sábado, junho 21, 2008

Sempre boas notícias

Como estou a quilômetros de distâncio do Rio Grande, só consigo acompanhar as notícias do estado pela internet. E nada melhor para ficar por dentro dos acontecimentos do que ler a página da Zero Hora.
Pelo jeito as coisas vão bem por aí. A Governadora pode voltar a trabalhar tranqüila, já que o pedido de impeachment, formalizado pelo Pessoal, "não atendia aos requisitos formais". É o que eu sempre digo, esses comunistas precisam voltar para a escola, ou quem sabe fazer um cursinho rápido de Direito constitucional. Perderam a chance de derrubar a governadora por desconhecer os "requisitos formais". O velho Marx deve estar de cara com seus seguidores.
Outra boa notícia é que a cobertura eleitoral do jornal da firma tem tudo para ser um sucesso. Das passarelas. Talvez algo tão bom quanto a cobertura da São Paulo Fashion Week. As modelos já estão quase todas prontas. Digo isso porque estou acordado sábado de manhã e vejo a notícia: "Luciana Genro adota novo visual". Eu sempre achei que ela andava meio caidinha. Também, não vai ser fácil competir com a "top model" Manuela....
Pena que na matéria se esqueceram de perguntar para a Luciana se ela sabe quais são os "requisitos formais" de um pedido de impeachment. Quem sabe ela não poderia dar uma ajuda para a companheirada.

segunda-feira, junho 09, 2008

Os postes e os cachorros

Como vocês sabem, aqui estou longe das coisas do Rio Grande. Mas hoje, ao abrir o jornal da cidade me deparei com a estampa da Dona Yeda, nossa ilustre governadora. O texto trazia toda a repercussão das demissões de secretários e comando da Brigada.
Eu até fiquei intrigado com o caso do Busatto. Imagina, um cara que conseguiu sobreviver após o governo Britto, com toda a falcatrua que fizeram, até que demorou para sair do jogo político.
Mas o que mais me intrigou foi o seguinte trecho:

“Em entrevista coletiva, Yeda se mostrou indignada por Feijó ter gravado e divulgado a conversa com Busatto sem avisá-lo. ‘A fala gravada não tem valor ético ou moral quando um sabe que está gravando e outro não sabe que está sendo gravado’, afirmou a tucana.”

Fico me perguntando: a quem ela se referia quando disse “a fala gravada não tem valor ético ou moral”? Claro que ela estava criticando o vice-governador, por ter gravado a conversa sem autorização.
Mas aí me pergunto novamente: em que mundo estamos? O cara admitir que usa dinheiro de órgãos públicos para se eleger, inclusive um que está no centro de uma investigação em que já foi comprovado o desvio de 43milhões de reais; isso não é o problema. Quem agiu mal foi o cara que descobriu a falcatrua e gravou a conversa.
Eu vivo dizendo e repito mais uma vez: está perto o dia em que os postes vão mijar nos cachorros.

sexta-feira, junho 06, 2008

O bom e velho anarquista

1988, o Brasil se preparava para votar pela primeira vez após a ditadura. Raul Seixas e Marcelo Nova faziam uma turnê nacional com o propósito de “levar um pouco do bom e velho Rock’n’Roll para as pessoas”. Existe ainda a gravação de um show que eles fizeram em Itajaí, Santa Catarina. Eis que antes de subirem ao palco os astros se dispõem a dar uma entrevista. Lembrem-se, o País todo está em clima de eleições e Raul Seixas completamente bêbado e debilitado.

Repórter: O que você está achando de participar da turnê com Marcelo Nova e a banda Envergadura Moral?
Raulzito: Ta ótimo. Estou ensaiando minha banda para o show do ano e espero que esteja tudo pronto após o lançamento de prefeitos no Brasil. (a eleição era pra presidente, Raul tirando onda).
Repórter: Você está apoiando algum candidato?
Raulzito: Não, não. Eu não voto. Eu sou anarquista.
Repórter: O que você está achando da política brasileira?
Raulzito: Eu to achando uma merda.
Repórter: Então você não votaria em ninguém?
Raulzito: Não.

Bela entrevista. São dois os objetivos dessa transcrição:

1. Pense em Raul Seixas quando estiver em frente à urna nas próximas eleições e grite um sonoro FODA-SE a todos os políticos. Depois vote nulo!!!

2. Estou me gabando de ter toda a coleção de DVDs do Raul Rock Club aqui em casa. São 11 discos no total.

terça-feira, junho 03, 2008

Óia os comuna!

A história será sempre objeto de seres especiais. A grande massa humana contenta-se em viver. Como Michel Onfray, por exemplo, conseguiu escrever seu livro Contra-história da filosofia? Ele com certeza não revelou pensamentos médios de outras épocas, não fez emergir o discurso do homem comum. Ele fez algo igualmente importante, porém diferente: deu voz a pessoas especiais que foram propositadamente caladas, justamente pela importância de suas palavras.
Mas e o povão, como era? Provavelmente igual ao de hoje: mais preocupado em viver do que qualquer outra coisa. Não pensemos, porém, que aí não existe nenhum tipo de pensamento ou filosofia. Uma filosofia, na sua maior parte, voltada para a existência. Mas não podemos negar também a existência de momentos de extrapolação. (Não é à toa que a maioria da população do mundo usa algum tipo de substância para alterar seu nível de realidade).
Estou falando do tipo clássico de cidadão que acorda todos os dias para trabalhar ou fazer uma função qualquer. Almoça sempre nos mesmos lugares, com algumas variações durante o mês. Mora sozinho, com os amigos, ou é recém casado. Talvez um filho ou dois. Chega em casa e algumas vezes toma uma cerveja e outras fuma um baseado. Geralmente fica de papo com quem está perto.
É justamente dessa conversa que vem a filosofia da massa. A conversa com o pessoal da firma, com a família, com os amigos, com os irmãos, com a mulher, com as crianças e com os desconhecidos. Disso se tira a filosofia do homem comum, aquela que não aparece em nenhum livro de história, pois parece que estão sempre querendo fazer um confronto de idéias.
Imaginem que papel bárbaro teria uma vertente do jornalismo que fizesse vir à tona o que diz o povo ao invés de defender uma ou outra idéia. Seria a documentação da filosofia do homem comum. Talvez algo como uma conversa que gira em torno dos fatos. Aquilo que comprova que apesar das mesmas informações, cada pessoa racionaliza de forma diferente.

Na verdade isso que está escrito aí em cima não tem nada a ver. O negócio é que vale a pena ler a revista Veja dessa semana e descobrir que ainda tem gente esbravejando contra os comunistas. Guerra Fria total. Acho que é o chamado “Efeito Indiana Jones”:

“Os comunistas estão no governo da maioria dos países latino-americanos. O que você faria para sair dessa?”.

quarta-feira, maio 28, 2008

Costume

Andei pensando sobre o texto abaixo. Que interesse teria a Rede Globo em desmoralizar os índios para permitir a construção de uma hidrelétrica no meio da Amazônia?
Em primeiro lugar, cabe salientar que, mesmo após um acurado exame de consciência, ainda acho que não exagerei na crítica. De fato a “reportagem” demonstra claramente de que lado a emissora está. Então, segue a pergunta: qual o motivo?
Literalmente quebrei a cuca e não consegui descobrir nada. E olha de tenho uma mente afeita a teorias da conspiração. Não só isso. Tenho amigos que são verdadeiros experts em achar interesses obscuros nas maquinações da mídia. No entanto, nada; nem uma pista sequer.
Até que me caiu a ficha: costume!
Sim, eles fizeram isso pelo puro e simples costume de ficar contra as intenções de quem não representa o poder, qualquer poder. Dá ate para imaginar as conversas dentro da redação.
“Esses índios estão contra o progresso”.
“Olha só quanta energia podia ser gerada”.
“Quantas indústrias poderiam ser abastecidas por essa hidrelétrica”.
E pensar nos milhares de hectares de floresta nativa alagados.... “não, isso não faz diferença. Um pouquinho de mata a menos... tem tanta pó aí”. E os índios? “Esses selvagens, por que não se integram e aproveitam os benefícios da civilização? Garanto que nem luz eles têm e ainda estão reclamando”...
Seus cérebros pré-fabricados não conseguem vislumbrar a dimensão do problema. A questão não é a meia dúzia de índios que ficarão sem sua terra; é o povo brasileiro que é bombardeado pela ideologia de meia dúzia de “jornalistas”.

segunda-feira, maio 26, 2008

O milagre da edição

Poucas vezes paro em frente à televisão. Por dois motivos: creio que representa uma degradação do gosto, um tempo perdido em algo que não acrescenta absolutamente nada; e, uma vez que ligo o aparelho, não consigo desligá-lo. Sim, fico completamente vidrado nas imagens que bombardeiam minha retina. Por isso, sempre me esforço para não cair em tentação. Ligo o rádio, pego um livro, o violão, vou dar uma banda, qualquer coisa.
Mas eis que domingo, naquele clima de ressaca sem cura, após uma farta janta com os amigos, resolvi assistir uma telinha. Como não temos TV a cabo, o que sobrou? O Fantástico. Tudo bem, vamos lá, fazia já um bom tempo que não assistia a esse programa, e afinal de contas só estou querendo zerar o meu cérebro mesmo.
Por acaso pegamos bem no começo da parte do esporte, que sempre é a melhor parte, apesar do Colorado ter perdido no fim de semana. O carequinha aquele que apresenta consegue mesmo ser engraçado e a equipe de editores trabalha muito bem na seleção de imagens da rodada. Depois de uns esquetes teatrais ridículos vem a parte que deveria ser interessante, a das reportagens.
Primeiro, uma matéria sobre um pó mágico dos Estados Unidos que regenera partes amputadas do corpo. Interessante. Depois, uma reportagem investigativa sobre os garimpeiros de Serra Pelada, que ainda acreditam ter ouro no local e se matam por isso. Também interessante, não fosse o preconceito no tratamento ao MST, mas tudo bem, quanto a isso já estamos acostumados.
Como podemos perceber o programa vinha bem, não apresentando nada que abalasse a estrutura mental de seus telespectadores. Isso até chegar a parte do conflito entre índios e governo por conta da construção de hidrelétricas no Pará.
Na introdução do tema já podemos notar o viés da reportagem. Algo como “esta será uma das maiores hidrelétricas do País, que beneficiará todo o povo brasileiro...”. A seguir vem a entrevista com os índios. Uma câmera imóvel, com o líder deles à frente empunhando um facão, e outros índios e índias duros como pedra no plano de fundo. Se ele não estivesse usando um cocar e as pinturas de guerra da tribo, eu teria certeza de que se tratava de um vídeo da Al Quaeda. Isso entremeado de imagens dele comprando facões numa loja da cidade. Neste ponto me perguntei: “ora, se eles têm facões só podem ter comprado em algum lugar, afinal eles não brotam da terra”. O repórter, tentando mostrar o quanto eles são maus ainda pergunta: “vocês compraram os facões?”. O índio chega a ficar desconcertado com a pergunta. “Claro que compramos, fui eu mesmo lá e escolhi os que eu achava melhores”. Arrumaram até uma brecha na lei para a possível condenação dos índios envolvidos na agressão ao engenheiro da Eletrobrás: “segundo a lei, um índio acostumado ao convívio com os brancos pode ser indiciado pela Justiça”.
Depois dessa criminalização eles pensaram: “agora vamos falar com o engenheiro ferido no protesto para acabar de vez com a reputação dos índios e colocar todo mundo a favor da hidrelétrica”. Só que eles não contavam que o engenheirão era um baita gente fina. A entrevista à apresentadora do Fantástico foi no Rio de Janeiro, no salão de reuniões da Eletrobrás, com uma câmera para cada um e mais uma de apoio. Primeiro ela perguntou como aconteceu a agressão. Enquanto ele contava apareciam imagens da confusão. Mas aí veio o problema. Quando eles imaginaram que chegariam ao auge, após à pergunta: “o que você quer que aconteça com os índios que lhe feriram?”, o engenheiro me sai com essa: “eu não quero que aconteça nada. Eles estão no direito deles”. Acabou com a repórter. A partir daí a entrevista vira uma série de cortes, perfeitamente visíveis pelo telespectador, até que eles conseguem pescar uma parte que é mais ou menos assim: “a Justiça tem que fazer o que a lei manda”, que eu não duvido que fosse referente a outro assunto que não a agressão.
Pois é, meus amigos, a gente até tenta não ter preconceito com relação a esse tipo de “jornalistas”, mas não dá. Uma hora ou outra os caras saem da moita e nos apresentam alguma coisa assim. É por isso que temos que ficar sempre atentos e como uma Al Quaeda de verdade ir desmascarando esses caras.

