A filosofia acaba comigo. Nos últimos dias tenho vivido intensamente a verdadeira guerra entre idealistas e positivistas. Guerra, com certeza. Se fossem eles também adeptos da nossa já tradicional Filosofia de Bar, teríamos o prazer de acompanhar quebra-paus homéricos (hegelianos, wittgenstainianos, schopenhauerianos, fregianos...) pelas ruas da Europa. Isso porque eles são muito apegados às suas idéias. Não aceitam que alguém possa pensar diferente. Para não darem o braço a torcer, exercitam suas mentes em impressionantes exercícios de lógica até não chegarem a conclusão nenhuma, o que significa que, pelo menos, o outro não está certo.
Vejamos por princípios gerais. Os idealistas acreditam que todo o mundo é fruto da nossa mente, ou seja, não existe nada fora dos pensamentos, das idéias. Daí o seu nome. Por causa dessa concepção, o mundo para eles, ou para todos nós, no caso, nunca será nada mais do que a mera representação que fazemos das coisas que estão ao nosso redor.
Já os positivistas acreditam plenamente que o mundo existe fora das nossas geniais cabeças, e o máximo que podemos fazer para conhecê-lo é perseverar nas nossas experiências empíricas. Ou seja, nós nunca poderemos conhecer a totalidade das coisas, porque nosso conhecimento depende da ciência e essa, além de infinita, pode mudar de uma hora pra outra e com ela todo o nosso sistema de conhecimento.
E eles realmente brigam por causa disso. Escrevem artigos irônicos uns contra os outros. Escrevem obras longuíssimas recheadas de exemplos que provam suas teorias. Escrevem, escrevem, escrevem.... por quê?
Acabamos de ver nos dois parágrafos anteriores que eles concordam em um ponto: jamais vamos ter certeza dessa porra toda. Se a nossa incerteza é fruto da nossa mente ou da impossibilidade que apresenta a própria natureza não quer dizer nada. A incerteza permanece. É muito mais importante pensar no nosso papel no mundo do que como nós percebemos o mundo. Até porque a incerteza de qualquer escola do pensamento é a grande prova de que não somos nada, absolutamente nada, para a imensidão do universo. O problema é que os sistemas de pensamento desenvolvidos até hoje nos tornaram arrogantes. Sempre tentamos dominar o mundo através do pensamento sobre o que é esse mundo. Acreditamos que podemos, ou pior, devemos dominar a natureza. Por causa disso somos obrigados a viver com essa noção de progresso que temos hoje, que para piorar foi costurada com a noção de crescimento econômico. Dominar a natureza para gerar mais riqueza. Esse é o grande fruto do pensamento ocidental e de todas as suas escolas.
Não seria belo se, nesse momento histórico de emancipação da América Latina, nós também não fundássemos a nossa própria filosofia, destacada de vez da tradição européia? Nosso povo já tem todos os ingredientes: alegria, cooperação, amizade, força, orgulho, respeito. Com um pouco de esforço podemos racionalizar isso, buscar nas nossas tradições mais profundas e milenares o respeito pela natureza e o sentimento de igualdade entre homens, animais, plantas e planeta. Podemos criar a sociedade do futuro. Já temos riqueza suficiente; temos material humano; temos tradições. Sim, acredito plenamente que nós podemos. O problema é: quem está disposto? Quem tem coragem de encarar o desafio? Quem tem coragem de abrir mão dos seus privilégios? Aí, meu amigo, o buraco é mais em baixo. Pelo menos enquanto tivermos uma elite (cultural, política e econômica) que pensa fazer parte da Europa.
Um comentário:
Nossa Muri, esse povo tá querendo te enlouquecer mesmo! Experimenta assim, de leve, tentar pesquisar a respeito de Allan Kardec e o que ele veio nos dizer sobre tudo isso, mais uma verdade a ser pesquisada, entre tantas outras, mas ao menos a certeza dele é diferente da desses caras que acham que vamos continuar eternamente na dúvida. Vale a fuçada! Beijos saudosos....
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