sábado, novembro 26, 2011

Paul McCartney

Em homanegm ao show do Paul McCartney ao qual estamos nos dirigindo daqui a pouco, republico aqui um texto escrito há mais ou menos quatro anos. A idéia continua a mesma, apesar de que o Black Sabbath reunido tem o seu peso...

Provavelmente Paul McCartney é o ser humano vivo mais importante do mundo. Para o mundo do Rock, indiscutivelmente. É claro que ainda temos Mick Jagger e Keith Richards em mega turnês pelo mundo e Pete Thousand com uma postura cada vez mais rocker. Jimmi Page e Robert Plant também estão vivos, assim como Ozzy Osbourne. Mas a defesa de Paul tem um argumento que supera qualquer outro: ele foi um Beatle.

Depois dessa primeira reflexão, percebo novamente a triste evidência de que o rock morreu. Quem, que apareceu no Rock de 1990 para cá, poderíamos colocar nessa lista? Kurt Cobain, talvez, mas já morreu. Não me venham com os irmãos Oasis. Nada, um deserto de Rock Stars, o que acaba por ser compreendido como a morte do Rock'n'Roll.

Voltemos para Paul McCartney. Vamos analisar fora do mundo da música se alguém é mais importante que ele. Qualquer ex-presidente de qualquer país já está de antemão descartado justamente pelo fato de ter sido presidente de algum país. O que nos obriga a excluir também todo e qualquer político, pelo simples fato de ser político. Ser do exército também exclui da corria. Os economistas só trabalham para foder o povo. Ciência, hoje em dia, resume-se a uma corrida tecnológica sem sentido. Filósofos são grandes técnicos ou grandes chatos.

Só sobra mesmo Paul McCartney. E talvez o Ringo, mas o batera entrou meio que de carona na brincadeira...

quinta-feira, novembro 24, 2011

O fim da era Berlusconi (ou a certeza de que o poder não é mais político)

Acabei de me dar conta que nunca escrevi nada sobre esse grande personagem chamado Berlusconi. É impossível negar: o cara é uma figura. Em plena Itália, vizinho ao Vaticano, o camarada Berlú dava festas de arrepiar com drogas, sexo e.... Rock’n’Roll duvido muito, mas as “Sweet Sixteen” com certeza estavam lá. E o cara gastou muito dinheiro, principalmente pra pagar todo o cordão dos puxa-sacos que o sustentou no poder por todos esses anos. Inclusive é difícil para um brasileiro ignorante como o cara saber como um presidente, que não é presidente, porque o presidente é o velho Napolitano, fica no poder sem ninguém ter votado nele. Sério. Desde que cheguei aqui venho perguntando às pessoas em quem elas votaram e ninguém, absolutamente ninguém, votou no Berlusconi ou no seu partido. Coisas da Itália. Mas o pior mesmo do Berlusconi é que ele estava tão concentrado na buceta que se esquecia que tinha um país pra comandar. Ele não conseguia nem acontentar a direita, os empresários, o mercado financeiro, bem, toda aquela gente que realmente manda no mundo. O Banco Central Europeu tinha pedido pra ele como que a Itália ia enfrentar a crise, tipo botando uma pilha pra que ele fizesse alguma coisa como um plano econômico. O Papi óbvio que não levou a sério, afinal a crise era só uma invenção dos comunistas que queria lhe tirar o poder. E depois, que crise, já que os restaurantes continuam cheios, as pessoas seguem comprando carros, as menininhas continuam de pernas abertas, a máfia continua mandando em metade do país. Tudo igual como sempre foi. Mas como o mundo hoje em dia não é mais dos políticos (do povo já faz muito, muito tempo que não é), deram um jeito de tirar o homem de lá. No seu lugar está um fantoche do mercado, que simplesmente obedecerá tudo o que o BCE der como diretrizes. E o povo italiano assiste a tudo isso praticamente de braços cruzados, como uma novela do mundo moderno. O problema é que quem se fode nessa trama é próprio ele, o povo.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Carta à Presidenta

Cansei de ouvir dizer que não podemos fazer nada, que tudo o que a gente fala são apenas palavras ao vento. Se eu não posso, eu pelo menos imagino quem pode. Decidi que vou começar a mandar uma série de cartas para nossa presidenta. Vá que ela leia...


