sexta-feira, maio 16, 2008

Filosofia de um belo dia

A grande maravilha do mundo é seu paradoxo de ser resumível e complexo. É tão fácil dizer que a maioria dos dias são bons que prefiro taxá-los como ruins. O que é bom? O que é ruim? O que é suficientemente bom para que possa influenciar o julgamento de todo um dia, 24 horas das quais dormimos uma grande parte e não pensamos nos outros 90% do tempo? Quantos segundos de pensamento serão suficientes para tal julgamento? Meu bom é o seu horrível, e dele temos exatamente a mesma impressão, o que me transforma em uma pessoa completamente insensível a seu sofrimento por estar gozando plenamente de sua desgraça pessoal.
O sol, maldito astro que esquenta a face dos pobres mortais que são obrigados a caminhar sobre esta terra, é tão bom que se tornou fundamental para a vida. Maligno destino para esses pobres animais que se julgam tão independentes....
No momento tenho um gole de uísque (importado, de boa qualidade), uma carteira de cigarros pela metade (bom sinal), um disco do Iron Buterfly (que não coloco para não roubar minha atenção), uma varanda, um cinzeiro e uma tela na qual posso colocar estas letras; e tudo isso parece tudo o que preciso para dizer: esse foi um bom dia.
Que se foda a guerra, os mendigos, a miséria, a corrupção, os idiotas que infestam as ruas, a televisão, o teatro, os discursos, as idéias, o caminho do bem, o do mal, o câncer e a arritmia cardíaca.
Que se foda Plutão, Júpiter, março, abril e maio, o escorpião, a cobra, os anjos, o futebol, o grito preso na garganta, o palito de fósforo que se quebrou antes de queimar, a porta da rua, o gato, o cachorro e a zebra solitária na casa lotérica.
Que se foda a lamparina, a churrasqueira, meu amigo sentado ao lado, a planta que brota solitária vencendo a força do asfalto, a bossa nova, o violão desafinado, o grito do rebelde sem causa, a casa que todos gostariam de ter, o carro do ano, o jornal, o chefe, o empregado, a folha de pagamento, o caos, a bicicleta, o exercício, a paciência, o café, a panela, a comida e o sonho.
Egoísta? Claro que sim!
Frrrrr-ahhhhh!!! Que belo calor no esôfago!
Só uma coisa é certa: no futuro lerei este texto e então vou me lembrar de um belo dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que desabafo... Taí, gostei...