Abro a caixa de correspondência e, junto com propagandas de restaurantes que oferecem um bife por 15 Euros, encontro o seguinte bilhete escrito a mão:
“Lina, procuro trabalho. Russa, 55 anos, limpa, regular, seria, com experiência, posso passar roupas bem, limpar, fazer companhia.... Tel:347-8087415”
Que tristeza. Minha depressão alcoólica chegou ao limite, e chorei. Chorei ao imaginar a senhora de 55 anos escrevendo sabe-se lá quantos bilhetes iguais a esse sentada na cozinha do seu apartamento. Chorei ao imaginar o desespero que a levou a fazer isso. Chorei ao imaginar o quanto ela não rodou pela cidade, entre agências de emprego e anúncios de jornal, para ouvir sempre o famoso “não” de quem tem os empregos. Chorei por viver numa sociedade onde uma mulher de 55 anos já é velha demais para trabalhar, jovem demais para morrer e não tem direito a uma vida digna. Chorei porque provavelmente muitos dos que receberam esse bilhete riram ou reclamaram da sujeira que as pessoas colocam nas caixas de correspondência. Chorei de raiva porque muito provavelmente quem sentiu a mesma tristeza depois pensou: “é triste, mas o mundo é assim”. Chorei porque o mundo somos nós quem o fazemos e nossa obra é grotesca, cruel e sem sentido. Chorei porque as pessoas acham tudo isso normal. Sim, e chorei porque ontem tomei um porre de bebida falsificada e não posso nem tomar água que vomito. E isso só confirma o fato de que esse nosso mundinho é uma merda.
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