quarta-feira, outubro 31, 2007

Caça-níqueis

Gosto de ver a repercussão na imprensa sobre as ações da polícia na apreensão de caça-níqueis. Até parece que eles fazem um belo trabalho.
Bem, antes preciso esclarecer que não sou contra o jogo. Na real, não estou nem aí; quem quiser que gaste seu dinheiro da maneira que bem entender.
Isso posto, voltemos à polícia e à imprensa. Ao que me consta, o jogo é proibido no Brasil. ZMentira publicou ontem que a Brigada Militar fez operação em um bar na Avenida João Pessoa. Há pouco tempo, invadiram um outro boteco, no Centro.
Depois de ver tanta eficiência, fico intrigado com uma questão: a polícia não anda freqüentando os bairros Rio Branco e Moinhos de Vento. Estou até preocupado com a segurança do pessoal dos carros importados. Se bem que os cassinos da região têm estacionamento próprio e uma tropa de cheque privada para evitar qualquer contratempo.
Vou dar alguns endereços que conheço só de passar na frente:

- Av. Vasco da Gama, 755
- Rua Miguel Tostes, 559
- Av. Independência, na galeria em frente à praça Júlio de Castilhos

Agora sem ironia, a polícia não vai nesses cassinos por causa das Mercedes que estão estacionadas na frente. Como em tudo que envolve os órgãos de repressão, só pobre é que vai em cana. Os ricos seguem cheirando cocaína pura e jogando em cassinos.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Tudo na mesma

Uma semana se passou desde a última postagem. As coisas particulares andam meio complicadas: monografia, bandas, trabalhos....
Pois eis que me volto novamente para o mundo e vejo tudo na mesma. Notícia do Estadão de hoje: “Desmatamento avança no norte de MT”. O pessoal anda substituindo a Floresta Amazônica por pasto para o gado. Ai o nosso Governo Federal, na sua ânsia incontrolável de voltar ao século XVI, anuncia que vai “permitir o plantio de cana-de-açúcar em áreas de pastagem degradada da Amazônia”.
O que me leva a outra reflexão. O Brasil já foi Terceiro Mundo, Subdesenvolvido, Em Desenvolvimento, Emergente, até País do Futuro já fomos, e alguma coisa mudou?
Aqui no Estado a governadora aumenta impostos. Nada de novo no front. O povo paga a conta e os grandes empresários seguem sonegando. Não é invenção minha, são os próprios fiscais do tesouro que dizem.
O Centro de Porto Alegre virou praça de guerra entre camelôs, fiscais da Smic e polícia. Eles querem que os pobres morram de fome ou que apodreçam nas prisões. Ou o cara vira camelô, ou funcionário do tráfico. Na favela (que nosso eufemismo permite que chamemos de “vila”) a gurizada não tem escolha. Até porque eles querem comprar um tênis Nike igual ao dos atores de Malhação.

Pois bem, frente a esse quadro, chego à conclusão de que não adianta nada ficar gastando meu tempo tentando desvendar essas obviedades. Durante a semana este blog vai passar por uma reestruturação, inclusive de conteúdo. Aguardem.

segunda-feira, outubro 15, 2007

ZMentira e a Firma

Será que o pessoal da Zero Hora anda lendo esse blog? Uma super “reportagem”, em quatro capítulos, sobre a Firma, tantas vezes mencionada aqui. É a melhor prova de que a ZMentira (como diria o professor WU) é feita por e para o pessoal dos carros importados.
O texto de ZMentira deve ser lido ao contrário. Ninguém precisa ter medo de traficantes, temos que ficar preocupados é com a polícia. Como diria o garçom Jorge, que circula pelo Gasômetro e Beira Rio com seu isopor de cerveja: “eu saio da vila para ser assaltado aqui no Centro. E quem me rouba é justamente que deveria me proteger”.
Quem financia o tráfico não é a galera que fuma um, é a alta burguesia viciada em cocaína e que hipocritamente banca a política proibicionista. Que maravilha seria se pudéssemos plantar nossas arvorezinhas em casa, com alto controle de qualidade e garantia de um produto 100% natural. Como não temos essa alternativa, somos obrigados a recorrer à Firma.
Vamos à “reportagem”. Sua primeira frase: “como um executivo de bem com a vida, Flávio acorda sem pressa, às 9h, em Porto Alegre”. Aí está tudo explicado. Porém a ignorância e o ódio de classe dos “repórteres” de ZMentira não os deixam enxergar. O discurso da mídia é tão poderoso que já tomou os corações e mentes da população. Todos querem fazer parte do pessoal dos carros importados. Jovens roubam para ter um Nike. Nesse sentido, o que impede que um jovem de vinte e poucos anos queira ser um “executivo de bem com a vida”? Para ZMentira, só quem é da alta burguesia pode se dar a esse luxo. O pessoal da vila tem que ser porteiro, gari, cozinheiro, pedreiro. A política deles é menos escola, mais presídios. Com uma mão dão a ilusão de uma vida melhor no consumismo e com a outra tiram qualquer possibilidade de consumo.
Não acredite em nada do “Grupo”. A RBS é um partido de extrema direita.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Mas que merda!

