segunda-feira, julho 23, 2007

Filho da puta

Manhã fria de inverno. O sol é só um enfeite no céu. Camiseta, blusão, moletom, jaqueta, e mesmo assim os músculos estremecem com as rajadas de vento gelado.
Da outra esquina vem um casal de mendigos. Ela com uma garrafa de cachaça na mão, ele com uma sacola vazia. Devem carregar todos os seus trapos no corpo, que mesmo assim parece pornograficamente descoberto. Nada de meias sob os sapatos furados. Calças rasgadas que não passam da metade das canelas. É impossível identificar as roupas do tronco.
Na parada de ônibus estamos eu e outro jovem. O mendigo vem em nossa direção com a mão estendida: “uma moedinha?”. Não, não temos moedas. Vão-se os mendigos. O cara me olha e diz: “vagabundo, por que não vai trabalhar?”. Arregalo os olhos, incrédulo. “Assim a vida é fácil, sai pedindo dinheiro por aí, come, bebe e vive na boa. Como se a gente tivesse que trabalhar para sustentar esses vagabundos”.
Penso em responder alguma coisa, mas desisto. Não vele a pena.
Vivem na boa? Garanto que o playboy nem vai acampar para não sentir frio. Fica o dia todo num escritório climatizado, toma banho com estufa no banheiro, dorme com quantos cobertores quiser.
Não existe outra definição para esse rapaz: é um filho da puta!

Nenhum comentário: