sexta-feira, maio 13, 2011

Porto Alegre

Porto Alegre sempre foi um sonho, uma paixão. A primeira lembrança: um gigante em vermelho depois de vales de arranha-céus, marca pra sempre a mente de uma criança. Da carroceria de uma Belina, depois da praia, no horizonte surge a selva de pedra. Todos os mistérios, as possibilidades, as desgraças, as maravilhas, enfim, a vida de uma construção humana com coração de verdade. “Meu coração é um porto sem endereço certo”. Noites de músicas feitas na nossa capital no quarto do pequeno sonhador. Do ônibus sempre a vontade de se perder por aquelas ruas do centro, que levam a lugar nenhum, ao rio que não é rio, à água que não é água, à praia que não é praia. E enfim Porto Alegre. Assustadora, gigante, quase indecifrável para o jovem ignorante de um interior vizinho e muito, muito distante. Anos em silêncio, buscando em cada parede, em cada árvore, em cada falha no asfalto a identidade com aquele sonho infantil. “Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem, que não passa por aqui, que não passa de ilusão”. Aos poucos o espírito, a alma de uma cidade se revela. E sem querer, sim, eu sou de Porto Alegre. Uma rotina encantadora, entre o parque, a avenida e... claro, os bares. Os grandes centros de convívio da nossa sociedade decadente, a casa de bárbaros e profetas, filósofos e idiotas, poetas e ignorantes. Os bares que abrigam toda a amizade, a possibilidade de celebrar aquela alma da cidade, o ritual dionisíaco, que se chama Baco e copos de cerveja gelada, cachaça quente, risos, sexo, ou pelo menos a vontade de sexo que aflora em uma juventude que se descobre e descobre as possibilidades de uma cidade tão grande e tão pequena como essa. Sim, “anoiteceu em Porto Alegre”. E da noite vem o dia, a clareza, o conhecimento. A sensação indescritível de amar uma rua, um prédio, uma casa, uma boa conversa sobre Blues às 4 da manhã de uma noite que não termina. Aos poucos o Norte desconhecido e o Sul familiar se tornam tão vizinhos quanto José do Patrocínio e Lima e Silva. Quantas horas perdidas (ganhas) a olhar por uma janela sempre igual e sempre diferente a decifrar o mistério da vida. Um cigarro daqueles na mão, uma dose de qualquer coisa, a certeza momentânea de que tudo está bem, e será para sempre bem, desde que no horizonte trêmulo, que me deixa os olhos úmidos, esteja sempre minha amada Porto Alegre.

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