segunda-feira, março 31, 2008

O povo clama por Rock'n'Roll

Porto Alegre costuma nos revelar certas surpresas. Uma delas me atingiu em cheio no fim da tarde de sábado, na prainha do Gasômetro: o Rock’n’Roll não morreu. Ele anda meio desacreditado, convenhamos, principalmente pelos donos dos meios de difusão da cultura. Mas nada que uma manifestação popular não possa contrariar.
Ao sair de casa acompanhado pela primeira dama senti pela primeira vez que nunca vou mudar. Camiseta dos Beatles, calça de brim rasgada, tênis All Star, meu Deus, ainda não saí dos 15 anos!!! Foda-se!!! Quando a família disse que “agora já sou um adulto” até achei que poderia mesmo estar fazendo um papelão. Agora me dou conta de que a desmoralização é deles com seus amigos e sua sociedade de classe média. Talvez não suportem os comentários. Quanto a mim, seguirei andando de “camisa rasgada e calça furada, bebendo cachaça no bar”.
Depois do desabafo seguimos com a história. Ao passarmos pelo Largo Zumbi dos Palmares nos deparamos com uma das coisas mais patéticas da cidade: o Maracatu Truvão. Alguém já se prestou a ouvir esse papelão? São capazes de passar horas num transe sem sentido batucando o mesmo ritmo, sem letra, sem harmonia. E lá estavam eles, vestidos como nordestinos, com suas peles loiras e olhos azuis. A tradição é desenvolvida com base na raiz de sangue, identidade cultural com a terra que os pés dos antepassados pisaram e que deve também ser maltratada por nós. Que fosse um grupo de milongas, uma invernada artística, uma bandinha alemã ou italiana, tudo bem. Mas maracatu...... Nada contra a cultura nordestina, vejam bem. Fossem eles um grupo de nordestinos em excursão pelos pagos meridionais do seu país e até me prestaria a ouvir sua chatice com o maior respeito.
Mas o negócio aqui é Rock’n’Roll. Por volta das cinco da tarde uma pequena multidão já se acumulava em frente ao palco montado na prainha. Uma visão atordoante era a quantidade descomunal de brigadianos, a pé, de moto, a cavalo, como se aquela junção de adolescentes, pré-adolescentes e adultos retardatários tivesse alto potencial subversivo. Estavam superestimando o Rock. Tivemos que dar uma banda pela orla. Isso sim é Porto Alegre. Não há nada igual no mundo. Principalmente pela angústia de não poder entrar na água.
De volta à confusão descobrimos que a primeira atração era o Cachorro Grande. Como teríamos ainda Alemão Ronaldo e Rosa Tattooada, achei justo que eles fossem os primeiros. Não só porque são os mais novos, mas também porque possuem mais fãs na tenra idade, que não poderiam ficar até a noite por ali. Vejam bem os méritos que tem essa banda. Talvez, depois dos imbatíveis Engenheiros do Hawaii, eles sejam a mais popular banda da história do Rock gaúcho. São capazes de mobilizar as jovens mentes em torno do Rock’n’Roll. Há muito tempo não havia um fenômeno como esse, o que é fundamental para que continue a nossa tradição como estado roqueiro.
Tomávamos uma caipirinha da pior qualidade no bar flutuante, quando vemos Alemão Ronaldo chegar aos bastidores. Depois de mais de vinte anos de estrada (bem mais) ele ainda consegue ser Rock Star: um casal pede autógrafos e licença para tirar uma foto. Como os bastidores não estavam muito movimentados, e meu estado de espírito andava meio elevado pela cachaça Belinha, pensei que poderia salvar o Rock. Imaginei que seria bom para o ego de nossos artistas se eu protagonizasse uma invasão de backstage ao gritos de “viva o Rock’n’Roll!!!”. De fato seria uma bela cena, ainda mais so conseguisse contagiar a Mirela, que ostentava uma camiseta do Led Zeppelin, a mesma calça rasgada e o mesmo tênis All Star. Felizmente não foi preciso. Como chegava ao fim o show da Cachorro Grande, uma pequena horda de crianças e adolescentes começaram um verdadeiro escarcéu na porta, na verdade controlado facilmente pelos seguranças.
Tomamos mais uma caipira para aproveitar a chegada de Seu Cossio II e olhar com tranqüilidade o espetáculo do pôr do sol. A essa altura comecei a ficar angustiado com uma possível debandada do público, já que a noite se aproximava e as “estrelas” da tarde já haviam tocado. Qual não foi minha surpresa em ver que o “coroa” Alemão Ronaldo reuniu mais público que seus antecessores. Desta feita estávamos em frente ao palco, agora com latas de cerveja, porque tio Ronaldo merece todo nosso respeito. “Vocês estão preparados para o Rock’n’Roll?!!”. Ovação do público. “Eu quero ouvir vocês gritarem ROCK’N’ROLL!!!”. “ROCK’N’ROLL!!!!”.
É meu amigo, a emoção tomou conta da galera, tanto que ele se empolgou a ponto de largar um “isso aqui tá mil vezes melhor que o Planeta Atlântida!”. Ele até tentou se explicar depois e deu uma puxada de saco na Rádio Atlântida, mas não rolou, a “cagada” já estava feita, para delírio da massa. Apesar da qualidade do som ser ruim, o repertório foi ótimo. Fiquei particularmente satisfeito em ver que Raul Seixas continua sendo o principal artista da música brasileira. Sim, tio Ronaldo chamou na Sociedade Alternativa e o público, claro, enlouqueceu. Até Sob um céu de Blues ecoou pelo centro da cidade, para satisfação da nossa querida Capital.
Outra agradável surpresa foi a resistência do público para ver o Rosa Tattooada. Sinceramente não imaginei que eles ainda tivessem tanto respaldo junto à moçada. Foi, com certeza, o melhor show da jornada. Tocaram com muita empolgação e conseguiram animar até mesmo nas músicas menos conhecidas. O final foi apoteótico, com Detroit Rock City, para homenagear sua fonte inspiradora, o Kiss.
Saímos todos satisfeitos com a tarde-noite rocker. Fico pensando agora por que o Rock’n’Roll anda tão em baixa por aqui, pelo menos na aparência. Depois de muito refletir, cheguei a uma conclusão: sofremos um boicote dos meios de divulgação. As rádios comerciais se iludem com a idéia de que devem ser “modernas”. O Rock não é moderno. Nossa humilde Radio Web Putzgrila conquista a cada dia mais adeptos divulgando o Rock como ele é: cru, seco e direto. Por outro lado temos os donos de bar que parecem não saber nada do negócio. E o negócio é dinheiro, que, infelizmente, nós roqueiros não temos. Se cobrassem um preço acessível pelas entradas e pela bebida seus bares teriam gente saindo pelo ladrão. E tem mais: por que o boicote no fim de semana? Pô, a gente trabalha!!!
O povo clama por ROCK’N’ROLL!!!!

