A experiência musical coloca o homem em confronto com a potência da natureza (talvez da sua própria natureza), no sentido em que nos encontramos no estado de ânimo entre o terror e a satisfação plena perante o desconhecido. A música é a arte do desconhecido. O som, que é uma língua “não língua”, e consegue tocar direto na alma do ser, naquele lugar que não é nem experiência positiva empírica da realidade, nem imagem racional, nem divagação mental. Música é o nome desse momento em que somos atingidos no fundo da nossa alma pelo som. E a música nos remete ao estado de ânimo ideal (entre o terror e satisfação plena) que nos impulsiona na busca pelas respostas, a procurar no interior da nossa consciência e no seu relacionamento com o mundo exterior uma explicação aos fenômenos que nos perturbam. A música precede a ciência. A música precede a filosofia. A experiência musical é condição necessária para o desenvolvimento da boa ciência e da boa filosofia. A arte, a sensibilidade artística, atinge seu ápice na sua forma mais abstrata, a música, e só assim nos reconhecemos na origem do ser humano. Nós dominamos o mundo, mas ainda não o entendemos. Ainda não entendemos a natureza. Essa é a mensagem da música. Essa é a reflexão necessária para o desenvolvimento e o progresso da filosofia e da ciência rumo a um mundo de harmonia. A ressonância da música através da história sempre esteve ali para nos lembrar. Aqueles que percebem sabem que não é fácil. O caminho da humildade perante a força da natureza é difícil. Admitir sua potência é o primeiro passo para sua compreensão. A música é o instrumento que reverbera na caixa acústica da humanidade a possibilidade de viver em paz, em harmonia e em ritmo de acordo com a natureza do mundo, que é a mesma natureza de cada um de nós. Pensar a música é pensar nessa força desconhecida. Pensar através da música é buscar na relação homem/mundo a chave para a realização do projeto de paz e felicidade. Mas não será esse o fim? E quem se importa? Não será mais alcançável. Como sempre, o importante é buscar o caminho e saber que o desconhecido sempre estará ali, seja no sistema dodecafônico que elevou a música ocidental ao seu mais elevado limite de complexidade, ou na junção mais simples de três acordes básicos tocados por um negro do Mississipi.
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