terça-feira, maio 20, 2008

Política e leitura

Pois é, meus amigos, a correria anda tanta que mal tenho tempo de olhar o computador, trabalhar então..... Mas para os que andam preocupados, está tudo dentro da normalidade: churrasco, engradados de cerveja, festa no underground, sempre no melhor estilo "peace on earth, sex, drugs and Rock'n' "fucking" Roll".
Mas agora, falando sério, tenho lido algumas coisas interessantes. Como eu sei que todos os governantes do País olham esse blog, vou dar aqui uma dica básica. Lembram-se daquela aula de Literatura Brasileira, com aquela professora que era um doce, e que vocês achavam que a melhor coisa do mundo era passar a perna nela? Pois é, vocês deviam ter lido pelo menos um livro; e aqui vai o nome de um que ela mandou que faria toda a diferença na sua vida como homens públicos: Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Nem precisavam ir tão longe e ler todo o livro. Só a primeira parte, chamada "A terra", já bastava. No capítulo V temos dois sub-títulos importantíssimos: "Como se faz um deserto" e "Como se extingue o deserto". Apesar do equívoco na referência aos índios "Euclidão" coloca algo importante sobre a criação do clima árido dos sertões:

"Ainda em meados deste século, no atestar de velhos habitantes das povoações ribeirinhas do São Francisco, os exploradores que em 1830 avançaram, a partir da margem esquerda daquele rio, carregando em vasilhas de couro indispensáveis provisões de água, tinham, na frente, alumiando-lhes a rota, abrindo-lhes a estrada e devastando a terra, o mesmo batedor sinistro, o incêndio. Durante meses seguidos vui-se no poente, entrando pelas noites dentro, o reflexo rubro das queimadas.
Imaginem-se os resultados de semelhante processo aplicado, sem variantes, no decorrer de séculos....
Previu-os o próprio governo colonial. Desde 1713 sucessivos decretos visaram opor-lhes paradeiros. E ao terminar a seca lendária de 1791-1792, a grande seca, como dizem ainda os velhos sertanejos, que sacrificou todo o norte, da Bahia ao Ceará, o governo da metrópole figura-se tê-la atribuído aos inconvenientes apontados, estabelecendo desde logo, como corretivo único, severa proibição ao corte das florestas."

Podemos ver que o dinheiro sempre falou mais alto que o bom senso nesse pobre País. O que há mais de dois séculos verificou-se no sertão, hoje vemos repetido na Amazônia, com exatamente as mesmas características, inclusive com a criação de gado como fator de degradação ambiental, também já apontada por Euclides da Cunha
Sobre "Como se extingue um deserto", o autor nos coloca o exemplo do Império Romano, que na Tunísia acabou com a seca das suas planícies por um sistema de barragens e cisternas. Observaram que, assim como no sertão brasileiro, de nada adiantavam as chuvas que lá caíam, pois corriam direto para o mar e acabavam por se transformar em mais um ingrediente de devastação do solo. Com o sistema implantado, aquele país transformou-se no "celeiro de Roma". Nada de transposição do Rio São Francisco, só um pouco de inteligência e bom senso. E, é claro, um pouquinho de leitura.

O dia em que salvei o Rock'n'Roll

Sexta-feira saí do trabalho por volta das 22 horas (o popular 10 da noite, como diria minha amiga Cati Carpes), totalmente sem destino. Só sabia de uma coisa: queria beber e curtir um Rock’n’Roll.
Até agora descobri que Joinville tem três bares de Rock. Como eu estava com o espírito de porco à flor da pele, optei pelo mais underground deles, o Old Bar. Mas antes de entrar num ambiente escuro e enfumaçado para encher os cornos de cerveja precisava comer alguma coisa. Eis que esta bela cidade oferece uma ótima alternativa para os boêmios classe C: xis a R$1,25. Claro que não é uma maravilha de comida, mas o objetivo era só tapar o buraco da úlcera mesmo.
Depois da farta janta, achei melhor começar os trabalhos no boteco. Afinal, nunca se sabe o preço que teremos que pagar nesses bares. Encostei a bicicleta na mureta que dá para a rua e mandei baixar uma gelada, “bem gelada, por favor”.
Saciada a primeira parte da sede parti em busca de um lugar para deixar a “zica” (é como eles chamam a bicicleta aqui). No posto de gasolina sequer olharam na minha cara. A sorte foi achar um estacionamento com um carioca gente boa que colocou meu meio de transporte na sua sala.
Tudo pronto e ajustado, comprei mais uma latinha e fui para frente do bar. Eis que lá chegando, me deparo com a dona do estabelecimento, mais os seguranças e funcionários da casa, olhando apavorados para um brigadiano que folheava uma pasta cheia de documentos.
“Esse alvará está vencido, a vigilância sanitária precisa fazer uma nova inspeção, não tem aqui autorização para música ao vivo”, etc., etc., etc., e a mulher cada vez mais desesperada. “Mas o senhor tem que entender que a burocracia é lenta, como pode ver já está tudo encaminhado”. E ele nada, impassível, explicando que teria que chamar o fiscal da prefeitura para fechar a casa. Não me controlei e resolvi fazer parte da conversa.
- Com licença senhor, qual é o problema aqui?
- O bar está com os alvarás vencidos.
- Bem, mas o senhor já viu que está tudo encaminhado, e é difícil acreditar que todos esses papéis - realmente tinha uma pilha deles - não sirvam para nada.
- Na verdade o problema maior nem é esse, é o barulho que esse pessoal que fica aqui na frente faz. Aliás, quem é o senhor?
- Sou só um cidadão, cliente do estabelecimento.
Ele me olhou e decidiu continuar contando que teria que fechar o bar, chamar o fiscal e só se ele fosse muito camarada deixaria o bar funcionar essa noite. “Puta que o pariu!”, pensei, “só porque eu quero curtir um Rock’n’Roll! Não admito que justo hoje vão fechar a bodega”.
- Com licença meu amigo, se o senhor me permite uma palavra.
- Sim.
- Na minha opinião, se o problema maior é na rua, a responsabilidade é do poder público. Quanto à situação do estabelecimento nós já vimos que está sendo resolvida, só emperra na complicação da burocracia.
- Sim, mas o bar é a causa dessa aglomeração de gente aqui. Nós também já notificamos o posto ali da esquina.
- Bom, garanto que a proprietária do bar gostaria que estivessem todos lá dentro. Garanto para o senhor que ela também acha essa aglomeração ruim para seus negócios. Além disso, o posto está funcionando, e lá tem muito mais gente na rua do que aqui. Isso que, como o senhor mesmo disse, eles já foram notificados.
- É, pois é....
- Quem sabe a gente faz um acordo aqui: o senhor dispersa a aglomeração e os seguranças do bar se encarregam de não deixar se formar novamente. A proprietária do bar faz uma pressão para encaminhar os papéis e na próxima semana o senhor volta acompanhado dos fiscais para averiguar a situação. Até porque não vamos fazer o cidadão sair de casa a essa hora, quase meia noite.
- É, acho que é justo. Ficamos assim então: o bar fica aberto até as duas da manhã, a senhora encaminha os papéis e o senhor (segurança) se responsabiliza em dispersar o pessoal.
- E quem estiver dentro do bar às 2?
- Quem estiver dentro pode ficar, só não entra mais ninguém.
Todos concordam com as exigências, mal segurando o riso em frente ao oficial da lei e da ordem. Quando ele sai, os músicos vêm me agradecer: “valeu aí cara, já estava pensando que a gente não ia tocar”. Eu não fiz nada de mais, só queria curtir uma noite de Rock. O pior é que quando pedi um desconto na entrada, a dona do bar se negou! Disse que tinha que pagar as bandas e tal....
Tudo bem. Fiz um monte de amigos lá dentro e voltei para casa com a certeza de que pelo menos uma vez na vida eu salvei o Rock’n’Roll.

sexta-feira, maio 16, 2008

Filosofia de um belo dia

A grande maravilha do mundo é seu paradoxo de ser resumível e complexo. É tão fácil dizer que a maioria dos dias são bons que prefiro taxá-los como ruins. O que é bom? O que é ruim? O que é suficientemente bom para que possa influenciar o julgamento de todo um dia, 24 horas das quais dormimos uma grande parte e não pensamos nos outros 90% do tempo? Quantos segundos de pensamento serão suficientes para tal julgamento? Meu bom é o seu horrível, e dele temos exatamente a mesma impressão, o que me transforma em uma pessoa completamente insensível a seu sofrimento por estar gozando plenamente de sua desgraça pessoal.
O sol, maldito astro que esquenta a face dos pobres mortais que são obrigados a caminhar sobre esta terra, é tão bom que se tornou fundamental para a vida. Maligno destino para esses pobres animais que se julgam tão independentes....
No momento tenho um gole de uísque (importado, de boa qualidade), uma carteira de cigarros pela metade (bom sinal), um disco do Iron Buterfly (que não coloco para não roubar minha atenção), uma varanda, um cinzeiro e uma tela na qual posso colocar estas letras; e tudo isso parece tudo o que preciso para dizer: esse foi um bom dia.
Que se foda a guerra, os mendigos, a miséria, a corrupção, os idiotas que infestam as ruas, a televisão, o teatro, os discursos, as idéias, o caminho do bem, o do mal, o câncer e a arritmia cardíaca.
Que se foda Plutão, Júpiter, março, abril e maio, o escorpião, a cobra, os anjos, o futebol, o grito preso na garganta, o palito de fósforo que se quebrou antes de queimar, a porta da rua, o gato, o cachorro e a zebra solitária na casa lotérica.
Que se foda a lamparina, a churrasqueira, meu amigo sentado ao lado, a planta que brota solitária vencendo a força do asfalto, a bossa nova, o violão desafinado, o grito do rebelde sem causa, a casa que todos gostariam de ter, o carro do ano, o jornal, o chefe, o empregado, a folha de pagamento, o caos, a bicicleta, o exercício, a paciência, o café, a panela, a comida e o sonho.
Egoísta? Claro que sim!
Frrrrr-ahhhhh!!! Que belo calor no esôfago!
Só uma coisa é certa: no futuro lerei este texto e então vou me lembrar de um belo dia.

quinta-feira, abril 24, 2008

Atualizando...

Depois de um tempo distante, considero-me na obrigação de atualizar os amigos leitores sobre o que anda acontecendo por aqui (no caso, Joinville).
Na verdade, nada muito interessante. Sofri como um louco ouvindo o Colorado pelo rádio.... meu Deus, vocês não imaginam o que é isso. Eu, que vou a todos os jogos do Beira Rio, preso quase na casa do inimigo, já que estamos a cento o poucos quilômetros de Curitiba, quase morri do coração. Ainda bem que deu tudo certo.
Algumas coisas bizarras aconteceram. Terremoto, por exemplo. Eu não senti nada, mas tem gente que jura que tremeu a terra por aqui. Foi capa de todos (os dois) jornais da cidade. Dando uma banda pela redação do jornal ANotícia descobri que a invenção é prática corrente da atividade jornalística. Estava conversando com o Editor Executivo enquanto ele procurava a matéria que tinha mandado para o Diário Catarinense. Achou, por fim, uma notinha na editoria de Geral. Foi olhar a hora da publicação: 22h 23min. “Que sacanas”, ele disse, “há essa hora eu nem sabia que tinha terremoto aqui”. Ou seja, simplesmente inventaram.
Outra coisa maluca foi o padre que se prendeu numa pilha de balões e alçou vôo num domingo de chuva torrencial. Morreu, é claro. Pobre padre, mas que coisa idiota foi fazer. Nem eu, nos momentos de maior loucura da minha vida, tive a genial idéia de ganhar os céus amarrado em balões de aniversário de criança. Doido; de atar. Literalmente.
Bueno, era isso. Uma hora dessas comento sobre os políticos daqui, que são umas feras, os reis da cara de pau.

quinta-feira, abril 17, 2008

A (i)lógica do carro importado

Não custa nada um exercício de humildade. Vamos tentar entender como funciona a mente de um carro importado. Sim, porque deve existir um motivo para que se fale tanta merda sem noção.