sexta-feira, março 28, 2008

A realidade e os jornais

Descobri recentemente que sou fã do Norman Mailer. Que tal esse trecho de Cartas abertas ao presidente:

“Vê-se o repórter numa situação importante; sua voz estende-se diretamente ou indiretamente, pela redação, a milhões de leitores; quanto maior for o número de leitores que tiver, tanto menos poderá dizer. Uma centena de censores – a maioria dentro dele mesmo – proíbem-no de comunicar idéias que não sejam conformistas e simples, da mesma simplicidade do plástico, isto é, monótonas. O repórter, portanto, forma o hábito de maltratar a própria carne: aprende a escrever aqui em que não acredita. Como, presumivelmente, não começou a profissão com o desejo de ser um articulista mau ou desonesto, acaba fazendo o cérebro acreditar que alguma coisa, que seja meia-verdade, é, na realidade, nove décimos verdadeira, uma vez que ele cria um evento cada vez que escreve algo para o jornal. Uma alma está corrompida: a dele mesmo; cria-se um falso evento, e por este, cedo ou tarde, inevitável e inexoravelmente, o povo pagará. Uma nação que forma opiniões detalhadas na base de fatos detalhados que se esquivam, sutilmente, da realidade, torna-se nação de cidadãos cujas almas se desviam, nitidamente, de qualquer realidade”.

