A juventude é uma coisa engraçada. Aqui na Itália, por exemplo, enquanto o “Papi” faz o que quer no governo eles brincam de Segunda Guerra Mundial. Semana passada começou a se falar aqui em Bologna na possível abertura de um centro social da “Casa Pound”. Essa é uma associação da juventude fascista, Pound em homenagem ao poeta Ezra Pound, que apoiava abertamente o regime de Mussolini. Os outros centros sociais, tanto os comunistas quanto os anarquistas, começaram a se movimentar em uma série de protestos contra essa possibilidade. “Bologna é anti-fascista”, gritam os jovens nas festas. Sim, porque não existe um protesto sem festa aqui em Bologna. Ou seja, os bêbados de Lênin e Bakunin bebem contra os bêbados de Hitler e Mussolini.
O que é totalmente diferente do Brasil. Como esquecer as memoráveis lutas por um restaurante universitário na faculdade de Educação Física encampadas pelo DCE da Ufrgs? Somos muito mais realistas que os Europeus. Mas muda alguma coisa? Enquanto nossos governos fazem de tudo para ajudar nossos honrados empresários a transformarem nosso país em uma economia capitalista de primeira linha estamos preocupados em alimentar os filhos da burguesia com uma refeição barata de R$1,30. Não sejamos hipócritas. Os estudantes da Ufrgs são os filhos da burguesia, e as exceções só confirmam a regra.
Que época é essa onde os jovens perderam o fio da meada? Quando aconteceu isso? O fato é que perdemos um pouco a noção da realidade presente. O fato é que assimilamos demais o discurso de que o sistema é esse e nada pode ser mudado. O fato é que os jovens estão muito preocupados em se tornarem adultos o quanto antes. O fato é que os jovens se esqueceram de sonhar.
A função número 1 do jovem deveria ser afirmar a sua humanidade, exigir seu direito de ser humano. Isso faz parte da construção do indivíduo e, em conseqüência, da sociedade do futuro. Afirmação da humanidade em seus direitos fundamentais: direito à felicidade, à dignidade, à vida. Somente depois de afirmada a humanidade se parte para suas conseqüências imediatas: respeito à felicidade do outro, à dignidade do outro, à vida do outro. Depois de reconhecidas as conseqüências se estabelecem os meios: direito ao trabalho, direito ao ócio, igualdade nas relações. E daqui surge a luta da juventude para que seu programa seja reconhecido pelas instituições oficiais. Uma luta independente da forma, do tipo de organização ou dos meios que se utiliza. Mas uma luta racional. Não uma brincadeira de Segunda Guerra Mundial ou a exigência de um restaurante barato para os filhos da burguesia.
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