Um ponto importante deve ser o histórico familiar. Sendo aqui do RS, as maiores chances são que provenha de um desses três troncos: estancieiros da fronteira, imigrantes italianos, imigrantes alemães. O carro importado sempre recorre ao fator história quando se vê acossado: “meus antepassados chegaram aqui sem nada e trabalharam muito para conquistar o que temos hoje”. De qualquer forma cabe notar que este patriarca da família TINHA TERRA, ou conquistada na ponta da faca, ou recebida do governo. “Mas as condições eram inóspitas”, defende-se o carro importado. Ninguém questiona o heroísmo do fundador do clã, porém o fato é que ele TINHA TERRA.
Passam-se os anos e a família torna-se urbana. Médicos, advogados, empresários, comerciantes, todos prontos para aumentar ou, no mínimo, manter as riquezas já conquistadas pelos ancestrais. Na sua mente está cravada a frase: “tu és o que tu tens”, forjada nas dificuldades de antanho. Ele a desenvolve em faculdades de administração e cursos de especialização no exterior (USA).
Se “tu és o que tu tens”, então por que dividir? A doutrina capitalista cai como uma luva sobre esse conceito que foi formado numa época onde as pessoas realmente precisavam lutar por seus bens. Se o lucro da tua empresa diminuir de 1 milhão para 900 mil, demite a mão de obra “excedente” e faz com que os outros trabalhem mais pelo mesmo preço. No próximo mês as contas estarão em dia.
O carro importado só pensa em trabalho. Ele tem uma mulher plastificada, a madame-carro-importado-sobrenome-importante, que usa para ostentar perante seu amigos. Sexo de verdade ele faz com outras, e ela com outros. Os filhos são bonecos tecnológicos criados em instituições que repetem à exaustão o mantra “tu és o que tu tens”. O carro importado acredita no que lê no jornal, porque é exatamente aquilo que ele pensa. Para ele, a Veja é a voz de Deus e a Folha de São Paulo é um jornal de “esquerda”.
Pois acontece que um dia o carro importado é convidado a dar sua opinião em um programa de TV. Conversa vai, conversa vem, e o assunto acaba no MST. Eis o que diz nosso amigo: “esses marginais deveriam estar todos presos. São bandidos que invadem a propriedade de pessoas honestas, que invadem empresas que estão investindo no progresso de nosso estado. Esses baderneiros não querem terra, eles querem acabar com a ordem do nosso Estado Democrático de Direito. A polícia deveria prender todos. Só com repressão vamos acabar com esses episódios que mancham o nome da nossa nação”.
Ele sai da emissora e volta para seu escritório de luxo e ar-condicionado com a certeza de que deu sua contribuição para o país.

No fim das contas, o carro importado esqueceu que ele só é o que é porque seus antepassados TINHAM TERRA. Ele não consegue pensar que se uma pessoa se sujeita a morar debaixo de lonas pretas na beira de uma estrada é porque ela já passou muita FOME. Ele não consegue pensar num mundo onde todos tenham oportunidade de fazer o que quiserem, pois ELE NÃO PODE FAZER O QUE QUER. Nosso amigo carro importado é um ESCRAVO DO DINHEIRO, e por isso não admite que outras pessoas queiram ser LIVRES.

quarta-feira, abril 16, 2008

Quilombos modernos

“A Firma é forte”, diz a pichação no muro. Essa com certeza é, já que há mais de dois anos são os mesmos caras que controlam o negócio. Claro, alguns deles passam uma temporada na Fase, mas não dá nada, no fim de semana estão todos ali de qualquer jeito.
Quilombos modernos, meu amigo. No caminho de terra a tia (negra) do boteco olha desconfiada para o magrão de calça jeans, tênis, camisa pólo e mochila. Nunca se sabe. Pode ser dos hômi. Agora deram pra vir de táxi arrepiar a gurizada, e sem a gurizada não tem movimento, e sem movimento não tem a mixa de todo dia.
Na primeira quebrada estão eles, escondidos de quem olha da rua, reunidos num bando de cinco, falando merda como qualquer gurizada do mundo.
“E aí cabeça, que vai ser?”.
“Cinqüenta contos de maconha”.
“Ah, isso tem”.
Não estão vendendo pouco porque está no fim. A credibilidade da Firma é não deixar faltar para quem pega bem, quem é cliente. É um negócio como outro qualquer.
Ali estão, cinco rapazes, todos negros (Quilombos modernos, meu amigo), e um “playboy” de faculdade todo cagado fazendo cara de que não está preocupado. Que tal essa: o “playboy” vive com um terço do dinheiro que cada um deles fatura no mês com tráfico, pequenos furtos e bicos pelo Centrão. Por acaso vale a pena pagar pato no colégio, entrar na faculdade e ter que viver de salário mínimo? Aqui é todo mundo negrão e na Vila mais cedo ou mais tarde o cara empacota, então é melhor deixar como está, viver aqui e agora e já era.
“Aí meu, é verdade que lá por 92, 94, as gurias eram tudo limpinhas? Tipo, não tavam bichadas como essas de hoje?”.
“Acho que a maioria era”.
Nisso aparecem duas gurias (negras), uma grávida, outra com uma criança no colo. Olham o “playboy” com uma cara de “mas que otário” e vão seguindo seu caminho. Será que estão bichadas? Com certeza transaram sem camisinha. E as crianças?
A gurizada fala de bonés. O meu Adidas, o meu Nike, o meu não sei o que. De bonés para putas. As casas de massagem do Centro oferecem um bom pedaço de carne a 20 contos.
“Passei lá hoje de tarde, mas só tinha uma gostosinha. Os nego já tavam fazendo fila”. Que vida louca. Putas, drogas, doença, dinheiro.
“Aí meu, vou ligar pro cara, já ta demorando demais”.
“Sem pressa”.
“Não, mas depois tu toma um paredão de graça... aí fica ruim”.
“Pior”.
Nem precisou, lá vem o neguinho trazendo a encomenda.
“Ta meu, te manda”.
“Valeu”.
“Quando quiser tamos aí”.
Lá se vai o “playboy” e o encontro entre brancos e negros se encerra por hoje. Quilombos modernos, meu amigo.

terça-feira, abril 15, 2008

The Doors e a verdade sobre Rock'n'Roll

Só para variar, segunda-feira é um dia de cérebro vazio. Esta, devo admitir, foi um pouco pior, pois fomos incentivados pela frase “peace on earth, sex, drugs and Rock’n “fuckin” Roll!!!”, proferida pelos Doors. Sim, eles vieram e mostraram porque eram considerados a melhor banda da geração hippie.
Passada a emoção do show, faço uma reflexão sobre a frase citada acima. Será que as pessoas que estavam lá entendem o seu verdadeiro significado? Me parece que hoje se eu subo num palco e grito a pleno pulmão “paz na terra, sexo, drogas e Rock’n’Roll”, serei tratado como um ator representando algo que não existe. O que nos anos 60 seria considerada uma atitude extremamente subversiva, tanto que Jim Morrison foi levado várias vezes à delegacia por isso, hoje é totalmente banalizada. Por quê?
Não sei. Mas é certo que o Rock perdeu muito de sua força. Também, depois de anos com músicos palha vindo à mídia para dizer que “não é nada além de música”....
Como assim? Quer dizer que Jim Morrison e os Doors, por exemplo, não transformaram uma vírgula sequer da sua vida? Quer dizer que eles foram a ponta de lança para acabar com toda a repressão de uma sociedade hipócrita e agora que temos, em tese, toda a liberdade não somos capazes de reconhecer sua revolução e vamos para a mídia dizer que Rock’n’Roll é “só música”?
Tudo bem, agora fiquei nervoso. Mas é que eu sei que nem 10% das pessoas que estavam no show compreenderam o que estava sendo falado. A vida rocker exige uma série de responsabilidades. Precisamos conhecer nossa História para que o movimento não vire “só música”. Encerro aqui com um dos últimos ensinamentos do nosso mestre Raulzito:

“É preciso cultura para cuspir na estrutura”.

sexta-feira, abril 11, 2008

Comunicado urgente para o Exército Subversivo

Pessoal, estamos perdendo a guerra. Ontem fomos atingidos seriamente pelo inimigo na nossa Fronteira Sul. Nossos bravos soldados, liderados pelo glorioso general Sérgio de Oliveira Campos, bem que tentaram resistir, mas não teve jeito. O inimigo recrutou pelegos como guardas, fiscais de trânsito, do meio ambiente, oficiais de Justiça, procuradores da prefeitura e operários da Secretaria de Obras, que foram transportados para o local em oito caminhões. Nossos praças estavam em número reduzido, aproximadamente 40, e em quantidade e qualidade inferior de armamento. Enquanto o inimigo contava com retroescavadeiras, enxadas, revólveres 38 e espingardas, os poucos heróis procuravam defender suas posições com paz, amor, mesas, copos, garrafas de cerveja e meia dúzia de baseados. Agüentamos o máximo, até que, vislumbrando a derrota iminente e um provável banho de sangue, decidimos por recuar e entregar o posto ao inimigo.

Agora, falando sério, demoliram o Timbuka, tradicional boteco da Zona Sul de Porto Alegre. A principal reclamação: era um ponto de maconheiros. A alta sociedade não suporta ver pessoas felizes, jovens que estão pouco se lixando para o dinheiro, que só querem sentir a brisa do fim de tarde com a cabeça nas nuvens. Não, eles preferem que seus filhos se tranquem em um banheiro de luxo da Padre Chagas (Calçada da Fama) para uma farinhada individual.
Por isso nosso lema é A ALEGRIA É A DERROCADA DO SISTEMA. Colabore com o movimento. Leia e siga nossos mandamentos. Só com uma grande rede de terroristas do amor poderemos derrotar nossos inimigos.

quarta-feira, abril 09, 2008

O bom e velho Engenheiros

Hoje acordei e, como sempre, coloquei um disco antes de entrar no chuveiro. Desta vez foi Ouça o que eu digo: não ouça ninguém, dos Engenheiros do Hawaii. Uma obra prima. Algumas músicas são fantásticas, como Cidade em chamas, Sob o tapete, ?Desde quando?. Acabo o banho e viro o lado (sim, estamos falando de LPs). Depois de A verdade a ver navios, uma música que nunca tinha realmente prestado atenção antes: Tribos e tribunais. Com certeza o Humberto estava no seu auge como compositor. Reproduzo abaixo a poesia. Lembrem-se que o disco é de 1988. Existe, por acaso, algo assim nos dias de hoje?

Todo dia a gente inventa uma alegria
A gente esquenta a água fria
E ignora a bola fora

Toda hora a gente dá um desconto
A gente faz de conta
Mas chega a um ponto em que ninguém mais quer saber

Crimes passionais
Profissionais liberais demais
Segredos de estado
Centroavante recuado

Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem
Tem muita gente se queimando na fogueira
E muito pouca gente se dando muito bem

Agente secreto
Agente imobiliário
Gente como a gente
Presidente e operário

Empresas estatais
Estátuas de generais
Heróis de guerra
Guerra pela paz

Indús, industriais
Tribos e tribunais
Pessoas que nunca aparecem
Ou aparecem demais ...refrão

Críticos da arte
Arte pela arte
Pink Floyd sem Roger Waters
Torna sem função

Fascista de direita
Fascista de esquerda
Empresas sem fins lucrativos
Empresas que lucram demais
Todo dia a gente inventa e fantasia
A gente tenta todo dia
Feitos cegos
Egos em agonia

Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem

terça-feira, abril 08, 2008

1984 é agora

Ontem não publiquei esta tão esperada coluna porque só conseguia pensar em futebol. E como todos sabem minha preferência clubística já podem imaginar o tamanho da flauta que vinha por aí. Resolvi calar.
Mas eis que durante a tarde mantive uma conversa literária com um amigo, basicamente sobre o livro 1984 de George Orwell. Por acaso você, amigo leitor, lembra-se de quando o mundo era dividido entre comunistas e capitalistas? Pois bem, os últimos ganharam a queda de braço. O socialismo morreu. Morreu?
Não sei se vocês percebem, mas tenho a sensação de que este sistema social que vivemos é definitivo, que não existem alternativas para mudá-lo; talvez, no máximo, ajustá-lo para que seja mais eficiente. Penso: quem colocou essa idéia, ou essa percepção, na minha cabeça? Seria por acaso aquela máquina de novilíngua instalada no meio da minha sala? Não, não pode ser. Quase não ligo o aparelho, só para assistir jogos de futebol. Terá sido o papel impresso com novilíngua que recebo em casa? Também não pode ser. Considero-me inteligente o suficiente para não acreditar no que dizem.
E agora, como que eu, um cidadão inteligente o suficiente para não acreditar na novilíngua, que não assiste TV ou ouve rádio, com uma boa média de leitura e em contato com pessoas igualmente inteligentes das mais diversas áreas, tenho essa percepção?
É, meus amigos, 1984 é agora.

sexta-feira, abril 04, 2008

O primeiro mandamento

Agora tu imagina a cara do magrão:

- Polícia!!! Abre a porta!!!

