Acusam-me de radical. É normal que minhas conversas acabem com um “pô meu, contigo não dá, tudo o que tu não gosta pra ti é merda”. Nada mais óbvio. O que absolutamente não quer dizer que eu não respeite quem tem opinião contrária à minha. Acho, não, tenho certeza, que cada um é livre para ouvir as merdas que quiser. Inclusive eu.
Mas como gosto de provar as coisas, tentarei mostrar agora que não sou tão radical assim. Na verdade sou até eclético demais para o meu gosto.
Sábado. Aquela ressaca chuvosa, pegajosa, tudo úmido demais, nada para fazer. O pessoal da casa já não agüenta mais olhar pra cara um do outro. Os assuntos giram em torno de “ai, minha cabeça”, “maldita mistura de uísque, cerveja, vinho, tequila, cuba, baseado e cigarro”, “cara, tô com uns calafrios”, “tem um Eno aí?”. De repente, não mais que de repente, vem da sala um som firme de bateria, baixo e guitarra distorcida. A cena é a seguinte: meu irmão na frente da tela do computador dançando ao som de Got to Choose, do Kiss.
“Aí velho, vou montar uma coletânea das músicas que eu mais gosto do Kiss”.
“Então tá, uma cada um”.
E aquela tarde que parecia tão depressiva transforma-se, de um momento para outro, numa festa. Room Service, King of the Night Time World, Let Me Go, Rock’n’Roll, Christine Sixteen, C’mon and Love Me. Horas e horas do mais puro Rock. As músicas são analisadas ao extremo. O encaixe das guitarras com o baixo, o sotaque new yorker do Paul Stanley, a lembrança da performance ao vivo.
Já recompostos, hora do banho e janta. E quem assume os alto falantes? B. B. King. Uma coleção de alguns blues funqueados, tipo anos 70, com naipe de metais e backing vocals perfeitos. O típico som para esquecer que existe um som e do nada prestar atenção numa passagem. “Putz, o negrão é foda!”.
No fechamento da preparação para a noite (Beatles Fun Club Band no Garagem Hermética) ainda aparece o guitarrista da nossa banda com sete discos do Elvis para gravarmos no computador. Tem inclusive um especial somente com canções natalinas.
Bem, até agora parece que falei, falei e não disse nada. Ainda podem me acusar de não ter nada de eclético no que ouço. Mas eu tenho ainda um trunfo. Lá vai a prova cabal de que sou um cara que ouve de tudo:
EU ADORO LEGIÃO URBANA!
Sim, é verdade e não tem nada de exagero. Adoro mesmo. Renatão, grande rocker. O fato dele ser uma baita bichona mascara sua verdadeira face: Renato Russo foi, sim, um grande rocker. Lembro como se fosse hoje de uma entrevista, tipo 1989, 1990, em que o repórter pergunta: “o que é a Legião Urbana”. Resposta: “é uma banda de rock, nada mais que isso”.
Para ver como não é fácil admitir que se gosta de Legião, já estava tentando me justificar. O fato é que gosto mesmo. Música, letras, postura, tudo. Desde aquele som semi-punk do primeiro disco, até uma choradeira corta-pulsos tipo Clarisse do disco póstumo.
Para mim o Renato Russo sempre teve uma imagem de irmão mais velho. O tipo do cara que te dá a real, mas não toda. Vai e descobre. Faz algumas loucuras e curte as conseqüências, sejam elas boas ou ruins. Ele foi companheiro em situações importantes da minha vida. Desde os encontros da turma debaixo do viaduto para tomar vinho e tocar violão (Eduardo e Mônica, Pais e Filhos, Que País é Esse, Quase Sem Querer), até a solidão depois que a namoradinha da praia voltava para a Capital (Acrilic on Canvas, Andrea Doria, Teatro dos Vampiros, Só Por Hoje).
Talvez por isso eu tenha sentido tanto sua morte. Putz, foi chato pra caralho. Estava depois do ensaio no boteco, tomando café preto e comendo quindim, quando soa aquela música do plantão da Globo: “morreu hoje o vocalista da banda Legião Urbana, Renato Russo...”, já não ouvi mais nada. Admito que chorei. E talvez por isso hoje eu seja um cara tão eclético a ponto de não ter medo, nem receio, nem vergonha de dizer:
EU ADORO LEGIÃO URBANA!
