Porto Alegre costuma nos revelar certas surpresas. Uma delas me atingiu em cheio no fim da tarde de sábado, na prainha do Gasômetro: o Rock’n’Roll não morreu. Ele anda meio desacreditado, convenhamos, principalmente pelos donos dos meios de difusão da cultura. Mas nada que uma manifestação popular não possa contrariar.
Ao sair de casa acompanhado pela primeira dama senti pela primeira vez que nunca vou mudar. Camiseta dos Beatles, calça de brim rasgada, tênis All Star, meu Deus, ainda não saí dos 15 anos!!! Foda-se!!! Quando a família disse que “agora já sou um adulto” até achei que poderia mesmo estar fazendo um papelão. Agora me dou conta de que a desmoralização é deles com seus amigos e sua sociedade de classe média. Talvez não suportem os comentários. Quanto a mim, seguirei andando de “camisa rasgada e calça furada, bebendo cachaça no bar”.
Depois do desabafo seguimos com a história. Ao passarmos pelo Largo Zumbi dos Palmares nos deparamos com uma das coisas mais patéticas da cidade: o Maracatu Truvão. Alguém já se prestou a ouvir esse papelão? São capazes de passar horas num transe sem sentido batucando o mesmo ritmo, sem letra, sem harmonia. E lá estavam eles, vestidos como nordestinos, com suas peles loiras e olhos azuis. A tradição é desenvolvida com base na raiz de sangue, identidade cultural com a terra que os pés dos antepassados pisaram e que deve também ser maltratada por nós. Que fosse um grupo de milongas, uma invernada artística, uma bandinha alemã ou italiana, tudo bem. Mas maracatu...... Nada contra a cultura nordestina, vejam bem. Fossem eles um grupo de nordestinos em excursão pelos pagos meridionais do seu país e até me prestaria a ouvir sua chatice com o maior respeito.
Mas o negócio aqui é Rock’n’Roll. Por volta das cinco da tarde uma pequena multidão já se acumulava em frente ao palco montado na prainha. Uma visão atordoante era a quantidade descomunal de brigadianos, a pé, de moto, a cavalo, como se aquela junção de adolescentes, pré-adolescentes e adultos retardatários tivesse alto potencial subversivo. Estavam superestimando o Rock. Tivemos que dar uma banda pela orla. Isso sim é Porto Alegre. Não há nada igual no mundo. Principalmente pela angústia de não poder entrar na água.
De volta à confusão descobrimos que a primeira atração era o Cachorro Grande. Como teríamos ainda Alemão Ronaldo e Rosa Tattooada, achei justo que eles fossem os primeiros. Não só porque são os mais novos, mas também porque possuem mais fãs na tenra idade, que não poderiam ficar até a noite por ali. Vejam bem os méritos que tem essa banda. Talvez, depois dos imbatíveis Engenheiros do Hawaii, eles sejam a mais popular banda da história do Rock gaúcho. São capazes de mobilizar as jovens mentes em torno do Rock’n’Roll. Há muito tempo não havia um fenômeno como esse, o que é fundamental para que continue a nossa tradição como estado roqueiro.
Tomávamos uma caipirinha da pior qualidade no bar flutuante, quando vemos Alemão Ronaldo chegar aos bastidores. Depois de mais de vinte anos de estrada (bem mais) ele ainda consegue ser Rock Star: um casal pede autógrafos e licença para tirar uma foto. Como os bastidores não estavam muito movimentados, e meu estado de espírito andava meio elevado pela cachaça Belinha, pensei que poderia salvar o Rock. Imaginei que seria bom para o ego de nossos artistas se eu protagonizasse uma invasão de backstage ao gritos de “viva o Rock’n’Roll!!!”. De fato seria uma bela cena, ainda mais so conseguisse contagiar a Mirela, que ostentava uma camiseta do Led Zeppelin, a mesma calça rasgada e o mesmo tênis All Star. Felizmente não foi preciso. Como chegava ao fim o show da Cachorro Grande, uma pequena horda de crianças e adolescentes começaram um verdadeiro escarcéu na porta, na verdade controlado facilmente pelos seguranças.
