terça-feira, novembro 15, 2011

Texto

Esses dias estava pensando: mas por que cargas d’água eu escrevo? Sim, um pouco é pelo prazer de colocar as palavras juntas (e vejam como fica melhor essa frase em italiano: per il piacere di mettere le parole insieme). Um pouco também porque, às vezes, tenho alguma coisa pra dizer. Mas não é só isso. Não podia ser só isso. E eis que depois de muito pensar cheguei a uma possível resposta. O fato é que eu gosto de comprar cadernos. Em casa tenho que ter ao menos uns dois ou três cadernos. E também é fato que tenho alguma coisa contra as páginas em branco. Quando às vejo assim, limpas, parece que estão tirando um sarro de mim, da minha incapacidade de preenche-las com palavras que façam algum sentido. Ou apenas palavras, visto que de vez em quando sai até uma poesia surrealista. E não é um privilégio só da folha material, aquela em três dimensões que vendem na papelaria. A página do Word é igual. Fica ali, parada, me olhando, como se dissesse “duvido que tu consiga me encher de letrinhas”. Como dizia o professor, o texto é sempre uma luta; no meu caso uma luta contra a página vazia. Um texto fácil é a coisa mais ridícula do mundo. É como se tu perguntasse pro Michelangelo se é fácil fazer uma escultura e ele te respondesse: “aí brou, sabe o Davi? Maior barbada de fazer”. Não que eu esteja me considerando um artista, longe disso, mas a escritura em si é uma arte. Basta passara lá nos Ofícios de Firenze pra ver que a estátua do Dante e do Galileu estão no mesmo nível do Leonardo e do Baccio. O nosso autor da Divina Comédia é com certeza o herói máximo da cidade; qualquer beco tem alguma coisa dele, nem que seja um retrato ou uma placa “Dante passou por aqui”. E o que ele fez de grandioso pela humanidade? Escreveu. O lance é que essa coisa da escritura me intriga. Por mais que eu tente, escrever um romance, por exemplo, parece cada vez uma missão mais irrealizável. Eu não sou bom nessa parada. Meu lance é tiro curto. Me basta ver a maldita daquela página cheia que me dou por contente. Então ta. Deu. Amanhã talvez eu abra de novo essa merda desse caderno...

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