Excelentíssima Presidenta da República,

Escrevo-lhe esta carta porque sinto tratar-se de um dever cívico, além de ser uma prerrogativa de qualquer cidadão em um sistema de liberdades garantidas como queremos que seja o nosso. Escrevo também como um cidadão brasileiro emigrado, o que se torna interessante de um determinado ponto de vista. Depois de um ano fora do país me sinto longe das pequenezas políticas do dia a dia, talvez mais consciente de uma visão global do nosso Brasil. É a mesma clareza que procuramos quando decidimos “olhar de fora”uma situação para compreende-la melhor. Na verdade espero que essa seja a primeira de uma série de cartas que devo endereçar a Vossa Excelência, e justamente por ser a primeira, gostaria de dar uma visão geral que tenho do nosso país antes de entrar em cada tema específico.

O fato é que o mundo não é mais o mesmo. A civilização ocidental enfrenta sua grande crise, ou pelo menos mais uma de suas grandes crises. A Europa, que pelo menos desde a Grécia Antiga foi o foco, a vanguarda do progresso mundial (seja no sentido positivo como negativo do termo), está caindo aos pedaços. E parece uma ironia do destino que a sua decadência tenha a ver justamente com a própria Grécia.

Mas o que é essa crise? Basta pensar um pouco para perceber que não passa de um ajuste de contas do mercado financeiro. Em outras palavras, alguns governos e empresários irresponsáveis decidiram jogar no mercado para enriquecer de uma forma mais fácil do que a tradicional produção de bens, só que a brincadeira não deu certo. E como essa brincadeira é restrita a um pequeno clube de milionários que não querem perder o seu luxo mesmo perdendo no jogo, quem paga é sempre o povo, porque são eles quem têm o poder sobre nossas vidas.

Nesse atual cenário o Brasil olha como expectador e causa inveja às antigas potências. Mas o que eu gostaria de lhe advertir, Vossa Excelência, é que essa situação se não for bem pensada pode ser apenas uma ilusão passageira. O que eu quero dizer é que um governo deve governar para o povo e não para a aristocracia. Eu sei que é difícil governar sem eles, mas o fato é que eles não estão nem aí para o bem do país; eles querem enriquecer cada vez mais e basta.

Vou citar um exemplo para esclarecer meu ponto de vista: a construção da usina de Belo Monte. Se diz que o Brasil precisa de energia para crescer, para aumentar a produção, para gerar empregos. Essa é a cadeia lógica do pensamento do senso comum forjada pela economia de matriz acumulativa moderna. O problema é que o cálculo não fecha. No nosso Brasil os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres continuam pobres igual como antes. A nova classe média é também uma ilusão, já que no primeiro sinal de fumaça vai todo mundo pra casa descansar pra voltas à fila do desemprego. O Brasil não precisa acumular riqueza, assim como fizeram nossos amigos europeus e norte-americanos; o Brasil precisa urgentemente distribuir e preservar riquezas. Vossa Excelência não se indignava com a política imperialista dos Estados Unidos? Então não me parece justo destruir uma nação indígena, que é muito mais antiga que o próprio Brasil, só para dar energia aos grande empresários poderem acumular mais capital nas suas já imensas contas bancárias. Não me parece justo destruir um bom pedaço de floresta que pode sustentar um grande número de famílias para dar de presente a quem já tem muito. O que quero dizer é que o mercado não tem nacionalidade. A qualquer momento eles podem nos abandonar e não terá valido de nada todo esse esforço. E pior: não nos restará nada depois da exploração de nossas riquezas.

Eu escrevo à senhora, Vossa Excelência, na esperança de que possa partir das nossas instituições a mudança de conceito: da acumulação de riquezas à distribuição e preservação de riquezas.

