A juventude revolucionária volta a tomar as ruas. Protegidos pela polícia, que interrompe o trânsito e olha tudo de longe. Quem disse que as drogas não são liberadas? Os argelinos e marroquinos vendem haxixe e, às vezes, coca a menos de 10 metros da polícia civil e militar. O importante é marcar presença com coletes a prova de bala, escopetas e olhares tão ameaçadores quanto os de uma criança que não quer ir pra aula. Bem, a turma passa pela polícia, compra a droga, passa pela polícia de novo e se instala em frente à mesa de som, no meio da rua, a famosa Via Zamboni de Bologna, para fumar seus baseados. É simplesmente impossível que os brigadianos não saibam o que acontece, o que me leva a crer que a droga é liberada aqui na Itália. Afinal, que ganha com isso é a máfia, a máfia é o governo, e a polícia é a segurança do governo. Opa, mas peraí! Então quer dizer que a juventude revolucionária, no fim, acaba sustentando o governo! Não, não pode ser. Eles devem ter feito uma pesquisa antes e chegado à conclusão que os nossos marroquinos e argelinos da Via Giuseppe Petroni não têm nada a ver com a Camorra, Cosa Nostra ou Ndrangheta.
A música Rap não mente, a juventude revolucionária é suburbana. Ou não? Se considerarmos que todos estão na universidade, nenhum (ta bom, alguns poucos) trabalha e gastam pelo menos o quê, uns 600 Euros por mês entre aluguel, comida e drogas, me parece que estamos pendendo mais para o lado da burguesia. Mas o que vale é a intenção. Negar as origens. Isso se mostra nas roupas, todas de um mal gosto elevado à máxima potência. Não é que eu seja um estilista, ou um entendedor de moda, mas andar com as calças pelos joelhos é ridículo para qualquer gosto. Digamos que o Rap esteja bom. Até que param a música para começar os discursos.
“Estamos aqui para o início de mais uma jornada de luta. De apoio aos irmãos que neste momento estão lutando na revolução mediterrânea. Contra a invasão da Líbia pelo Ocidente e apoio aos rebeldes. Contra a crise que assola a Europa. Contra a austeridade do governo. Por melhores condições de estudo e mais investimento na Universidade....”
O rosário vai longe. Apesar de já ter tomado um litro de cerveja eu olho pro alemão que está do meu lado e pergunto: “por acaso tu conhece alguém que seja a favor da crise?”. Claro, porque me parece uma idiotice gigante pegar um microfone e dizer que é contra a crise. O Berlusconi também é contra a crise. A turma de Wall Street é contra a crise. Se eles quisessem ser do contra, teriam que ser a favor da crise, pois é ela que, dialeticamente, mostra a fraqueza do sistema no qual vivemos. Não, mas eles são contra a crise. Eles também são contra a austeridade do governo. O que significa que o seu sonho é um governo que gaste mais, ou seja, um governo mais forte. E eu que pensava se tratarem de anarquistas, como eu sou inocente. Se a jornada de luta é beber e fumar haxixe no meio da rua, estou dentro. Mas como convencer os trabalhadores e desempregados a aderirem à revolta? Ou eles têm que acordar cedo no outro dia, ou não têm dinheiro pra comprar cerveja. É, os estudantes estão sós. Por melhores condições de estudo estou pensando em sugerir a todos uma temporada na Ufrgs. E sobre a questão da Líbia, bem, talvez o dinheiro gasto com os marroquinos e argelinos acabe nas mãos certas.
Voltou a música, ainda o Rap. Pra mim chega. Eu já sou velho, passei dos 30, não tenho nada que ver com a juventude revolucionária. Prefiro ir pra casa, ouvir um Bob Dylan, estudar o que diz meu amigo Adorno e, depois, dormir bem abraçado na nega véia. Talvez eu ainda não seja um grande revolucionário, mas, quem sabe um dia eu chego lá.