Na seqüência do texto ele fala sobre os releases de relações públicas que são distribuídos aos milhares para os repórteres. Qualquer pessoa com o mínimo de preparo pode fazer um jornal sem levantar a bunda da cadeira. Não precisa nem de telefone; tudo pode (e deve) ser feito por e-mail.
Agora eu pergunto: esses jornalistas sabem que a cidade tem cheiro de mijo? Eles sabem quanto custa um cafezinho no abrigo da Praça XV? Sabem quanto demora um ônibus até o fim da linha do Rubem Berta? Sabem a que horas acorda um carroceiro?
É, meu amigos, a realidade é muito diferente daquilo que aparece nas páginas dos jornais.

Só para lembrar: o texto de Norman Mailer é de 1964.

quinta-feira, março 27, 2008

Política, ah!, a política...

Vocês que acompanham esse blog já viram referências ao absurdo que é a política brasileira. A impressão que tenho é de que tudo é feito “nas coxas”. O prefeito, governador ou presidente não sabem por que chegaram lá. Talvez seja uma questão de prestígio, de gosto pelo poder e pelo respeito idiota que os idiotas dispensam a tais personalidades.
Mas, realmente, eles não sabem o que fazer. Não têm o menor preparo para o governo e, justamente por isso, são altamente influenciáveis. Claro, também são obrigados a pagar favores para as grandes empresas que investiram nas suas candidaturas.
Vejamos alguns exemplos de bizarrices políticas:

- O governo do Rio Grande do Sul promove o plantio de árvores no Pampa. Até o mais ignorante ser humano sabe que o Pampa é lugar de criação de gado. Enquanto isso...

- Os governos do Mato Grosso, Pará, Rondônia e, é claro, o governo federal, incentivam a criação de gado na Amazônia. Depois vem a plantação de soja, de trigo, de milho, tudo transgênico e com toneladas de agrotóxicos. Ah, já ia me esquecendo, tem a plantação de cana também, o que nos leva para o próximo item....

- Na contramão da história, o governo federal quer transformar o Brasil num canavial com a ilusão de que os gringos vão comprar álcool. Na 6ª série do colégio aprendemos o ciclo da cana no Brasil. Era exatamente como hoje: meia dúzia de senhores de engenho (hoje de usinas), trabalho escravo (hoje um operário da cana trabalha o dobro de um escravo), tudo para ser abandonado daqui a 50 anos, no máximo.

Aí eu fico me perguntando: será que sou louco? Será que só eu vejo essas coisas? Não pode ser verdade. No fundo esses governantes são extremamente imbecis. Imaginem a cena:

Segunda feira, Palácio Piratini, governadora Yeda recebe representantes da Aracruz. Depois de ter tomado umas cinco bolinhas ela não consegue falar, então o diretor-presidente começa sua ladainha: “governadora, a senhora sabe que investimos X milhões na sua campanha. Agora nós precisamos que a senhora libere umas terras para plantarmos eucalipto. Um bom nome para a Secretaria do Meio Ambiente é Carlos Otaviano Brenner de Moraes, e para a Fepam, Ana Pellini. A senhora pode dizer que nós estamos investindo X milhões de dólares e que vamos gerar 200 empregos. Não, não se preocupe, ninguém vai perceber que isso é ridículo. Os jornais vão dizer que é tudo muito bom, nós já temos nossos homens lá. Tudo certo então?”.

E assim nós afundamos....

terça-feira, março 25, 2008

Futebol e cerveja

Querem acabar com a nossa alegria. Onde já se viu, proibir a cerveja nos estádios de futebol? Uma coisa praticamente não vive sem a outra.
Tudo bem, tem gente que bebe e se passa, mas esses vão beber de qualquer jeito. Ou por acaso vão proibir os bares que ficam ao redor do estádio de vender bebidas? Vão proibir as pessoas de levar seu trago de casa? Vão proibir o tiozinho sem dente de vender o “leite de onça”? Vão proibir o Seu Jorge, o filósofo da Rua da Praia, de empunhar seu isopor? Por acaso, algum dia vão proibir os brigadianos de se banharem em farinha para fazer o policiamento dos jogos?
Pois é, a nossa Assembléia Legislativa anda ocupada com esse tipo de coisa. Corrupção, fechamento de escolas e criminalização dos movimentos sociais são assuntos secundários. O importante mesmo é a cerveja.
Isso só demonstra, mais uma vez, que vivemos em um dos estados mais reacionários do Brasil.