Tomamos mais uma caipira para aproveitar a chegada de Seu Cossio II e olhar com tranqüilidade o espetáculo do pôr do sol. A essa altura comecei a ficar angustiado com uma possível debandada do público, já que a noite se aproximava e as “estrelas” da tarde já haviam tocado. Qual não foi minha surpresa em ver que o “coroa” Alemão Ronaldo reuniu mais público que seus antecessores. Desta feita estávamos em frente ao palco, agora com latas de cerveja, porque tio Ronaldo merece todo nosso respeito. “Vocês estão preparados para o Rock’n’Roll?!!”. Ovação do público. “Eu quero ouvir vocês gritarem ROCK’N’ROLL!!!”. “ROCK’N’ROLL!!!!”.
É meu amigo, a emoção tomou conta da galera, tanto que ele se empolgou a ponto de largar um “isso aqui tá mil vezes melhor que o Planeta Atlântida!”. Ele até tentou se explicar depois e deu uma puxada de saco na Rádio Atlântida, mas não rolou, a “cagada” já estava feita, para delírio da massa. Apesar da qualidade do som ser ruim, o repertório foi ótimo. Fiquei particularmente satisfeito em ver que Raul Seixas continua sendo o principal artista da música brasileira. Sim, tio Ronaldo chamou na Sociedade Alternativa e o público, claro, enlouqueceu. Até Sob um céu de Blues ecoou pelo centro da cidade, para satisfação da nossa querida Capital.
Outra agradável surpresa foi a resistência do público para ver o Rosa Tattooada. Sinceramente não imaginei que eles ainda tivessem tanto respaldo junto à moçada. Foi, com certeza, o melhor show da jornada. Tocaram com muita empolgação e conseguiram animar até mesmo nas músicas menos conhecidas. O final foi apoteótico, com Detroit Rock City, para homenagear sua fonte inspiradora, o Kiss.
Saímos todos satisfeitos com a tarde-noite rocker. Fico pensando agora por que o Rock’n’Roll anda tão em baixa por aqui, pelo menos na aparência. Depois de muito refletir, cheguei a uma conclusão: sofremos um boicote dos meios de divulgação. As rádios comerciais se iludem com a idéia de que devem ser “modernas”. O Rock não é moderno. Nossa humilde Radio Web Putzgrila conquista a cada dia mais adeptos divulgando o Rock como ele é: cru, seco e direto. Por outro lado temos os donos de bar que parecem não saber nada do negócio. E o negócio é dinheiro, que, infelizmente, nós roqueiros não temos. Se cobrassem um preço acessível pelas entradas e pela bebida seus bares teriam gente saindo pelo ladrão. E tem mais: por que o boicote no fim de semana? Pô, a gente trabalha!!!
O povo clama por ROCK’N’ROLL!!!!
Ao sair de casa acompanhado pela primeira dama senti pela primeira vez que nunca vou mudar. Camiseta dos Beatles, calça de brim rasgada, tênis All Star, meu Deus, ainda não saí dos 15 anos!!! Foda-se!!! Quando a família disse que “agora já sou um adulto” até achei que poderia mesmo estar fazendo um papelão. Agora me dou conta de que a desmoralização é deles com seus amigos e sua sociedade de classe média. Talvez não suportem os comentários. Quanto a mim, seguirei andando de “camisa rasgada e calça furada, bebendo cachaça no bar”.
Depois do desabafo seguimos com a história. Ao passarmos pelo Largo Zumbi dos Palmares nos deparamos com uma das coisas mais patéticas da cidade: o Maracatu Truvão. Alguém já se prestou a ouvir esse papelão? São capazes de passar horas num transe sem sentido batucando o mesmo ritmo, sem letra, sem harmonia. E lá estavam eles, vestidos como nordestinos, com suas peles loiras e olhos azuis. A tradição é desenvolvida com base na raiz de sangue, identidade cultural com a terra que os pés dos antepassados pisaram e que deve também ser maltratada por nós. Que fosse um grupo de milongas, uma invernada artística, uma bandinha alemã ou italiana, tudo bem. Mas maracatu...... Nada contra a cultura nordestina, vejam bem. Fossem eles um grupo de nordestinos em excursão pelos pagos meridionais do seu país e até me prestaria a ouvir sua chatice com o maior respeito.
Mas o negócio aqui é Rock’n’Roll. Por volta das cinco da tarde uma pequena multidão já se acumulava em frente ao palco montado na prainha. Uma visão atordoante era a quantidade descomunal de brigadianos, a pé, de moto, a cavalo, como se aquela junção de adolescentes, pré-adolescentes e adultos retardatários tivesse alto potencial subversivo. Estavam superestimando o Rock. Tivemos que dar uma banda pela orla. Isso sim é Porto Alegre. Não há nada igual no mundo. Principalmente pela angústia de não poder entrar na água.