Esse mundo, do jeito que está, é uma merda. Não tem como não ser.

1- Famílias inteiras moram nas ruas, sob os viadutos. Cozinham papel e arroz em latas de tinta, ou de óleo, usadas. Dormem espremidas contra o frio e envoltas por um cheiro insuportável de mijo e todas as coisas que apodrecem ao seu redor. Não são seres humanos. Aí a madame passa no seu carro importado e o que ela pensa? “Que nojo”.

2- Crianças trafegam como zumbis com suas garrafas químicas pelas calçadas. Já não têm mais cérebro. Fumam crack e bebem cachaça para esquecer da fome. Crianças! De 8, 9 anos de idade. Outros fazem malabarismos nas sinaleiras. Todo o dia, todos os dias. Uma luta incessante por “uma moedinha, tio”. Aí passa a madame no seu carro importado e o que ela pensa? “Que medo”.

3- Milhares de jovens e adolescentes entram na vida do crime. Eles querem um tênis Nike e levar sua namorada para jantar num restaurante bacana. Seu destino é a morte ou um presídio superlotado. Não querem saber de escola. Não querem saber de emprego, porque sabem que serão escravos. Querem uma vida de “Malhação”, de condomínios de luxo. Aí passa a madame no seu carro importado e o que ela pensa? “Vagabundo”.

Chega, ou querem mais?

quarta-feira, outubro 10, 2007

Transportes

Está em todos os jornais: o governo vendeu 2.600 Km de estradas federais. Só para refrescar a memória, ambos os candidatos à presidência no ano passado afirmaram que “nada que fosse público seria vendido”. Quem grita é a classe média, que tem carro. Mas o assunto é sério e atinge também o povão que depende de ônibus para se deslocar. Só para termos uma idéia, uma passagem de ônibus para São Paulo custa R$145. Quem tem acesso à internet, e paciência para procurar, consegue uma passagem de avião por R$100, ou até menos.
Alguma coisa não está certa. E eu digo o que é: o modelo de transportes adotado pelo Brasil. Para babar ovo dos Estados Unidos acabamos com nossas ferrovias e hidrovias. Sim, o Brasil tinha um vigoroso transporte hidroviário. Imaginem se tivéssemos em vez da BR101, a T101, uma linha de trem ligando todo o litoral brasileiro? Menos acidentes, menos mortes, menos poluição, mais liberdade, preços mais baratos, maior contato entre as pessoas, enfim, só vantagens.
É óbvio que os donos do Brasil não iam gostar nada disso. Fazer o bem para o povo não está nem perto dos seus planos....

terça-feira, outubro 09, 2007

Oportunidade perdida

A humanidade perdeu uma grande chance de evoluir. Falo do biênio 1967/68. Como não o vivi, tenho a facilidade de analisar com um certo distanciamento histórico. Com o qual, inclusive, corro o risco de ser extremamente superficial.
Pois bem, morreu Che Guevara. Os jovens comunistas se viram de uma hora para outra órfãos do seu ícone. Foi então a oportunidade dos jovens anarquistas roubarem a cena. Do pacifismo hippie/novo homem norte-americano à rebelião contínua dos franceses, todos tinham uma mesma idéia: acabar com a estrutura vigente.
O que, de fato, conseguiram. Mulheres, negros, homossexuais, e todos que antes sofriam um enorme preconceito passaram a assumir seu lugar na sociedade sem medo. O sexo deixou de ser tabu e passou a ser discutido livremente, assim como o uso de drogas. Tudo isso embalado pela grande revolução musical de Beatles, Rolling Stones, Greatful Dead, Bob Dylan, The Doors, Jimmi Hendrix..........
Realmente uma grande chance. Mas o que sobrou disso tudo? As mulheres, ao invés da liberdade, procuraram a mesma escravidão a que os homens estão submetidos: empregos, salários, sucesso, dinheiro. Sexo virou mercadoria, e hoje está muito longe do verdadeiro sentido do amor. As drogas são usadas para fugir da realidade e não para transformá-la. E, por último, o Rock’n’Roll acabou.
Quando virá a nova revolução? Fiquemos atentos para não perdermos, mais uma vez, a oportunidade.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Os bons piratas