segunda-feira, março 24, 2008

Futebol do interior

De volta a ativa, me proponho a falar sobre futebol. Nós de Porto Alegre estamos acostumados com nossos times de primeira categoria. Tudo bem, temos aqui um time que gosta de andar pela segunda categoria, mas vá lá, podemos considerá-lo como um igual.
Este costume nos faz esquecer do verdadeiro futebol, aquele que rola nos campos do interior do estado. Pense nos times de Pelotas, Erechim, Bagé, Passo Fundo, Santa Maria, até mesmo de Caxias, e o que vem à cabeça? Estádios precários e vazios, gramados esburacados, falta de recursos, jogadores e jogos ruins.... uma verdadeira semi-várzea.
“Mas os times não são assim tão ruins”, pode pensar o amigo leitor. Digo que pensamos assim porque só assistimos aos jogos da dupla gre-Nal. Todos os adversários dos times da Capital suam sangue para aparecer bem na TV, com jogadores motivados pelo sonho de serem contratados por um grande clube. Entre eles, porém, é o caos.
Fui ver Caxias e 15 de Novembro no último sábado. O Estádio Centenário está bem arrumado, e tem até uma vantagem em relação ao Beira Rio: a cerveja é Skol e está sempre gelada. Nas arquibancadas, umas 1500 pessoas. Claro, estava chovendo. Normalmente vão umas 4000. O gramado em boas condições teria tudo para ser palco de um bom jogo de futebol. Teria.
O Caxias, segundo colocado da chave 1 do Gauchão, joga um futebol burocrático. A preparação física parece abaixo do nível exigido pelo futebol moderno. A zaga e o meio campo jogam em linha, 3-6-1, e não trocam de posições como exige este esquema tático. O pobre do centro-avante Kemps fica isolado no ataque, tentando fazer alguma coisa sozinho.
Já o 15 de Novembro é, provavelmente, pior que o campeão de várzea da Região Metropolitana. Totalmente desorganizado, justifica seus escassos 4 pontos e garantia de rebaixamento.
O que quero dizer com isso? O futebol do interior precisa de apoio. Mais, precisa de visão dos seus dirigentes. Não consigo conceber que os times do interior de São Paulo ganhem rios de dinheiro e os daqui não consigam pagar a luz do estádio. Qual é o segredo? Formação de jogadores, categorias de base. O 15 de Novembro, o Veranópolis, e mais uma maia dúzia de agremiações fecham as portas após o Campeonato Gaúcho. No início do próximo ano contratam 25 atletas que treinam durante um mês e imaginam-se capazes de fazer um milagre. Não conseguem. Vejam o 15: chegou duas vezes á final do campeonato e agora está na segunda divisão. Se tivessem uma boa administração, seriam melhores que os de lá, pois a maioria conta com uma torcida apaixonada.
Se você é do interior, vá ao estádio do time da sua cidade. O futebol pode não ser grande coisa, mas você estará ajudando a manter uma tradição centenária do nosso estado.

quinta-feira, março 13, 2008

Pecados jornalísticos

Os jornalistas andam esquecendo uma coisa básica da profissão: verificar a notícia. Essa semana assistimos a um dos maiores papelões da imprensa mundial. Quem não ouviu falar dos novos pecados capitais da Igreja Católica? Foi manchete e capa de praticamente todos os órgãos de imprensa mundo afora. Até a BBC entrou na jogada.
A história foi a seguinte: o periódico “L’Osservatore Romano” publicou uma entrevista com Dom Gianfranco Girotti, bispo do tribunal da Penitência Apostólica (seja lá o que isso significa). Lá pelas tantas o repórter pergunta: “quais são, segundo o senhor, os novos pecados”. O bispo dá a sua opinião. Ponto. Nada de “novos pecados capitais”.
Mas eis que um “jornalista” lê e, simplesmente, decide que aqueles são os novos pecados capitais. Outro “jornalista” lê o que o primeiro escreveu e tasca um Ctrl+C / Ctrl+V. Assim cria-se a rede. Milhares de Ctrl+C / Ctrl+V são digitados pelo mundo.
O interessante é que depois do desmentido ninguém assumiu o erro. Por eles ficaríamos acreditando que existem realmente novos pecados capitais.
Que papelão!!!

