Filosofia de bar - II

No fim, por que a gente discute tudo isso?

1. para passar o tempo entre um gole e outro de cerveja;

2. para fazer pose de intelectual e faturar umas gurias;

3. porque futebol e musica não são temas inesgotáveis;

4. porque temos a estranha mania de ler;

5. para manter a tradição do “sistema bar”, que não admite uma noitada sem discussão;

6. porque somos grandes vagabundos.

Por enquanto deixamos por isso mesmo. Mas aqueles dois realmente parecem personagens muito sérios. Um litro de cerveja divido em dois e o mundo já não é mais o mesmo. A utopia ganha ares de realidade. O perigo grandioso da utopia. Relações de poder. Nem as risadas do fundo do balcão atrapalham. Nem a garçonete gostosa. Decretam o fim da filosofia. Os professores são grandes idiotas. Não pensam. Aqui está a razão. A sentença é o sino da cozinha. É o grito do barman. É a garçonete gostosa. Os amigos que não estão nem aí. Voltamos à dialética. O resumo de 2,5 mil anos de filosofia em cinco minutos. Vislumbrar a possibilidade de uma alternativa. “A democracia é só a máscara mais bela do totalitarismo”. Como sair do sistema? A civilização do medo, dos bares e das garçonetes gostosas que só são garçonetes porque são gostosas. E basta. Elas também estão na televisão só porque são gostosas. E basta. E na nova sociedade teremos garçonetes de que tipo? Gostosas. Certas coisas não mudam no mundo imaginário da filosofia de bar. Goles quentes. Como convencer os outros de que estão errados sem querer impor uma idéia? Voltamos ao princípio. E o princípio de que o princípio gira. Dialética. Fim da filosofia. Salvação dialética artística do alemão que se achava melhor que todos os outros. Cerveja quente no pub irlandês de uma Itália esquecida. Sino da cozinha. Nova sentença. “Nós estamos no centro do universo”. Sim, o sol passa todo dia sobre minha cabeça e ninguém vai me convencer do contrário. Hora de ir. Dormir tranqüilo. Estamos salvos. Os bares ainda continuarão a existir por muitos e muitos anos. Pelo menos é o que esperamos.