errado.
Um comentário:
muri... blog é bom. e eu estou aqui: reconstruindo cenários, reconfigurando personagens, projetando enredos e, o que é melhor, assistindo tudo de camarote. um beijo, nani.
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