P.s.: Vejo que alguns representantes dos carros importados querem entrar na Ufrgs através de liminares da Justiça. Estão inconformados por perderem suas vagas para negros. A estudante Kaingang de medicina já sofre preconceito. Eles não se controlam. A elite não aceita perder um centímetro sequer do seu espaço.

terça-feira, março 11, 2008

Porto Alegre

Acabei de ler O segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell. É uma bela obra que fala do que existe de mais importante: as coisas simples. Joe Gould é um mendigo boêmio e intelectual, formado em Harvard, que dedica sua vida a escrever uma obra chamada História Oral. Com esse “godô” ele vai tirando uma grana dos turistas e metidos a artistas que transitam pela noite de Nova Iorque.
É característico de Mitchell procurar personagens e situações típicos da sua cidade. Dessa forma ele revela a essência de Nova Iorque, o que não está estampado nos letreiros nem nos arranha-céus.
Me fez pensar muito em Porto Alegre. As conversas que tive com o Bigode, também mendigo, também artista. Seu Jorge, que é o filósofo da Rua da Praia. Afonso, dono do Rossi Bar, meu professor de Rock e Blues. Marinho, a salvação do fim de noite. O pessoal do Beira Rio, Ma.Ca.Co., Camarão, os irmãos do bar. Irmãos como os rockers dessa cidade, Nano, Rafa, Raul, Serafini, Prego.....são tantos, e tão poucos. Nessa cidade cada rua tem uma história que merece ser vivida e contada. As putas de rua e de carros importados. Os cafetões de botecos e multinacionais. O eufemismo que criamos para nossas favelas (vilas), incorporado por um povo que só quer viver. Porto Alegre é uma cidade negra na cor da pele, é só prestar atenção. Tem praia, e se nossos pais não tivessem sido tão irresponsáveis estaríamos tomando banho no Gasômetro. Essa cidade tem cheiro de mijo e maconha, porque aqui todo mundo fuma e mija na rua. Aqui eu escolhi viver e não sei se agora abandono tudo de uma vez. Aqui me sinto em casa porque conheço todo mundo.
Será que conheço Porto Alegre? Sempre busquei o que existe de verdadeiro aqui. Como Joseph Mitchell, procurei as entranhas de minha cidade. Não existe ruim nem bom, existe Porto Alegre, e quem a ama gosta assim mesmo.

segunda-feira, março 10, 2008

Obrigado

Muitas reações ao texto sobre o show do Iron. Agradeço a todos que de alguma forma se sentiram tocados pelas minhas palavras.
Na verdade não é o texto que é bom; é a vida. Sempre falo que devemos viver intensamente para que as coisas sejam reais. Todas as pessoas felizes vivem assim. Sugiro que sigam este singelo exemplo e atolem o pé na merda. Só assim a existência tem sentido.

P.s.: Cérebro embotado com a monumental quantidade de suco consumida no fim de semana.

sexta-feira, março 07, 2008

O RS é a vanguarda. Do atraso...

São dois jornais da mesma empresa. Reparem na sutil diferença entre as manchetes:

“’Por que pobre só pode andar de ônibus?’, ironiza Lula”

“Lula é recebido por 7 mil pessoas em favela”

O texto é exatamente o mesmo, mas o que fez um jornal escolher uma manchete e o outro uma totalmente diferente? Porque “ironiza Lula” tem uma conotação negativa em relação ao presidente. Reforça a subjetividade de que ele é improvisador, brincalhão, ou seja, coisas que um presidente não pode ser. Só para os carros importados. O povão ama o presidente. O pessoal tem comida na mesa. Não estou defendendo o governo, mas esse é mil vezes melhor que o anterior. Olha para os pobres. O que gera a revolta da elite, acostumada a ser a única beneficiada pelo poder. Isso que eles nunca ganharam tanto dinheiro como agora. Governo de esquerda segue como uma utopia para o Brasil. O Rio Grande do Sul é o estado mais reacionário do país. Que vergonha.....

quinta-feira, março 06, 2008

"Olhe sempre o lado bom da vida"

Eu vinha dizendo desde que não comprei o ingresso: “eu vou ficar na frente esperando a confusão para entrar”. Na verdade era para ser apenas uma brincadeira, mas no fundo eu sabia que era possível. Talvez seja um resquício dos tempos punks, ou a experiência de outros tantos shows, não sei. Eu sabia que conseguiria entrar para ver o Iron Maiden sem gastar nenhum tostão. Era um desafio, uma prova pela qual eu tinha que passar.

