Ainda tem gente que pensa sobre coisas impensáveis. Coisas importantes. Gente que faz os pesquisadores sérios darem boas gargalhadas. Por que será que as pessoas deixaram de pensar no mundo perfeito? Não é um crime. Não é ridículo. Será que a dominação dos nossos corações e mentes chegou a um ponto tal que eliminou nossa imaginação?
Pensamentos....
Alguém consegue imaginar a intelectualidade brasileira pensando sobre a Utopia? Sobre o sincero desejo de viver em uma sociedade justa e livre?
"Deus o livre!"
“Isso não leva a nada”.
“Deixa de sonhar”.
Como, se o sonho é o único refúgio para a prisão do dia a dia, para os dissabores de uma opressão contínua que sequer sentimos, mas transforma nossa vida no nada absoluto de sempre correr atrás da máquina. E nunca alcançá-la. Correr por um trabalho, correr para pagar contas, correr contra o relógio, correr para se alimentar, correr para fazer festa, correr para o amor. E nunca alcançá-los.
Sim, pensar sobre a Utopia. Pensar sobre coisas melhores. Ter fé na humanidade. Coisas ridículas para uma sociedade escravizada como a nossa. Na melhor das hipóteses taxadas como conversas de bar, mas nunca levadas a sério. Sonho. Sempre melhor que um pesadelo. Ousar ter consideração pelo próximo. Ousar se sentir mal por ter irmãos dormindo nas ruas enquanto outros andam em carros blindados pelas avenidas asfaltadas. Ousar pensar em uma terra de todos e para todos. Ousar a libertação de todo trabalho escravo que paga um salário de miséria. Ousar pensar em um mundo onde todos são respeitados exatamente por aquilo que são, longe dos padrões impostos pelo poder. Ousar um mundo sem poder de uns sobre outros.
Utopia. Sempre imaginária, mas sempre em busca dela, sempre avante na busca por uma sociedade de todos. Utopia. De novo: alguém consegue imaginar a intelectualidade brasileira pensando sobre a Utopia? Não. Tive que atravessar o oceano para ver que não é tão ridículo ter esses pensamentos. Pego nas mãos o livro “A Utopia, refundação de uma idéia e uma história”, do professor Arrigo Colombo. Apenas um dos volumes da coleção “Utopia: por uma sociedade justa e fraterna”, editados através de uma parceria entre a Editora Dédalo, de Bari, e o Centro de Pesquisas Sobre a Utopia da Universidade de Lecce. Ou seja, tem gente séria que pensa sobre sonhos, com o desejo real de transformar, pelo menos um pouco, essa loucura que tomou conta da humanidade. E agora não me sinto mais um louco. Tem gente assim também. Gente séria. Que prefere sonhar a viver em um pesadelo. Quem sabe um dia, ah, quem sabe um dia....