Descobri recentemente que sou fã do Norman Mailer. Que tal esse trecho de Cartas abertas ao presidente:
“Vê-se o repórter numa situação importante; sua voz estende-se diretamente ou indiretamente, pela redação, a milhões de leitores; quanto maior for o número de leitores que tiver, tanto menos poderá dizer. Uma centena de censores – a maioria dentro dele mesmo – proíbem-no de comunicar idéias que não sejam conformistas e simples, da mesma simplicidade do plástico, isto é, monótonas. O repórter, portanto, forma o hábito de maltratar a própria carne: aprende a escrever aqui em que não acredita. Como, presumivelmente, não começou a profissão com o desejo de ser um articulista mau ou desonesto, acaba fazendo o cérebro acreditar que alguma coisa, que seja meia-verdade, é, na realidade, nove décimos verdadeira, uma vez que ele cria um evento cada vez que escreve algo para o jornal. Uma alma está corrompida: a dele mesmo; cria-se um falso evento, e por este, cedo ou tarde, inevitável e inexoravelmente, o povo pagará. Uma nação que forma opiniões detalhadas na base de fatos detalhados que se esquivam, sutilmente, da realidade, torna-se nação de cidadãos cujas almas se desviam, nitidamente, de qualquer realidade”.
Na seqüência do texto ele fala sobre os releases de relações públicas que são distribuídos aos milhares para os repórteres. Qualquer pessoa com o mínimo de preparo pode fazer um jornal sem levantar a bunda da cadeira. Não precisa nem de telefone; tudo pode (e deve) ser feito por e-mail.
Agora eu pergunto: esses jornalistas sabem que a cidade tem cheiro de mijo? Eles sabem quanto custa um cafezinho no abrigo da Praça XV? Sabem quanto demora um ônibus até o fim da linha do Rubem Berta? Sabem a que horas acorda um carroceiro?
É, meu amigos, a realidade é muito diferente daquilo que aparece nas páginas dos jornais.
Só para lembrar: o texto de Norman Mailer é de 1964.
“Vê-se o repórter numa situação importante; sua voz estende-se diretamente ou indiretamente, pela redação, a milhões de leitores; quanto maior for o número de leitores que tiver, tanto menos poderá dizer. Uma centena de censores – a maioria dentro dele mesmo – proíbem-no de comunicar idéias que não sejam conformistas e simples, da mesma simplicidade do plástico, isto é, monótonas. O repórter, portanto, forma o hábito de maltratar a própria carne: aprende a escrever aqui em que não acredita. Como, presumivelmente, não começou a profissão com o desejo de ser um articulista mau ou desonesto, acaba fazendo o cérebro acreditar que alguma coisa, que seja meia-verdade, é, na realidade, nove décimos verdadeira, uma vez que ele cria um evento cada vez que escreve algo para o jornal. Uma alma está corrompida: a dele mesmo; cria-se um falso evento, e por este, cedo ou tarde, inevitável e inexoravelmente, o povo pagará. Uma nação que forma opiniões detalhadas na base de fatos detalhados que se esquivam, sutilmente, da realidade, torna-se nação de cidadãos cujas almas se desviam, nitidamente, de qualquer realidade”.
Na seqüência do texto ele fala sobre os releases de relações públicas que são distribuídos aos milhares para os repórteres. Qualquer pessoa com o mínimo de preparo pode fazer um jornal sem levantar a bunda da cadeira. Não precisa nem de telefone; tudo pode (e deve) ser feito por e-mail.
Agora eu pergunto: esses jornalistas sabem que a cidade tem cheiro de mijo? Eles sabem quanto custa um cafezinho no abrigo da Praça XV? Sabem quanto demora um ônibus até o fim da linha do Rubem Berta? Sabem a que horas acorda um carroceiro?
É, meu amigos, a realidade é muito diferente daquilo que aparece nas páginas dos jornais.
Só para lembrar: o texto de Norman Mailer é de 1964.
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