A expressão mais ouvida em qualquer centro de grande cidade é “CD, DVD, Play1, Play2”. Pirataria. Já comentei antes que as lojas de discos estão às moscas, e não é sem razão. Qual o preço de um CD? Os mais baratos giram em torno de R$20. Claro, temos as promoções de R$10, e até de R$5, mas sabemos que tipo de disco é.
O que resta para o povão é a pirataria. Como não comprar um CD com toda a discografia da sua banda favorita por R$5? Ou pagar o preço abusivo dos cinemas, quando todos os lançamentos estão ali na calçada?
Pois bem, estou com a revista Rolling Stone de setembro em mãos. A matéria “Metamorfose Ambulante” trata das modificações do mercado perante este fato. As gravadoras estão muito preocupadas com a queda nas vendas, principalmente por conta da pirataria e dos downloads. Os executivos reclamam e dizem que “a situação do mercado no Brasil é séria, até grave. Pela queda do mercado, que vem se acentuando, devido à pirataria, que é crime organizado, que fomenta o tráfico e a guerra, quanta gente perdeu o emprego?” (Alexandre Schiavo, gerente da Sony/BMG). Seu escritório tinha 500 pessoas e hoje conta com apenas 90. Exigem incentivos do governo para que possam baratear seus produtos.
Agora eu pergunto: quantos jovens viram uma oportunidade de tirar a barriga da miséria com a venda de discos piratas? E o povo, que passou a ter acesso à música do seu artista preferido? Músico nunca ganhou dinheiro com venda de disco. Músico ganha dinheiro em show. É por isso que muitos deles não estão nem aí para a pirataria. Claro que Metallica e o pagodeiro Belo reclamam. Afinal, têm contratos fartos com as gravadoras. Mas os músicos de verdade, aqueles que estão lutando para aparecer, estão felizes da vida com a profusão de música barata, seja na internet, seja nas calçadas.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Violência

Existem muitas teorias sobre as causas da violência. Falta de polícia, miséria, desigualdade social, falta de cadeias, tráfico de drogas...... Tudo balela. Antes de reverberar qualquer uma dessas “verdades” impostas pela imprensa, pense que a culpa pela violência é sua.
Em primeiro lugar, o medo. Grades, condomínios fechados, prédios, carros, e ficamos todos longe do espaço que é nosso; a rua. Devemos tomar conta das ruas, evitar o preconceito e saber que somos todos iguais.
Em segundo lugar, a ostentação. Vocês, por acaso, sabem por que um adolescente coloca a arma na cara de um cidadão e leva seu carro? Para comprar um tênis Nike e jantar com sua namorada em um restaurante bacana. Esta afirmação eu ouvi de um apenado da Fase, antiga Febem: “eu nem precisava roubar. Minha mãe ganha bem, meu padrasto também. Mas eu tenho que andar com dinheiro no bolso. Gosto de me vestir com roupas legais, andar com um tênis legal, sair para a festa com dinheiro”.
Por quê? Fico imaginando como eu, um rapaz de classe média, posso viver na pindaíba, sempre sem dinheiro, comendo uma refeição por dia, e mesmo assim, feliz da vida. De onde vem essa necessidade por bens materiais que fomenta o crime?
Eu tenho minhas respostas. E vocês?

quinta-feira, outubro 04, 2007

Rock é Rock mesmo

Não tenho a prática de reproduzir outros textos nesse blog. Mas este merece:

“O racismo está tão profundamente arraigado nos Estados Unidos que pessoas boas não percebem que suas atitudes são racistas e que estão contribuindo para a revoltante opressão baseada na cor das pessoas. Os criadores e os inovadores da música afro-americana, a única revolução musical importante que ocorreu desde as valsas de Strauss, deviam ser venerados e respeitados. No entanto, Paul Whiteman foi coroado rei do jazz, Benny Goodman, rei do swing, e Elvis Presley, rei do rock’n’roll, enquanto aos gênios negros, como Duke Ellington, Count Basie, Billie Holiday, Joe Turner e Little Richard, que criaram a única forma de música clássica dos Estados Unidos, sempre foi negado reconhecimento em seu próprio país.”

