A Itália é um país engraçado de tão estranho. Como diz o camarada carioca, é realmente o lugar onde os postes mijam nos cachorros. Vamos aos fatos.
Agosto é o auge do verão e absolutamente todo mundo tira férias. Não é como no Brasil que as lojas, por exemplo, fazem um rodízio do pessoal mas ficam abertas. Aqui fecha e deu: um mês de folga geral. Mas, como em qualquer lugar do mundo, tem sempre um buteco aberto. Uma das ruas boêmias aqui de Bologna se chama Via Del Pratello, e era pra lá que íamos em busca de uma cerveja gelada e um pouco de calor humano, já que a cidade estava completamente deserta. Mas tinha um problema: o bar fechava cedo, segundo o dono porque “sabe como é, com pouco movimento não vale a pena ficar aberto”. Eis que termina o verão e volta todo mundo. Multidão pelas ruas, a Praça San Francesco (tradicional ponto de encontro) tomada, gente que chega nova na cidade para estudar, enfim, confusão. E surge o boato de que no último sábado seria a famosa “noite branca” da Via Del Pratello. Não, eles não distribuem cocaína pra galera, mas os bares, teoricamente, ficam abertos a noite toda (a regra diz que eles devem fechar às 3h). Encontramos a turma aí pela meia noite na praça, tomamos a bira barata que cada um trouxe nas mochilas e vamos pro bar. O movimento na rua é intenso mas alguma coisa não está certa. Sim, as portas estão fechadas. De todos os bares. Um pouco sem saber o que estava acontecendo vamos ao nosso buteco tradicional para nos informar. O dono nos olha e tem a coragem de dizer: “sabe como é, é muito movimento e a gente não tem como trabalhar assim”. Mas na semana passada o cara tava reclamando que tinha pouco movimento! E alguém já viu por acaso, em algum lugar do mundo, um bar que fecha porque tem muito movimento?! Não, só na Itália.
Eu e a velha compramos os ingressos para o show do Bob Dylan com Mark Knopfler em Firenze. Um show como esse exige certamente uma preparação adequada. Então fomos à biblioteca e pegamos alguns DVDs e livros sobre a carreira do Bob Dylan, assim podemos organizar e estudar melhor o material que temos em casa. Entre esses, o mais adaptado à nossa missão parecia ser um tipo almanaque dylaniano que percorre toda sua obra, disco por disco, com comentários. O problema é que o livro foi escrito por um italiano. E ele é um daqueles tipos chatos que de tão entendedor de alguma coisa acaba perdendo o gosto por ela. E pior ainda, é o tipo de fã do Bob Dylan que só gosta das músicas dos anos ’60. E por isso, do álbum Nashville Skyline em diante são só críticas. Algumas pérolas: “o álbum tem muitas guitarras” (sobre o Desire), “O ábum vende bem e há uma certa dignidade” (sobre o Slow Train Coming), “o disco contém canções nada memoráveis” ( sobre o Saved), “é um dos pontos mais baixos da carreira de Dylan” (sobre Dylan and The Dead, dico ao vivo com o Greatful Dead), e por aí vai. Ou seja, o cara escreveu um livro quase só para falar mal do Bob Dylan, sendo que o objetivo era ajudar nas vendas dos relançamentos dos discos em CD. Alguém já viu uma coisa dessas? Não, só na Itália.
Essas são apenas algumas situações. Existem tantas outras, como quando tu chega na Questura para pedir o permesso de soggiorno, o cara olha a multidão e pergunta: “o que vocês estão fazendo aqui?”, e por aí vai. Mas no fim é um bom lugar pra viver, porque o absurdo é tão absurdo que se torna engraçado. O problema (para eles) é que se acostumaram tanto com o absurdo da sua vida cotidiana que já nem se importam com as coisas sérias, como por exemplo ter um Berlusconi no comando do país. A minha impressão é que um dia a casa vai cair feio aqui e eles não vão ter como apelar pros States, porque a casa vai estar caindo lá também. E a história já nos mostrou várias vezes o que acontece em momento de crise.... bem, mas isso é já outro papo.
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