Mas como gosto de provar as coisas, tentarei mostrar agora que não sou tão radical assim. Na verdade sou até eclético demais para o meu gosto.
Sábado. Aquela ressaca chuvosa, pegajosa, tudo úmido demais, nada para fazer. O pessoal da casa já não agüenta mais olhar pra cara um do outro. Os assuntos giram em torno de “ai, minha cabeça”, “maldita mistura de uísque, cerveja, vinho, tequila, cuba, baseado e cigarro”, “cara, tô com uns calafrios”, “tem um Eno aí?”. De repente, não mais que de repente, vem da sala um som firme de bateria, baixo e guitarra distorcida. A cena é a seguinte: meu irmão na frente da tela do computador dançando ao som de Got to Choose, do Kiss.
“Aí velho, vou montar uma coletânea das músicas que eu mais gosto do Kiss”.
“Então tá, uma cada um”.
E aquela tarde que parecia tão depressiva transforma-se, de um momento para outro, numa festa. Room Service, King of the Night Time World, Let Me Go, Rock’n’Roll, Christine Sixteen, C’mon and Love Me. Horas e horas do mais puro Rock. As músicas são analisadas ao extremo. O encaixe das guitarras com o baixo, o sotaque new yorker do Paul Stanley, a lembrança da performance ao vivo.
Já recompostos, hora do banho e janta. E quem assume os alto falantes? B. B. King. Uma coleção de alguns blues funqueados, tipo anos 70, com naipe de metais e backing vocals perfeitos. O típico som para esquecer que existe um som e do nada prestar atenção numa passagem. “Putz, o negrão é foda!”.
No fechamento da preparação para a noite (Beatles Fun Club Band no Garagem Hermética) ainda aparece o guitarrista da nossa banda com sete discos do Elvis para gravarmos no computador. Tem inclusive um especial somente com canções natalinas.
Bem, até agora parece que falei, falei e não disse nada. Ainda podem me acusar de não ter nada de eclético no que ouço. Mas eu tenho ainda um trunfo. Lá vai a prova cabal de que sou um cara que ouve de tudo:
EU ADORO LEGIÃO URBANA!
Sim, é verdade e não tem nada de exagero. Adoro mesmo. Renatão, grande rocker. O fato dele ser uma baita bichona mascara sua verdadeira face: Renato Russo foi, sim, um grande rocker. Lembro como se fosse hoje de uma entrevista, tipo 1989, 1990, em que o repórter pergunta: “o que é a Legião Urbana”. Resposta: “é uma banda de rock, nada mais que isso”.
Para ver como não é fácil admitir que se gosta de Legião, já estava tentando me justificar. O fato é que gosto mesmo. Música, letras, postura, tudo. Desde aquele som semi-punk do primeiro disco, até uma choradeira corta-pulsos tipo Clarisse do disco póstumo.
Para mim o Renato Russo sempre teve uma imagem de irmão mais velho. O tipo do cara que te dá a real, mas não toda. Vai e descobre. Faz algumas loucuras e curte as conseqüências, sejam elas boas ou ruins. Ele foi companheiro em situações importantes da minha vida. Desde os encontros da turma debaixo do viaduto para tomar vinho e tocar violão (Eduardo e Mônica, Pais e Filhos, Que País é Esse, Quase Sem Querer), até a solidão depois que a namoradinha da praia voltava para a Capital (Acrilic on Canvas, Andrea Doria, Teatro dos Vampiros, Só Por Hoje).
Talvez por isso eu tenha sentido tanto sua morte. Putz, foi chato pra caralho. Estava depois do ensaio no boteco, tomando café preto e comendo quindim, quando soa aquela música do plantão da Globo: “morreu hoje o vocalista da banda Legião Urbana, Renato Russo...”, já não ouvi mais nada. Admito que chorei. E talvez por isso hoje eu seja um cara tão eclético a ponto de não ter medo, nem receio, nem vergonha de dizer:
EU ADORO LEGIÃO URBANA!
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