Lá vamos nós para mais uma daquelas festas. Já na entrada da faculdade de Ciências Políticas aquela mistura de Hippie-Punk-Hajneesh que costumamos ver como o melhor que nossa humanidade produziu até hoje. Dessa vez tem som ao vivo, segundo o que indicam os cartazes uma mistura de herdcore-surf-punk-death-rock-alguma coisa. O pessoal caprichou no visual, o que fica facilitado pelo frio de -3 graus. Assim não faltaram coturnos, jaquetas de couro, tachinhas, correntes, piercings, cabelos rastafári, camisas de banda, patches...
Na entrada da “sala de concertos” um belo cheiro de comida quase me faz vomitar por ter a pança já cheia de massa com molho de guisado de porco e bacon. Uma delícia. Antes, não agora. Sem tempo para qualquer reação, como ir até o bar, uma menina me alcança o menu do dia e um panfleto explicativo: antes de verbalizar toda a sua raiva incontida nos microfones a juventude enche a pança com uma janta VEGAN. Faz parte do protesto. Por isso transcrevo aqui o que dizia o panfleto:
“Vegan porque pregamos a rejeição de qualquer produto derivado da exploração animal como uma negação da mercantilização do ser vivo, opondo-nos assim à lógica de mercado que nos quer consumidores de opressão. Consideramos a discriminação como uma base através da qual o homem exerceu seu domínio sobre a mulher, o branco sobre o negro e o humano sobre os outros animais e a terra. Porque pensamos que a liberdade seja uma prerrogativa absoluta e não relativa somente à espécie humana.
Recuperamos aquilo que o capitalismo rejeita procurando evitar o sistema econômico a que ele nos obriga com suas regras de mercado.
Utilizamos também pratos de cerâmica na perspectiva de um menos desperdício, mesmo conscientes de que não seja essa a solução necessária para o aniquilamento do sistema dominante. Procuramos através da prática ‘lave o seu prato’ incentivar as pessoas a rejeitarem a delegação de funções e promover a autogestão... mesmo das pequenas coisas!”
Sinceramente, quase chorei de remorso. Pobre do porquinho que deu sua vida para o prazer banal que senti ao comer sua deliciosa carne a poucas horas. Vacas do mundo, existe uma esperança para vocês!
Mas aí algo me veio na mente. Alguns dos pratos eram bolo de soja, berinjela com trigo, pasta de milho com não sei o quê e salada, muita salada. Visto que estamos na Itália, imagino que a soja seja uma grande doação dos bravos agricultores brasileiros que a cada dia expandem suas belas fazendas do centro-oeste para a floresta Amazônica, sempre com sementes e “fertilizantes” da melhor qualidade fornecidos pela Monsanto. Segundo o Wikipédia, os maiores produtores de trigo do mundo são os Estados Unidos, então devemos agradecer aos bravos norte-americanos e suas melhores indústrias de biotecnologia pela qualidade do trigo da nossa janta VEGAN. Qual a minha surpresa ao saber que quem produz mais milho no mundo é também os Estados Unidos, então, mais uma vez “grazie” aos nossos irmãos do norte por mais esse produto indispensável.
Tudo bem, esse raciocínio pode ter várias falhas, mas serviu para me convencer de que não preciso abandonar meu churrasquinho. Já mais tranqüilo comprei uma lata de cerveja de uma multinacional qualquer, acendi um cigarro da Philip Morris que pedi para um dos companheiros de festa, e pude me divertir valendo com as bandas da noite.
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