quarta-feira, maio 30, 2007

Brincando de guerrinha

Vivo, ou melhor, sobrevivo no Brasil. Milhares de indefesos ignorantes passam por mim todos os dias e nada consigo fazer por eles. Grandes poderes, não tão ocultos como dizem, tomam as rédeas da nação.
Enquanto volto de minha janta percebo uma agitação na rua. São em torno de dez crianças que correm e se jogam o lixo da burguesia. Uma delas se aproxima e diz: "ei tio, me dá um gole?". Eu tenho uma lata de Coca-Cola nas mãos. Olho bem para ele. É um menino que não passa dos seus 12 anos. "Que bagunça vocês estão fazendo, hein?". "Não tio, a gente só tá brincando de guerrinha". "Tudo bem, pode levar, mas divide com teus amigos".
Sigo meu caminho, pensando na contraditória brincadeira de guerrinha, quando ouço o grito da voz infantil: "sai prá lá meu! Ele deu prá mim!".
Mentira, mas como cobrar a verdade de quem vê a falácia morando em castelos, em mundos fechados e com a cara estampada na TV?
Traição, mas como cobrar honestidade de quem vê a cada quatro anos um caminhão de promessas repetidas e nunca cumpridas?
Violência, mas como querer paz de alguém que vê a polícia batendo antes para perguntar depois, quando pergunta?
Giro a chave nas grades do meu prédio. Subo as escadas praticamente sem forças, tamanha a inutilidade que sinto em meu peito. Ligo a TV e ouço: "o Brasil continua crescendo!".
Para quem?

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