O nome dele é Baddu. Negro é pouco pra ele, que veio do Senegal para a Itália há mais de 10 anos. Baddu é negão mesmo. Atualmente trabalha distribuindo panfletos nas esquinas de Bologna e assim consegue o mínimo para sua sobrevivência. Também faz bicos de segurança em algumas boates e eventos para garantir um extra. Apesar dos quase 2 metros de altura, o que sem dúvida o credencia para o trabalho de proteger os filhos de uma ex-Itália rica, Baddu não tem nada de assustador. Talvez seja uma das pessoas mais gentis que se pode conhecer. Antes de distribuir panfletos, ele trabalhou por oito anos como camelô na feira da piazzola, o maior mercado aberto da cidade (e depois dizem que na Europa não tem camelô, mas isso é assunto pra outra hora). Depois que a família abandonou a barraquinha, ele conseguiu emprego como carregador para um magazine de roupas e agora está nessa luta diária. Mas como eu dizia, Baddu é a gentileza em pessoa. Com seu italiano fortemente marcado pelo francês e wolof (língua típica) falados no Senegal, ele cumprimenta efusivamente todos os amigos que cruza na rua, sempre parando para uma pequena conversa. E todos param para conversar com Baddu. Outro dia falei que ele poderia se candidatar a prefeito. “Até podia, mas um prefeito fica longe das pessoas”, foi sua resposta. Outro dia ele me perguntou se eu voltaria para o Brasil. Disse que sim, que sentia falta do meu país e que hoje tenho certeza que não existe lugar como esse no mundo. “E tem família lá?”, perguntou. Depois da resposta afirmativa: “bom. Te digo que deve voltar para a família. Depois de muito tempo aqui se perde esse sentimento, de família, e não é bom. Aqui ninguém mais se entende, querem ser independentes e moram todos juntos. Brigam. Vivem nesse paradoxo e aí acontece o que estamos vendo. Querem resolver o simples pelo complicado. Se eles recuperarem o sentimento de família, recuperam o país”.
Essa é a universidade da vida. Em poucas e simples palavras o amigo Baddu, negão do interior do Senegal, vislumbrou e resolveu um grande problema sobre o qual doutores escrevem longas e complicadas teses. O sistema destrói os sentimentos básicos do ser humano e assim vagamos perdidos pelo mundo da competição, do dinheiro, da matéria, do comércio, do emprego, da solidão. Aqui destrói o que é uma das maiores tradições culturais do país, a união familiar, o gosto pela família e pelas relações humanas. Tudo isso em nome de quê? Doar sua vida aos interesses financeiros de outros? Quando voltarmos a ser todos irmãos teremos outro mundo, de justiça e respeito. E ele, meu amigo Baddu, faz muito por esse mundo. Distribui sorrisos e abraços pela cidade. Essa é a grande subversão do dia a dia. Gostar das pessoas.
Um comentário:
Falou e disse.
É por essas e outras que a experiência de sair do país vale a pena...
Viva o Baddu!
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