Voltamos vivos da Babilônia. São Paulo, e os paulistas, foram generosos conosco: feriado, cidade vazia. Quer dizer, vazia para São Paulo, ou seja, uma zona.
Seja como for, aproveitamos muito bem o tempo, e posso dizer que volto com um preconceito a menos. São Paulo é Rock’n’Roll; disso não há dúvidas. Já na chegada fomos para o Morrison Bar, na banda da Vila Madalena. Tributo a Janis e The Doors. Só consegui ver o finalzinho da banda de Doors porque o maldito aeroporto de Congonhas fechou e tivemos que parar em Guarulhos. Aí pega um ônibus, atravessa a cidade, com chuva....... Mas o que importa é o bar, e esse Morrison é do caralho. Uma mistura de Garagem Hermética (POA) com Revival Rock Bar (Caxias). Até porque acabou a banda e só tocaram clássicos, de Beatles a ZZ Top. Uma bela festa regada a Johnny Walker e Skol, ambos quentes e deliciosos.
Quinta-feira começou a chegar o resto da invasão gaúcha. Aliás, nem falei porque estávamos lá: parabéns Aline e Ale, um casamento dos mais.... hã..... sei lá....... nem tem o que dizer. Mas essa história vem só na seqüência, porque na quita fomos para outro bar, Café Piu Piu, onde tocou um tributo a AC/DC. Muito boa banda, com figurino e tudo. Vale ressaltar que começamos a beber por volta das 11h da manhã, então tentem fazer uma idéia de como estávamos às 5h da outra manhã. Isso que eu olhava para o amigo Sílvio e dizia “não consigo ficar bêbado”, e a resposta “nem eu”. Imagino alguém olhando de fora essa conversa. Era visível a embriagues dos cidadãos.
O dia seguinte foi todo voltado ao casório. Terno, gravata e tênis, porque eu não ia deixar barato para a hi society de São Paulo. E bota hi nisso. A cerimônia foi numa chácara, na descida para o litoral. Bela cerimônia, tanto que os marmanjos, eu incluído, tiveram que se retirar para esconder as lágrimas. Que momento.... e o pior, nem estávamos bêbados ainda. Mas eis que depois do lero-lero surge: uísque, champagne, cerveja, vinho, comilança e Rock’n’Roll. Pela primeira vez não precisamos arrumar briga com o cara do som numa festa desse naipe. E o melhor, para coroar a noite um show do Roberto Seixas, que se auto proclama, com toda a justiça, o melhor cover de Raul Seixas do Brasil. Tive ainda a honra de cantar “Rock do Diabo” com a banda. Na van, de volta para a cidade, protagonizamos belas cenas de destruição, que deixo aqui a cargo da imaginação do leitor. O bom da manhã (a essa altura já eram umas 8h) foi acordar os vizinhos, sempre uma diversão garantida.
Sábado. Ressaca, talvez a maior de todas. Vômitos a cada cinco minutos no banheiro da casa. Éramos a essa altura 13 pessoas, todas passando mal. Mas já era sábado e decidi conhecer um pouco da cidade. Peguei um ônibus para o Centro, em busca de um destino certo: Galeria do Rock. Já haviam me prevenido que o negócio estava em decadência. Fico a imaginar o que deveriam ser os áureos tempos, se hoje o lugar já é quase que uma faculdade do Rock. Comprei buttons do Kiss, uma camiseta do Raul e um disco do Free. Após uma conversa com o seu Rogério, da loja Medusa Record, sobre raridades como a banda de blues psicodélico venezuelana Ladyes W.C., disco pirata do Sabbath gravado em 68, bandas japonesas de hard rock, e outras bizarrices, tive que abandonar o local por conta de uma indisposição estomacal. Tentei chamar o Hugo na escadaria do Teatro Municipal, mas não tinha nada para vomitar. Até que a Mirela, minha namorada, comprou um suco de qualquer coisa da cor amarela que fez um bate-e-volta no meu estômago. Ainda tivemos tempo de dar uma voltinha pelo Centro e pegar um ônibus para casa. A noite acabou em churrasco e, adivinhem........ cerveja, é obvio.
Domingo, último dia. Saímos com um carro alugado rumo à Liberdade, visitar a feirinha dos Japoneses. O almoço foi um “tudo grande”, delicioso, feito ali na rua mesmo. A feira em si não tem a menor graça. O legal é ouvir os caras gritando no meio da rua “oshdnd huabhc kadhasydhb”, com cara de brabo, e depois dar um risinho no final. Esses japas são loucos........ Feito o rango, o grupo se divide: uma parte vai levar o amigo Mairon para puta que o pariu pegar um ônibus. A outra parte toca para a Avenida Paulista visitar o Masp. A construção é realmente impressionante, mas não vou pagar 15 pila para ver o que tem dentro. Prefiro ficar na praça fumando um cigarrinho e me sentindo um cidadão do mundo. Nós, gaúchos, somos provincianos ao extremo. Quer dizer, falo por mim.
Para encerrar a jornada, uma cervejinha num “boteco”, assim, entre aspas, porque cobre R$ 5,30 a garrafa. Isso não é boteco nem aqui nem na China. Arrumada a mala, pegamos o avião de volta, no horário. Estou quase morto, semi-vivo, meio bêbado, meio sem cérebro, mas feliz da vida.
São Paulo, quem diria, é Rock’n’Roll.