sábado, julho 09, 2011

Deus

Esquina da Via Borgonuovo com Via Santa. E de repente surge a seguinte frase: “nossa única diferença para as formigas é que somos maiores”. E esse texto poderia se desenvolver discorrendo sobre nossa necessidade de aglomero, de trabalho, de convivência, de gente. Mas esse é um texto sobre Deus. Porque talvez essa também seja uma diferença entre nós e as formigas. E a questão não é saber se ele existe ou não, até porque isso não tem a menor importância. O fato é que Deus estabelece sua relação somente com os pobres. O que pode nos levar a pensar que ele seja só uma face do desespero. Mas e não é isso? Eu mesmo apelei a ele quando me vi praticamente sem nada. E sinto que não se pode explicar de forma diferente as coisas que acontecem na vida. Sabe quando falam do mistério da fé? Não é nada mais do que o grande mistério da vida, da sucessão de fatos desconcertantes que nos atingem todos os instantes. E não posso sequer falar de Deus. Porque sinto entrar em um discurso religioso, o que não tem absolutamente nada a ver com o sentimento e a verdade por trás do pensamento que gostaria de exprimir. Não posso falar da alegria simples que sinto ao parar numa esquina de uma cidade que aos pouco se torna a minha cidade e perceber alguma coisa sobre a vida. Do prazer que sinto ao olhar prédios antigos, gente empilhada, bicicletas, carros, ônibus, e saber que sou alguém. É estranho. Me sinto fora de tudo e ao mesmo tempo completamente imerso na loucura que está em torno. Esse é o resumo da felicidade: ser e não ser; olhar e viver; dentro e fora. Uma felicidade tranqüila e duradoura, de saber que as coisas acontecem e saber que posso ao mesmo tempo participar e olhar de fora. É uma sabedoria que só vem com a dificuldade. É saber que um belo sorriso no rosto de quem se deita sempre ao meu lado vale mais do que qualquer outra coisa nesse mundo. Porque quando ele não está ali é tudo uma grande merda. E a dificuldade nem era tão difícil assim, porque foi superada e hoje é só uma lembrança, uma história divertida para contar em mesas de bar do futuro. E se chamo isso tudo de Deus é porque preciso agradecer pela vida, por ela ser assim exatamente como é, e pela certeza de que amanhã ela será completamente diferente; e ainda a mesma. Sim, é um texto complicado. E nem sei porque escrevi toda essa merda. Mas é que tudo parece fazer sentido. Longe das palavras, muito longe; mais ou menos lá onde decidimos dizer que mora nossa alma.

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