terça-feira, novembro 15, 2011

Texto

Esses dias estava pensando: mas por que cargas d’água eu escrevo? Sim, um pouco é pelo prazer de colocar as palavras juntas (e vejam como fica melhor essa frase em italiano: per il piacere di mettere le parole insieme). Um pouco também porque, às vezes, tenho alguma coisa pra dizer. Mas não é só isso. Não podia ser só isso. E eis que depois de muito pensar cheguei a uma possível resposta. O fato é que eu gosto de comprar cadernos. Em casa tenho que ter ao menos uns dois ou três cadernos. E também é fato que tenho alguma coisa contra as páginas em branco. Quando às vejo assim, limpas, parece que estão tirando um sarro de mim, da minha incapacidade de preenche-las com palavras que façam algum sentido. Ou apenas palavras, visto que de vez em quando sai até uma poesia surrealista. E não é um privilégio só da folha material, aquela em três dimensões que vendem na papelaria. A página do Word é igual. Fica ali, parada, me olhando, como se dissesse “duvido que tu consiga me encher de letrinhas”. Como dizia o professor, o texto é sempre uma luta; no meu caso uma luta contra a página vazia. Um texto fácil é a coisa mais ridícula do mundo. É como se tu perguntasse pro Michelangelo se é fácil fazer uma escultura e ele te respondesse: “aí brou, sabe o Davi? Maior barbada de fazer”. Não que eu esteja me considerando um artista, longe disso, mas a escritura em si é uma arte. Basta passara lá nos Ofícios de Firenze pra ver que a estátua do Dante e do Galileu estão no mesmo nível do Leonardo e do Baccio. O nosso autor da Divina Comédia é com certeza o herói máximo da cidade; qualquer beco tem alguma coisa dele, nem que seja um retrato ou uma placa “Dante passou por aqui”. E o que ele fez de grandioso pela humanidade? Escreveu. O lance é que essa coisa da escritura me intriga. Por mais que eu tente, escrever um romance, por exemplo, parece cada vez uma missão mais irrealizável. Eu não sou bom nessa parada. Meu lance é tiro curto. Me basta ver a maldita daquela página cheia que me dou por contente. Então ta. Deu. Amanhã talvez eu abra de novo essa merda desse caderno...

domingo, novembro 06, 2011

As dificuldades do alcoolismo

Às vezes é difícil ser um alcoólatra aqui na Bologna. Primeiro que os mercadinhos, ou “o paquistano”, fecham às 20h. E pensar que não era assim. Quando chegamos há um ano o nosso paquistano aqui da rua fechava às 22h, ou seja, a gente podia jantar tranqüilo, fumar tudo que tinha que fumar, e depois ainda pegar uma bira gelada e barata na rua. Agora temos que planejar tudo com antecedência e nesse caso vale mais a pena fazer um carregamento de “cerveja da moeda” do supermercado, que custa 50 centavos. Mas tem sempre o inconveniente de carregar uma caixa de cerveja européia, porque eles simplesmente não sabem embalar as latinhas em um belo fardinho como os nossos.

Normalmente o cara não consegue nem planejar, nem comprar a cerveja barata do paquistano, então sobra o buteco. E aqui surge a segunda série de problemas. Começa pelo preço da bira, que varia de 3,50 a 5 pila. Por uma sorte do destino, o buteco mais massa da rua (lembrando sempre que moramos na babilônia bolognesa), isto é, o único que toca o bom e velho Rock’n’Roll, é o que tem a bira mais barata: meio litro de Weiss bier por 3,50. Mas essa semana decidiram que todos os bares da nossa rua, só da nossa rua, devem fechar à 1h da madruga. Parece que a polícia quer acabar com o trafico de drogas e os moradores querem dormir (inclusive o paulistão do 23). Por causa disso temos que nos deslocar para outros lugares e junto com o movimento aumenta também o preço do produto. Digamos que a melhor relação custo-benefício é o litrão de bira por 7 euros na Birreria del Pratelo, que é praticamente “do outro lado da cidade”.

O problema depois disso tudo é que os outros bares fecham todos às 3h. É a lei da cidade: nada de bêbados e butecos na madrugada da bela Bologna. Mas, e sempre existe um mas, conseguimos descobrir dois lugares que ficam abertos até de manhã. O primeiro é um tipo-bar-restaurante com dois inconvenientes: é caro e os donos são realmente muito chatos. Sempre dá confusão na hora de pagar. No começo é até divertido, mas depois de um tempo acaba enchendo o saco.

Assim chegamos à nossa única alternativa, que é também a melhor descoberta do último ano: o Club Margot. Começa que o lugar é praticamente escondido: é só uma grade e uma porta como outra qualquer da rua. Para entrar tem que tocar a campainha. Aí aparece o dono e pergunta: “vocês têm a carteirinha?”. Claro, porque não é um bar, é um clube de bêbados. Sim, já somos registrados como parte da corja. Depois disso se passa por algumas cortinas vermelhas e se entra em uma pequena sala, quase uma garagem, com cinco mesas e um balcão de bar no fundo. É praticamente um filme do David Lynch. E tudo fica ainda melhor depois das 4h30, porque a partir dessa hora é permitido fumar dentro do local. A cerveja não é a mais econômica, mas é quase honesto cobrar 5 pila por uma Franziskaner (ou Franksteiner como diz o paulistão).

Enfim, é isso: pra ser um bêbado em Bologna o cara tem que ser guerreiro.