Às vezes é difícil ser um alcoólatra aqui na Bologna. Primeiro que os mercadinhos, ou “o paquistano”, fecham às 20h. E pensar que não era assim. Quando chegamos há um ano o nosso paquistano aqui da rua fechava às 22h, ou seja, a gente podia jantar tranqüilo, fumar tudo que tinha que fumar, e depois ainda pegar uma bira gelada e barata na rua. Agora temos que planejar tudo com antecedência e nesse caso vale mais a pena fazer um carregamento de “cerveja da moeda” do supermercado, que custa 50 centavos. Mas tem sempre o inconveniente de carregar uma caixa de cerveja européia, porque eles simplesmente não sabem embalar as latinhas em um belo fardinho como os nossos.
Normalmente o cara não consegue nem planejar, nem comprar a cerveja barata do paquistano, então sobra o buteco. E aqui surge a segunda série de problemas. Começa pelo preço da bira, que varia de 3,50 a 5 pila. Por uma sorte do destino, o buteco mais massa da rua (lembrando sempre que moramos na babilônia bolognesa), isto é, o único que toca o bom e velho Rock’n’Roll, é o que tem a bira mais barata: meio litro de Weiss bier por 3,50. Mas essa semana decidiram que todos os bares da nossa rua, só da nossa rua, devem fechar à 1h da madruga. Parece que a polícia quer acabar com o trafico de drogas e os moradores querem dormir (inclusive o paulistão do 23). Por causa disso temos que nos deslocar para outros lugares e junto com o movimento aumenta também o preço do produto. Digamos que a melhor relação custo-benefício é o litrão de bira por 7 euros na Birreria del Pratelo, que é praticamente “do outro lado da cidade”.
O problema depois disso tudo é que os outros bares fecham todos às 3h. É a lei da cidade: nada de bêbados e butecos na madrugada da bela Bologna. Mas, e sempre existe um mas, conseguimos descobrir dois lugares que ficam abertos até de manhã. O primeiro é um tipo-bar-restaurante com dois inconvenientes: é caro e os donos são realmente muito chatos. Sempre dá confusão na hora de pagar. No começo é até divertido, mas depois de um tempo acaba enchendo o saco.
Assim chegamos à nossa única alternativa, que é também a melhor descoberta do último ano: o Club Margot. Começa que o lugar é praticamente escondido: é só uma grade e uma porta como outra qualquer da rua. Para entrar tem que tocar a campainha. Aí aparece o dono e pergunta: “vocês têm a carteirinha?”. Claro, porque não é um bar, é um clube de bêbados. Sim, já somos registrados como parte da corja. Depois disso se passa por algumas cortinas vermelhas e se entra em uma pequena sala, quase uma garagem, com cinco mesas e um balcão de bar no fundo. É praticamente um filme do David Lynch. E tudo fica ainda melhor depois das 4h30, porque a partir dessa hora é permitido fumar dentro do local. A cerveja não é a mais econômica, mas é quase honesto cobrar 5 pila por uma Franziskaner (ou Franksteiner como diz o paulistão).
Enfim, é isso: pra ser um bêbado em Bologna o cara tem que ser guerreiro.
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