“PUTA QUE O PARIU!!!”

Cenário: no quarto 3x4 da casa de estudantes tem uma cama, um armário que divide a parede com uma mesa de estudos e uma janela. Sobre a mesa três baseados enrolados. No pequeno espaço que pega sol das 11h às 15h, o orgulho da casa: um pé de Cannabis de quase dois metros de altura. A planta fêmea já está quase no ponto. A galera da Filosofia vem todos os dias fumar um e apreciar essa maravilha do mundo natural, imaginando o dia em que será degustada a pura erva.

Eis que um belo dia a caretona, estudante de Direito (ou seria de Administração, Medicina, Psicologia, Jornalismo...), resolve que não agüenta mais aquele maravilhoso cheiro adocicado, os risos de pura alegria, as festas ao som de Rock’n’Roll. É muita tentação e ela não pode ceder aos encantos do Demônio. O que ela faz? Chama a polícia.

No dia seguinte está no jornal: “Polícia apreende pé de maconha em Santa Maria. Três alunos da UFSM foram presos suspeitos de tráfico de drogas dentro do Campus.”

É por isso que o mandamento número 1 do nosso movimento é:

PLANTE CANNABIS NA RUA!!!

quinta-feira, abril 03, 2008

Atitudes

Sobre atitudes que podemos tomar, reproduzo a coluna de 12 de junho de 2007, acrescida de novos itens.

Para quem não sabe, este blog faz parte de uma rede semi-clandestina de apoio a ações subversivas, com sede em diversos países do mundo. Nosso lema é “a alegria é a derrocada do sistema”. A seguir, algumas ações que qualquer pessoa pode fazer para ajudar nessa luta:

1- plante cannabis em parques, praças e canteiros da sua cidade;
2- apareça mascarado em manifestações de partidos de direita;
3- apareça com a mesma máscara em manifestações dos partidos de esquerda;
4- nunca compre jornais, todos mentem;
5- dê um abraço num mendigo;
6- ao passar por uma prostituta de rua, faça um elogio;
7- não fale com repórteres;
8- ao ver um carro oficial, dê uma cusparada no pára brisa;
9- faça o mesmo ao ver um carro de luxo;
10- não fale com a polícia, eles são a face armada do inimigo;
11- escreva frases de amor nos muros da cidade;
12- invente uma nova profissão;
13- ouça Rock’n’Roll no volume máximo;
14- vote nulo (e arranje uma boa justificativa para tal);
15- conheça as pessoas de sua cidade. Uma volta pelo Centro é sempre um bom programa;
16- visite os sebos, as lojas de vinil e as “firmas”;
18- seja expulso de um shopping por “andar em grupos de mais de 5 pessoas”;
19- ouça a Radio Web Putzgrila;
20- seja feliz.

quarta-feira, abril 02, 2008

O povo das ruas

Você fica constrangido com os pedintes na rua? Sim, tudo bem, não precisa ficar com vergonha. Ninguém gosta de ver pessoas dormindo na calçada, esfarrapadas, obrigadas a esmolar para manter uma curta sub-vida. Mas se a pergunta é “por que eles estão lá?”, a resposta é muito simples. Basta pensar um pouco. Vamos aos fatos:

1. A madame chega no seu Mercedes de R$ 150 mil e estaciona na garagem do shopping para fazer umas comprinhas. Precisa de um tênis para a academia. Compra um Nike baratinho de R$ 500, afinal não se pode abrir mão do conforto. Precisa também de uma calça de brim para as situações mais descontraídas. Na Guess tem uma promoção incrível: R$ 800 uma calça moderníssima que já vem rasgada!!! Ufa! Depois de tanta emoção ela precisa reabastecer a energia. Compra um prato de massa industrializada com molho pronto e salada transgênica por R$ 20. Olha que coincidência! A mãe do Paulinho, namorado da sua filha. Beijos, beijos e vão tomar um cafezinho de R$ 5. Despedem-se e nossa heroína, já cansada vai ao salão de beleza. Massagem, escova, unhas de pé e mão, tudo isso pela módica quantia de R$ 350. Que dia cheio.... Finalmente chega de volta à sua Mercedes, depois de pagar R$ 10 para o estacionamento. Ao parar na primeira esquina dá graças a Deus pelo ar condicionado, pois assim não precisa abrir a janela e enfrentar as crianças com a mão estendida.

2. Sete horas da manhã começam os primeiros movimentos de carro na rua. As cinco crianças dormem amontoadas em um colchão sob uma marquise. São acordadas com gritos e chutes pelo zelador, que imediatamente após sua retirada lava a calçada com um jato de mangueira. Os jovens sonolentos vão guardar suas coisas no terreno baldio duas esquinas adiante. Caminham para o parque e tomam um banho de chafariz. Só de cuecas e calcinhas deixam a roupa secar nas pedras que a essa altura já estão quentes pelo sol escaldante. Isso até que os guardas municipais apareçam e eles tenham que fugir correndo. Já passou do meio dia e tudo o que comeram foram umas bananas que conseguiram num mercadinho. Colocam-se numa esquina, onde os meninos fazem malabarismo com uma calota enquanto as meninas passam para recolher as moedas. Durante cinco horas nessa função conseguem R$ 10. Felizes da vida com o dia lucrativo, compram uma garrafinha de loló, dois pacotes de bolacha, um salgadinho e uma Coca-cola. Ainda sobra para chicletes. Voltam para sua marquise e se deliciam com seu banquete.
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P.s.: "69% do entrevistados se sentem contrangidos quando abordados por pedintes". Alguém, por acaso, vai fazer uma pesquisa para saber quantos mendigos se sentem contrangidos em ter que pedir?

terça-feira, abril 01, 2008

Três colunas abaixo...

....eu disse que eles tinham seus homens na imprensa. Para mostrar como não estou ficando louco, os queridos leitores devem ter visto a capa da Zero Hora de domingo: uma ode ao plantio de eucalipto no Pampa. Nenhuma linha, um suspiro sequer, sobre as instituições, movimentos, estudos e opiniões de especialistas que são contrários a esse cultivo. Jornalismo tem que, no mínimo, ouvir os dois lados; ou já passamos dessa fase?
Ainda vai chegar o dia em que as pessoas que defenderam essa depredação do nosso patrimônio terão que se explicar perante o povo gaúcho. Só espero que nossas consciências não estejam (mais) entorpecidas.

segunda-feira, março 31, 2008

O povo clama por Rock'n'Roll

Porto Alegre costuma nos revelar certas surpresas. Uma delas me atingiu em cheio no fim da tarde de sábado, na prainha do Gasômetro: o Rock’n’Roll não morreu. Ele anda meio desacreditado, convenhamos, principalmente pelos donos dos meios de difusão da cultura. Mas nada que uma manifestação popular não possa contrariar.
Ao sair de casa acompanhado pela primeira dama senti pela primeira vez que nunca vou mudar. Camiseta dos Beatles, calça de brim rasgada, tênis All Star, meu Deus, ainda não saí dos 15 anos!!! Foda-se!!! Quando a família disse que “agora já sou um adulto” até achei que poderia mesmo estar fazendo um papelão. Agora me dou conta de que a desmoralização é deles com seus amigos e sua sociedade de classe média. Talvez não suportem os comentários. Quanto a mim, seguirei andando de “camisa rasgada e calça furada, bebendo cachaça no bar”.
Depois do desabafo seguimos com a história. Ao passarmos pelo Largo Zumbi dos Palmares nos deparamos com uma das coisas mais patéticas da cidade: o Maracatu Truvão. Alguém já se prestou a ouvir esse papelão? São capazes de passar horas num transe sem sentido batucando o mesmo ritmo, sem letra, sem harmonia. E lá estavam eles, vestidos como nordestinos, com suas peles loiras e olhos azuis. A tradição é desenvolvida com base na raiz de sangue, identidade cultural com a terra que os pés dos antepassados pisaram e que deve também ser maltratada por nós. Que fosse um grupo de milongas, uma invernada artística, uma bandinha alemã ou italiana, tudo bem. Mas maracatu...... Nada contra a cultura nordestina, vejam bem. Fossem eles um grupo de nordestinos em excursão pelos pagos meridionais do seu país e até me prestaria a ouvir sua chatice com o maior respeito.
Mas o negócio aqui é Rock’n’Roll. Por volta das cinco da tarde uma pequena multidão já se acumulava em frente ao palco montado na prainha. Uma visão atordoante era a quantidade descomunal de brigadianos, a pé, de moto, a cavalo, como se aquela junção de adolescentes, pré-adolescentes e adultos retardatários tivesse alto potencial subversivo. Estavam superestimando o Rock. Tivemos que dar uma banda pela orla. Isso sim é Porto Alegre. Não há nada igual no mundo. Principalmente pela angústia de não poder entrar na água.
De volta à confusão descobrimos que a primeira atração era o Cachorro Grande. Como teríamos ainda Alemão Ronaldo e Rosa Tattooada, achei justo que eles fossem os primeiros. Não só porque são os mais novos, mas também porque possuem mais fãs na tenra idade, que não poderiam ficar até a noite por ali. Vejam bem os méritos que tem essa banda. Talvez, depois dos imbatíveis Engenheiros do Hawaii, eles sejam a mais popular banda da história do Rock gaúcho. São capazes de mobilizar as jovens mentes em torno do Rock’n’Roll. Há muito tempo não havia um fenômeno como esse, o que é fundamental para que continue a nossa tradição como estado roqueiro.
Tomávamos uma caipirinha da pior qualidade no bar flutuante, quando vemos Alemão Ronaldo chegar aos bastidores. Depois de mais de vinte anos de estrada (bem mais) ele ainda consegue ser Rock Star: um casal pede autógrafos e licença para tirar uma foto. Como os bastidores não estavam muito movimentados, e meu estado de espírito andava meio elevado pela cachaça Belinha, pensei que poderia salvar o Rock. Imaginei que seria bom para o ego de nossos artistas se eu protagonizasse uma invasão de backstage ao gritos de “viva o Rock’n’Roll!!!”. De fato seria uma bela cena, ainda mais so conseguisse contagiar a Mirela, que ostentava uma camiseta do Led Zeppelin, a mesma calça rasgada e o mesmo tênis All Star. Felizmente não foi preciso. Como chegava ao fim o show da Cachorro Grande, uma pequena horda de crianças e adolescentes começaram um verdadeiro escarcéu na porta, na verdade controlado facilmente pelos seguranças.
Tomamos mais uma caipira para aproveitar a chegada de Seu Cossio II e olhar com tranqüilidade o espetáculo do pôr do sol. A essa altura comecei a ficar angustiado com uma possível debandada do público, já que a noite se aproximava e as “estrelas” da tarde já haviam tocado. Qual não foi minha surpresa em ver que o “coroa” Alemão Ronaldo reuniu mais público que seus antecessores. Desta feita estávamos em frente ao palco, agora com latas de cerveja, porque tio Ronaldo merece todo nosso respeito. “Vocês estão preparados para o Rock’n’Roll?!!”. Ovação do público. “Eu quero ouvir vocês gritarem ROCK’N’ROLL!!!”. “ROCK’N’ROLL!!!!”.
É meu amigo, a emoção tomou conta da galera, tanto que ele se empolgou a ponto de largar um “isso aqui tá mil vezes melhor que o Planeta Atlântida!”. Ele até tentou se explicar depois e deu uma puxada de saco na Rádio Atlântida, mas não rolou, a “cagada” já estava feita, para delírio da massa. Apesar da qualidade do som ser ruim, o repertório foi ótimo. Fiquei particularmente satisfeito em ver que Raul Seixas continua sendo o principal artista da música brasileira. Sim, tio Ronaldo chamou na Sociedade Alternativa e o público, claro, enlouqueceu. Até Sob um céu de Blues ecoou pelo centro da cidade, para satisfação da nossa querida Capital.
Outra agradável surpresa foi a resistência do público para ver o Rosa Tattooada. Sinceramente não imaginei que eles ainda tivessem tanto respaldo junto à moçada. Foi, com certeza, o melhor show da jornada. Tocaram com muita empolgação e conseguiram animar até mesmo nas músicas menos conhecidas. O final foi apoteótico, com Detroit Rock City, para homenagear sua fonte inspiradora, o Kiss.
Saímos todos satisfeitos com a tarde-noite rocker. Fico pensando agora por que o Rock’n’Roll anda tão em baixa por aqui, pelo menos na aparência. Depois de muito refletir, cheguei a uma conclusão: sofremos um boicote dos meios de divulgação. As rádios comerciais se iludem com a idéia de que devem ser “modernas”. O Rock não é moderno. Nossa humilde Radio Web Putzgrila conquista a cada dia mais adeptos divulgando o Rock como ele é: cru, seco e direto. Por outro lado temos os donos de bar que parecem não saber nada do negócio. E o negócio é dinheiro, que, infelizmente, nós roqueiros não temos. Se cobrassem um preço acessível pelas entradas e pela bebida seus bares teriam gente saindo pelo ladrão. E tem mais: por que o boicote no fim de semana? Pô, a gente trabalha!!!
O povo clama por ROCK’N’ROLL!!!!

