sexta-feira, setembro 28, 2007

O caminho do fim

Pois é, há uma semana eu falava que “o Rio Grande é a Amazônia amanhã”. Para quem não sabe, toda a parte norte do nosso Estado era coberta por uma frondosa floresta. Um pequeno reduto dessa maravilha foi preservado, no Parque do Turvo, município de Derrubadas. Na verdade é uma visão bizarra, triste. Nuvens de agrotóxico e a fauna ilhada, esperando uma morte lenta e certa.
Pois bem, para provar que não estou ficando louco, aqui vai uma notícia de hoje:

“Amazônia: Governo vai permitir plantações de cana em áreas de pastagem degradada”.

É do jornal O Globo, por incrível que isso possa parecer. Agora, tentem adivinhar como começou a devastação aqui no nosso Estado? Complete o quadro com estas outras notícias, do Estado de São Paulo, coladas no blog Ponto de Vista:

“Lula diz na ONU que etanol é compatível com preservação”

“Preço dos alimentos deve elevar a inflação deste ano à meta de 4,5%”

“Consumo de nutrientes essenciais é baixo no Brasil, revela estudo”

“Em MT, derrubada de mata subiu 200%”

E aí, não vão querer que eu explique tudo, certo?

quinta-feira, setembro 27, 2007

"35 anos de Rock"

O bar é um local privilegiado de aprendizado. É a própria esfera pública. Todos os assuntos são lá discutidos, elaborados, contatos são feitos, xingamentos, risadas, enfim, bar.
Mas os bares não são todos iguais, longe disso. Para o bar ser considerado bom, existe um pré-requisito fundamental: cerveja barata. Na geografia da vizinhança Cidade Baixa / Bom Fim, podemos já excluir uma penca de estabelecimentos: Copão (bar de playboy), Ossip (bar de veado), todos os bares do Olaria (lugar de playboy veado), e mais alguns outros representativos desse universo. Nada de preconceito. Só estou considerando minha opção como rocker e heterossexual.
Tudo isso para dizer que dentre os botecos que sobraram existe um de destaque: Rossi Bar. É a sala de aula número 1 da Faculdade de Rock. Ontem, por exemplo, passamos lá um bom tempo tomando cerveja e ouvindo o disco Reflection, do Steamhammer. Sim, isso mesmo, Steamhammer. Grande banda de blues-rock inglesa, cujo vocalista, Kieran White, tem uma voz muito parecida com a do Ian Anderson (inclusive, duvido que ele diria que sua banda não é uma banda de Rock, mas essa é outra história...).
Lá pelas tantas a Frã para o Afonso, dono do boteco, e pergunta: “há quanto tempo tu curte Rock”. Depois de alguns cálculos, “35 anos”. Foi a senha para ele se soltar e começar a largar algumas pérolas como “eu tenho mais de dois mil discos de blues. E para ser blues tem que respeitar duas regras: ser feito nos Estados Unidos e por negros”.
Nessa ficamos, falando coisas de Rock e bebendo Polar gelada a R$2,90. Fica a dica: se não souber o que fazer na noite, dê uma passadinha no Rossi. Quem sabe não sobra uma aulinha de Rock’n’Roll....

terça-feira, setembro 25, 2007

Mentiras

Por força do meu trabalho de conclusão, tenho lido dezenas de revistas antigas. Nem tanto, de julho a novembro do ano passado, época das eleições. Mas já o suficiente para ver o quanto uma revista velha é ridícula. Jornal, então, nem se fala. Faça o teste: pegue aquela pilha de jornais da semana passada e dê uma olhada. “Meu deus, é tudo mentira!”. Sim, mas por quê?
1- Um jornal é feito totalmente dentro de uma redação. Como esperar que alguém reflita a realidade quando não sai de um ambiente artificial?
2- Há uma grande inversão de prioridades. Fatos importantes são esquecidos; coisas banais são remoídas à exaustão.
3- Nada supera a vida nas ruas. Por mais que eles tentem, não conseguem nos enganar o tempo todo. Só quem faz parte do “povo” sabe como funciona o mundo.
4- As pessoas que produzem o jornal fazem parte do pessoal dos carros importados; ou querem fazer.

