sexta-feira, abril 01, 2011

Mundo irracional

A escritura andou esquecida. Na mente a frase: “a expressão restringe o pensamento”. É verdade. Triste, mas verdade. Nunca saberemos o que os grandes pensadores realmente pensaram. Enquanto o cérebro trabalha com dialéticas incessantes, escrever é um assassínio. Depois, porém, um crime necessário. Como a palavra falada, que podia ser evitada, mas..... escapa. O importante é pensar. Porque pior é falar e escrever sem pensar. Uma introdução confusa para dizer que a cada dia o mundo mostra mais provas de sua irracionalidade. Se quase três mil anos de cultura e pensamento resultaram nisso que vemos hoje, é melhor, não, é necessário, abandonar tudo e recomeçar do zero.

Leio a notícia de que o nosso governador quer aumentar o salário dos brigadianos e dos professores. Afinal, o que os gaúchos mais pediram nas eleições foi educação e segurança. A democracia fala, o poder escuta. Menos o poder Judiciário, que além de cego é surdo. Só não é mudo. Como os cofres do Estado estão vazios (a turma de cima realmente dá conta do recado quando o lance é roubar), a proposta era cortar os salários dos juízes e estabelecer um teto igual ao do governador: R$ 17 mil. Me parece um bom dinheiro. Mas para os nossos ilustres juízes é um ultraje. Afinal, eles ganham R$ 24 mil por mês. Com que direito um mísero governador de estado pensa em, do dia para a noite, cortar R$ 7 mil do salário de gente tão importante como os juízes? Ainda mais para dar aos professores e brigadianos, a escória da sociedade. Fora de brincadeira, não dá para entender. Onde se gasta R$ 24 mil em um mês? Eu juro que tentei de todas as formas pensar qual é a diferença entre ganhar 24 ou 17 mil por mês e não cheguei a uma conclusão. Talvez porque eu, que me considerava classe média alta no Brasil, ganhava R$ 15 mil em um ano. Trabalhando e me incomodando todos os dias. Depois de seis anos de faculdade. Exatamente como os juízes; muito mais que os políticos. E eu ganhava muito mais que um professor, o que considerava uma injustiça. Afinal, entre um jornalista e um professor, morte ao jornalista. Também ganhava mais que um brigadiano, mas essa é outra questão. Porque o brigadiano defende o patrimônio daqueles que ganham entre 17 e 24 mil por mês, não o meu ou o do professor. Nós que somos gente normal corremos o risco de ir para a cadeia por fumar um baseado ou tomar uma surra em uma manifestação do sindicato. Fato é que os juízes abriram o berreiro e ninguém vai mexer nos seus salários. E ninguém se escandaliza. A maioria até pensa que é certo. É o mundo irracional em ação.

Outra prova? Então pulamos do Brasil para a Itália. Enquanto os caças da força aérea nacional bombardeiam a Líbia para garantir o petróleo e lamber o saco dos Estados Unidos, milhares de refugiados chegam às praias de Lampedusa, na Sicilia. Para os italianos, este é o seu grande problema atual. Afinal, eles não querem mais árabes vendendo bugigangas pelas ruas. Eles realmente se incomodam com isso. Outro dia ouvi um discurso de quase meia hora sobre como um jovem italiano não agüentava mais ser abordado por africanos, árabes e asiáticos que vendem isqueiros, chapéus, carteiras, bolas de gude, papel de cigarro e até livros. Realmente é muita coisa. Melhor seria, então, que eles despejassem bombas nas nossas cabeças, exatamente como fazemos com eles. A maioria acha que os imigrantes são realmente um problema. É o mundo irracional em ação.

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