sexta-feira, março 28, 2008

A realidade e os jornais

Descobri recentemente que sou fã do Norman Mailer. Que tal esse trecho de Cartas abertas ao presidente:

“Vê-se o repórter numa situação importante; sua voz estende-se diretamente ou indiretamente, pela redação, a milhões de leitores; quanto maior for o número de leitores que tiver, tanto menos poderá dizer. Uma centena de censores – a maioria dentro dele mesmo – proíbem-no de comunicar idéias que não sejam conformistas e simples, da mesma simplicidade do plástico, isto é, monótonas. O repórter, portanto, forma o hábito de maltratar a própria carne: aprende a escrever aqui em que não acredita. Como, presumivelmente, não começou a profissão com o desejo de ser um articulista mau ou desonesto, acaba fazendo o cérebro acreditar que alguma coisa, que seja meia-verdade, é, na realidade, nove décimos verdadeira, uma vez que ele cria um evento cada vez que escreve algo para o jornal. Uma alma está corrompida: a dele mesmo; cria-se um falso evento, e por este, cedo ou tarde, inevitável e inexoravelmente, o povo pagará. Uma nação que forma opiniões detalhadas na base de fatos detalhados que se esquivam, sutilmente, da realidade, torna-se nação de cidadãos cujas almas se desviam, nitidamente, de qualquer realidade”.

Na seqüência do texto ele fala sobre os releases de relações públicas que são distribuídos aos milhares para os repórteres. Qualquer pessoa com o mínimo de preparo pode fazer um jornal sem levantar a bunda da cadeira. Não precisa nem de telefone; tudo pode (e deve) ser feito por e-mail.
Agora eu pergunto: esses jornalistas sabem que a cidade tem cheiro de mijo? Eles sabem quanto custa um cafezinho no abrigo da Praça XV? Sabem quanto demora um ônibus até o fim da linha do Rubem Berta? Sabem a que horas acorda um carroceiro?
É, meu amigos, a realidade é muito diferente daquilo que aparece nas páginas dos jornais.

Só para lembrar: o texto de Norman Mailer é de 1964.

quinta-feira, março 27, 2008

Política, ah!, a política...

Vocês que acompanham esse blog já viram referências ao absurdo que é a política brasileira. A impressão que tenho é de que tudo é feito “nas coxas”. O prefeito, governador ou presidente não sabem por que chegaram lá. Talvez seja uma questão de prestígio, de gosto pelo poder e pelo respeito idiota que os idiotas dispensam a tais personalidades.
Mas, realmente, eles não sabem o que fazer. Não têm o menor preparo para o governo e, justamente por isso, são altamente influenciáveis. Claro, também são obrigados a pagar favores para as grandes empresas que investiram nas suas candidaturas.
Vejamos alguns exemplos de bizarrices políticas:

- O governo do Rio Grande do Sul promove o plantio de árvores no Pampa. Até o mais ignorante ser humano sabe que o Pampa é lugar de criação de gado. Enquanto isso...

- Os governos do Mato Grosso, Pará, Rondônia e, é claro, o governo federal, incentivam a criação de gado na Amazônia. Depois vem a plantação de soja, de trigo, de milho, tudo transgênico e com toneladas de agrotóxicos. Ah, já ia me esquecendo, tem a plantação de cana também, o que nos leva para o próximo item....

- Na contramão da história, o governo federal quer transformar o Brasil num canavial com a ilusão de que os gringos vão comprar álcool. Na 6ª série do colégio aprendemos o ciclo da cana no Brasil. Era exatamente como hoje: meia dúzia de senhores de engenho (hoje de usinas), trabalho escravo (hoje um operário da cana trabalha o dobro de um escravo), tudo para ser abandonado daqui a 50 anos, no máximo.

Aí eu fico me perguntando: será que sou louco? Será que só eu vejo essas coisas? Não pode ser verdade. No fundo esses governantes são extremamente imbecis. Imaginem a cena:

Segunda feira, Palácio Piratini, governadora Yeda recebe representantes da Aracruz. Depois de ter tomado umas cinco bolinhas ela não consegue falar, então o diretor-presidente começa sua ladainha: “governadora, a senhora sabe que investimos X milhões na sua campanha. Agora nós precisamos que a senhora libere umas terras para plantarmos eucalipto. Um bom nome para a Secretaria do Meio Ambiente é Carlos Otaviano Brenner de Moraes, e para a Fepam, Ana Pellini. A senhora pode dizer que nós estamos investindo X milhões de dólares e que vamos gerar 200 empregos. Não, não se preocupe, ninguém vai perceber que isso é ridículo. Os jornais vão dizer que é tudo muito bom, nós já temos nossos homens lá. Tudo certo então?”.

E assim nós afundamos....

terça-feira, março 25, 2008

Futebol e cerveja

Querem acabar com a nossa alegria. Onde já se viu, proibir a cerveja nos estádios de futebol? Uma coisa praticamente não vive sem a outra.
Tudo bem, tem gente que bebe e se passa, mas esses vão beber de qualquer jeito. Ou por acaso vão proibir os bares que ficam ao redor do estádio de vender bebidas? Vão proibir as pessoas de levar seu trago de casa? Vão proibir o tiozinho sem dente de vender o “leite de onça”? Vão proibir o Seu Jorge, o filósofo da Rua da Praia, de empunhar seu isopor? Por acaso, algum dia vão proibir os brigadianos de se banharem em farinha para fazer o policiamento dos jogos?
Pois é, a nossa Assembléia Legislativa anda ocupada com esse tipo de coisa. Corrupção, fechamento de escolas e criminalização dos movimentos sociais são assuntos secundários. O importante mesmo é a cerveja.
Isso só demonstra, mais uma vez, que vivemos em um dos estados mais reacionários do Brasil.

segunda-feira, março 24, 2008

Futebol do interior

De volta a ativa, me proponho a falar sobre futebol. Nós de Porto Alegre estamos acostumados com nossos times de primeira categoria. Tudo bem, temos aqui um time que gosta de andar pela segunda categoria, mas vá lá, podemos considerá-lo como um igual.
Este costume nos faz esquecer do verdadeiro futebol, aquele que rola nos campos do interior do estado. Pense nos times de Pelotas, Erechim, Bagé, Passo Fundo, Santa Maria, até mesmo de Caxias, e o que vem à cabeça? Estádios precários e vazios, gramados esburacados, falta de recursos, jogadores e jogos ruins.... uma verdadeira semi-várzea.
“Mas os times não são assim tão ruins”, pode pensar o amigo leitor. Digo que pensamos assim porque só assistimos aos jogos da dupla gre-Nal. Todos os adversários dos times da Capital suam sangue para aparecer bem na TV, com jogadores motivados pelo sonho de serem contratados por um grande clube. Entre eles, porém, é o caos.
Fui ver Caxias e 15 de Novembro no último sábado. O Estádio Centenário está bem arrumado, e tem até uma vantagem em relação ao Beira Rio: a cerveja é Skol e está sempre gelada. Nas arquibancadas, umas 1500 pessoas. Claro, estava chovendo. Normalmente vão umas 4000. O gramado em boas condições teria tudo para ser palco de um bom jogo de futebol. Teria.
O Caxias, segundo colocado da chave 1 do Gauchão, joga um futebol burocrático. A preparação física parece abaixo do nível exigido pelo futebol moderno. A zaga e o meio campo jogam em linha, 3-6-1, e não trocam de posições como exige este esquema tático. O pobre do centro-avante Kemps fica isolado no ataque, tentando fazer alguma coisa sozinho.
Já o 15 de Novembro é, provavelmente, pior que o campeão de várzea da Região Metropolitana. Totalmente desorganizado, justifica seus escassos 4 pontos e garantia de rebaixamento.
O que quero dizer com isso? O futebol do interior precisa de apoio. Mais, precisa de visão dos seus dirigentes. Não consigo conceber que os times do interior de São Paulo ganhem rios de dinheiro e os daqui não consigam pagar a luz do estádio. Qual é o segredo? Formação de jogadores, categorias de base. O 15 de Novembro, o Veranópolis, e mais uma maia dúzia de agremiações fecham as portas após o Campeonato Gaúcho. No início do próximo ano contratam 25 atletas que treinam durante um mês e imaginam-se capazes de fazer um milagre. Não conseguem. Vejam o 15: chegou duas vezes á final do campeonato e agora está na segunda divisão. Se tivessem uma boa administração, seriam melhores que os de lá, pois a maioria conta com uma torcida apaixonada.
Se você é do interior, vá ao estádio do time da sua cidade. O futebol pode não ser grande coisa, mas você estará ajudando a manter uma tradição centenária do nosso estado.

quinta-feira, março 13, 2008

Pecados jornalísticos

Os jornalistas andam esquecendo uma coisa básica da profissão: verificar a notícia. Essa semana assistimos a um dos maiores papelões da imprensa mundial. Quem não ouviu falar dos novos pecados capitais da Igreja Católica? Foi manchete e capa de praticamente todos os órgãos de imprensa mundo afora. Até a BBC entrou na jogada.
A história foi a seguinte: o periódico “L’Osservatore Romano” publicou uma entrevista com Dom Gianfranco Girotti, bispo do tribunal da Penitência Apostólica (seja lá o que isso significa). Lá pelas tantas o repórter pergunta: “quais são, segundo o senhor, os novos pecados”. O bispo dá a sua opinião. Ponto. Nada de “novos pecados capitais”.
Mas eis que um “jornalista” lê e, simplesmente, decide que aqueles são os novos pecados capitais. Outro “jornalista” lê o que o primeiro escreveu e tasca um Ctrl+C / Ctrl+V. Assim cria-se a rede. Milhares de Ctrl+C / Ctrl+V são digitados pelo mundo.
O interessante é que depois do desmentido ninguém assumiu o erro. Por eles ficaríamos acreditando que existem realmente novos pecados capitais.
Que papelão!!!

P.s.: Vejo que alguns representantes dos carros importados querem entrar na Ufrgs através de liminares da Justiça. Estão inconformados por perderem suas vagas para negros. A estudante Kaingang de medicina já sofre preconceito. Eles não se controlam. A elite não aceita perder um centímetro sequer do seu espaço.

terça-feira, março 11, 2008

Porto Alegre

Acabei de ler O segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell. É uma bela obra que fala do que existe de mais importante: as coisas simples. Joe Gould é um mendigo boêmio e intelectual, formado em Harvard, que dedica sua vida a escrever uma obra chamada História Oral. Com esse “godô” ele vai tirando uma grana dos turistas e metidos a artistas que transitam pela noite de Nova Iorque.
É característico de Mitchell procurar personagens e situações típicos da sua cidade. Dessa forma ele revela a essência de Nova Iorque, o que não está estampado nos letreiros nem nos arranha-céus.
Me fez pensar muito em Porto Alegre. As conversas que tive com o Bigode, também mendigo, também artista. Seu Jorge, que é o filósofo da Rua da Praia. Afonso, dono do Rossi Bar, meu professor de Rock e Blues. Marinho, a salvação do fim de noite. O pessoal do Beira Rio, Ma.Ca.Co., Camarão, os irmãos do bar. Irmãos como os rockers dessa cidade, Nano, Rafa, Raul, Serafini, Prego.....são tantos, e tão poucos. Nessa cidade cada rua tem uma história que merece ser vivida e contada. As putas de rua e de carros importados. Os cafetões de botecos e multinacionais. O eufemismo que criamos para nossas favelas (vilas), incorporado por um povo que só quer viver. Porto Alegre é uma cidade negra na cor da pele, é só prestar atenção. Tem praia, e se nossos pais não tivessem sido tão irresponsáveis estaríamos tomando banho no Gasômetro. Essa cidade tem cheiro de mijo e maconha, porque aqui todo mundo fuma e mija na rua. Aqui eu escolhi viver e não sei se agora abandono tudo de uma vez. Aqui me sinto em casa porque conheço todo mundo.
Será que conheço Porto Alegre? Sempre busquei o que existe de verdadeiro aqui. Como Joseph Mitchell, procurei as entranhas de minha cidade. Não existe ruim nem bom, existe Porto Alegre, e quem a ama gosta assim mesmo.

segunda-feira, março 10, 2008

Obrigado

Muitas reações ao texto sobre o show do Iron. Agradeço a todos que de alguma forma se sentiram tocados pelas minhas palavras.
Na verdade não é o texto que é bom; é a vida. Sempre falo que devemos viver intensamente para que as coisas sejam reais. Todas as pessoas felizes vivem assim. Sugiro que sigam este singelo exemplo e atolem o pé na merda. Só assim a existência tem sentido.