É óbvio que a reflexão é muito mais profunda. Estes são apenas alguns tópicos que se destacam na minha humilde avaliação. Mas nem sempre foi assim. Houve uma época em que existiam jornalistas de verdade. Como nós trabalhamos com noções de comparação, vai aqui uma dica. Leia um exemplar da revista Realidade, publicada pela Editora Abril entre os anos 60 e 70. Depois pegue uma Veja, por sinal da mesma editora, e compare.
Depois disso, continuar comprando Veja é sinal de má fé; ou indigência mental.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Festa dos 10

O domingo acabou comigo tentando comprar uma pizza no Habib’s. As socialites visivelmente incomodadas com minha embriagues. Pelo menos a atendente teve alguns momentos de alegria: “Escolhe um sabor qualquer aí, o que ficar mais fácil de fazer”. Boa pizza. Não lembro agora de que.
Sim, eu estava feliz. Depois de quatro dias convivendo com as melhores pessoas do mundo, não podia ser diferente. O apartamento 2 se transformou no grande reduto de Rock’n’Roll da cidade. Que digam os 22 vizinhos que ligaram para a polícia. É, os brigadianos chegaram bem na hora que começou o som da banda. Não dá nada, ninguém conseguia tocar mesmo...
Vou resumir: 26 caixas de cerveja, churrasco sem fim, Rock’n’Roll a todo volume, o tempo todo e os melhores amigos que alguém poderia ter.
Foda-se o resto.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Amigos

"Vamos sair
mas não temos mais dinheiro
meus amigos todos
estão procurando emprego
voltamos a viver
como a dez anos atrás
e a cada hora que passa
envelhecemos dez semanas"

A partir de hoje dedico-me totalmente aos meus verdadeiros amigos. Volto segunda.

quarta-feira, setembro 19, 2007

O Rio Grande é a Amazônia amanhã

“Soja ‘asfixia a Amazônia’, diz francês ‘Le Monde’”. Esta é uma das matérias do site da BBC no dia de hoje.
Que o jornalismo brasileiro é ruim, todo mundo já sabia, mas agora chegou num ponto vergonhoso. Precisamos que os gringos venham nos dizer as verdades sobre o que consideramos nossa maior riqueza. Bem, não sei por que estou espantado. Há muito tempo são eles quem comandam esse pedaço do Brasil. Biopirataria, madeiras, soja, gado, é tudo dos gringos. Aí o paradoxo: eles destroem, eles noticiam, eles fazem campanha para preservar.
A notícia acima tem relação direta com o eu escrevi ontem. Quem vocês acham que planta soja no Pará? São os mesmos “gaúchos” que destruíram as florestas do nosso estado, em parceria com a Monsanto. Para quem não tem idéia do que estou falando, sugiro uma visita ao Parque Estadual do Turvo, no município de Derrubadas, noroeste do estado, pertinho de Tenente Portela. Ali fica clara a devastação de que fomos vítimas.
É interessante também uma passada pela Reserva Indígena da Guarita para uma conversa esclarecedora sobre a verdadeira relação do homem com a natureza. Sobre os índios volto a falar outra hora...

terça-feira, setembro 18, 2007

O anti-gaúcho

Nesta semana todo mundo é gaúcho. Anda orgulhoso com suas bombachas de naftalina, come churrasco e fala grosso. Todos sabem cantar o hino do Estado, “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra”, e logo vem o sentimento de que somos o melhor povo do mundo, paladinos da moral e das virtudes.
Pois esses mesmos “gaúchos”, que sentem tanto orgulho da sua terra, não estão nem aí para a destruição do Pampa. Claro, eles nunca devem ter sequer visto o Pampa, pisado no pasto, passado uma noite a olhar a infinidade de estrelas e os ruídos assustadores do silêncio. Esses “gaúchos” devem achar linda uma plantação de eucaliptos, a maior bizarrice de nossos tempos. Quem planta eucalipto é o próprio anti-gaúcho, é quem está acabando com nossa identidade.
O Rio Grande sangra. Já destruímos todas as nossas florestas do norte para plantar trigo e soja. Não me assustarei se daqui a alguns anos começarem a plantar cana entre tocos de árvores.
No futuro não teremos terra, não teremos gado, não teremos comida. E os “gaúchos” estarão felizes em aplaudir carros alegóricos numa avenida da cidade.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Morgan le Femme

