Eis que no fim dos anos 60, Raul Seixas chega com seus Panteras no Rio de Janeiro. Ele não sabia que era tarde demais. O som Jovem Guarda que aprendeu a fazer acompanhando Roberto Carlos, Wanderléia e Jerry Adriani em Salvador não é mais o que rola. O que era para ser um sonho se tornou um pesadelo. O disco não vendeu. A banda se desmanchou e o jovem voltou para casa pior do que quando tinha saído.
Reza a lenda, criada e registrada pelo próprio Raul em inúmeras entrevistas, que após a derrocada carioca ele se trancou por um ano no seu quarto. Ali, ele não tinha nada mais que seus discos do Elvis e seus livros de filosofia. Foi um ano de estudo ininterrupto. Dali surgiu outra pessoa. A pessoa que viria a transformar a música popular e, por que não, a cultura brasileira. Não tenho porque duvidar dessa lenda. Aliás é fácil apresentar provas de que ela seja verdadeira. Raul, por exemplo, captou a essência da filosofia revolucionária anárquica. Ele mesmo sempre se disse um anárquico. Como bom revolucionário, deve ter lido Proudhon. Quem sabe algum trecho como esse:
“Segundo o princípio revolucionário, o homem, constituído em estado de sociedade a partir da Justiça que lhe é imanente, não é mais o mesmo que no estado de isolamento. A sua consciência é diversa, o seu ‘eu’ é transformado. Sem abandonar a regra do bem-estar, ele a subordina àquela do justo, tanto que descobre no respeito pelo outro uma felicidade superior, e a seguir a transforma em um hábito, uma necessidade, uma segunda natureza. A Justiça se transforma, assim, em um outro egoísmo. É esse egoísmo, antítese do primeiro, que constitui a honestidade.”
E aí? Deu pra lembrar alguma coisa? Quem é Raulseixista sabe que em pelo menos duas passagens ele faz referência a esse tipo de egoísmo do qual fala o filósofo: nas músicas “Carpinteiro do universo” e “Eu sou egoísta”. A simples conclusão é de que vale a pena parar com a correria da vida, colocar um disco do cara na vitrola, e aprender um pouco com o professor Raul Seixas.
Um comentário:
dalhe medalhista abs
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