Sábado de manhã, hora da classe média ir às compras. O Centro da cidade mais leve pelas preocupações deixadas na sexta. Até as pombas carnívoras e fumantes parecem mais tranqüilas. As velhinhas olham as antiguidades. É o momento de se fazer o que gosta, de voltar à infância, fitas cassete, panelas de pressão, livros rasgados, moedas e candelabros. Os prédios descascando de cartazes e pretos de fuligem. A feira vem de longe, mas sempre está ali. Olhares desconfiados para os carros. Realmente, é uma bela sujeira. Cheiro de mijo e merda pisoteada por sandálias de grife. Restaurantes mais caros. E sobre tudo, um sol que não agride nem mesmo as camisas pretas. Ainda temos inverno, um pouco de vida e motivação.
São esses os pensamentos desconexos que formam a sensação de aconchego, de pertencimento ao lugar. A rua como extensão da casa, a rua individual e coletiva, nossa rua. Um gole de água para ajudar o cérebro de ressaca e animar o pulmão para o primeiro cigarro. As mulheres, todas lindas, disparam felpas de suas saias. Ele chega na esquina e pára à procura de um porto seguro. Uma das pequenas ruas chama numa voz inconsciente. Casas de carros, depósitos do bem mais valioso e paradoxal da nossa civilização. No fim da primeira quadra, o clube.
A grande sala está praticamente vazia. A menina da porta levanta um só olho do jornal. Ele entra, joga a mochila numa cadeira, senta noutra e suspira um cansaço que não existe. Pega um dos livros atirados sobre a mesa.
Guerras colossais em sua estupidez. Aqueles idiotas deviam se achar tão importantes quanto nós e tudo o que conseguiram foi virar chacota em gravuras de livros escolares. O mundo é essa palhaçada que nós vemos, mas tudo segue inalterado. O humano será sempre humano.
Um clarinete toca Yesterday em caixas de som ocultas por prateleiras.
A música mais gravada da história. Bela música. “Renan Calheiros não deixa a presidência do Senado”. “Onde estão os caras pintadas?”. Estão lutando por um restaurante na Faculdade de Educação Física. Página 3.
Entra mais uma pessoa. A menina desvia o mesmo olho. O senhor de bigode e boné levanta dois dedos da mão direita e segue reto. Tipos estranhos e um vento gelado. A rua nunca tem sol. Norman Mayler, A Luta. O maior combate entre dois homens do século XX. Levanta para mais um cigarro. Um homem-mula sobe a rua com seu lixo. Senhoras encasacadas em peles correm para a porta do restaurante. Todos são muito conhecidos. As palavras traem a sensação, desvirtuam a análise.
O cérebro continua vazio. Só pensamentos instantâneos. A menina segue hipnotizada pelas letras. Vozes se aproximam. Acenos de cabeça e apertos de mão. “Já vou indo”. O mesmo olho. A mesma vida. Sábado de manhã.
São esses os pensamentos desconexos que formam a sensação de aconchego, de pertencimento ao lugar. A rua como extensão da casa, a rua individual e coletiva, nossa rua. Um gole de água para ajudar o cérebro de ressaca e animar o pulmão para o primeiro cigarro. As mulheres, todas lindas, disparam felpas de suas saias. Ele chega na esquina e pára à procura de um porto seguro. Uma das pequenas ruas chama numa voz inconsciente. Casas de carros, depósitos do bem mais valioso e paradoxal da nossa civilização. No fim da primeira quadra, o clube.
A grande sala está praticamente vazia. A menina da porta levanta um só olho do jornal. Ele entra, joga a mochila numa cadeira, senta noutra e suspira um cansaço que não existe. Pega um dos livros atirados sobre a mesa.
Guerras colossais em sua estupidez. Aqueles idiotas deviam se achar tão importantes quanto nós e tudo o que conseguiram foi virar chacota em gravuras de livros escolares. O mundo é essa palhaçada que nós vemos, mas tudo segue inalterado. O humano será sempre humano.
Um clarinete toca Yesterday em caixas de som ocultas por prateleiras.
A música mais gravada da história. Bela música. “Renan Calheiros não deixa a presidência do Senado”. “Onde estão os caras pintadas?”. Estão lutando por um restaurante na Faculdade de Educação Física. Página 3.
Entra mais uma pessoa. A menina desvia o mesmo olho. O senhor de bigode e boné levanta dois dedos da mão direita e segue reto. Tipos estranhos e um vento gelado. A rua nunca tem sol. Norman Mayler, A Luta. O maior combate entre dois homens do século XX. Levanta para mais um cigarro. Um homem-mula sobe a rua com seu lixo. Senhoras encasacadas em peles correm para a porta do restaurante. Todos são muito conhecidos. As palavras traem a sensação, desvirtuam a análise.
O cérebro continua vazio. Só pensamentos instantâneos. A menina segue hipnotizada pelas letras. Vozes se aproximam. Acenos de cabeça e apertos de mão. “Já vou indo”. O mesmo olho. A mesma vida. Sábado de manhã.
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