quarta-feira, janeiro 26, 2011

O lance é a letra



Era o maior show da banda. Festival de aniversário do Sociedade da Lei MC, o Moto Rock IV. Só me lembro que tocávamos nós, Opala 69, a Vlad V, e mais umas três outras bandas. Pra ter uma idéia do evento, um pedaço da história do clube:

“Foi aí que ao tentarmos registrar o nome como Sociedade Alternativa fomos avisados que não poderíamos usar o nome e o escudo que tínhamos escolhido. Foi então que fizemos uma reunião para escolher o novo nome e escudo, assim escolhido o nome Sociedade da Lei e uma nova figura para o escudo que teve o desenvolvimento de uma caricatura pelo Sr. Antonio Borges. Então entrando em contato com a Sra. Kika Seixas e sua filha Viviam Costa Seixas as mesmas autorizaram o uso do novo nome e a nova caricatura, sendo autorizado e reconhecido no 5º Ofício do Notas, na rua Real Grandeza, nº 193 LJ-1/11, Botafogo na cidade do Rio de Janeiro/RJ no dia 27-10-2006.”

E agora, quem somos:

“A Sociedade da Lei Moto Clube é uma associação de motociclistas SEM FINS LUCRATIVOS que tem como base da sua organização a família e os seus integrantes (irmãos) que amam as motocicletas e as viagens em grupo respeitando e sendo respeitado por todos. Ser Sociedade da Lei é gostar de Raul Seixas, ser livre, ter um estilo de vida e ter compromisso com a sociedade, realizar e desenvolver trabalhos comunitários.”

Ou seja, era o maior show da banda. Primeiro problema: o baterista não podia tocar. Ia pra São Paulo visitar a família justo naquele fim de semana. Correrio, porque faltavam duas semanas pro show. Lá pela sexta o Vitão, baixista, arruma o cara, que pra mim vai ser pra sempre “o cara”. E o ensaio? Fudeu, porque o ensaio era na casa do batera. Recorremos ao Iva, que nos emprestou o palco do Curupira. O que me dá um grande prazer relembrar por ser o lugar mais Rocker do mundo, incrustado na beira de um morro de Guaramirim. Segunda de noite e o show já é na sexta. Ensaio com o cara. O famoso ensaio relâmpago. Todo o repertório pela metade no estilo “ta bom assim mesmo, na hora vai dar tudo certo”. Impossível, já que o cara nunca tinha ouvido Raul Seixas na vida e tocava numa banda de Death Metal. Vá lá que seja.

Sexta passa a van em casa. Dessa vez a galera se preparou: garrafa de uísque, umas 3 caixas de bira, uma vodka e mais alguma coisa. Maconha a dar com pau. Da última vez tínhamos chegado em São José com 4 horas de atraso porque paramos em todos os postos de gasolina da BR – 101 pra abastecer o isopor. Lá por Penha já está todo mundo bêbado. No fundo do ônibus o cara está de walkman, com as baquetas treinando no banco da frente. Vou até lá. Ele tira o walkman e diz:

- Cara, saquei qual é a do Raul.

- E?

- É a letra.

Com certeza ia dar tudo certo. E deu. Apesar de que não me lembro de nada, só que lá pelas tantas estourou o alto-falante do ampli da guitarra. Foi só desligar a distorção que ficou perfeito. O cara da próxima banda é que não gostou muito. Lembro que o Kaizé, meio que líder da gangue de motociclistas, me abraçava e agradecia. E lembro que abracei todo mundo que entrou na van quando a gente foi embora. E deu. É o suficiente. Afinal: o lance do Raul é a letra.

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