segunda-feira, janeiro 17, 2011

O real valor das coisas

Só mais uma consideração: quais são as melhores coisas da vida?

Em ordem aleatória: beber, comer, conversar com os amigos, dormir, sexo, drogas e Rock`n`Roll.

Onde podemos encontrar todas essas coisas ao mesmo tempo, ou pelo menos a possibilidade de todas ao mesmo tempo?

No bar.

O que faz do bar o lugar mais importante, onde conseguimos reunir todas as coisas mais importantes da vida, porque as melhores só podem ser as mais importantes.

Com isso, negar que a filosofia de bar seja a verdadeira filosofia atesta, no mínimo, desconhecimento da matéria.

*

A morte tem surgido à baila. Primeiro o acontecimento com o velho Cossio (que Deus o tenha, meu pai), depois a leitura do alemão Heidegger, a coincidência de ouvir “Canto para minha morte” do Raul três vezes no mesmo dia, o conhecimento do cantor italiano Fabrizio de André, que também morreu de beber e é vizinho à temática da morte, e por fim o filme “Il settimo sigillo”, de Ingmar Bergman, todo ele sobre a morte.

O momento do confronto com o desconhecido, ou o limite entre o tudo e o nada. A certeza do fim, de algum fim. A experiência única da vida. Quem sabe onde o pensamento atinge no momento crucial. A morte elimina todas as barreiras. O inevitável confrontar-se com a realidade plena.

Devemos pensar para morrer, diz o livro do alemão. Para mim, no sentido de “à morrer”, como quando se joga à morrer no campinho. Pensar valendo. Ignorar todos os limites que nós, a sociedade, os livros, qualquer um, possa ter inventado. Porque o limite é só uma invenção. Ter presente a situação da morte, que é uma das poucas coisas cuja possibilidade se apresenta em todos os dias da nossa vida, e pensar o quanto antes e sempre sobre o real valor das coisas. Transformar a vida em relação íntima com a morte. Não negação da vida, mas a consciência de que o confronto com a morte virá. Transformar a vida em relação com a morte de forma criativa ao ponto de apontar um sentido da vida. O real valor das coisas como a amizade, os discos, o bar, um carro, uma jaqueta, uma casa, o planeta. Discutir sobre isso, pelo menos.

Um pouco de Raulseixismo.

“Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida”

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