sexta-feira, fevereiro 18, 2011

A (i)lógica da linguagem

Pego um livro que parece importante: “A estrutura lógica da linguagem”. Uma coletânea de textos, dos quais o primeiro é do grande G. Frege, assim, com intimidade. “Über Sinn und Bedeutung”. O quê? Não sabe alemão? Pois essa é uma das premissas para ler um livro desses, já que o tradutor se recusa a traduzir Bedeutung. Depois de explicar a impossibilidade da tradução do termo ele diz que, tudo bem, vai usar a palavra Denotação para indicar Bedeutung, e assim o título do texto fica: “Sentido e Denotação” (que no caso está escrito em italiano e eu tomei a liberdade de traduzir para o português, que pode significar um sacrilégio e eu deveria também dar minha explicação de tradução, mas acho que isso já é o suficiente). Até aqui tudo bem. Mas começa o texto. E o nosso amigo G. se pergunta se a = a é a mesma coisa, ou não, do que a = b. Parece muito para minha cabeça, mas vamos lá. Porque se dissermos que a = b, isso significa implicitamente que a = b é a mesmo coisa que a = a e daí teríamos que admitir como correta a formula a = b = a, o que me parece muito estranho. Mas tem mais. O que me garante que no caso b seja alguma coisa em perfeita relação de igualdade com a? Nesse caso, b poderia ser chamado de b, ou seríamos obrigados a dizer que b não é b em hipótese nenhuma, e sim a? Chega mesmo. Daqui eu não passo.

E tem gente que diz que entender esse tipo de coisa é, provavelmente, a coisa mais importante que podemos fazer da nossa vida. Eles não se contentam em admitir que as pessoas conversam, se entendem, e basta. Um dia eu falei essa heresia no curso de Filosofia da Linguagem, onde se estuda Wittgenstein. Meu amigo... metade da turma ficou horrorizada e a outra metade simplesmente riu da idiotice que eu tinha falado, inclusive a professora. Porque pra eles parece ser inadmissível o fato de que as pessoas conversam e se entendem. Isso é impossível. Pelo menos até o dia em que descobrirmos se a = b é igual a a = a. Entendeu? Isso é o importante.

E tem mais. O alemão Wittgenstein diz que só podemos falar as coisas que possuem forma lógica e que todo o resto simplesmente não pode ser dito. O problema (pequeno problema) é que cerca de 90% de tudo o que falamos é o resto. Ou seja, para ele as pessoas falam coisas sem sentido e uns fingem que entendem os outros. Por causa disso o mundo é essa merda que vivemos. Ninguém se entende. Esse é verdadeiramente um grande problema. Mas ainda assim persiste o fato de que as pessoas conversam e se entendem. E agora? Como solucionar esse incrível paradoxo? Infelizmente ainda não sei, mas prometo que vou ficar o resto da noite olhando para as letras a e b do teclado para ter certeza se elas são mesmo diferentes ou existe a possibilidade de serem iguais ou....

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