O Rock tem salvação. De tempos em tempos acontece alguma coisa que renova minhas esperanças. Hoje acredito na resistência por causa de um grupo de meninas. Poucas coisas são tão boas de ver quanto uma banda feminina detonando guitarra, baixo e bateria com muita atitude e volume. Morgan le Femme, é o nome.
Gostei tanto que já me auto-intitulei presidente do fã clube delas. São um fenômeno. A baterista deve ter recebido o espírito do John Bonham. O Hamilton, batera da Só Creedence, já tinha me prevenido: “sempre que elas tocam eu levo meu protetor auricular”. Não, ela não é nenhum monstro de quatro braços. É uma guriazinha de óculos, tímida, que ainda carrega uma cara de saída de colégio. A vocalista tem uma voz potente e toda a postura de uma “front-girl”. Não é à toa que ela se atreve a cantar Janis, e canta muito bem. O dueto das cordas completa o time com muita elegância e competência. Se a vocalista arrisca a Janis, as gurias do baixo e guitarra atacam de Pata de Elefante sem perder a compostura.
No repertório delas ainda encontramos Raul, Beatles, Stones, Creedence, ou seja, Rock’n’Roll da fonte. Portanto, fica aqui a sugestão: vejam o show da Morgan le Femme. Quarta-feira elas tocam no Garagem Hermética.
Há, só uma ressalva: elas não bebem nem usam drogas. Bem, são tão novinhas, um dia elas aprendem....

quinta-feira, setembro 13, 2007

De quem é a culpa

Impossível não falar no “grande” fato de ontem. O cara continua lá. Já ouvi de tudo, mas uma frase marcou minha percepção: “o Congresso é uma amostra da nossa sociedade”. Talvez seja; da sociedade deles, da sociedade da ‘opinião pública’, da sociedade dos carros importados e dos condomínios de luxo. O povão sequer sabe quem é Renan Calheiros. Repetem frases feitas: “é um ladrão”, “é corrupto”. Não. Nem isso. Para o povão, Renan Calheiros é o cara que comeu a jornalista gostosa. Ponto. Corrupto todos são, essa não é uma característica que diferencie.
Voltemos ao fato. Como anarquista convicto, torci pela absolvição do senador. Quem sabe assim as pessoas se dão conta de que a política institucional não resolve, nunca resolveu e nem vai resolver a situação do povo. São todos iguais, sua única ideologia é o dinheiro. Suas ações são todas para resolver os problemas dos financiadores de campanhas. Quem são os financiadores de campanhas? O pessoal dos carros importados. De quem é a culpa dessa zona toda? É só pensar um pouquinho...

segunda-feira, setembro 10, 2007

Fama e Fortuna

Depois de um fim-de-semana de consumo absurdo de álcool, cigarros, churrasco, maconha e Rock’n’Roll, cheguei a uma conclusão: roqueiros não vão à praia.
Qual banda que se preze marcaria um show para o sábado 8 de setembro? Deve ser a pior data do ano, bem no meio do feriado. Quando o Zanatta, vocalista da Paranóia II (banda da qual sou o guitarrista), disse que tinha fechado esse dia logo pensei: “que furada”. Bem, de qualquer forma eu teria que ficar torrando na Capital por conta do trabalho.
Então, segui com toda a tradição: fazer cartazes, imprimir, colar, mandar e-mail para rádios, jornais, intimar a galera na rua, enfim, toda aquela função. O dia do show era também dia de jogo do Colorado e um dos dias de maior ressaca da minha vida. Apavoramos na sexta. Mas, não dá nada, vamos lá. Carregar instrumentos, amplificadores, montar o palco, passar o som. Pelas 9h da noite eu já queria jogar tudo pro alto: não vai vir ninguém mesmo.
Depois de uma sessão de descarrego a lá Bob Marley e uma leve concentração no Rossi Bar, fomos para o local do show. Qual não foi minha surpresa: todas as mesas estavam lotadas, assim como o balcão do bar. Já era um público excelente, umas 30 pessoas.
Quem abriu o show foram as gurias da Morgan le Femme. Muito rockers. Nesse tempo o bar foi enchendo. Lá pelas tantas os donos tiveram que abrir o mezanino porque já estava começando a ficar apertado.
Subimos no palco e fizemos nossa parte. O pessoal cantou, pulou, bebeu, enfim, foi uma grande festa de Rock’n’Roll. Acabamos a noite no Marinho, onde gastei todo o dinheiro que ganhei no show. 50 pila. Não dá nada. Pelo menos tive meus momentos de fama e fortuna.

