terça-feira, agosto 14, 2007

Reflexões desconexas sobre o que é Rock'n'Roll


A música é um meio de transmitir idéias; e idéias são também atitudes. Talvez essa seja a única explicação sobre o fato de alguém como Raul Seixas ainda fazer sucesso. De fato, só resiste quem tem conteúdo. "A vasta biblioteca de seu pai foi seu brinquedo preferido", conta Sylvio Passos no perfil biográfico que traça de Raulzito. E agora o próprio Raul: "Eu tinha dois ideais: ser cantor ou ser escritor. Esses dois ideais seguiram comigo paralelamente durante toda a minha formação, que são a música e a literatura". Após o fracasso da sua primeira incursão ao Rio de Janeiro, ele voltou para Salvador, mais especificamente para o seu quarto, onde passou todo um ano lendo e compondo. Ou seja, Raul sabia exatamente o que queria dizer com suas letras. Nada era feito ao acaso ou com simples apelo comercial. Sua música era fruto de uma intensa produção intelectual. "Não sou cantor nem compositor. Uso a música para dizer o que penso". E ele realmente queria atingir as pessoas, "da empregada ao executivo".
Podemos lembrar facilmente de outros grandes intelectuais do Rock. Jim Morrison virava noites discutindo Nietzsche, Jung, literatura Beat e postura rocker. John Lennon foi a própria rebeldia intencional, chegando ao cúmulo de ser contra sua própria vida. Sobre Jimi Hendrix: "sua música é revoltada, falando contra o sistema? Oh, essa música não é revoltada, mas se dependesse de mim não existiria algo como o sistema". Pete Townshend talvez seja um dos personagens mais sóbrios do Rock'n'Roll, mesmo tendo tomado toda aquela quantidade incrível de drogas, como prova em recente entrevista à Rolling Stone. Cazuza e Renato Russo foram a voz da geração Coca-Coca, dos filhos da ditadura.
E o que temos hoje? Dez oceanos de nada. Fico imaginando um encontro entre Raul Seixas e Los Hermanos. Estes dizendo: "não queremos influenciar ninguém", "não somos uma banda de rock", "grande coisa que o George Harrison tocou uma música nossa". Posso até ver a cara de deboche do Raulzito: "bem, vocês terão o que merecem".
Daqui a dois anos ninguém mais saberá quem foram os Los Hermanos.

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