quinta-feira, novembro 17, 2011

Carta à Presidenta

Cansei de ouvir dizer que não podemos fazer nada, que tudo o que a gente fala são apenas palavras ao vento. Se eu não posso, eu pelo menos imagino quem pode. Decidi que vou começar a mandar uma série de cartas para nossa presidenta. Vá que ela leia...


Excelentíssima Presidenta da República,

Escrevo-lhe esta carta porque sinto tratar-se de um dever cívico, além de ser uma prerrogativa de qualquer cidadão em um sistema de liberdades garantidas como queremos que seja o nosso. Escrevo também como um cidadão brasileiro emigrado, o que se torna interessante de um determinado ponto de vista. Depois de um ano fora do país me sinto longe das pequenezas políticas do dia a dia, talvez mais consciente de uma visão global do nosso Brasil. É a mesma clareza que procuramos quando decidimos “olhar de fora”uma situação para compreende-la melhor. Na verdade espero que essa seja a primeira de uma série de cartas que devo endereçar a Vossa Excelência, e justamente por ser a primeira, gostaria de dar uma visão geral que tenho do nosso país antes de entrar em cada tema específico.

O fato é que o mundo não é mais o mesmo. A civilização ocidental enfrenta sua grande crise, ou pelo menos mais uma de suas grandes crises. A Europa, que pelo menos desde a Grécia Antiga foi o foco, a vanguarda do progresso mundial (seja no sentido positivo como negativo do termo), está caindo aos pedaços. E parece uma ironia do destino que a sua decadência tenha a ver justamente com a própria Grécia.

Mas o que é essa crise? Basta pensar um pouco para perceber que não passa de um ajuste de contas do mercado financeiro. Em outras palavras, alguns governos e empresários irresponsáveis decidiram jogar no mercado para enriquecer de uma forma mais fácil do que a tradicional produção de bens, só que a brincadeira não deu certo. E como essa brincadeira é restrita a um pequeno clube de milionários que não querem perder o seu luxo mesmo perdendo no jogo, quem paga é sempre o povo, porque são eles quem têm o poder sobre nossas vidas.

Nesse atual cenário o Brasil olha como expectador e causa inveja às antigas potências. Mas o que eu gostaria de lhe advertir, Vossa Excelência, é que essa situação se não for bem pensada pode ser apenas uma ilusão passageira. O que eu quero dizer é que um governo deve governar para o povo e não para a aristocracia. Eu sei que é difícil governar sem eles, mas o fato é que eles não estão nem aí para o bem do país; eles querem enriquecer cada vez mais e basta.

Vou citar um exemplo para esclarecer meu ponto de vista: a construção da usina de Belo Monte. Se diz que o Brasil precisa de energia para crescer, para aumentar a produção, para gerar empregos. Essa é a cadeia lógica do pensamento do senso comum forjada pela economia de matriz acumulativa moderna. O problema é que o cálculo não fecha. No nosso Brasil os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres continuam pobres igual como antes. A nova classe média é também uma ilusão, já que no primeiro sinal de fumaça vai todo mundo pra casa descansar pra voltas à fila do desemprego. O Brasil não precisa acumular riqueza, assim como fizeram nossos amigos europeus e norte-americanos; o Brasil precisa urgentemente distribuir e preservar riquezas. Vossa Excelência não se indignava com a política imperialista dos Estados Unidos? Então não me parece justo destruir uma nação indígena, que é muito mais antiga que o próprio Brasil, só para dar energia aos grande empresários poderem acumular mais capital nas suas já imensas contas bancárias. Não me parece justo destruir um bom pedaço de floresta que pode sustentar um grande número de famílias para dar de presente a quem já tem muito. O que quero dizer é que o mercado não tem nacionalidade. A qualquer momento eles podem nos abandonar e não terá valido de nada todo esse esforço. E pior: não nos restará nada depois da exploração de nossas riquezas.

Eu escrevo à senhora, Vossa Excelência, na esperança de que possa partir das nossas instituições a mudança de conceito: da acumulação de riquezas à distribuição e preservação de riquezas.

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