Ruas. A loucura encantadora das ruas. Um mago sentado no banquinho embaralha o futuro dos passantes. Por qualquer moeda fala de coisas impossíveis. Todas belas. Quem observa tudo é o paquistanês. Não compreende muito. Pouco daquilo além da prisão do seu negócio que é a liberdade de uma qualquer pobreza asiática. Ásia mãe do chinês, que a sua volta não vê nada além dos clientes que pedem um tradicional expresso italiano. Ruas, motos, pressa. Cães gigantes que cagam por tudo. Merda nos sapatos da madame. Centenas de refeições na merda. Uma moeda. Uma troca justa pela perna que não existe mais em frente à igreja. Velhas senhoras em casacos de pele. Não. A moeda é para deus e seu filho que sofre eternamente no altar. Para o belo salame do padre que esbanja gordura sob o manto negro. Ruas, carros, pressa. Meninas perdidas no pensamento. Livros que escondem os desejos vaginais. Vasta cabeleira ao vento exala perfume de mistérios insondáveis. Até o banqueiro esquece os números. Um riso compartilhado. No açougue cheiro de morte. Histórias da antiga cidade com a faca no ventre do pobre coelho condenado a saciar os prazeres da bela família. Quem não participa é o jornaleiro. Triste por ler sempre as mesmas notícias, corrupções, mortes, gols contra e horóscopos positivos. Paulo Coelho também fala italiano para as solteironas. Junto com Sabrina, Cláudia, Elisabete e todas as belas donas das prateleiras. Discos antigos compartilham ácaros com seus livros. Ruas, gente, pressa. Oferta de haxixe com educação. Cheiro de temperos orientais. Justiça e policiais bem vestidos. Cegos de arrogância. Olham o mendigo, ignoram o crime. Toc, toc, toc. Passos de salto. Belas pernas cansadas. Rugas da velhice precoce de quem vendeu a vida por dinheiro. Desejo secreto de nudez. Desejo nu nos olhos sentados em frente ao bar. Brinde ao céu. Brinde às ruas. À loucura encantadora das ruas.
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