P.s.: Cérebro embotado com a monumental quantidade de suco consumida no fim de semana.

sexta-feira, março 07, 2008

O RS é a vanguarda. Do atraso...

São dois jornais da mesma empresa. Reparem na sutil diferença entre as manchetes:

“’Por que pobre só pode andar de ônibus?’, ironiza Lula”

“Lula é recebido por 7 mil pessoas em favela”

O texto é exatamente o mesmo, mas o que fez um jornal escolher uma manchete e o outro uma totalmente diferente? Porque “ironiza Lula” tem uma conotação negativa em relação ao presidente. Reforça a subjetividade de que ele é improvisador, brincalhão, ou seja, coisas que um presidente não pode ser. Só para os carros importados. O povão ama o presidente. O pessoal tem comida na mesa. Não estou defendendo o governo, mas esse é mil vezes melhor que o anterior. Olha para os pobres. O que gera a revolta da elite, acostumada a ser a única beneficiada pelo poder. Isso que eles nunca ganharam tanto dinheiro como agora. Governo de esquerda segue como uma utopia para o Brasil. O Rio Grande do Sul é o estado mais reacionário do país. Que vergonha.....

quinta-feira, março 06, 2008

"Olhe sempre o lado bom da vida"

Eu vinha dizendo desde que não comprei o ingresso: “eu vou ficar na frente esperando a confusão para entrar”. Na verdade era para ser apenas uma brincadeira, mas no fundo eu sabia que era possível. Talvez seja um resquício dos tempos punks, ou a experiência de outros tantos shows, não sei. Eu sabia que conseguiria entrar para ver o Iron Maiden sem gastar nenhum tostão. Era um desafio, uma prova pela qual eu tinha que passar.

7h da tarde. Eu e a primeira dama (Mire Rock Show) estamos tranqüilos em casa, com a satisfação de compartilharmos momentos íntimos, se é que vocês me entendem. Sei pelos jornais que algumas pessoas estão há dias em frente ao Gigantinho. A essa hora aquilo deve estar uma zona. O mar vermelho que estamos acostumados a ver por ali substituído pelo mar negro. Esperamos os amigos Guido e Jonas (estamos com seus ingressos) ouvindo o primeiro disco do Iron. Na verdade a idéia era ouvir o Somewhere in time, mas o toca-discos anda meio estragado... Logo se estabelece uma discussão sobre qual a melhor fase da banda. Gabriel, que chegou há pouco para me tomar uma grana, afirma que prefere os dois primeiros discos, Iron Maiden e Killers. De fato, para nós que somos mais roqueiros do que metaleiros, estes são álbuns mais de acordo. Mas como negar as obras primas de Seventh son..., Number of the beast, Powerslave, Fear of the dark…… é, os caras são bons. Nisso chegam os gringos. Aqueles abraços efusivos, um pitaco na discussão e vamos embora que ta na hora.

8h da noite. Seguimos a pé rumo ao Complexo Gigante. No caminho vamos falando de Rock’n’Roll, é claro. A banda Multiverso, da qual os irmãos Bracagioli fazem parte, anda com bons planos. Se tudo der certo eles vêm gravar um disco aqui em casa. Paramos no posto para abastecer: cerveja e cigarro. A pernada até o Gigantinho não é nada mole. Estranho o pouco movimento. Achei que passaríamos por hordas de metaleiros, ônibus de excursão, gritaria, confusão, polícia.... que nada. Tudo na mais absoluta paz. Quem não soubesse do Iron nem precisava ficar sabendo. Mas tudo bem, na real pensava que para meus planos era melhor assim.

8h50. Finalmente chegamos ao Mac Aurio. A broca do meu estômago já estava me deixando atordoado e nada melhor para acalmá-la do que “um xis salada e uma cerveja”. Que frase maravilhosa. Já perdi a conta de quantas vezes a pronunciei. Agora sim dava para perceber que estávamos num show de rock. Urros da massa vinham de dentro do ginásio, enquanto ali fora ficavam os retardatários, os vendedores ambulantes e outra pequena massa: a dos que não têm ingresso. Mire Rock Show, a primeira dama, até tinha um, mas vendeu por um objetivo muito nobre: juntar fundos para ver o Ozzy em São Paulo. Acho que ela acreditou na minha balela de que “é claro que a gente consegue entrar de graça no Iron”. Pensem no absurdo dessa afirmação. A Mirela é meio louca mesmo.

9h. Uma explosão de 30 mil vozes. Será que começou? Mas não tem banda de abertura? Meu Deus, é o Iron mesmo!!! Guido e Jonas saem em disparada. Ainda contornam todo o ginásio para tentar um lugar no lado “mais tranqüilo”. O som é irreconhecível do lado de fora, mas com certeza é a voz de Bruce Dickinson. Eles entram e ficamos com dois copos de cerveja, um pacote de bolachas e uma garrafa de água. Belo prêmio de consolação. Ao redor do portão umas 50 pessoas estão babando de inveja dos que entram. Termina a primeira música. “Obrigado Porto Alegre!!!”, e o público vem abaixo. Hora de fumar um cigarrinho. A correria aumentou a adrenalina. E ela não baixa porque logo na seqüência eles mandam 2 minutes to midnight. O povo de fora bate cabeça apoiado na grade e canta em coro o refrão. Uma verdadeira festa!!!. Fora os que estão ali na pressão junto à entrada, uma pequena multidão se espalha pelos gramados com suas garrafas de cachaça e vinho. Todos, é claro, com camisetas pretas de alguma banda: 80% do Iron e o resto espalhado por Slayer, Judas Priest, Black Sabbath, Led Zeppelin, Cannibal Corpse, até Beatles e Rolling Stones estão presentes. Até o movimento punk está ali, amigos dos tempo de Aphasia. Imaginem a cena; batendo papo com os punks, tomando cachaça do lado de fora do show do Iron.....

9h45, mais ou menos. Os clássicos se sucedem. Imagino o público lá dentro, se ali fora o pessoal beirava as lágrimas e gritava “Maiden, Maiden, Maiden”, a cada intervalo de música. Noto, porém, que falta alguma coisa. É a Mirela quem mostra a luz: “vamos comprar umas biras?”. Mas é claro!!! Dentro do Complexo Gigante não podem entrar vendedores ambulantes, o que nos leva a percorrer um bom trajeto até a grade da rua. “Dois latões por cinco? Nem pensar?” tudo bem, pagamos 3 pila cada um. Andamos de volta ao portão curtindo Can I play with madness. O povo canta, dentro e fora do ginásio. Como já falei, ali fora está rolando uma festa.

10h. De volta ao portão constatamos que aumentou o número de pessoas na pressão. Nos localizamos ali na linha de frente. O esperado é que aconteça uma confusão para aproveitarmos a distração dos seguranças e entrar de qualquer jeito. Mais um cigarrinho e vejo que tem um cara me olhando fixo. Faço um aceno. Ele vem na minha direção e pergunta: “tu não tava no Rolling Stones em Copacabana?”. Meu Deu!, isso é pergunta que se faça na frente do show do Iron? “Claro”. “Então é tu que aparece nas minhas filmagens. Te lembra, um bando de Colorados?”. Como não vou me lembrar!!! Numa das esquinas de Copacabana estávamos todos com o manto vermelho e chega um cara filmando. Fizemos uma zona. O cara filmando era ele. Ficamos amigos de cara. Júnior é o seu nome. Ficamos falando sobre shows que fomos na vida: Stones, Ramones, Rush, Kiss, Metallica, Sepultura, Eric Clapton, Roger Waters. O próximo é o Ozzy, afinal, todos crescemos ouvindo Black Sabbath. “Como eu queria ouvir Run to the hills”, fala o amigo. E não dá outra. Parece brincadeira. O pessoal da grade canta a todo pulmão, como se as paredes do ginásio não existissem. Júnior mostra um álbum de fotos que ele tirou quando o Iron veio em 92. O cara estava muito perto do palco e ainda guarda o ingresso. Inveja, branca, mas inveja.

10h30, mais ou menos. “ÔÔÔÔÔÔ ÔÔÔÔÔÔÔ”, Fear of the dark. A galera enlouquece. Os seguranças parecem apavorados e já alisam os cacetetes. Chegou a hora que tanto esperávamos. O pessoal começa a balançar a grade. Tudo pronto. Olho para trás e vejo uma horda, mais ou menos umas 100 pessoas, correndo em direção ao portão. Estoura a confusão. Correria, pancadaria, latas e garrafas voando, o chefe dos seguranças passa ao meu lado falando no rádio: “pode mandar os cavalos! Pode mandar os cavalos!”. Pego a Mirela e vamos para o lado contrário da multidão. Alguns seguranças passam por mim. “Estou só protegendo minha guria”. E vamos ficando. Quando acalmam-se um pouco os ânimos a grade está noutro lugar e nós estamos.... DENTRO!!!

Já não sei mais que hora. “E agora Mirela?”. “Vamos entrar com confiança”. Ela vai falar com um dos seguranças. “Isso não é comigo, mas se quiser chega lá na portaria e vê se eles deixam”. Nos damos as mãos e vamos indo, duros como pedra. Com certeza não demonstramos confiança porque somos barrados. “Vocês têm ingresso?”. “Pô, falta só umas duas músicas, não custa nada liberar, só nós dois....”. Temos que falar com o coordenador. Uma das moças sai e fala com um brutamonte quatro vezes o meu tamanho. Já estou até imaginando os sopapos que vou levar pela minha audácia. Ele se vira para nós. A cara da Mirela é realmente de dar pena. Ele faz um gesto com a mão tipo “vai, vai”. Cara, entramos no show!!!!! Vamos rápido para as arquibancadas. Lá estão eles, voltando para o bis. Enlouquecemos ao som de Iron Maiden, a música, Hallowed be thy name e outras que levaram a mais uma meia hora de show.

Depois de tudo. Com o sorriso nas orelhas sentamos na arquibancada para fumar mais um cigarrinho. Não acredito que deu tudo certo. No fundo toca a trilha sonora do filme A vida de Bryan: “Always look on the bright side of the life”. Nada mais justo. Nessa noite curtimos o verdadeiro lado bom da vida. O lado ROCK’N’ROLL!!!!!

quarta-feira, março 05, 2008

Só uma pergunta

Quem vocês acham que é o filho da puta: a camponesa que corta um eucalipto eu busca de terra para plantar, ou o senhor Paulo Mendes, que manda espancar e atirar balas de borracha nas mulheres e crianças?

terça-feira, março 04, 2008

Inversão dos fatos pela versão

A manchete é: “Reforço policial é esperado em fazenda invadida em Rosário do Sul”.
E o sub-título: “Mulheres da Via Campesina trancam acesso à Tarumã”

O corpo da matéria só fala em mulheres e crianças. A fazenda Tarumã é de propriedade da empresa finlandesa Stora Enso. Possui 2,2 mil hectares, todos destinados à plantação de eucalipto. Segundo a assessoria de imprensa da Stora Enso, eles possuem 120 empregados. Óbvio que são empregos temporários. Quando os manifestantes da Via Campesina chegaram, só havia um caseiro e nada mais.
Com essas informações, me pergunto: é necessária a ida do sub-comandante da gloriosa Brigada Militar, Paulo Mendes, para coordenar as tropas na desocupação da fazenda? Lembrem-se, são mulheres e crianças. Que tipo de resistência elas podem oferecer?
Outra pergunta: quantas famílias conseguem vivem em 2,2 mil hectares? Ah, só mais uma: por que colocar um release da Stora Enso numa matéria sobre invasão de fazendas?

segunda-feira, março 03, 2008

A importância do tráfico de drogas

Perdoem-me os leitores pela semana de folga, mas as comemorações pela formatura foram extremamente intensas. O cérebro ficou nadando em substâncias paralisantes e não funcionou para nada. Quer dizer, quase nada. Andei pensando em algumas coisas aparentemente absurdas, mas nem tanto.
Por exemplo, cheguei à conclusão de que o tráfico de drogas nas favelas do Brasil é o que sustenta a turma dos carros importados. Não, não os estou acusando de fazerem parte das máfias e cartéis. Sequer cogito que tenham qualquer contato com os traficantes. Só digo que acho uma grande ignorância deles ficarem reverberando na TV e jornais que “os bandidos do tráfico têm que ir para a cadeia”, ou que “temos que acabar de vez com o problema das drogas”.
Imaginem que a polícia realmente consiga acabar com o tráfico de drogas. Pelo menos 80% do dinheiro que circula nas vilas pára de entrar. Não existe emprego para os jovens. Não existe escola para os jovens, e as que existem não estão nem um pouco preocupadas com a sua formação. O que acontecerá?
Os “bandidos” traficantes, que ficam tranqüilos nas vielas dos morros, sustentando o vício das classes altas, serão obrigados a mudar de ramo. Para continuarem comprando seus Nikes e freqüentando os restaurantes caros dos shoppings terão que roubar. As primeiras vítimas serão o bem mais valioso da elite: os carros importados. Depois virão suas casas, escritórios, bancos, lojas, e, quem sabe, até os shoppings.
Os formadores de opinião virão para a imprensa pedir “mais polícia”, “mais repressão”, e daí teremos mais violência, mais presídios. Cada vez menos escolas, menos emprego, menos consideração pelos seres humanos. Ou seja, uma guerra pior do que esta que já existe.
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O PROBLEMA DO BRASIL NÃO É CRIMINALIDADE, É CULTURA!
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P.s.: Este texto não é uma defesa do tráfico de drogas. É apenas uma constatação muito louca de uma cabeça doentia. Mas é verdade, não é?