De volta à confusão descobrimos que a primeira atração era o Cachorro Grande. Como teríamos ainda Alemão Ronaldo e Rosa Tattooada, achei justo que eles fossem os primeiros. Não só porque são os mais novos, mas também porque possuem mais fãs na tenra idade, que não poderiam ficar até a noite por ali. Vejam bem os méritos que tem essa banda. Talvez, depois dos imbatíveis Engenheiros do Hawaii, eles sejam a mais popular banda da história do Rock gaúcho. São capazes de mobilizar as jovens mentes em torno do Rock’n’Roll. Há muito tempo não havia um fenômeno como esse, o que é fundamental para que continue a nossa tradição como estado roqueiro.
Tomávamos uma caipirinha da pior qualidade no bar flutuante, quando vemos Alemão Ronaldo chegar aos bastidores. Depois de mais de vinte anos de estrada (bem mais) ele ainda consegue ser Rock Star: um casal pede autógrafos e licença para tirar uma foto. Como os bastidores não estavam muito movimentados, e meu estado de espírito andava meio elevado pela cachaça Belinha, pensei que poderia salvar o Rock. Imaginei que seria bom para o ego de nossos artistas se eu protagonizasse uma invasão de backstage ao gritos de “viva o Rock’n’Roll!!!”. De fato seria uma bela cena, ainda mais so conseguisse contagiar a Mirela, que ostentava uma camiseta do Led Zeppelin, a mesma calça rasgada e o mesmo tênis All Star. Felizmente não foi preciso. Como chegava ao fim o show da Cachorro Grande, uma pequena horda de crianças e adolescentes começaram um verdadeiro escarcéu na porta, na verdade controlado facilmente pelos seguranças.
Tomamos mais uma caipira para aproveitar a chegada de Seu Cossio II e olhar com tranqüilidade o espetáculo do pôr do sol. A essa altura comecei a ficar angustiado com uma possível debandada do público, já que a noite se aproximava e as “estrelas” da tarde já haviam tocado. Qual não foi minha surpresa em ver que o “coroa” Alemão Ronaldo reuniu mais público que seus antecessores. Desta feita estávamos em frente ao palco, agora com latas de cerveja, porque tio Ronaldo merece todo nosso respeito. “Vocês estão preparados para o Rock’n’Roll?!!”. Ovação do público. “Eu quero ouvir vocês gritarem ROCK’N’ROLL!!!”. “ROCK’N’ROLL!!!!”.
É meu amigo, a emoção tomou conta da galera, tanto que ele se empolgou a ponto de largar um “isso aqui tá mil vezes melhor que o Planeta Atlântida!”. Ele até tentou se explicar depois e deu uma puxada de saco na Rádio Atlântida, mas não rolou, a “cagada” já estava feita, para delírio da massa. Apesar da qualidade do som ser ruim, o repertório foi ótimo. Fiquei particularmente satisfeito em ver que Raul Seixas continua sendo o principal artista da música brasileira. Sim, tio Ronaldo chamou na Sociedade Alternativa e o público, claro, enlouqueceu. Até Sob um céu de Blues ecoou pelo centro da cidade, para satisfação da nossa querida Capital.
Outra agradável surpresa foi a resistência do público para ver o Rosa Tattooada. Sinceramente não imaginei que eles ainda tivessem tanto respaldo junto à moçada. Foi, com certeza, o melhor show da jornada. Tocaram com muita empolgação e conseguiram animar até mesmo nas músicas menos conhecidas. O final foi apoteótico, com Detroit Rock City, para homenagear sua fonte inspiradora, o Kiss.
Saímos todos satisfeitos com a tarde-noite rocker. Fico pensando agora por que o Rock’n’Roll anda tão em baixa por aqui, pelo menos na aparência. Depois de muito refletir, cheguei a uma conclusão: sofremos um boicote dos meios de divulgação. As rádios comerciais se iludem com a idéia de que devem ser “modernas”. O Rock não é moderno. Nossa humilde Radio Web Putzgrila conquista a cada dia mais adeptos divulgando o Rock como ele é: cru, seco e direto. Por outro lado temos os donos de bar que parecem não saber nada do negócio. E o negócio é dinheiro, que, infelizmente, nós roqueiros não temos. Se cobrassem um preço acessível pelas entradas e pela bebida seus bares teriam gente saindo pelo ladrão. E tem mais: por que o boicote no fim de semana? Pô, a gente trabalha!!!
O povo clama por ROCK’N’ROLL!!!!