7h da tarde. Eu e a primeira dama (Mire Rock Show) estamos tranqüilos em casa, com a satisfação de compartilharmos momentos íntimos, se é que vocês me entendem. Sei pelos jornais que algumas pessoas estão há dias em frente ao Gigantinho. A essa hora aquilo deve estar uma zona. O mar vermelho que estamos acostumados a ver por ali substituído pelo mar negro. Esperamos os amigos Guido e Jonas (estamos com seus ingressos) ouvindo o primeiro disco do Iron. Na verdade a idéia era ouvir o Somewhere in time, mas o toca-discos anda meio estragado... Logo se estabelece uma discussão sobre qual a melhor fase da banda. Gabriel, que chegou há pouco para me tomar uma grana, afirma que prefere os dois primeiros discos, Iron Maiden e Killers. De fato, para nós que somos mais roqueiros do que metaleiros, estes são álbuns mais de acordo. Mas como negar as obras primas de Seventh son..., Number of the beast, Powerslave, Fear of the dark…… é, os caras são bons. Nisso chegam os gringos. Aqueles abraços efusivos, um pitaco na discussão e vamos embora que ta na hora.

8h da noite. Seguimos a pé rumo ao Complexo Gigante. No caminho vamos falando de Rock’n’Roll, é claro. A banda Multiverso, da qual os irmãos Bracagioli fazem parte, anda com bons planos. Se tudo der certo eles vêm gravar um disco aqui em casa. Paramos no posto para abastecer: cerveja e cigarro. A pernada até o Gigantinho não é nada mole. Estranho o pouco movimento. Achei que passaríamos por hordas de metaleiros, ônibus de excursão, gritaria, confusão, polícia.... que nada. Tudo na mais absoluta paz. Quem não soubesse do Iron nem precisava ficar sabendo. Mas tudo bem, na real pensava que para meus planos era melhor assim.

8h50. Finalmente chegamos ao Mac Aurio. A broca do meu estômago já estava me deixando atordoado e nada melhor para acalmá-la do que “um xis salada e uma cerveja”. Que frase maravilhosa. Já perdi a conta de quantas vezes a pronunciei. Agora sim dava para perceber que estávamos num show de rock. Urros da massa vinham de dentro do ginásio, enquanto ali fora ficavam os retardatários, os vendedores ambulantes e outra pequena massa: a dos que não têm ingresso. Mire Rock Show, a primeira dama, até tinha um, mas vendeu por um objetivo muito nobre: juntar fundos para ver o Ozzy em São Paulo. Acho que ela acreditou na minha balela de que “é claro que a gente consegue entrar de graça no Iron”. Pensem no absurdo dessa afirmação. A Mirela é meio louca mesmo.

9h. Uma explosão de 30 mil vozes. Será que começou? Mas não tem banda de abertura? Meu Deus, é o Iron mesmo!!! Guido e Jonas saem em disparada. Ainda contornam todo o ginásio para tentar um lugar no lado “mais tranqüilo”. O som é irreconhecível do lado de fora, mas com certeza é a voz de Bruce Dickinson. Eles entram e ficamos com dois copos de cerveja, um pacote de bolachas e uma garrafa de água. Belo prêmio de consolação. Ao redor do portão umas 50 pessoas estão babando de inveja dos que entram. Termina a primeira música. “Obrigado Porto Alegre!!!”, e o público vem abaixo. Hora de fumar um cigarrinho. A correria aumentou a adrenalina. E ela não baixa porque logo na seqüência eles mandam 2 minutes to midnight. O povo de fora bate cabeça apoiado na grade e canta em coro o refrão. Uma verdadeira festa!!!. Fora os que estão ali na pressão junto à entrada, uma pequena multidão se espalha pelos gramados com suas garrafas de cachaça e vinho. Todos, é claro, com camisetas pretas de alguma banda: 80% do Iron e o resto espalhado por Slayer, Judas Priest, Black Sabbath, Led Zeppelin, Cannibal Corpse, até Beatles e Rolling Stones estão presentes. Até o movimento punk está ali, amigos dos tempo de Aphasia. Imaginem a cena; batendo papo com os punks, tomando cachaça do lado de fora do show do Iron.....

