terça-feira, junho 26, 2007

Implicância (ou como o marxismo sustenta a elite)

Confesso que tenho algumas manias das quais não me orgulho muito. Em determinadas situações saio da minha pacata existência para virar um verdadeiro chato. Já criei algumas boas inimizades, mas não adianta, não consigo me controlar. Implico, por exemplo, com quem gosta de Tom Zé. Se eu sou chato, ele é o rei dos chatos. Quem consegue ouvir um disco seu do início ao fim merece um prêmio de resistência. Pior é que essas mesmas pessoas dizem que Rock’n’Roll é só barulho. Um pouco de discernimento não faz mal a ninguém. Podem até concordar com a postura do cara, mas daí a dizer que ele faz música, e da boa, tem uma grande diferença. Outros que eu não suporto são os fãs dos Los Hermanos. Garanto que todos ligavam para a rádio pedindo Ana Júlia e agora ficam botando banca de intelectual. Se é para ouvir choradeira, que ouçam Legião Urbana. Pelo menos o Renatão tinha alguma coisa a dizer.
Mas o que me dá mais satisfação na implicância não é em relação à música. Eu gosto mesmo é de encher o saco dos comunistas. Se cursam a faculdade de Ciências Sociais então é um prato cheio. O leitor que ainda não reparou, comece a prestar atenção. Quando eles passam no vestibular são jovens felizes, de bem com a vida, tranqüilos na sua suave ignorância. Já no segundo semestre pode-se notar a transformação nos seus rostos. Acho que a palavra ideal é prepotência. Sim, por que leram uma meia dúzia de textos (marxistas) têm certeza absoluta que estão num nível superior a nós, simples mortais. Não sorriem mais. Só conversam entre si, já que não vale a pena desperdiçar sua preciosa saliva com um bando de ignorantes. Claro que não são todos assim. Digamos que só uns 90%.
Em algumas raras oportunidades consigo entrar numa dessas rodas de pregação. É óbvio que só nas que o pessoal ainda não me conhece. Como já disse, sou um chato de galocha, difícil de esquecer. Em algumas oportunidades conto até com a ajuda de alguns amigos (dos 10%) dispostos a dar boas risadas. Depois de um tempo ouvindo, minha primeira frase, invariavelmente é: “quer dizer que o pessoal aqui é todo da religião?”. Olhos arregalados e desconfiados na minha direção. “Que religião?”. “Comunista. Não é disso que vocês estão falando?”. Geralmente eles não têm reação após uma acusação tão forte. Aproveito a brecha para começar meu discurso, sempre o mesmo, com uma comparação entre a ideologia marxista e as religiões.
Dogmas. Assim como qualquer religião, o marxismo vive de dogmas. O velho Marx é Jesus, só que ao invés de paz e amor, ele prega a luta de classes. Afinal, é ou não um dogma acreditar na superioridade moral do proletariado? É uma questão de crença, de fé. Acreditar na revolução num país como o Brasil é outro. Ainda mais se tiver que partir deles. Um exército de bêbados de boteco, armados de garrafas e copos, alguns com sedas e baseados.
A essa altura alguns já estão me acusando de “fantoche do capitalismo”, “reformista otário”, “chupa-pau de americano”. Isso sem contar os “vai-te à merda” e “filho da puta”. Mas sigo firme. Certifico-me de que são todos contra a elite. “Claro”. “Então, o que faz uma elite ser melhor que outra?”. Sim, porque a ditadura do proletariado pressupõe o governo de uma elite operária. É a troca da opressão do mercado pela opressão da burocracia. E o que eles vão fazer com quem não concorda com seu governo? Matar? Extraditar? Prender?
Estou quase chegando no meu auge. Os poucos ouvintes que ainda restam estão só curiosos para ver até onde eu vou. É quando me perguntam: “então qual é a solução?”. “Raulseixismo”, eu respondo. “Como?”. Isso mesmo, Raulseixismo. Só seremos realmente livres no dia em que a única lei for “faça o que tu queres, há de ser tudo da lei”.
Como termina a noite?
“VAI TE FUDÊ, HIPPIE FILHO DA PUTA!!!”. E volto tranqüilo para casa.

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