Este parágrafo está no prefácio do livro “A vida e a época de Little Richard”, de Charles White. Vale a pena a leitura. É a própria história do Rock, contada por quem viveu tudo pela primeira vez. Ajuda-nos a entender o porquê da força do Rock’n’Roll e também confirma a teoria de que o que se faz hoje não tem nada a ver com a música original. Rock é rebeldia, contestação, luta, e sim, é coisa de negrão, de pobre.
Fodam-se os playboys do Rock! Fodam-se os bares com preços abusivos! Foda-se a cerveja cara! Fodam-se as gravadoras de discos!
Viva o Rock’n’Roll!!!

quarta-feira, outubro 03, 2007

Um dia qualquer

Já não enxergava mais nada como antes. As imagens pareciam demorar a tomar forma no cérebro. Olhei para o lado e ela estava ali; ainda bem, começava a ficar com medo. Tentei levantar. Na sala o ambiente sufocava. A cara inquiridora do Che Guevara de parede me causava um desconforto imenso. Não tenho culpa, não quero essa revolução. O ar pesado pelas ondas do Rock’n’Roll invadia meu corpo. Levantei. Não sentia as pernas. Não sentia nada do pescoço para baixo; ou seria do pescoço para cima? Dei dois passos e aquela voz me atingiu em cheio: “aonde tu vais”? Aonde eu vou? Ora, sei lá, não me lembro, só tinha que levantar. Olhei na direção em que fui atingido pela voz, e lá estava ela. “Nossa, como é linda”, penso em um acesso de romantismo desenfreado. Caminho na sua direção. Ela está no sofá. Derrubo um cinzeiro, um copo, chego bem perto dela: “me dá um beijo”. Nossas línguas se cruzam num ritmo infernal que leva minha mente para lugares nunca antes visitados. Acho que vi o futuro. Nós dois numa casa, olhando as crianças que brigam por uma coisa qualquer, viro para ela, olho no fundo dos seus olhos e vejo minha vida; eu te amo. Sento novamente no sofá. O ar já não é mais tão importante. Nada mais é “tão” importante. Viro-me novamente para ela e, do fundo do meu coração, digo:
-Que fome, vamos comer alguma coisa?
-Báh, certo! Erva boa essa, né?
-Tô viajando horrores.
-Eu também.
-Eu te amo.
-Eu também.

terça-feira, outubro 02, 2007

Capitalistas não sabem nada de capitalismo

Continua a mobilização dos bancários por melhores salários. Eu, particularmente, acho um saco essa conversa sindical, até porque são todos meio comunas. Fosse um sindicato anarquista e já teríamos bancos pegando fogo, barricadas, tropa de choque....(vai sonhando, vai sonhando).
No entanto, qualquer pessoa que possua o mínimo de raciocínio lógico sabe que é justa a luta dos trabalhadores. Eles querem um aumento de 10,4% (ou alguma coisa por aí). A princípio os banqueiros queriam apenas repor a inflação do período, que ficou em 4,82%. Ontem, dia 1º, a Fenaban acenou com uma nova proposta, 6%. Provavelmente será fechado um acordo em torno dessa cifra.
Agora, vejamos se isso é justo. Todos acompanhamos pela imprensa a emocionante corrida dos bancos em busca do maior lucro. Economistas e jornalistas especializados chegam a chorar quando o Itaú passa o Bradesco. Ou seria quando o Bradesco passa o Itaú? Não importa. De qualquer forma é um espetáculo bizarro. Reproduzo aqui os lucros dos maiores bancos no primeiro semestre de 2007:

Itaú – R$ 4,016 bilhões
Bradesco – R$ 4,007 bilhões
Banco do Brasil – R$ 2,5 bilhões
Caixa Econômica Federal – R$ 1,716 bilhão
Unibanco – R$ 1,422 bilhão
ABN Amro Real – R$ 1,261 bilhão
Santander Banespa – R$ 1,002 bilhão
Banrisul – R$ 725,1 milhões

Paramos por aqui. Será que 10% de aumento para os trabalhadores fariam os donos dos bancos mais pobres? E digo mais, eles, como a ponta de lança do capitalismo, não entendem nada de capitalismo. Dado o aumento, poderiam pleitear uma colocação naquelas revistas que divulgam “as melhores empresas para trabalhar”. Ou quem sabe um selinho de “responsabilidade social”. Com essa ilusão, suas ações subiriam na bolsa de valores, o que aumentaria seus lucros.
Já viram essa? Um anarquista dando aulas de capitalismo. Em que mundo vivemos.....