9h45, mais ou menos. Os clássicos se sucedem. Imagino o público lá dentro, se ali fora o pessoal beirava as lágrimas e gritava “Maiden, Maiden, Maiden”, a cada intervalo de música. Noto, porém, que falta alguma coisa. É a Mirela quem mostra a luz: “vamos comprar umas biras?”. Mas é claro!!! Dentro do Complexo Gigante não podem entrar vendedores ambulantes, o que nos leva a percorrer um bom trajeto até a grade da rua. “Dois latões por cinco? Nem pensar?” tudo bem, pagamos 3 pila cada um. Andamos de volta ao portão curtindo Can I play with madness. O povo canta, dentro e fora do ginásio. Como já falei, ali fora está rolando uma festa.

10h. De volta ao portão constatamos que aumentou o número de pessoas na pressão. Nos localizamos ali na linha de frente. O esperado é que aconteça uma confusão para aproveitarmos a distração dos seguranças e entrar de qualquer jeito. Mais um cigarrinho e vejo que tem um cara me olhando fixo. Faço um aceno. Ele vem na minha direção e pergunta: “tu não tava no Rolling Stones em Copacabana?”. Meu Deu!, isso é pergunta que se faça na frente do show do Iron? “Claro”. “Então é tu que aparece nas minhas filmagens. Te lembra, um bando de Colorados?”. Como não vou me lembrar!!! Numa das esquinas de Copacabana estávamos todos com o manto vermelho e chega um cara filmando. Fizemos uma zona. O cara filmando era ele. Ficamos amigos de cara. Júnior é o seu nome. Ficamos falando sobre shows que fomos na vida: Stones, Ramones, Rush, Kiss, Metallica, Sepultura, Eric Clapton, Roger Waters. O próximo é o Ozzy, afinal, todos crescemos ouvindo Black Sabbath. “Como eu queria ouvir Run to the hills”, fala o amigo. E não dá outra. Parece brincadeira. O pessoal da grade canta a todo pulmão, como se as paredes do ginásio não existissem. Júnior mostra um álbum de fotos que ele tirou quando o Iron veio em 92. O cara estava muito perto do palco e ainda guarda o ingresso. Inveja, branca, mas inveja.

10h30, mais ou menos. “ÔÔÔÔÔÔ ÔÔÔÔÔÔÔ”, Fear of the dark. A galera enlouquece. Os seguranças parecem apavorados e já alisam os cacetetes. Chegou a hora que tanto esperávamos. O pessoal começa a balançar a grade. Tudo pronto. Olho para trás e vejo uma horda, mais ou menos umas 100 pessoas, correndo em direção ao portão. Estoura a confusão. Correria, pancadaria, latas e garrafas voando, o chefe dos seguranças passa ao meu lado falando no rádio: “pode mandar os cavalos! Pode mandar os cavalos!”. Pego a Mirela e vamos para o lado contrário da multidão. Alguns seguranças passam por mim. “Estou só protegendo minha guria”. E vamos ficando. Quando acalmam-se um pouco os ânimos a grade está noutro lugar e nós estamos.... DENTRO!!!

Já não sei mais que hora. “E agora Mirela?”. “Vamos entrar com confiança”. Ela vai falar com um dos seguranças. “Isso não é comigo, mas se quiser chega lá na portaria e vê se eles deixam”. Nos damos as mãos e vamos indo, duros como pedra. Com certeza não demonstramos confiança porque somos barrados. “Vocês têm ingresso?”. “Pô, falta só umas duas músicas, não custa nada liberar, só nós dois....”. Temos que falar com o coordenador. Uma das moças sai e fala com um brutamonte quatro vezes o meu tamanho. Já estou até imaginando os sopapos que vou levar pela minha audácia. Ele se vira para nós. A cara da Mirela é realmente de dar pena. Ele faz um gesto com a mão tipo “vai, vai”. Cara, entramos no show!!!!! Vamos rápido para as arquibancadas. Lá estão eles, voltando para o bis. Enlouquecemos ao som de Iron Maiden, a música, Hallowed be thy name e outras que levaram a mais uma meia hora de show.