terça-feira, setembro 04, 2007

Rock mata

Eu gosto do site da BBC. Os caras são os campeões na divulgação de pesquisas inúteis. O que, por sinal, me faz pensar que os pesquisadores da Inglaterra são todos especialistas em porra nenhuma.
Essa é de hoje: “Roqueiros têm o dobro de chance de morrer jovens, diz estudo”. O senhor Mark Bellis, coordenador do projeto, merece um prêmio Nobel; de obviedade. Para os amigos, um trecho da notícia: “Os pesquisadores analisaram 1.050 roqueiros europeus e americanos. Cem deles morreram entre 1956 e 2005 - sendo que as estrelas americanas morreram com uma média de idade de 42 anos e os europeus, com 35. O consumo de drogas e bebidas alcoólicas está por trás de uma em cada quatro dessas mortes prematuras, disse o Journal of Epidemiology and Community Health”.
Finalmente está comprovado, o Rock mata. Como se ninguém soubesse disso. Repito, grande contribuição do seu Bellis, meu voto para o Nobel. Bons moços não fazem Rock. Se você não está disposto a enfrentar os limites, caia fora antes que seja tarde.

P.s.: Para o amigo Dani, que escreveu um belo texto sobre o Deep Purple (http://www.armazemdanoticia.com.br/cgi-bin/armazemdanoticia_colunistas.pl?classe=daniel_gustavo_basso&id=2483): já fui a dois shows dos velhos, um melhor que o outro. Pelo menos umas mil vezes mais Rock’n’Roll que essas bostas de hoje em dia. Conselho de amigo: se vierem de novo levanta a bunda do sofá e vem curtir com a gente. Abraço!

segunda-feira, setembro 03, 2007

"Deus me Livre"

Algumas imagens emocionam. O Pampa ao fim do dia é uma delas. Sua grandeza nos dá uma vaga noção do que somos: nada. Uma profusão de cores, pedras púrpuras, céu verde, pasto cinza..... Além disso, a história. Podemos ouvir sons de um passado glorioso, a dor de uma vida solitária, encontro de metais, um passado ao qual pertencemos porque segue vivo em algum lugar da alma.
Vinha pensando sobre essas coisas, quase chorando de emoção, quando me deparo com uma das maiores bizarrices do nosso tempo: uma plantação de eucalipto. Baita corta clima. As pessoas podem achar os argumentos dos cientistas ideológicos, podem ter raiva do MST e da Via Campesina, podem odiar os políticos que são contra a monocultura. Mas esse argumento não pode ser refutado. Uma plantação de eucaliptos é muito feia. É uma questão de estética gaudéria ser contra essa produção. Questão de orgulho do passado, como temos orgulho de dizer.
Ao longo da estrada vimos uma série de placas da Aracruz. “Quer ser Produtor Florestal? Ligue 0800-5107100”. Assim mesmo, com letra maiúscula e 0800. Como resposta a essa singela pergunta, propomos a criação do movimento “Deus me Livre”. O ato subversivo da semana é ligar para esse telefone e encher o saco deles. Eu sei que muito dirão “mas as telefonistas não têm nada a ver com isso”. Azar o delas. Ato subversivo nº2: pintar “Deus me Livre” em toda e qualquer propaganda da Aracruz.
Mãos à obra.