Depois de duas semanas de estudo sobre a tragédia grega, tudo na vida se transforma em tragédia. E reforça o estudo anterior sobre Adorno; tudo na vida se transforma em tragédia dialética. E se quiser ainda reforça o estudo sobre a Filosofia da Música; tudo na vida se transforma em tragédia dialética musical.
A pergunta que sempre fazem: “ta, bonito esse teu discurso do contra, mas como se resolve a situação?”. Não sei. E acho que nem tem como. Essa é a tragédia do conhecimento: consciência e percepção das coisas que estão erradas e completa confusão sobre o que seria o certo. A pergunta, a maldita pergunta faz as noites virarem horas de angústias e os dias em olheiras cegas e surdas que vagam em meio à gente, às máquinas, às construções. Nada de respostas. Talvez ainda mais perguntas, mais problemas. E se torna à tragédia, à libertação no ritual dionisíaco do bar, entre copos e discursos que apenas saem da boca e perdem todo o seu sentido.
A tragédia dialética é geral. Resumo: o mundo condiciona o indivíduo que condiciona o mundo. E dessa magnífica quase certeza surge a total impossibilidade de responder à maldita pergunta. É a análise prática e lógica que mostra a impossibilidade. Se a base é a educação, essa tem lá suas duas faces: social e individual, que também se influenciam reciprocamente. Numa estrutura minimalista temos comunidade – família – indivíduo, que também pode ser lida como indivíduo – família – comunidade. E assim se perde toda e qualquer tentativa de estabelecer de onde sai o poder de influência. O indivíduo idealmente consciente forma sua família idealizada, que por sua vez é a base de uma sociedade utópica. A educação pode se transformar revolucionariamente através de uma simples mudança: eliminar a afirmação negativa, a opressão, e substituí-la pelo questionamento, a razão. A criança faz alguma coisa que se julga errada pelos critérios humanos e sociais. Em vez do opressor “não, isso é errado”, o pai pergunta “por que fazer isso?”. Assim começa a tomada de consciência a respeito dos padrões de convivência. Mas quais são esses padrões? Serão os padrões da sociedade? E assim se volta ao início da questão, porque a sociedade estabelece os padrões. Mas os padrões sociais são aqueles que os indivíduos exercer reciprocamente, e essa seria a chance de mudança. Mas numa sociedade que oprime e controla as consciências individuais, como aplicar a mudança?
Esta é a nossa grande tragédia dialética. Não temos como fugir, temos que agir, mas sem perspectiva alguma de qualquer mudança significativa. E a música, o que tem a ver com isso? Sim, nossa arte fundamental guarda em si o potencial de mostrar toda essa complexa rede de situações recíprocas e portar em si a revolucionária tomada de consciência. Mas o destino da música também é trágico, como todo e qualquer produto humano. Um exemplo? Nosso amado Rock’n’Roll, no seu momento de mais alta expressão artística, de poder revolucionário (Jim Morrison, Raul Seixas, Bob Marley, Bob Dylan, John Lennon, etc.), era ao mesmo tempo um produto de consumo exibido nas vitrines de todo o mundo. O sistema se encarregou por si de esvaziar qualquer potencial explosivo da expressão artística.
Hoje, no nosso vazio artístico geral, as potencialidades são ainda mais raras. A situação é cada vez mais difícil de ser resolvida. E talvez daí possa surgir nossa esperança. Da opressão deve, se a natureza humana e a lei universal da natureza continuam valendo, surgir a esperança. O novo só pode surgir do velho, da luta contra o estado de coisas, da luta pela vida na sua grande expressão. Sabe-se lá quantas guitarras ainda terão que ser quebradas até o surgimento do novo, mas o importante é continuar tentando.
Um comentário:
"A arte existe para que a verdade não nos destrua" Nietzsche
Não que eu seja fã desse cara, pra mim ele é cético demais, mas enfim, guardo essa frase há muitos anos e cada vez que lembro ela faz mais sentido...
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