Depois de tudo. Com o sorriso nas orelhas sentamos na arquibancada para fumar mais um cigarrinho. Não acredito que deu tudo certo. No fundo toca a trilha sonora do filme A vida de Bryan: “Always look on the bright side of the life”. Nada mais justo. Nessa noite curtimos o verdadeiro lado bom da vida. O lado ROCK’N’ROLL!!!!!

quarta-feira, março 05, 2008

Só uma pergunta

Quem vocês acham que é o filho da puta: a camponesa que corta um eucalipto eu busca de terra para plantar, ou o senhor Paulo Mendes, que manda espancar e atirar balas de borracha nas mulheres e crianças?

terça-feira, março 04, 2008

Inversão dos fatos pela versão

A manchete é: “Reforço policial é esperado em fazenda invadida em Rosário do Sul”.
E o sub-título: “Mulheres da Via Campesina trancam acesso à Tarumã”

O corpo da matéria só fala em mulheres e crianças. A fazenda Tarumã é de propriedade da empresa finlandesa Stora Enso. Possui 2,2 mil hectares, todos destinados à plantação de eucalipto. Segundo a assessoria de imprensa da Stora Enso, eles possuem 120 empregados. Óbvio que são empregos temporários. Quando os manifestantes da Via Campesina chegaram, só havia um caseiro e nada mais.
Com essas informações, me pergunto: é necessária a ida do sub-comandante da gloriosa Brigada Militar, Paulo Mendes, para coordenar as tropas na desocupação da fazenda? Lembrem-se, são mulheres e crianças. Que tipo de resistência elas podem oferecer?
Outra pergunta: quantas famílias conseguem vivem em 2,2 mil hectares? Ah, só mais uma: por que colocar um release da Stora Enso numa matéria sobre invasão de fazendas?

segunda-feira, março 03, 2008

A importância do tráfico de drogas

Perdoem-me os leitores pela semana de folga, mas as comemorações pela formatura foram extremamente intensas. O cérebro ficou nadando em substâncias paralisantes e não funcionou para nada. Quer dizer, quase nada. Andei pensando em algumas coisas aparentemente absurdas, mas nem tanto.
Por exemplo, cheguei à conclusão de que o tráfico de drogas nas favelas do Brasil é o que sustenta a turma dos carros importados. Não, não os estou acusando de fazerem parte das máfias e cartéis. Sequer cogito que tenham qualquer contato com os traficantes. Só digo que acho uma grande ignorância deles ficarem reverberando na TV e jornais que “os bandidos do tráfico têm que ir para a cadeia”, ou que “temos que acabar de vez com o problema das drogas”.
Imaginem que a polícia realmente consiga acabar com o tráfico de drogas. Pelo menos 80% do dinheiro que circula nas vilas pára de entrar. Não existe emprego para os jovens. Não existe escola para os jovens, e as que existem não estão nem um pouco preocupadas com a sua formação. O que acontecerá?
Os “bandidos” traficantes, que ficam tranqüilos nas vielas dos morros, sustentando o vício das classes altas, serão obrigados a mudar de ramo. Para continuarem comprando seus Nikes e freqüentando os restaurantes caros dos shoppings terão que roubar. As primeiras vítimas serão o bem mais valioso da elite: os carros importados. Depois virão suas casas, escritórios, bancos, lojas, e, quem sabe, até os shoppings.
Os formadores de opinião virão para a imprensa pedir “mais polícia”, “mais repressão”, e daí teremos mais violência, mais presídios. Cada vez menos escolas, menos emprego, menos consideração pelos seres humanos. Ou seja, uma guerra pior do que esta que já existe.
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O PROBLEMA DO BRASIL NÃO É CRIMINALIDADE, É CULTURA!
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P.s.: Este texto não é uma defesa do tráfico de drogas. É apenas uma constatação muito louca de uma cabeça doentia. Mas é verdade, não é?