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Piadas que se acham sérias

Como eu tenho um certo tempo livre, gosto de brincar um pouco na internet. Uma das coisas que mais me diverte é olhar os blogs e sites da direita. Algumas coisas são fantásticas. O site da Veja, então, é um prato cheio para uma manhã feliz. Essa semana começa pela própria capa da revista, com sua manchete “Já vai tarde” sobre Fidel. Um dos grandes momentos do jornalismo isento. Que tal a introdução da matéria:

“O ditador entrega o comando direto do país ao irmão, abre caminho para mudanças mas fica ainda como um fantasma assombrando o povo e preservando sua tenebrosa herança.”

Que momento da Veja. E eles realmente se levam a sério. Mas a melhor parte do site é mesmo a seção de colunistas. O Diogo Mainardi todos conhecemos. Mas dessa vez ele se superou: conseguiu fazer uma auto-tiração de onda:

“É mais uma figura grotesca que some da nossa frente. Depois de renunciar ao mandato, ele quer se dedicar apenas ao seu trabalho como colunista da imprensa. É o lugar ideal para ele: o colunismo está cheio de zumbis. Quer um blog, Fidel?”

Já estou até imaginando Fidel e Mainardi lado a lado numa página de jornal. Seria fascinante. O Fidel com toda aquela calma, falando sobre suas teorias e o Mainardi esperneando, xingando a torto e direito para arrancar aplausos da zona sul carioca.
Agora, eu que sou ignorante, descobri o melhor de todos: Reinaldo Azevedo. Esse cara vai me render pelo menos uma semana de boas risadas. Que tal essa pérola:

“Mas, afinal, o que é que uma minoria sectária e “piscopateta” tanto odeia em nós? Coerência intelectual, vergonha na cara, decoro, senso de justiça — qualidades estas que não podem conviver com o stalinismo remanescente ou com o jornalismo dos mascates, tocadores de tuba, ratazanas, “dualéticos”, isentistas e porta-sacos do oficialismo.”

Já falei que sou ignorante. Fico a me perguntar o que seria um “jornalismo dos mascates, tocadores de tuba, ratazanas, “dualéticos”, isentistas e porta-sacos do oficialismo”. Eu, que estou iniciando na profissão, deveria me inspirar mais nessas pessoas. Apesar de escrever esse tipo de coisa totalmente sem sentido eles arrancam aplausos da turma dos carros importados. Talvez seja por isso que vivemos nesse clima de esterilidade pós-moderna. Para eles, todos os artistas e intelectuais são comunistas comedores de criancinhas. Quem presta mesmo é James C. Hunter, autor de “O monge e o executivo”. Sugiro para os que seguirem meus passos e resolverem dar uma olhadinha por lá que leiam os comentários. Só pérolas. Amanhã coloco algumas aqui no blog. Esse texto já ficou comprido demais. Hasta Luego!!!

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Tudo igual

“Admitir que as pessoas estejam obtendo o que desejam através da imprensa é admitir, também, que os homens e mulheres que a dirigem conheçam algo a respeito do povo. Eles, porém, nada sabem acerca do povo. (...) E a razão de não poderem fazê-lo é existir o que se chamam classes. As classes superiores não compreendem as inferiores; são incapazes de compreendê-las. Todo detalhezinho de sua educação os afasta da possibilidade de compreendê-las. A mass media é formada por um grupo de pessoas que estão à procura de dinheiro e poder. A razão não está no fato de terem elas qualquer noção moral, qualquer noção interior de um objetivo, de um ideal pelo qual seja digno lutar, morrer, se se é suficientemente destemido. Não, a razão por que desejam o poder é por ser este o único meio de aliviá-las da profunda doença que as atacou. Que atacou a todos nós. A doença do século XX. Não há espaço psíquico para todos nós. A lei de Malthus passou da procriação excessiva de corpos para a mediocrização excessiva de almas. As mortes não ocorrem nos campos de batalha ou devido à desnutrição; ocorrem no cérebro, na própria alma.”

O texto acima é parte da resposta de Norman Mailer a uma pergunta de Paul Krassner sobre a mídia de massa. A entrevista faz parte da coletânea de textos Cartas abertas ao presidente, de Mailer, que foi lançada em 1964. Por acaso mudou alguma coisa?

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ah, as manchetes...

“Se não tem o que falar, fica quieto”. Quantas vezes ouvi isso da minha mãe.....
Pois é, mas parece que o pessoal que trabalha ali na Avenida Ipiranga / Érico Veríssimo não ouviu. Só para variar, uma manchete fantástica no site do jornal:

“Governo silencia sobre sucessão após renúncia de Fidel”

Primeira frase:

“As fontes governamentais e a imprensa cubana fazem silêncio absoluto sobre quem será o novo chefe de Estado um dia após o anúncio de que Fidel Castro não deseja ser eleito presidente no próximo domingo, quando o Parlamento estiver reunido”. Nesta frase, duas constatações:

1. Não houve renúncia. Fidel anunciou que não deseja ser eleito presidente.
2. A eleição é domingo. Como eles vão saber quem vai ser o presidente?

Se não tinham nenhuma manchete para dar sobre a saída de Fidel, que ficassem quietos. Só mais uma coisinha. Que estranho, eleições em Cuba. E a ditadura, onde fica?

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Como fabricar uma manchete mentirosa

As palavras são traiçoeiras. Resumir um fato numa frase pode parecer simples, mas é um drama com o qual nós, jornalistas, nos debatemos todos os dias. Cada órgão de imprensa tem a sua visão sobre a realidade, e isso fica claro na maneira como constroem suas manchetes.
Ontem, o Comandante Fidel anunciou que não aceitará ser reconduzido ao poder pela Assembléia do Poder Popular de Cuba, que se reúne no próximo dia 24. Ele falou em renúncia? Não. Mas até aí tudo bem, podemos encarar o fato como uma renúncia.
No entanto, a comparação a que me proponho tem a ver com os desdobramentos do anúncio. Comparem as duas manchetes a seguir:

“Chávez diz que renúncia de Fidel é prova de ‘desprendimento’”

“Chávez resiste em reconhecer aposentadoria de Fidel”

A primeira é da BBC e a segunda da Zero Hora. Ambas foram baseadas no mesmo discurso do presidente venezuelano. O que Chávez quis dizer é que Fidel não renunciou às suas obrigações perante a Revolução Cubana, simplesmente tem consciência de que não pode seguir com suas obrigações de presidente devido ao seu estado de saúde. O texto da reportagem de Zero Hora é claro sobre isso. E por que a manchete “Chávez resiste em reconhecer aposentadoria de Fidel”? O próprio texto a contradiz.
O texto e a manchete da BBC, por outro lado, estão em plena coerência. Pegaram o inusitado, que seria o “desprendimento” (sim, chega a ser engraçado falar de desprendimento depois de meio século de liderança), e desenvolveram o texto com base nessa declaração.
O entendimento de Chávez é o mesmo que expus no segundo parágrafo deste texto: Fidel não renunciou. Um manchete justa, se quisessem dar o mesmo enfoque da Zero Hora, seria: “Chávez diz que Fidel não renunciou”. Mas sabemos que a Zero Hora faz parte da direita troglodita. Inventam manchetes para desmoralizar a esquerda latino-americana. Assim, acabam brigando com a notícia.
Aí estão os links para que os leitores façam sua própria comparação:

http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Mundo&newsID=a1771653.xml

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/02/080220_fidelvenezuela_cj_ac.shtml

terça-feira, fevereiro 19, 2008

La mensaje del comandante en jefe

Bem, amigos, enfim chegou o momento. Eric Hobsbawm já havia previsto que o Século XX só terminaria quando Fidel deixasse o poder em Cuba. Agora nos resta saber até quando Raul Castro conseguirá segurar a situação. Muita coisa vai acontecer na ilha que é a pedra no sapato dos EUA. Mas o Comandante já avisou que vai estar olhando tudo de perto....

Transcrevemos aqui o documento histórico.

"Queridos compatriotas:

Prometi na última sexta-feira, 15 de fevereiro, que a próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. Este artigo adquire esta forma de mensagem.Chegou o momento de postular e eleger o Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidentes e secretário. Desempenhei o honroso cargo de presidente por muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto libre, direto e secreto de mais de 95% dos cidadãos com direito de voto. A primeira Assembléia Nacional foi constituída em 2 de dezembro do mesmo ano e elegeu o Conselho de Estado e a sua Presidência. Antes, exerci o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo. Conhecendo o meu estado crítico de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado, em 31 de julho de 2006, que deixei nas mãos do primeiro-vice-presidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. O próprio Raúl, que ainda ocupa o cargo de Ministro das Forças Armadas Revolucionárias por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do Partido e do Estado, foram resistentes a considerar-me afastado de meus cargos, apesar de meu precário estado de saúde. Era incômoda minha posição frente a um adversário que fez de tudo para se desfazer de mim, e em nada me agradava comprazê-lo. Mais adiante pude alcançar novamente o domínio total da minha mente, a possibilidade de ler e meditar muito, obrigado pelo repouso. Me acompanharam as forças físicas suficientes para escrever por muitas horas, as quais compartilhei com a reabilitação e os programas pertinentes de recuperação. Um elementar sentido comum me indicava que esta atividade estava ao meu alcance. Por outro lado, me preocupo sempre, ao falar da minha saúde, em evitar ilusões que no caso de um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas ao nosso povo no meio da batalha. Prepará-lo, psicológica e politicamente, para minha ausência, era minha primeira obrigação após tantos anos de luta. Nunca deixei de assinalar que não se tratava de uma recuperação "isenta de riscos". Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último sopro. É o que posso oferecer. "A meus queridos compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem ser adotados acordos importantes para nossa Revolução, comunico que não aspirarei e nem aceitarei - repito - não aspirarei e nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-chefe." Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, diretor do programa 'Mesa Redonda' da televisão nacional, que foram divulgadas por minha solicitação, foram incluídos discretamente elementos da mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das mensagens conhecia meu propósito. Confiei em Randy porque o conheci bem quando ele era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos alunos, que já eram conhecidos como o coração do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se abrigavam. Hoje, todo o país é uma imensa universidade.

Parágrafos selecionados da carta enviada a Randy em 17 de dezembro de 2007:

"Minha mais profunda convicção é de que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana - que possui uma média educacional próxima de 12 graus, quase um milhão de pessoas com ensino superior completo e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem nenhuma discriminação - requerem mais soluções para cada problema concreto do que as contidas em um tabuleiro de xadrez. Nenhum detalhe pode ser ignorado, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano em uma sociedade revolucionária prevalece sobre seus instintos. Meu dever elementar não é me perpetuar em cargos, ou impedir a passagem de pessoas mais jovens, mas fornecer experiências e idéias cujo modesto valor provém da época excepcional que pude viver. Penso como (Oscar) Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final".

