quinta-feira, setembro 15, 2011

Os malditos problemas do mundo

O hábito de escrever serve também para clarear as dúvidas. Não que se possa resolver o problema; é melhor dizer que o transformamos em um problema mais concreto. No caso se trata de temas banais, como os problemas do mundo (e é sempre bom lembrar a genial frase do conterrâneo que diz que “resolver os problemas do mundo é coisa de vagabundo, o que é uma absoluta verdade sendo que há poucos minutos o sofá era o lugar ideal para esse tipo de reflexão). O problema básico é tentar descobrir por que o sistema não funciona. Por exemplo: todos sabemos que neste nosso belo mundo existem pessoas que morrem de fome. Digamos que ninguém em sã consciência pode (uma questão ética, mas que seja só por aparência) dizer que acha isso normal, ou que não se sente incomodado por este triste fato da nossa realidade. Hoje sabemos também por que isso acontece: a abundância e desperdício de uns é a miséria de outros. Com estes dois dados em mãos poderíamos facilmente encontrar uma solução: repartir melhor o que temos. Mas dessa reflexão surge o grande problema da humanidade, isto é: conhecemos nossos problemas, conhecemos suas causas, conhecemos a solução e... ninguém faz absolutamente nada! Não sou ingênuo de negar todas as complexas relações sociais que estivemos desenvolvendo nos nossos, digamos, últimos 10 mil anos de história. Mas o “grande problema” é um pouco desconcertante. É como se eu estivesse com uma grande dor nas costas, soubesse que é por causa da posição completamente esdrúxula que sustento em frente ao computador, soubesse que basta me ajeitar para resolver o problema e ainda assim preferisse ficar com a dor. O lance não é que devemos parar de ir a bons restaurantes, de encher a cara, de ir a belos concertos, de viajar, ou qualquer outra coisa que notoriamente nos dá prazer. De uma certa maneira a solução é justamente fazer as coisas que nos dão prazer. Ou refletir sobre o que é prazer. Por exemplo, olhar um extrato bancário de, sei lá, 15 milhões de dólares pode ser muito prazeroso para alguém. Mas a pergunta é: isso faz diferença na vida de quem é dono de tal extrato? Muito provavelmente não, porque tudo o que se faz com 15 milhões se faz igual com, digamos, a metade disso. O problema é que no nosso mundo atual, essa metade acumulada significa que provavelmente mais uma pessoa vai morrer de fome. E é de se imaginar que o feliz proprietário dos 15 milhões se incomode um pouco pela existência dos mortos de fome, nem que seja por causa do mala do mendigo que pede uma moeda na rua, ou do filha da puta que lhe rouba a carteira. Ou seja, ele vive em meio a um problema criado por ele mesmo. E isso fazemos, bem ou mal, todos nós. Mas enfim, eu sou só um vagabundo sentado no sofá da sala, o que sei eu dos problemas do mundo...

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