Carta de 8 de janeiro de 2008:

"Sou decididamente partidário do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi o que nos permitiu evitar as tendências de copiar o que vinha dos países do antigo bloco socialista, entre elas a figura de um candidato único, tão solitário e ao mesmo tempo tão solidário com Cuba. Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças à qual pudemos continuar o caminho escolhido. Tinha muito presente que toda a glória do mundo cabe em um grão de milho. Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total quando não estou em condições físicas de oferecer isso. Explico sem dramaticidade. Felizmente nosso processo conta ainda com quadros da velha-guarda, junto a outros que eram muito jovens quando começou a primeira etapa da Revolução. Alguns quase crianças se incorporaram aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Contam com autoridade e experiência para garantir a substituição. Dispõe igualmente nosso processo da geração intermediária que aprendeu conosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução. O caminho sempre será difícil e exigirá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis da apologética, ou da autoflagelação como antítese. É preciso se preparar sempre para a pior das hipóteses. Ser tão prudentes no êxito quanto firmes na adversidade é um princípio que não pode ser esquecido. O adversário a derrotar é extremamente forte, mas o mantivemos longe durante meio século. Não me despeço de vocês. Desejo apenas lutar como um soldado das idéias. Continuarei a escrever sob o título 'Reflexões do companheiro Fidel'. Será mais uma arma do arsenal com o qual se poderá contar. Talvez minha voz seja ouvida. Serei cuidadoso.

Obrigado

Fidel Castro Ruz

18 de fevereiro de 2008"

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Filosofia na Rua da Praia

Estava eu andando à deriva pela Rua da Praia, quando encontro meu amigo Jorge. Este jovem senhor, para sobreviver, vende refrigerante e cerveja no Gasômetro e no Beira Rio em dias de jogo. O Jorge anda preocupado com as coisas que acontecem na nossa sociedade. Ficamos umas boas horas falando ali, de pé na calçada, sobre os mais variados temas. Quer dizer, fiquei ouvindo, porque o cara é bom de discurso.

Violência: “Se tu vai lá na vila onde eu moro, ninguém vai mexer contigo. E se acontecer alguma coisa, alguém roubar um morador ou uma visita, o chefe do lugar intima o vagabundo. Ou ele se aquieta e não rouba mais, ou some. Eu me sinto seguro lá. Já aqui no Centro, andando entre universitários, jornalistas, como o amigo, advogados, engenheiros, a nata da sociedade, eu sou achacado pelo próprio Estado. Não foi uma nem duas vezes que os brigadianos ROUBARAM, isso mesmo, ROUBARAM a minha caixa de isopor, que é o meu ganha-pão. E os universitários e cidadãos todos lá, olhando. Ninguém levantou a voz ou fez qualquer coisa para me defender....”

Filosofia política: “O Estado Democrático de Direito, que é esse que nós temos, só serve para sustentar a exploração que vemos por aí. É um Estado criado pelas pessoas que ocupam as mais altas camadas da sociedade, que obviamente não querem perder o seu privilégio. É um modelo de Estado que oprime o cidadão que sustenta toda a máquina. Já o Estado de Filosofia e Direitos dos Cidadãos (invenção dele) é um estágio onde não existirá a subordinação de um cidadão perante o outro. Meu direito será tão sagrado quanto o direito de Doutores e Senhores....”

Universidade: “Esses jovens que se formam nos bancos da Ufrgs, ou qualquer universidade, não têm a menor noção do que se passa no mundo real. Não conseguem desenvolver um raciocínio em termos de Sociologia, de Filosofia. A questão básica é que 80% da população vive na favela, ou nas vilas, como preferem chamar, e eles continuam achando que o mundo real é aquele que se vê na TV, nos jornais. Da vila só sabem que é lugar de vagabundo, ou onde mora o seu Zé, porteiro do prédio...”

Acho que já chega. Dá para imaginar a figura que é o seu Jorge. Mais uma vez fica a lição de que a verdade está nas ruas, no contato com as pessoas. O povão é quem vive a realidade do País, quem estiver longe do povo está longe do real. Essa é a lição que nós não podemos esquecer nunca.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Nação Lakota

Touro Sentado

“We are no longer citizens of the United States. We offer citizenship to anyone provided they renounce their U.S. citizenship”.

Essas são palavras de Russell Means, líder dos índios Lakotas, mais conhecidos como os Sioux, dos Estados Unidos. Desde dezembro, a proclamada Nação Lakota ocupa em torno de 200 mil Km² entre os estados de Nebraska, Dakota do Norte e do Sul, Montana e Wyoming. Em pronunciamento na Plymouth Congregational Church em Washington, no dia 19 de dezembro de 2007, os líderes Lakotas consideraram nulos os mais de 33 tratados assinados com os Estados Unidos ainda no Século XIX. Russell segue assim a tradição de grandes líderes, como Touro Sentado, Cavalo Doido e Nuvem Vermelha. Segundo eles, o governo norte-americano promove um verdadeiro genocídio (mais um...) em relação ao seu povo. A expectativa de vida de um homem Lakota é de apenas 44 anos e 97% da sua população vive abaixo da linha da pobreza. A mortalidade infantil é 300% maior que no resto do país. 85% das pessoas estão desempregadas. Um terço das casas não tem água tratada e 40% delas não tem eletricidade. O alcoolismo e o uso de drogas pesadas afeta 8 em cada 10 famílias.
Este é apenas mais um capítulo da luta que consome a comunidade indígena de todas as Américas. Nós, e digo “nós” porque me refiro a todos os brancos, não temos a menor consideração e respeito pelos povos que são os verdadeiros donos desse chão. Os índios de todas as etnias vivem em condições sub-humanas. Tive o privilégio de conviver um tempo com os Kaingangues da área indígena da Guarita. Apesar de sua cultura ter sido quase completamente aniquilada por mais de 200 anos de exploração, eles seguem na luta para preservar seus costumes e tradições. Um luta árdua e sem perspectivas de vitória, a não ser que tomemos consciência da verdadeira história do nosso continente.


Este é o livro para entender um pouco mais sobre os índios norte-americanos

Ps.: Este artigo foi escrito com informações da revista Caros Amigos, Agência AFP e Finalcall.com News.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Waterboarding

Os Estados Unidos sempre surpreendem. Pois eis que este belo país, potência e guia inegável do mundo ocidental, está em vias de, neste ano de 2008, abolir a forma de tortura chamada “waterboarding”. O “mergulhão”, como é mais conhecido por aqui, consiste em simular o afogamento do interrogado em um tanque ou jogando água pelas narinas. Segundo consta, esse é o método predileto dos agentes da CIA para obter as confissões de terroristas.
Mas os Estados Unidos, como nação avançada que é, votou em seu Senado o fim dessa prática de tortura. Foram 51 votos contra o “waterboarding” e 45 a favor. Só tem um probleminha a ser resolvido: assessores do presidente Bush o aconselharam a vetar o projeto. Provavelmente entre eles deve estar um tal de Michael Mukasey, Secretário de Justiça, que considera a simulação de afogamento como uma forma normal de interrogatório.

Um dia desses a gente (Brasil) chega lá. Enquanto isso, como é bom termos os gloriosos irmãos do norte como guias espirituais.....

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Devaneios....

Devaneios sobre notícias e constatações:

- Água é mais cara que gasolina. Pare num posto e entre na loja de conveniência. 500ml de água custam R$1,50, ou seja R$3 o litro. A gasolina está entre R$2,40 e R$2,50.

- Lucro recorde dos bancos é pago por você. A maior parte da receita dos bancos vem dos juros cobrados sobre empréstimos para pessoas físicas e jurídicas. Itaú e Bradesco lucraram em torno de 8 bilhões de reais em 2007. Alguém imagina quanto dinheiro seja isso? Ah, e garanto que os bancários farão novamente protestos contra os salários impróprios que recebem. Ou seja, essa grana toda some na mão de uma meia dúzia.

- Terroristas serão julgados. Os terroristas responsáveis pelos ataques às Torres Gêmeas serão julgados nos EUA. Depois de uma temporada de 5 anos em Guantánamo, tudo o que a acusação conseguiu de provas foi a confissão dos supostos terroristas. Claro, nem passa pela nossa cabeça que os rapazes tenham sido torturados....

- A NET tem um 0800. Sim, a maldita empresa de telefone/TV/internet só anuncia seu número pago, o famigerado 4004blábláblá. Mas eles são obrigados por lei a ter um número de graça para os clientes. E, pasmem, o atendimento é rapidinho. Claro, no 0800 são eles quem pagam a conta, não o idiota do assinante. Anote aí:
NET Tv e Fone - 08007210029
NET Vírtua - 08007010358

- Safra recorde. O IBGE projeta uma safra recorde de grãos para o Brasil, o que alarga o sorriso dos políticos e ruralistas. As regiões que tiveram maior aumento foram Centro-oeste, Norte e Nordeste. O que fica entre eles? Um prêmio para quem acertar....
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Só para terminar: você já pensou que aquele guri que te pede uma moedinha pode realmente estar com fome?

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Balanço das férias

Voltei. Foi uma semana que valeu por um mês. Pelo menos o dinheiro gasto foi por aí...., mas foi muito bem gasto. Dessa experiência surgem algumas constatações:
- Santa Catarina, apesar de todos seus problemas, é um estado que está anos-luz à frente do Rio Grande do Sul. Talvez seja o clima de Floripa, onde tudo fica melhor e mais fácil, mas a impressão é que as pessoas trabalham porque gostam. Ganhar o suficiente para viver uma boa vida é o suficiente. O que me faz pensar que precisamos urgentemente limpar o Guaíba. Quem sabe assim os porto-alegrenses começam a se preocupar menos com a acumulação, passar a perna nos outros, dinheiro, condomínios fechados e carros importados.
- O Rock'n'Roll não morreu. Existe um grande movimento independente que, apesar de todo o boicote da imprensa, faz as pedras rolarem Brasil afora. Temos alguns heróis, alguns vilões, mas no geral a coisa tende a dar certo. É preciso criarmos redes para que esse sentimento se desenvolva. Este blog (menos) e a Rádio Web Putzgrila (mais) são, ou pretendem ser, ferramentas para isso.
- A natureza deve ser defendida de toda e qualquer maneira. Se você é daqueles que pensam "deus me livre me meter no mato", saiba que ainda existem pessoas que gostam de tomar banho de cachoeira, respirar o cheiro das ervas, ouvir os pássaros e animais.
Uma viagem sempre muda a vida, algumas mais, outras menos. Seu Cossio continua Seu Cossio, mas com muita coisa a mais.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Folga

Era isso. Uma semana de pernas pro ar.
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Não me procurem, não vai adiantar.....

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Crossfire

Amigos, preciso dizer, mais uma vez, que a banda Crossfire é a melhor de todas. E não é só porque eles são o melhor guitarrista, o melhor baixista, o melhor vocalista e o melhor baterista. A banda é fantástica porque eles fazem o som com emoção, eles realmente curtem aquilo que estão tocando.
Graças a deus ontem tivemos mais uma amostra dessa maravilha, no bar Help. Por falar nisso, muito boa essa nova casa de Porto Alegre; bom ambiente, boa música, bebida gelada, mas, e tem sempre um mas, R$ 5 a cerveja continua sendo um absurdo. Se eles cobrassem R$ 3 o povo beberia até não agüentar mais e eles aumentariam o faturamento.
Bom, mas o que importa é Rock’n’Roll, e ontem ouvimos só do bom: Led Zeppelin, Jethro Tull, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, Metallica..... Ufa! Acho que dá para imaginar, né?
Dançamos, gritamos, bebemos e fumamos até ficar nesse estado que estou agora. Acabado, mas feliz.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Tesão

Jornalismo se faz com tesão.
E ontem senti um dos maiores da minha vida. Estou falando do programa Histórias do Rock, na Rádio Web Putzgrila (clica aí do lado). Fiquei duas horas falando sobre álcool e Rock, com músicas que faziam alguma referência à bebida.
Por lá passaram entre 40 e 50 ouvintes. Pode parecer pouco para quem imagina uma audiência de milhões de pessoas, mas isso não tem absolutamente nada a ver. Me emocionei, mesmo, com as manifestações do público. As pessoas pareciam estar realmente curtindo o som e as histórias. Com isso, o programa foi ficando cada vez melhor (na minha opinião) e minha empolgação cada vez maior.
Não posso prometer muita coisa, mas uma é certa: tudo o que eu faço, faço com tesão.